Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quarta-feira, 23 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
Frases (fantasticas) da semana, senao do ano...-- Ministro da Economia (??? tem certeza???)
Não apenas uma, mas várias frases da semana, talvez até do ano, mas todas elas fantasticamente equivocadas, sem qualquer conexão com a realidade.
No seu Zé Mané, do botequim peronista da esquina, não ficariam mal, até passariam por frases de profundo significado macroeconômico para um simples quitandeiro.
Na boca do ministro das finanças, porém, elas são um grave sinal de transtorno bipolar, enfim, essas coisas que as pessoas não conseguem concatenar causa e efeito, origem e consequência, relações de dependência, nada além de uma ilusão, como diria um letrista de música popular...
Comecemos:
No seu Zé Mané, do botequim peronista da esquina, não ficariam mal, até passariam por frases de profundo significado macroeconômico para um simples quitandeiro.
Na boca do ministro das finanças, porém, elas são um grave sinal de transtorno bipolar, enfim, essas coisas que as pessoas não conseguem concatenar causa e efeito, origem e consequência, relações de dependência, nada além de uma ilusão, como diria um letrista de música popular...
Comecemos:
“Quando há uma valorização de 20% do dólar, significa que o Brasil está 20% mais competitivo”.
Uau! Não precisa fazer mais nada então, está tudo uma maravilha, basta invocar os santos e pedir um pouco mais de desvalorização cambial que o Brasil se tornará um país fantasticamente competitivo, em nível mundial...
“Muitos países, sobretudo a China, vinham manipulando seu câmbio havia mais de vinte anos. Como eles eram pobres, nós tolerávamos. Mas agora tivemos de reagir.”
Uau bis! Como é que não descobrimos antes e pedimos gentilmente para os nossos aliados estratégicos (desde 2003), para que eles, ficando um pouquinho mais ricos, deixassem de fazer essas barbaridades???
A bem da verdade, relembro bem de termos como "guerra cambial" e "tsunami financeiro", mas sempre dirigidos a nossos inimigos na Europa e na América do Norte, mas jamais ouvi, ou li, uma palavra sequer contra nossos aliados manipuladores. Que coisa hem? Acho que perdi os últimos vinte anos da nossa história econômica. Ou será que foi outro o belo adormecido?
Mas, não para por aí. Tem mais:
“Há um enfraquecimento da indústria no mundo; um processo natural de terceirizar atividades da indústria e fazer com que elas virem serviço.”
Uau, ou melhor, UAU! Não consigo imaginar como é que se consegue essa maravilha da transposição de setores: enfia a indústria num moedor de carne gigante, gira a manivela, e plim!, do outro lado sai uma empresa de serviços? Fantástico! Preciso passar nessa escolinha e conhecer o método, o know-how, a tecnologia dessa mudança de secundário em terciário.
Mas a frase que eu mais gostei mesmo foi a primeira. Aliás, desde os tempos do fantástico Dr. Delfim que esse remédio, sem efeitos colaterais, fabricava a "competitividade" do Brasil: bastava desvalorizar, pronto, estavam garantidos os mercados. Não importa se os industriais protecionistas ficavam ricos e nós, consumidores brasileiros ficávamos pobres. O importante era a tal de competitividade.
Pronto, valeu por uma lição de economia (aliás, varias)...
Debate sobre o futuro do Mercosul - Rubens A. Barbosa
Na verdade, está mais parecendo um debate sobre o passado do Mercosul, mas enfim, sempre são elementos de reflexão. De minha parte, já respondi aos argumentos do personagem em debate, em vários posts, consolidados neste link: http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/05/o-futuro-do-mercosul-em-debate-10-links.html
Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Contra o interesse nacional
Rubens Barbosa
O Globo e O Estado de S. Paulo, 22/05/2012
RUBENS BARBOSA é presidente da comissão de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O Alto Representante do Mercosul, Samuel Pinheiro Guimarães publicou, na revista "Austral", da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (janeiro/junho de 2012), ensaio em que pretende examinar o futuro do Mercosul e faz considerações mais amplas sobre as circunstâncias em que o grupo regional foi criado, sua evolução nos últimos 20 anos, as dificuldades atuais e o impacto da China.
Na esperança de que seja iniciado um efetivo debate sobre a situação atual e as perspectivas do processo de integração sub-regional, vou limitar-me a comentar alguns aspectos factuais de suas ideias sobre o Mercosul, e que, me parece, merecem reparos, pela imprecisão ou pela distorção motivadas por considerações alheias à realidade.
Ao questionar os objetivos e as razões da criação do Mercosul, Guimarães assinala que, em 1991, quando foi assinado o Tratado de Assunção, o pensamento neoliberal, representado pelo consenso de Washington e pela supremacia dos EUA, era hegemônico; que, em 2012, a situação mudou completamente, afetando as perspectivas de integração regional e do Mercosul, na medida em que isso depende da vinculação cada vez maior de suas economias e políticas, o que justificaria uma guinada nos objetivos do processo de integração.
Todo o artigo de Guimarães está construído como se tudo o que existia antes de 2003 fosse fruto da submissão dos governos aos ditames de Washington e que só depois ocorreram gestos e medidas em defesa da soberania dos países-membros.
O objetivo inicial do Tratado é a liberalização do comércio entre os países-membros, com o objetivo de se chegar, numa segunda etapa, a uma integração econômica. A visão politicamente distorcida nos últimos 10 anos fez com que esse objetivo fosse perdido, com retrocesso em todas as áreas, e uma ênfase indevida nas áreas políticas e sociais. Guimarães defende a ampliação geográfica do Mercosul ao conjunto da América do Sul.
Como a Venezuela está prestes a aceder ao Mercosul (dependedo Congresso paraguaio) sem cumprir nenhum compromisso assumido no protocolo de adesão, nem o da Tarifa Externa Comum, os outros países teriam o mesmo tratamento e ingressariam por motivação política, criando outra significativa distorção comercial e uma ainda maior disfunção do grupo.
As assimetrias, acredita Guimarães, resultaram de grandes diferenças de infraestrutura física e social, de capacitação de mão de obra e de dimensão das empresas, o que levaria os investimentos privados a não poderem se distribuir de forma mais harmônica no espaço comum.
O Mercosul, contudo, nunca foi pensado como um mecanismo de correção de assimetrias, e sim como instrumento de inserção competitiva dessas economias no mercado internacional, e é sob esse ângulo que ele deve ser avaliado. Ela justifica a extrema complacência com as medidas restritivas, ilegais, contrárias ao Mercosul e à OMC, e sua redução passou a exigir compromissos financeiros que recaíram, na quase totalidade, sobre o Tesouro brasileiro. Guimarães pretende que o Mercosul seja um organismo de promoção do desenvolvimento econômico dos estados isolados e em conjunto.
Como se sabe, nenhum mecanismo setorial de política comercial pode servir como alavanca de desenvolvimento. A gradual transformação do Mercosul em um organismo que se propõe promover o desenvolvimento econômico dos estados-membros, inspirada e apoiada pelo então secretário-geral do Itamaraty, levou o grupo a adotar uma atitude introvertida, refletida no protecionismo ilegal, e defensiva em relação à globalização, deixando a liberalização comercial num distante segundo plano. Enquanto a Ásia realiza uma ampla integração produtiva com acordos de livre comércio entre China, Japão e Coreia; entre a Asean e os EUA; e começa a se desenhar um acordo comercial entre a UE e os EUA, o Mercosul, de seu lado, só assinou três acordos comerciais (com Israel, o Egito e a Autoridade Palestina), sem maior relevância para o Brasil.Essa visão equivocada levou o Mercosul à crise institucional. Temo que, contra o interesse nacional, seja difícil retomar o projeto inicial.
Los Hermanos: ser "bonzinho" ou ser correto?: dilemas da diplomacia brasileira
Um leitor deste blog me escreve a propósito de um post sobre nossas relações, isto é, relações diplomáticas oficiais, relações comerciais, etc, com a Argentina, pedindo para...
me esclarecer uma dúvida quanto às relações do Brasil com nossos vizinhos do sul. Sob uma perspectiva de longo prazo, não seria interessante ao Brasil garantir um entorno regional favorável e construir laços significativos com os países da América Latina? Acredito que as diversas concessões feitas aos nossos "hermanos" têm esse objetivo. Ou seria a questão primordial a impossibilidade dessa política externa lograr êxito?
Meus comentários, necessariamente rápidos, em função de tudo o que já escrevi em ensaios sobre a política externa brasileira, seriam estes.
Não creio que a colusão no descumprimento de tratados e compromissos formalmente assumidos -- que foi a política seguida desde 2003 -- seja uma receita positiva para, como se diz, "garantir um entorno regional favorável", ou sequer para "construir laços significativos com os países da América Latina".
Vou dizer brevemente por que.
O Brasil não tem por que -- e seria, acima de tudo, sumamente ridículo -- pedir perdão, se desculpar, ficar cheio de dedos ou com consciência de culpa, apenas por ser grande, deter muitos recursos naturais, uma grande indústria, e exibir um PIB (total, NÃO per capita) superior aos dos vizinhos. Essa mania de pretender ser menor do que é, ou essa "angústia" em assumir responsabilidades desproporcionais apenas em função do tamanho me parecem totalmente equivocadas e diretamente vinculadas, justamente, ao abuso das medidas arbitrárias em uso desde aquela época na região, especificamente da Argentina contra o Brasil, ao arrepio de qualquer regra, de qualquer negociação, de qualquer entendimento bilateral, apenas com base em decisões ilegais, contrárias ao espírito e à letra do Tratado de Assunção, e totalmente em contradição com os objetivos pretendidos, que seriam, supostamente, o de construir uma relação sólida e um espaço econômico ampliado na região.
Um país grande pode até ostentar uma indústria mais poderosa e, portanto, dotada de economia de escala para competir externamente. Mas, assim como o PIB é grande, o mercado é grande, supostamente aberto a todos os sócios na integração: a economia de escala passa, portanto, a valer para todos, já que supostamente não existem mais fronteiras.
Não é certo que a derrogação unilateral às normas solenemente pactadas possam construir um ambiente de confiança sobre o qual afiançar investimentos e projetos de empresários privados. Ao contrário: a violação das regras cria um ambiente impossível para o exercício dos princípios e valores de toda e qualquer economia de mercado.
Uma coisa precisa ficar clara: a leniência, a complacência, a aceitação passiva de todas as medidas arbitrárias e ilegais -- não só com relação ao Mercosul, mas ilegais também do ponto de vista do GATT -- argentinas contra o Brasil -- e suponho contra os demais sócios -- não está ajudando em nada o Mercosul; ao contrário, está desmantelando suas bases e tornando ainda mais difícil construir a integração no médio e longo prazo.
me esclarecer uma dúvida quanto às relações do Brasil com nossos vizinhos do sul. Sob uma perspectiva de longo prazo, não seria interessante ao Brasil garantir um entorno regional favorável e construir laços significativos com os países da América Latina? Acredito que as diversas concessões feitas aos nossos "hermanos" têm esse objetivo. Ou seria a questão primordial a impossibilidade dessa política externa lograr êxito?
Meus comentários, necessariamente rápidos, em função de tudo o que já escrevi em ensaios sobre a política externa brasileira, seriam estes.
Não creio que a colusão no descumprimento de tratados e compromissos formalmente assumidos -- que foi a política seguida desde 2003 -- seja uma receita positiva para, como se diz, "garantir um entorno regional favorável", ou sequer para "construir laços significativos com os países da América Latina".
Vou dizer brevemente por que.
O Brasil não tem por que -- e seria, acima de tudo, sumamente ridículo -- pedir perdão, se desculpar, ficar cheio de dedos ou com consciência de culpa, apenas por ser grande, deter muitos recursos naturais, uma grande indústria, e exibir um PIB (total, NÃO per capita) superior aos dos vizinhos. Essa mania de pretender ser menor do que é, ou essa "angústia" em assumir responsabilidades desproporcionais apenas em função do tamanho me parecem totalmente equivocadas e diretamente vinculadas, justamente, ao abuso das medidas arbitrárias em uso desde aquela época na região, especificamente da Argentina contra o Brasil, ao arrepio de qualquer regra, de qualquer negociação, de qualquer entendimento bilateral, apenas com base em decisões ilegais, contrárias ao espírito e à letra do Tratado de Assunção, e totalmente em contradição com os objetivos pretendidos, que seriam, supostamente, o de construir uma relação sólida e um espaço econômico ampliado na região.
Um país grande pode até ostentar uma indústria mais poderosa e, portanto, dotada de economia de escala para competir externamente. Mas, assim como o PIB é grande, o mercado é grande, supostamente aberto a todos os sócios na integração: a economia de escala passa, portanto, a valer para todos, já que supostamente não existem mais fronteiras.
Não é certo que a derrogação unilateral às normas solenemente pactadas possam construir um ambiente de confiança sobre o qual afiançar investimentos e projetos de empresários privados. Ao contrário: a violação das regras cria um ambiente impossível para o exercício dos princípios e valores de toda e qualquer economia de mercado.
Uma coisa precisa ficar clara: a leniência, a complacência, a aceitação passiva de todas as medidas arbitrárias e ilegais -- não só com relação ao Mercosul, mas ilegais também do ponto de vista do GATT -- argentinas contra o Brasil -- e suponho contra os demais sócios -- não está ajudando em nada o Mercosul; ao contrário, está desmantelando suas bases e tornando ainda mais difícil construir a integração no médio e longo prazo.
Trata-se, aliás, de uma ilegalidade formal, contra os próprios instrumentos do Mercosul, ademais de uma violação dos direitos dos empresários brasileiros que investiram nas regras e querem-nas respeitadas. A violação de regras começa, portanto, em casa, contra os interesses de brasileiros.
Ela se prolonga na não defesa dos interesses brasileiros no plano externo, que deveria ser o primeiro dos deveres de qualquer governo soberano.
Por último, uma explicação sobre o conceito de "concessão". Seu significado é exatamente esse: algo que alguém concede a outrém, por necessidade ou favor, numa situação difícil, digamos assim. Nenhuma, sublinho NENHUMA, das medidas argentinas resultou de uma concessão brasileira, e sim de imposições unilaterais, assumidas passivamente por um governo que se pretende soberano e altivo.
Fico por aqui...
Paulo Roberto de Almeida
Brasil governamental: o pior adversario do Brasil produtivo
São os portuários e exportadores a reclamar:
22/05/2012 07:08
Assim, ganha força o cenário de que acreditar em um Brasil competitivo seria “acreditar em Papai Noel”, já que os investimentos realizados para melhorar a infraestrutura de transportes, mesmo com a aplicação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), têm como resultado baixa qualidade de obras, pouca agilidade e muitas denúncias junto ao Ministério Público e ao TCU.

Projeto da Ponte de Cabeçudas é primordial para Imbituba
No setor logístico, o Brasil ainda patina em erros primários.
22/05/2012 07:08
Brasil patina e acreditar em competitividade é acreditar em Papai Noel
Apesar do discurso ressaltando que o Governo Federal continuará investindo em obras de transportes que impulsionem o desenvolvimento nacional, a presidenta Dilma Rousseff parece continuar sem entender que o Brasil não conseguirá enfrentar a concorrência de produtos estrangeiros no exterior com os portos ineficientesque temos ao longo da costa brasileira. O tema foi alvo de postagem neste blog Dia-a-Dia no final de 2011, com o título “Dilma acredita em Papai Noel”, e permanece atual.
Ilustração: Betto Cordeiro

Nesta segunda-feira, Dilma inaugurou as obras na Ponte de Cabeçudas, em Laguna, Santa Catarina, investigadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que mesmo com readequação do orçamento devem sair mais caras do que se previa. Pior: segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Glauco José Corte, a obra está solitária para viabilizar a duplicação do trecho Sul da BR-101. Ele prevê que a duplicação não será finalizadaantes de 2016, conforme previsto pelo Governo Federal, se os trâmites para a realização de obras de arte não forem agilizados.Assim, ganha força o cenário de que acreditar em um Brasil competitivo seria “acreditar em Papai Noel”, já que os investimentos realizados para melhorar a infraestrutura de transportes, mesmo com a aplicação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), têm como resultado baixa qualidade de obras, pouca agilidade e muitas denúncias junto ao Ministério Público e ao TCU.
Projeto da Ponte de Cabeçudas é primordial para Imbituba
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Os mesmos:
22/05/2012 00:28
Logística cega, surda e muda
Os colunistas Frederico Bussinger e Jorge Hori, doPortogente, destacaram, em artigos recentes, que o Brasil carece de planejamento portuário e logístico. Ponto destacado, aliás, no 7º Encontro de Logística e Transportes da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que começou nesta segunda-feira (21/05), na capital paulista.
Em seu discurso no evento, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, disse que muitas vezes, as áreas estadual e federal não se falam como deveriam. “Na construção do último trecho do Rodoanel em São Paulo era a oportunidade de fazer também um ferroanel. Faltou diálogo com o governo estadual e o federal na época.”
O Brasil patina, sem dúvida nenhuma, na sua logística por problemas e erros primários. Coisa impensável em países como a Holanda e até a China. Por essas e outras, alçarmos à sexta economia mundial é um verdadeiro milagre. Deus é brasileiro, diriam alguns.
Brasil oficial: o pior adversario do Brasil real
Corrigindo: a burocracia de certos órgãos do Estado, de temperamento, atitude e comportamento fascistas, são os piores inimigos dos cidadãos.
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Yolanda Fordelone
O Estado de S.Paulo, 13/05/2012
Comparações entre produtos chegam a mostrar preços 65% inferiores aos do Brasil
Ao contrário do que se poderia imaginar, a alta do dólar em pouco mais de R$ 0,30 em 12 meses não favoreceu a compra de produtos importados no Brasil. Segundo levantamento feito em lojas do Brasil e Estados Unidos, 15 itens entre eletrônicos, roupas, tênis e até livros ainda são mais caros aqui. Os preços nos EUA chegam a ser 65% inferiores aos do Brasil, mesmo considerando a taxa de câmbio do turismo, sempre acima do câmbio comercial.
"Desde que a taxa de câmbio ficou mais baixa, a indústria brasileira não consegue competir com o exterior. Alguns insumos até têm conseguido ficar mais baratos do que no exterior, como alguns tecidos, mas em geral o produto final ainda é mais caro", diz o professor de economia da ESPM-RJ, Roberto Simonard.
Um dos motivos que explicam a diferença de preços é essa baixa competitividade causada por custos maiores no mercado local. "O preço ilustra a ineficiência da nossa infraestrutura. O custo de transporte e logística para trazer um produto da China, por exemplo, é muito maior do que nos Estados Unidos", completa o professor da Fipecafi, Mario Amigo.
A ineficiência passa pelo problema da burocracia para importar e em diversos outros âmbitos. "Uma importação pode chegar a demorar de dois a três meses para ser liberada. Há estimativas de que a burocracia em geral represente 40% do custo de uma empresa, o que acaba sendo repassado no preço dos produtos", diz o professor da Fecap, Erivaldo Vieira.
Outro motivo apontado por especialistas é a alta carga tributária. Um perfume importado da marca Lacoste, por exemplo, apresentou preço 61% menor nos Estados Unidos do que no Brasil. Sobre perfumes importados, é cobrado um imposto de 78,43% no País.
"É uma questão não somente de diminuir os impostos, mas deixá-los mais transparentes, na embalagem dos próprios produtos. A transparência aumenta a concorrência, porque o consumidor passa a entender o que realmente paga", avalia o professor do Insper, Ricardo Rocha.
Em alguns casos, como em relógios e livros, há a questão do ganho de escala. "A economia dos Estados Unidos é dez vezes maior que a nossa. É muito diferente produzir 200 mil relógios em vez de 20 mil. Os custos ficam reduzidos, mais diluídos", analisa Vieira.
Diferença. Não é à toa que os gastos de brasileiros no exterior no primeiro trimestre bateram recorde e somaram US$ 5,38 bilhões. A economia pode ser grande ao comprar produtos em outro país. Entre os 15 produtos pesquisados, a maior diferença de preços foi observada em um relógio da marca Timex. Nos EUA, o produto é 65,72% mais barato do que no Brasil.
Entre os eletrônicos, o celular Galaxy teve a maior diferença, de 62,16%. O videogame Playstation 3, item muito consumido por brasileiros lá fora, é vendido pela mesma loja nos Estados Unidos por um preço 50% menor, e lá o produto ainda vem com um jogo e uma câmera com sensor de movimento. Na compra do Ipad 2, de 16 gigabytes, o consumidor encontra um valor 43% mais baixo nos EUA.
Mas até em itens inusitados, como chocolate, há uma grande diferença de valores. Na caixa do chocolate Ferrero Rocher, com 24 unidades, o preço nos EUA é 49% menor. O item de menor diferença foi o uísque Black Label 12 anos (18%).
Tamanha diferença, porém, pode representar uma armadilha para o turista. "As regras da Receita Federal devem ser muito bem observadas", lembra Rocha. Brasileiros não pagam imposto, por exemplo, na compra de máquinas fotográficas, relógios de pulso, joias e celulares usados.
As aquisições estão limitadas a 20 produtos e há tarifa caso o valor ultrapasse US$ 500 por via aérea. "Se o objetivo é comprar, também não é indicado viajar com muita bagagem, para não pagar sobrepeso no avião", diz Amigo.
Além de ir com um orçamento já limitado de gastos, a melhor opção é utilizar dinheiro em espécie. "Deve-se tomar cuidado com a variação cambial do cartão de crédito", afirma Simonard, ao lembrar que em geral as parcelas são calculadas de acordo com o fechamento do câmbio no futuro. Além disso, no cartão de crédito há o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.
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segunda-feira, 21 de maio de 2012
Diplomacia soberana (dos hermanos) - editorial Estadao
Sem comentários.
O Brasil se rende a Moreno
Editorial O Estado de S.Paulo, 21/05/2012
O governo brasileiro, mais uma vez, se curvou ao protecionismo argentino, aceitou as imposições do ministro Guillermo Moreno e admitiu discutir as condições de comércio nos termos ditados pelo governo da presidente Cristina Kirchner. Moreno, ministro do Comércio Interior, mas comandante de fato da política argentina de importações, resumiu claramente a rendição das autoridades brasileiras depois de uma reunião no Itamaraty, na terça-feira: "Com a disposição do Brasil de adquirir nossos produtos, obviamente some o problema com a carne suína". Em outras palavras, os exportadores brasileiros de carne de porco serão premiados com uma oportunidade comercial em troca das bondades prometidas pelos representantes de Brasília. Seria um escárnio, talvez uma brincadeira de mau gosto, se esse não fosse o padrão normal das relações entre as autoridades dos dois países, quando se trata de regras de comércio.
O ministro Moreno esteve em Brasília em companhia do ministro de Relações Exteriores de seu país, Héctor Timerman, mas este participou das conversações obviamente como figura decorativa. A irrelevância de seu ministério nessa questão só é comparável à passividade e à mansidão do Itamaraty no trato comercial com os parceiros ditos estratégicos.
Acostumado a agir com truculência no trato com empresários de seu país, ameaçando-os e impondo sua vontade por meio de ordens formais e informais, o principal estrategista do protecionismo argentino encontrou em Brasília interlocutores ideais. Nenhum diplomata brasileiro se dispôs a desmentir os termos das conversações mencionados pelo ministro argentino. Na quinta-feira, o chanceler Antônio Patriota limitou-se a indicar um cronograma de trabalhos: representantes dos dois países deverão reunir-se de novo até a primeira quinzena de junho para uma reunião técnica. "A Argentina está muito longe de ser uma pedra no sapato. É um aliado estratégico", disse o ministro.
Esse "aliado estratégico" ampliou várias vezes, a partir de 2008, as barreiras comerciais impostas a produtos brasileiros. As medidas protecionistas incluíram a eliminação das autorizações automáticas para importação - uma atitude inaceitável numa zona de livre comércio e muito menos admissível numa união aduaneira. Em seguida, o governo argentino passou a retardar as licenças, demorando, para concedê-las, muito mais que os 60 dias permitidos pelas normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). O passo seguinte foi exigir dos importadores argentinos a apresentação de declarações juradas a respeito de cada compra planejada - mais um passo para dificultar a entrada de bens estrangeiros.
As barreiras argentinas têm causado prejuízos a produtores brasileiros de eletrodomésticos, calçados, equipamentos agrícolas, roupas, tecidos, cosméticos e diversos tipos de alimentos, para citar só algumas categorias.
Quando já não podia disfarçar sua escandalosa passividade, autoridades brasileiras decidiram impor alguns obstáculos a produtos argentinos. Agora se comprometem a eliminá-los em troca da supressão das barreiras à carne suína. É mais uma rendição. Em vez de continuar pondo panos quentes sobre a questão, o governo brasileiro deveria, em defesa de interesses da economia nacional e também do Mercosul, exigir o fim de todas as políticas incompatíveis com as normas internacionais e, de modo especial, com uma união aduaneira.
Cada capitulação da diplomacia brasileira estimula a manutenção do protecionismo argentino e, mais que isso, a ampliação periódica das barreiras. O governo tem cedido em tudo e já aceitou várias vezes a prorrogação do acordo automotivo entre os dois países, sempre com novas cláusulas a favor dos vizinhos. Pelo acordo original, os dois países deveriam, há muitos anos, ter liberalizado o comércio de veículos e componentes.
É essencial cooperar com a Argentina e discutir, por exemplo, a organização de cadeias produtivas para integrar os sistemas industriais dos dois países. A política seguida pelo governo brasileiro vai na direção oposta, prejudicando a indústria nacional e impedindo o avanço do Mercosul.
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