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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 17 de julho de 2016

A Lava Jato vai ser retrocedida como foi a Maos Limpas, na Italia? Apelo a mobilizacao em 31/07 - Paulo Moura

NÃO AO ACORDÃO DOS CORRUPTOS! #VEMPRARUA 31/7 

Professor Paulo Moura

domingo, 17 de julho de 2016


O juiz Sérgio Moro destaca-se como um magistrado diferenciado entre seus pares. Tirando-se os corruptos e corruptores da conta Moro é unanimidade entre os brasileiros. Você sabe o que o diferencia dos demais juízes e por que ele adquiriu esse destaque?
Porque ele estudou a fundo a operação “Mãos Limpas” na Itália, que, nos anos 1990, nasceu da investigação das relações promíscuas entre o Banco Ambrosiano (Vaticano), a Máfia e a loja Maçônica P2 e terminou devastando o sistema político italiano ao levar à extinção os partidos Democrata Cristão, Socialista e Comunista, imersos na corrupção. Além disso, Moro estudou as estratégias de defesa dos advogados que anularam, por erros técnicos de condução das investigações, operações como a Satiagraha e Castelo de Areia, por exemplo.
Por esta razão, mais de 90% dos procedimentos de Moro foram avalizados pelas instâncias superiores do judiciário ao serem questionados pelos caros advogados dos corruptos e corruptores em busca de brechas para livrá-los da cadeia por artimanhas jurídicas amparadas em eventuais falhas processuais.
Muito embora a operação Mãos Limpas seja vista mundialmente como um “case” de sucesso, o fato é que boa parte de seu efeito saneador foi neutralizado, posteriormente, pelos políticos italianos. De que forma isso foi feito?
Basicamente, por uma estratégia que envolveu ações de comunicação visando convencer a opinião pública de que houve exagero por parte Justiça, somadas a ações legislativas visando flexibilizar as leis de combate à corrupção para construir condições para a impunidade dos criminosos.
Tudo indica que a mesma estratégia está em curso no Brasil, contando, para o sucesso dessa empreitada, com a desmobilização da população e a perda de foco dos movimentos cívicos que levaram milhões de brasileiros às ruas em 2014, 2015 e 2016 para derrubar o governo corrupto do PT através do dispositivo constitucional do impeachment.
Essa mobilização de milhões de pessoas por mais de dois anos seguidos, num processo complexo de idas e vindas, incertezas e sofrimento, parece ter cansado o povo brasileiro. Depois da aprovação da abertura do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados ocorreu uma visível desmobilização, estimulada pela subsequente confirmação da tramitação do processo no Senado por maioria de dois terços. Em seguida, operadores políticos do presidente Temer têm divulgado, frequentemente, que o governo já contabiliza, pelo menos, 60 votos favoráveis à aprovação da impugnação do mandato de Dilma Rousseff, dando a entender que a remoção de Dilma está garantida.
Incapazes de antever o curso dos acontecimentos, as neófitas lideranças dos diversos grupos que, em todo o Brasil, convocavam o povo às ruas nos dois anos anteriores com foco unificado no impeachment de Dilma, passaram a bater cabeça em torno do que fazer. Bandeiras difusas, causas menores, divergências e brigas passaram a acontecer no seio desses movimentos, no ambiente interno dos grupos virtuais através dos quais foram debatidas e organizadas as ações de rua em prol do impeachment nos anos anteriores.
Aproveitando-se da confusão e desmobilização dos movimentos cívicos a aliança dos corruptos firmou um ACORDÃO, se reorganizou e traçou sua linha de ação adotando a mesma estratégia que, na Itália, foi utilizada para neutralizar os efeitos da operação Mãos Limpas: desmobilizar protestos, mudar a percepção da opinião pública, e, em seguida, mudar a legislação visando facilitar o trabalho dos advogados de defesa dos bandidos.

Ao observador atento, talvez tenha passado desapercebido o conjunto de ações em curso visando atingir esse objetivo. Vejamos então, uma breve lista:

a)    Tentativa de reversão da decisão do STF, que, acatando sugestão do juiz Sérgio Moro, aprovou a prisão imediata de condenados em segunda instância;
b)    Decisão do recém-eleito presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), de impedir a prorrogação das investigações da CPI do Carf;
c)    Tentativa de sepultar as CPIs da UNE e da CUT que devem investigar o destino de milhões de reais doados pelos governos petistas a esses aparelhos do PT e do PCdoB, a pretexto de “pacificar a Casa”;
d)    Tentativa de modificar a legislação sobre a colaboração premiada de modo a impedir a aceitação da delação de indivíduos presos;
e)    Tentativa de modificar a legislação sobre condução coercitiva de modo a restringir seu uso pelas autoridades policiais;
f)     Tentativa de constranger juízes procuradores e policiais mediante aprovação de uma legislação que pode caracterizar como “abuso de autoridade” procedimentos adotados pelas operações Lava Jato; Zelotes e Acrônico, por exemplo;
g)    Substituição de delegados da Polícia Federal que integram a operação Lava Jato, transferindo delegados experientes e com domínio das investigações por outros;
h)   Investigação e intimidação judicial de líderes dos movimentos cívicos pelo “crime” de simples exercício da liberdade de expressão;
i)     Aprovação de legislação que autoriza juízes a receber remuneração secreta por palestras patrocinadas por empresas ou instituições, em evidente tentativa de institucionalizar a prática da compra de impunidade pela corrupção legalizada de juízes.

Não subestimemos a criatividade dos nossos corruptos e corruptores. É possível que essa lista seja mais extensa.
Listadas assim, em seu conjunto, essas iniciativas evidenciam uma clara estratégia em curso, somente possível de se concretizar pela existência de três condições básicas:

1)    A operação Lava Jato está terminando e o juiz Moro não pode julgar políticos com mandato. O julgamento dos corruptos com mandato demorará a ocorrer, pois acontecerá no STF, onde acumulam-se processos que a própria suprema curte admite não ter estrutura para agilizar (sem falar no surgimento de referências a juízes corruptos no STJ e STF, por delatores premiados);
2)    A Desmobilização da sociedade brasileira e perda de foco dos movimentos cívicos que convocaram o povo às ruas em 2014, 2015 e 2016;
3)    A existência de uma ACORDÃO DOS CORRUPTOS, que envolve e cúpula de todo o sistema político (governo e oposição), advogados e setores do judiciário.
Essa é a questão central da política brasileira hoje, do ponto de vista do cidadão pagador de impostos. 

Se o ACORDÃO DOS CORRUPTOS atingir seus objetivos, tudo o que foi feito nos últimos anos pelo povo brasileiro nas ruas será jogado no lixo e não terá valido nada! O juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato já disseram inúmeras vezes que, sem apoio da opinião pública, nada teria acontecido.
O que é necessário para os corruptos e corruptores saírem-se vencedores?
Simples: basta que você fique quieto e não saia às ruas para protestar.

Em 31/07 tem manifestação. Mexa-se!
 

A desconstrução do Ocidente... pelo Ocidente - Roger Scruton

Um processo de desconstrução, em curso em diversos países do assim chamado Ocidente, se explica, em parte, pelo ambiente de relativismo cultural que se tornou dominante na Europa. 
A esse propósito, cabe citar o filósofo conservador britânico Roger Scruton: 

“Take any aspect of the Western inheritance of which our ancestors were proud, and you will find university courses devoted to deconstructing it. Take any positive feature of our political and cultural inheritance, and you will find concerted efforts in both the media and the academy to place it in quotation marks, and make it look like an imposture or a deceit”.

Transcrito a partir de artigo de Antônio Azevedo Alves, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa, no Observador Político.



From the shores of Tripoli to the sands of Syria and Irak? - Carlos Brickmann

O DESPERTAR DOS CANHÕES
Coluna Carlos Brickmann
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(Edição dos jornais de Domingo, 17 de julho de 2016)
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Quando uma esquadra britânica partiu rumo às ilhas Malvinas, houve especialistas em política internacional que apostaram numa solução pacífica do conflito com a Argentina. Mas nunca os ingleses despacharam uma frota, caríssima, sem que o final tenha sido a rendição dos inimigos ou a guerra. No caso, houve guerra (que levou ao final da ditadura argentina).

Ações de banditismo ou guerrilha no caminho da Europa sempre terminaram em guerra ou destruição dos bandos. A guerra traz resultados mais rápidos, permitindo o desmonte das quadrilhas. E os sucessivos atentados do Estado Islâmico e similares não levarão à vitória dos terroristas nem a anos de insegurança na Europa. O cheiro é de pólvora.

Quando os Estados Unidos se formaram, não se falava em forças de ataque. Mas os piratas berberes africanos tornaram a navegação um risco tremendo, com mortes, escravizações, sequestros. Não havia como combatê-los navio a navio: atacavam perto da costa da África, dominavam as presas e voltavam para seus esconderijos. Americanos e europeus agiram: os americanos primeiro, montando uma força de deslocamento rápido, os Fuzileiros Navais (em seu hino, fala-se das Praias de Trípoli); os franceses alguns anos depois, tomando toda a Argélia e anexando-a.

Quanto tempo a Europa irá suportar os atentados? A tese de que não basta matar formigas, e é preciso eliminar os formigueiros, significa guerra.

Enquadrando o alvo
A situação de hoje difere da que havia no século 19 - a começar pela presença de duas forças militares de porte, China e Rússia, cuja posição pode variar. Mas negociações existem para isso. A Ucrânia foi dividida apesar da oposição do Ocidente; a Líbia e o Afeganistão, destruídos apesar dos russos. E a Rússia, cheia de enclaves muçulmanos, sabe negociar.

sábado, 16 de julho de 2016

Programa de Residencia em Pesquisa na Biblioteca Nacional: inscricao: 1 a 22 de agosto de 2016

Assunto:    Edital - Biblioteca Nacional
Data:    Mon, 11 Jul 2016 18:54:54 +0000

Prezados Professores,

O Programa de Residência em Pesquisa na Biblioteca Nacional seleciona projetos de pesquisa para a concessão de bolsas, com a finalidade de incentivar a produção de estudos originais, na forma de livros e desenvolvidos a partir de pesquisas no acervo da Biblioteca Nacional.

Podem participar: pesquisadores doutores brasileiros ou estrangeiros, com título obtido há no mínimo 8 (oito) anos  e significativa experiência de pesquisa e produção intelectual.

Prazo de inscrição: 1 a 22 de agosto de 2016

Valor da bolsa:
78.000,00 (setenta e oito mil reais), desembolsados em 13 (treze) parcelas mensais de R$ 6.000,00 (seis mil reais), para pesquisadores brasileiros;

R$ 92.300,00 (noventa e dois mil e trezentos reais), desembolsados em 13 (treze) parcelas mensais de R$ 7.100,00 (cinco mil e duzentos reais), para pesquisadores estrangeiros.

Acesso ao Edital:
https://www.bn.br/sites/default/files/documentos/editais/2016/0801-programa-residentes-pesquisa-biblioteca-nacional-2016/edital_pnap_r_2016_definitivo_0.pdf

Angela Di Stasio
Núcleo de Pesquisa
Fundação Biblioteca Nacional
Av. Rio Branco, 219 – 4º. Andar
Rio de Janeiro – RJ – 20040008
Tel. 21 30953849/30953897

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Pensamiento diplomatico brasileno: edicao em espanhol - capitulos Paulo Roberto de Almeida

Meus mais recentes trabalhos publicados, mas de 2013, agora na versão em espanhol:


1235. “Pensamiento diplomático brasileño: Introducción metodológica a las ideas y acciones de algunos de sus representantes”; In: Pensamiento diplomático brasileño : formuladores y agentes de la política exterior (1750-1964) / José Vicente de Sá Pimentel (organizador) ; Paola Citraro (traducción). Brasília: FUNAG, 2016; 3 v. – (História diplomática); Título original: Pensamento diplomático brasileiro: formuladores e agentes da política externa (1750-1964); ISBN: 978-85-7631-588-9; vol. I, 340 p., p. 19-42. Disponível no link: http://www.funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-ES/livros/pdb_vol_1_es.pdf. Relação de Originais n. 2503.




1236. “Oswaldo Aranha: en la continuidad del estadismo de Rio Branco”, com João Hermes Pereira de Araújo; In: Pensamiento diplomático brasileño : formuladores y agentes de la política exterior (1750-1964) / José Vicente de Sá Pimentel (organizador) ; Paola Citraro (traducción). Brasília: FUNAG, 2016; 3 v. – (História diplomática); Título original: Pensamento diplomático brasileiro: formuladores e agentes da política externa (1750-1964); ISBN: 978-85-7631-588-9; vol. III, 496 p. sequenciais; p. 663-707. Disponível no link: http://www.funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-ES/livros/pdb_vol_3_es.pdf. Relação de Originais n. 2502.

Os três volumes estão disponíveis neste link da Funag:
http://funag.gov.br/boletim-editorial/PDB-ES/

Demoraram, mas sairam os livros.
Ainda faltam os três volumes em inglês. Vão ficar prontos, em algum momento deste segundo semestre...
Boa leitura.
Paulo Roberto de Almeida 

Tecnica do golpe de Estado - militares turcos nao leram Curzio Malaparte

Em 1931, Curzio Malaparte, um nome de invenção do escritor italiano nascido no final do século 19 como Kurt Erich Suckert (o Malaparte era uma gozação com os Bonaparte), publicou em francês (porque na Itália do fascismo seria difícil), um livro -- que não foi o mais famoso de uma carreira famosa, ainda que camaleônica, indo do fascismo ao comunismo, passando pelo partido republicano e um aceno à Igreja Católica -- escrito a partir das experiências de golpes de Estado contemporâneos, o putsch bolchevique de Lênin, em 1917, a Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1992 (da qual ele participou, como entusiasta que era de o fascismo, mas de esquerda, ou seja socialista), e a tentativa de golpe de Hitler em Munique, em 1923, que resultou na prisão do nazista (e no crescimento do partido nacional socialista), cujo título era curto e grosso:

Técnica do Golpe de Estado (Technique du Coup d'État)

Trotsky, retratado no livro (junto com Stalin, Lênin, o próprio Mussolini, e Hitler), leu essa edição francesa e retrucou ao autor, por telegrama desde Copenhagen, pouco antes de partir para o México, onde viria a ser assassinado quase dez anos depois por um mercenário a serviço de Stalin (objeto de um grande romance-verdade de José Padura, El Hombre que Amaba los Perros, além de um outro romance policial-politico de Jorge Semprun, La Deuxième Mort de Ramón Mercader.

Pois bem, parece que os militares golpistas da Turquia não leram nem o livro de Curzio Malaparte, nem aprenderam com os grandes golpes de Estado, que são, paradoxalmente, muito comuns na história política da Turquia, quase tanto, ou mais, quanto em países da América Latina, Brasil inclusive.
O livro explica as várias técnicas (e a palavra era não apenas moderna, naquela época, como absolutamente essencial para explicar o que pretendia esse jornalista-romancista que depois virou romancista exclusivamente, mas sempre mesclando suas obras com elementos retirados da realidade) que os golpistas precisam absolutamente empregar para conduzir um golpe bem sucedido, assim como fizeram Lênin, Mussolini, e menos bem Hitler e outros trapalhões por aqui e em outras partes.
Malaparte retrata o ambiente em Petrogrado antes do putsch dos bolcheviques (muitos deles absolutamente contrários ao golpe proposto por Lênin, pois para eles isso seria contrariar o princípio da revolução da classe operária, que Lênin sabia que não viria), e faz o perfil psicológico dos principais personagens, assim como fez com Hitler e Mussolini, sobre os quais ele insinua gestos efeminados.

Acho que os militares turcos precisariam ler não só Curzio Malaparte, como aprender com o know-how, a técnica, a verdadeira tecnologia de golpes de Estado dos generais latino-americanos (não sei se ainda temos alguns golpistas por aqui, pois já fazem quase 30 anos que não se fazem mais golpes decentes por aqui, e não sei se algum deles deixou um manual operacional para um golpe bem sucedido.

Quem sabe algum gozador bem informado não prepara um:

Coup d'État for Dummies,
ou The Idiot's Guide for Coup d'États,
ou ainda, How to Iniciate, Complete, and Survive a Successful Coup d'État,
ou mesmo um All that you always wanted to know about a good coup d'État and never had someone to ask,
ou quem sabe então um: The Complete Guide on How to Perform a Wonderful Coup, and Become Youself a Brilliant Chef d'État ?

Pronto, já dei minha contribuição para um bom golpe de Estado.
Quem desejar ler o manual (um pouco surrealista, hoje) de Curzio Malaparte, tem uma nova edição italiana na

Piccola Biblioteca Adelphi
2011, 3ª ediz., pp. 270 
isbn: 9788845926327 
 € 12,75
http://www.adelphi.it/libro/9788845926327

Divirtam-se (if you may...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2016

Tecnica do golpe de Estado - militares turcos nao leram Curzio Malaparte

Em 1931, Curzio Malaparte, um nome de invenção do escritor italiano nascido no final do século 19 como Kurt Erich Suckert (o Malaparte era uma gozação com os Bonaparte), publicou em francês (porque na Itália do fascismo seria difícil), um livro -- que não foi o mais famoso de uma carreira famosa, ainda que camaleônica, indo do fascismo ao comunismo, passando pelo partido republicano e um aceno à Igreja Católica -- escrito a partir das experiências de golpes de Estado contemporâneos, o putsch bolchevique de Lênin, em 1917, a Marcha sobre Roma de Mussolini, em 1992 (da qual ele participou, como entusiasta que era de o fascismo, mas de esquerda, ou seja socialista), e a tentativa de golpe de Hitler em Munique, em 1923, que resultou na prisão do nazista (e no crescimento do partido nacional socialista), cujo título era curto e grosso:

Técnica do Golpe de Estado (Technique du Coup d'État)

Trotsky, retratado no livro (junto com Stalin, Lênin, o próprio Mussolini, e Hitler), leu essa edição francesa e retrucou ao autor, por telegrama desde Copenhagen, pouco antes de partir para o México, onde viria a ser assassinado quase dez anos depois por um mercenário a serviço de Stalin (objeto de um grande romance-verdade de José Padura, El Hombre que Amaba los Perros, além de um outro romance policial-politico de Jorge Semprun, La Deuxième Mort de Ramón Mercader.

Pois bem, parece que os militares golpistas da Turquia não leram nem o livro de Curzio Malaparte, nem aprenderam com os grandes golpes de Estado, que são, paradoxalmente, muito comuns na história política da Turquia, quase tanto, ou mais, quanto em países da América Latina, Brasil inclusive.
O livro explica as várias técnicas (e a palavra era não apenas moderna, naquela época, como absolutamente essencial para explicar o que pretendia esse jornalista-romancista que depois virou romancista exclusivamente, mas sempre mesclando suas obras com elementos retirados da realidade) que os golpistas precisam absolutamente empregar para conduzir um golpe bem sucedido, assim como fizeram Lênin, Mussolini, e menos bem Hitler e outros trapalhões por aqui e em outras partes.
Malaparte retrata o ambiente em Petrogrado antes do putsch dos bolcheviques (muitos deles absolutamente contrários ao golpe proposto por Lênin, pois para eles isso seria contrariar o princípio da revolução da classe operária, que Lênin sabia que não viria), e faz o perfil psicológico dos principais personagens, assim como fez com Hitler e Mussolini, sobre os quais ele insinua gestos efeminados.

Acho que os militares turcos precisariam ler não só Curzio Malaparte, como aprender com o know-how, a técnica, a verdadeira tecnologia de golpes de Estado dos generais latino-americanos (não sei se ainda temos alguns golpistas por aqui, pois já fazem quase 30 anos que não se fazem mais golpes decentes por aqui, e não sei se algum deles deixou um manual operacional para um golpe bem sucedido.

Quem sabe algum gozador bem informado não prepara um:

Coup d'État for Dummies,
ou The Idiot's Guide for Coup d'États,
ou ainda, How to Iniciate, Complete, and Survive a Successful Coup d'État,
ou mesmo um All that you always wanted to know about a good coup d'État and never had someone to ask,
ou quem sabe então um: The Complete Guide on How to Perform a Wonderful Coup, and Become Youself a Brilliant Chef d'État ?

Pronto, já dei minha contribuição para um bom golpe de Estado.
Quem desejar ler o manual (um pouco surrealista, hoje) de Curzio Malaparte, tem uma nova edição italiana na

Piccola Biblioteca Adelphi
2011, 3ª ediz., pp. 270 
isbn: 9788845926327 
 € 12,75
http://www.adelphi.it/libro/9788845926327

Divirtam-se (if you may...)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2016

Pensamiento Diplomatico Brasileno, 3 vols. - Funag - libro disponible

Acaba de ser publicado


2016


quinta-feira, 14 de julho de 2016

Instituto de Pesquisas de Relacoes Internacionais (Funag-MRE): convenio com a Capes, Banco de Teses e Dissertacoes

O ministro (da carreira diplomática) Alessandro Candeas, diretor interino do IPRI, órgão da Funag, meu colega, elaborou uma informação dirigida aos coordenadores de cursos de relações internacionais sobre eventos recentes no âmbito desse instituto:

Caros coordenadores,

Escrevo-lhes para transmitir algumas novidades do IPRI:

1) Foi assinado hoje o protocolo de cooperação entre a FUNAG e a CAPES, que prevê modalidades de fortalecimento da pós-graduação em RRII (o acordo sobre o que havíamos conversado na CORE e posteriormente). Convido-os a fazer o melhor uso possível desse instrumento:
http://capes.gov.br/component/content/article/36-salaimprensa/noticias/7973-capes-e-funag-assinam-protocolo-para-acoes-de-fortalecimento-da-pos-graduacao

2) O IPRI continua postando entrevistas que podem ser de interesse de seus alunos e pesquisadores:
http://www.funag.gov.br/ipri/riempauta/

3) O IPRI lançou, em seu site, o banco de teses e dissertações, por meio do qual podem ser levantados todos os trabalhos acadêmicos defendidos nos programas de mestrado e doutorado no Brasil em RRII. Convido-os a fazer levantamentos e divulgá-los entre seus alunos e pesquisadores:
http://www.funag.gov.br/ipri/btd/

4) Outros produtos do IPRI podem ser consultados na nossa página:
http://funag.gov.br/ipri/

5) Por fim, anuncio que (...) estou-me transferindo para o gabinete do Ministério da Defesa, onde continuo às ordens de vocês. Despeço-me com uma palavra de agradecimento por toda a colaboração, e com votos renovados de muito sucesso.
[Minha sucessão será brevemente anunciada.]

Forte abraço a todos.
Alessandro Candeas
Brasília, 14 de julho de 2016

Rui Barbosa e o direito internacional - Sergio E. M. Lima, Paulo Roberto de Almeida (Correio Braziliense)

Mais recente artigo publicado, pequeno, mas simbólico, pois hoje se comemora, justamente, além da queda da Bastilha -- que é um episódio menor da vida internacional --, os cem anos do famoso discurso de Rui Barbosa na Faculdade de Direito de Buenos Aires, em 14 de julho de 1916, quando ele condena a violação da neutralidade da Bélgica pelo Império alemão.
Paulo Roberto de Almeida


Rui Barbosa e o direito internacional

Sérgio Eduardo Moreira Lima
Paulo Roberto de Almeida
Correio Braziliense, 14/07/2016
  
            Há cem anos, quando a Argentina comemorou o primeiro centenário de sua independência, o governo brasileiro designou o senador Rui Barbosa como seu representante nos festejos. Além de participar das cerimônias oficiais, Rui Barbosa foi convidado a palestrar na Faculdade de Direito de Buenos Aires, ali pronunciando uma das mais importantes alocuções da história do direito internacional no Brasil. Dada a contribuição de suas reflexões para a construção da doutrina jurídica que sustenta a essência da política externa brasileira, bem como para a afirmação de valores e princípios da diplomacia defendida pelo Itamaraty, vale relembrar alguns conceitos fundamentais dessa conferência, ainda válidos em nossos dias.
            Em 1983 a Casa de Rui Barbosa publicou o texto definitivo, traduzido do espanhol, dessa palestra, “Os Conceitos Modernos do Direito Internacional”, durante muito tempo denominada como “O Dever dos Neutros”. Rui já era conhecido na Argentina, onde vivera entre 1893 e 1894, fugindo da perseguição que lhe movia o governo de Floriano por sua posição em defesa dos revoltosos da Armada. Depois de repassar os episódios mais relevantes do itinerário independentista argentino – iniciado em 1806, avançando em 1810 e consagrado definitivamente no Congresso de Tucuman, em 9 de julho de 1816, quando se proclamou a autonomia do país em face da Espanha –, Rui Barbosa cita Juan Bautista Alberdi, que condenava, no panfleto “A Onipotência do Estado”, o culto ao Estado como “a negação da liberdade individual”.
Ele chega então ao cerne de sua exposição: a condenação formal do uso da força, representada pela violação da neutralidade da Bélgica por tropas do Império alemão, em total desrespeito aos princípios discutidos poucos anos antes na Segunda Conferência da Paz da Haia, na qual Rui fora o chefe da delegação brasileira. Suas palavras, em defesa desse princípio, foram muito claras: “Entre os que destroem a lei e os que a observam não há neutralidade admissível. Neutralidade não quer dizer impassibilidade; quer dizer imparcialidade; e não há imparcialidade entre o direito e a injustiça. (...) O direito não se impõe... com o peso dos exércitos. Também se impõe, e melhor, com a pressão dos povos. (...) Não há duas morais, a doutrinária e a prática. A moral é uma só: a da consciência humana, que não vacila em discernir entre o direito e a força.”
            Essa conferência de Rui Barbosa foi relembrada pelo chanceler Oswaldo Aranha, em 1942, no exato momento em que o Brasil se viu confrontado à extensão da guerra europeia ao continente americano, instando, então, o país a assumir suas responsabilidades no plano dos princípios do direito internacional e em consonância com os deveres da solidariedade hemisférica. A Alemanha tinha, mais uma vez, violado a neutralidade da Bélgica, para invadir a França. A postura de Aranha – que havia recepcionado Rui, como jovem estudante no Rio de Janeiro, quando o jurista desembarcou em sua volta ao Brasil –, foi decisiva para que, ao contrário da vizinha Argentina, então controlada pelo Grupo de Oficiais Unidos, de orientação simpática ao Eixo, o Brasil adotasse uma postura compatível com a construção doutrinária iniciada por Rui e de acordo a seus interesses nacionais, nos contextos hemisférico e global, em face do desrespeito brutal ao direito internacional cometido pelas potências nazifascistas na Europa e fora dela. 
            Vinte anos depois, o chanceler San Tiago Dantas, um dos grandes tribunos do pensamento jurídico da diplomacia brasileira, defende o respeito ao princípio da não intervenção nos assuntos internos de outros Estados, que estava então em causa nas conferências e reuniões pan-americanas em torno do caso de Cuba. Outros juristas e diplomatas brasileiros, ao longo do século, a exemplo de Raul Fernandes, Afrânio de Melo Franco, Afonso Arinos e Araújo Castro, participaram dessa construção doutrinal e pragmática dos valores e princípios da diplomacia brasileira. Há que se reconhecer, no entanto, que Rui Barbosa foi um dos responsáveis pela contribuição das grandes diretrizes políticas e jurídicas que hoje integram plenamente o patrimônio da diplomacia brasileira.

Sérgio Eduardo Moreira Lima, embaixador, é presidente da Fundação Alexandre de Gusmão; Paulo Roberto de Almeida é ministro da carreira diplomática e professor nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que aconteceu no Brasil e no mundo desde 1916 a cada dez anos terminando em 6 - Paulo Roberto de Almeida

Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo nos anos 6, por Paulo Roberto de Almeida

Vejamos, apenas como exercício intelectual de recapitulação improvisada, o que de importante ocorreu no Brasil e no mundo a cada década nos últimos cem anos:
1916: O Brasil de Venceslau Brás tenta superar as dificuldades criadas pelos fechamentos dos mercados para nossos produtos de exportação, em consequência da Grande Guerra que tinha tido início na Europa dois anos antes; Rui Barbosa pronuncia um importante discurso em Buenos Aires, sobre os modernos conceitos do direito internacional, no qual se refere à guerra que continuava na Europa, e que tinha se caracterizado pela violação da neutralidade belga pelo Império Alemão.
1926: Washington Luís é eleito para o governo federal, e tem como seu primeiro ministro da Fazenda Getúlio Vargas, que dá início a um novo processo de estabilização monetária baseada no padrão ouro, que vai durar até 1929. O mesmo tinha sido feito por Winston Churchill na Grã-Bretanha, no ano anterior, mas a uma taxa irrealista (a mesma de 1913, sem levar em conta a inflação do período), o que resulta numa grave recessão econômica, e numa greve geral em 1926. Keynes aproveitou o seu título de sucesso de 1919, contra as loucuras econômicas do tratado de Versalhes contra a Alemanha, para escrever, em 1925, The Economic Consequences of Mister Churchill, alertando contra a medida, que foi tomada.
1936: No Brasil começava a funcionar a Lei de Segurança Nacional, após a Intentona Comunista de novembro de 1935, e os comunistas que não foram presos, fugiram do país; vários participaram da Guerra Civil Espanhola, um ensaio geral para a grande guerra que começaria logo depois do seu término, três anos depois. Foram três anos de carnificina nos campos de batalha e de assassinatos políticos nas cidades, inclusive com a ativa de participação dos fascistas europeus (italianos e alemães) do lado de Franco, e dos comunistas pró-soviéticos do lado republicano.
1946: O mundo começa a se recuperar do mais devastador conflito militar em qualquer tempo, responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, a maior parte civis inocentes e indefesos, na Europa e na Ásia; o Brasil, também ensaio uma política econômica mais liberal, mas que é seguida rapidamente por um novo estrangulamento cambial, com introdução de novas restrições às importações desde o ano seguinte. O FMI e o Banco Mundial começam a funcionar, precariamente.
1956: Início do governo otimista de Juscelino Kubitschek no Brasil, com a pretensão de obter um rápido crescimento (“cinquenta anos em cinco”) a partir de um Plano de Metas que previa tudo, menos a construção de Brasília (que deu início à aceleração do processo inflacionário no Brasil); no mundo, ocorre a crise do Canal de Suez, a partir da nacionalização do canal pelo presidente Nasser, e uma tentativa por parte das duas principais potências europeias, França e Grã-Bretanha, de retornar ao status quo ante; EUA e URSS, surpreendentemente, apoiam o Egito, o que representa o começo do fim do mundo europeu, e de sua hegemonia mundial, que durava desde alguns séculos.
1966: Brasil se encaminha para o segundo ano do regime militar, que deveria ter encaminhado, depois do golpe contra Goulart em 1964, para as eleições presidenciais de 1965, canceladas, ao mesmo tempo em que todos os partidos foram dissolvidos, e tem início um novo período de reconstrução constitucional (a partir de 1967), com eleições indiretas para os principais cargos executivos; o mundo se aproxima do fim do regime de Bretton Woods, com a acumulação de centenas de milhões de dólares em parceiros dos EUA, que não mais estariam habilitados, a partir de 1971 (mas vários antes desse prazo), a trocar a moeda papel pelo seu equivalente em ouro, como prometido pelos EUA em 1944.
1976: O Brasil luta para estabilizar sua economia, depois do primeiro choque do petróleo, que representou não apenas uma triplicação da fatura petrolífera (o país importava perto de 80% do petróleo consumido), mas também uma nova aceleração inflacionária, inclusive porque o governo militar não interrompeu custosos programas de infraestrutura e o também custoso programa do álcool combustível. O mundo keynesiano veio abaixo, com a estagflação, o que não estava previsto na teoria, e todos os países enfrentam crises fiscais e monetárias, antecipando sobre as políticas econômicas de corte liberal que começariam a partir de 1979, com Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e com Ronald Reagan nos EUA, durante os anos 1980. A esquerda começa a abusar do termo neoliberal, um fantasma que na verdade não aconteceu em nenhum lugar do mundo.
1986: o Brasil saiu do regime militar, mas não de um regime político disfuncional e perdulário, pois o governo Sarney dá início a uma sucessão de planos fracassados de “estabilização”, que todos elevam a inflação a patamares cada vez mais elevados (enquanto o processo constitucional promete maravilhas a todos, sem se perguntar quem iria pagar pela grande ilusão das bondades distribuídas pelo Estado). O socialismo real começa a ruir na sua pátria de origem e os satélites soviéticos passam das agitações aos tremores finais: seria o fim da História, se esta não se recusasse teimosamente em ser Hegeliana.
1996: O Plano Real entra no seu segundo ano de estabilização bem sucedida no Brasil, com a inflação convergindo, pela primeira vez em séculos, para patamares mais civilizados do que os conhecidos anteriormente; mas a valorização cambial e a perda de competitividade, ademais de uma insuficiente redução dos gastos públicos (ao contrário, eles continuaram aumentando continuamente, e novos impostos são criados), prenunciam novas crises pela frente, assim que os mercados financeiros entram em pânico com insolvências no México, na Ásia e na Rússia. O mundo se prepara para a “primeira crise financeira do século XXI”, como a designou o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
2006: O governo do “Nunca Antes”, iniciado três anos antes, já tinha se enrolado no esquema altamente corruptor do Parlamento, o do Mensalão, do qual se salva pela incompetência da “oposição”, que nunca existiu na verdade, e pela popularidade trazida pela bonança econômica chinesa e a esperteza do “Guia Genial dos Povos”. Com isso, ele obtém sua reeleição – graças à mudança constitucional efetuada dez anos antes pelo mais vaidoso presidente que jamais existiu na história política do Brasil – e continua com seus planos megalomaníacos. A política econômica já tinha começado a desandar com o “empoderamento” de uma chefe da Casa Civil protegida pelo chefão, mas absolutamente inepta em matéria econômica e totalmente submissa ao esquema corruptor do PT. O mundo retomou, por alguns anos, taxas de crescimento que ele nunca tinha visto desde o primeiro choque do petróleo, criando super-bolhas nos mercados imobiliário e bancário dos EUA, a partir de 2007, que redundaram na crise internacional a partir de 2008, com efeitos mundiais nos anos seguintes. Países emergentes, a começar pela China e pela Índia, conhecem taxas dinâmicas de crescimento durante esses anos, mas o Brasil começa um processo de Grande Destruição econômica, que se manifestaria plenamente a partir de 2011.
2016: Finalmente, depois de longa agonia, ocorre a derrocada do governo lulopetista, mas não ainda o desaparecimento de seus efeitos nefastos sobre a política e a economia brasileira, e ainda mais sobre as mentalidades: o Brasil aparece como um país dividido, e com pouca capacidade política – e ainda menos estadistas – para superar a sua mais grave crise – econômica, política, moral, institucional – de toda a sua história. O mundo continua numa fase de baixo crescimento, agora agravada pela anunciada saída da Grã-Bretanha da União Europeia (uma grande trapalhada do Partido Conservador). Franceses e italianos continuam incapazes de empreender reformas substanciais, e os chineses começam a comprar seus ativos mais preciosos (como revelado pela aquisição do clube de futebol Milan). Mas a Eurocopa ainda é um sucesso mundial, aliás uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina…
Paulo Roberto de Almeida Paulo possui doutorado em ciências sociais e é diplomata de carreira, com destaque para quando foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Além disso, é autor de diversos livros de história diplomática do Brasil e sobre as relações econômicas internacionais, com destaque para o comércio internacional e a integração regional. (pralmeida@mac.com)
Como citar este artigo: Editoria Mundorama. "Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo nos anos 6, por Paulo Roberto de Almeida". Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 11/07/2016]. Disponível em: <http://www.mundorama.net/2016/07/11/um-seculo-de-mudancas-na-vida-do-brasil-e-do-mundo-nos-anos-6-por-paulo-roberto-de-almeida/>.

Mercosul e Venezuela, uma equacao dificil - Ministro de Estado Jose Serra (O Globo)

Um excelente artigo do ministro José Serra -- que certamente foi escrito com a ajuda de diplomatas conhecedores dos meandros, detalhes e filigranas do Mercosul -- que trata basicamente da difícil situação da Venezuela no bloco, mas pouco do sofrimento da população venezuelana, e das prisões de opositores políticos (compreensivelmente).
Quando o Mercosul fez 25 anos, em março passado, eu escrevi um:

2947. “O Mercosul aos 25 anos: minibiografia não autorizada”, Brasília, 24 março 2016, 8 p. Publicado em  Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais (IRel-UnB; n. 103; 27/03/2016; ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/03/27/o-mercosul-aos-25-anos-minibiografia-nao-autorizada-por-paulo-roberto-de-almeida/). Postado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/03/o-mercosul-faz-25-anos-uma-biografia.html),

que pode ser lido em paralelo.
Paulo Roberto de Almeida

Vinte e cinco anos e muito por fazer 
Ministro José Serra *
O Globo, 10/07/2016

O Mercosul faz 25 anos, em meio a bons resultados agregados, ao lado de algum ceticismos em relação ao período recente e ao futuro próximo. Tem pela frente o grande desafio da renovação e da adaptação a um cenário internacional cada vez mais competitivo e instável. A crise que atingiu a região nos últimos anos não diminui a importância do projeto de integração. Ao contrário, torna urgente recuperar o dinamismo perdido, com vistas ao nosso desenvolvimento e projeção externa. É no contexto desses desafios que abordamos a questão da transmissão da presidência pro tempore do Mercosul para a Venezuela.
A presidência do bloco, atualmente a cargo do Uruguai, é exercida semestralmente, em sequência alfabética. Ocorre que as circunstâncias políticas na Venezuela, bem como o estágio em que se encontra o cumprimento por esse país das obrigações que assumiu ao aderir ao Mercosul, levaram o Brasil a sugerir a postergação da próxima transmissão, que seria em julho, até o próximo mês de agosto. Todos nós acompanhamos com preocupação os desdobramentos da crise política, econômica e humanitária na Venezuela. O debate sobre o funcionamento de sua democracia reflete uma realidade de polarização e acirramento retórico de difícil superação. O conflito entre Executivo e Congresso paralisa o país, e a ação do Judiciário é objeto de sério questionamento.
Evidências de que setores ligados ao governo querem o fechamento da Assembléia Nacional dão a medida da turbulência. Há denúncias de prisões arbitrárias, crescente violência nas ruas e uma gravíssima crise de desabastecimento de alimentos e remédios, que vem castigando duramente a população, sobretudo a mais pobre. O Brasil aposta no diálogo entre as principais forças políticas venezuelanas para o encaminhamento dos impasses. Mas é forçoso reconhecer que, hoje, o cenário é de grande instabilidade e de falta de vontade política para levar adiante a construção de pontes para uma saída democrática da crise.
Ao Mercosul e a seu funcionamento institucional, incluindo o exercício da Presidência, interessa também o efeito das indefinições e pendências no processo de incorporação de normas pela Venezuela. A entrada do país nesse bloco, em julho de 2012, deu-se em circunstâncias exóticas que, agora, quatro anos depois, cobram sua fatura. O ingresso de um novo membro exige consenso, mas o Paraguai se opunha à entrada da Venezuela, alegando, com razão, falta de cumprimento de requisitos prévios. Então, sob pretexto de que a demissão do então chefe de governo paraguaio, Fernando Lugo, embora seguindo normas constitucionais, fôra antidemocrática, os demais membros decidiram suspender o Paraguai, artifício que permitiu a adoção precipitada e com base em critérios político- ideológicos, do protocolo que viria a reger a adesão da Venezuela.
Esse protocolo, ao contrário do que seria correto, autorizou a entrada imediata da Venezuela, deixando para quatro anos depois a obrigação de incorporar o acervo legal do Mercosul. Esse prazo de carência vence no próximo dia 12 de agosto. Estamos falando de um conjunto de mais de 1.100 normas e cerca de 50 tratados negociados no âmbito do bloco. São regras que definem a identidade, a forma e o funcionamento do Mercosul. Não é um tema menor. Antes, é o que confere ao bloco conteúdo e identidade. Até o momento, a Venezuela incorporou pouco mais da metade dessas normas.
Ou seja, falta ainda um expressivo conjunto incluindo aí documentos essenciais, como o “Protocolo de Assunção sobre o Compromisso com a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos no Mercosul (2005)”, o “Acordo de Residência do Mercosul (2002)” e o “Acordo de Complementação Econômica n. 18, no âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi)”.
Esse último, no qual estão refletidas as principais disciplinas comerciais do bloco, constitui a espinha dorsal do Mercosul comercial. A não incorporação dessas normas faz da Venezuela um sócio incompleto, inadimplente em relação a deveres que são fundamentais, como regras de origem, que definem se um produto pode ingressar nos demais parceiros sem pagar imposto de importação, cooperação judicial e regulamentos técnicos sobre meio ambiente, alimentos, direitos do consumidor e requisitos fitossanitários, entre outros. No momento em que os países da região, e o Mercosul com eles, voltam a conferir o devido valor à previsibilidade e à segurança jurídica, a expectativa de que a Venezuela cumpra com as obrigações assumidas é exigência lógica e requisito incontornável.
Ao propor a postergação da transferência da Presidência, o Brasil age com prudência, abrindo espaço e tempo para avaliar com serenidade o melhor caminho a seguir. O Mercosul não se pode deixar paralisar. Ao lado dos demais sócios, estamos determinados a modernizar o bloco, a derrubar os entraves que ainda impedem o total livre fluxo de comércio dentro do próprio bloco, a negociar matérias pendentes como investimentos e compras governamentais, a concluir novos acordos com parceiros extrarregionais e integrar-nos de maneira cada vez mais competitiva e proveitosa com o resto do mundo.
A Venezuela é um parceiro importante nesse processo. As potencialidades do país são imensas. Mas as bases para o nosso desenvolvimento conjunto precisam ser lastreadas em instituições respeitadas, comportamento previsível e regras claras. O futuro do Mercosul depende disso.

* José Serra é ministro das Relações Exteriores.

Dureza cair na vida desgracada dos brasileiros comuns, mas pior esta sendo ser incomum - Carlos Brickmann

Carlos Brickman se engana quanto ao cargo do segundo incomum citado, o aspone da PR para assuntos internacionais do partido da nossa desgraça: nunca foi criado nenhum cargo no Itamaraty, e o apartamento funcional que ele ocupa não deve ser do Itamaraty e sim da PR, salvo engano (que vou procurar esclarecer).
Em todo caso, reconheço: o dentista passou longe daquela boca, que ainda assim é muito apreciada pelos companheiros cubanos, a quem ele serviu fielmente, com fidelidade canina como se diz, nos últimos 40 anos, pelo menos...
Paulo Roberto de Almeida

MAIS ESCURO QUE MIL NOITES
Coluna Carlos Brickmann
Edição dos jornais de Quarta-feira, 13 de julho de 2016

O café vem frio, isso quando vem. Jatinho ou avião da FAB, nem pensar. O comum dos mortais compra uma passagem comum; o incomum sabe que será vaiado durante a viagem, interpelado no aeroporto, insultado; e, máxima humilhação, precisará chamar a Polícia para protegê-lo dos homens comuns a quem desprezava, aqueles bobos que gastavam seu dinheiro para viajar, em vez de viajar de graça e ainda embolsar diárias suficientes para tornar-se não um correntista comum, mas um usufrutuário. Não pode tomar um Chicabon, no bar, sem proteção. Nada nele é comum. E justo agora, Dudu Cunha, como lhe faz falta um pouco de vida comum!

É triste não ser comum, por menos que ser comum pareça desejável. Para outra criatura incomum, criou-se no Itamaraty um cargo que não existia, com um bom salário fartamente calculado, verbas, assessores, passagens, e se lhe destinou um ótimo apartamento funcional, onde mora numa boa há 13 anos. A julgar por certos sinais bem perceptíveis, foi protegido neste tempo contra a aproximação de dentistas; a julgar pelos resultados que obteve, foi protegido contra a maldição bíblica que determina aos humanos comuns que ganhem o pão com o suor de seu rosto.

E agora, Marco Aurélio, que a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, que tal parar de ignorar a decisão oficial e sair do imóvel indevidamente ocupado?

Senhores incomuns, é hora de largar o osso!

Contra a Antiglobalizacao: agora ja sei de onde saiu o "excesso" de downloads - Paulo Roberto de Almeida

Pronto: leitores benévolos de meu texto, e usuários da plataforma Academia.edu, me esclareceram esse mistério já não mais misterioso, de tentar saber porque um texto relativamente obscuro, ignoto, jamais citado, de 2004, teve um súbito ataque de popularidade, sendo downloadado dezenas de vezes no espaço de poucos dias, a partir dos mais diferentes cantos do Brasil, por pessoas aparentemente não relacionadas entre si (e de fato não tinham nada a ver umas com as outras).
Este texto:

1297. “Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador”, Brasília, 5 jul. 2004, 23 p. Diplomatizzando (11/07/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/07/contra-antiglobalizacao-um-texto-de.html). 

Leitores atentos me deram a dica, e fui atrás. Um curso online do Instituto Legislativo Brasileiro, do Senado Federal, sobre Relações Internacionais, tinha colocado a recomendação como uma das primeiras leituras do curso abaixo, no qual tive de me inscrever, como o mais relapso dos alunos, para ter acesso à citação.
Depois de preencher aqueles formulários chatos, que só não perguntam quanto você pesa e qual cerveja prefere, recebi a seguinte mensagem:

Prezado (a) estudante,
Você foi matriculado (a) no curso a distância “Relações Internacionais: Teoria e História - Turma: 01 A”, com carga horária de 60 horas e duração de até 60 dias, que será realizado pelo Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), órgão do Senado Federal.
Para acessar o curso, siga os seguintes passos:
• acesse a plataforma Saberes (http://saberes.senado.leg.br/);
• faça o login;
• clique em ‘Meus Cursos’; e,
• clique no curso informado.
Atenciosamente,
Serviço de Ensino a Distância - SEED
Instituto Legislativo Brasileiro – ILB


Pronto, fiz isso, e lá veio. Até desconfio quem colocou o meu nome e meu texto logo ao início do curso, sendo que eu mesmo não acho que o problema principal das relações internacionais contemporâneas seja a existência de antiglobalizadores, essa fauna exótico, bizarra, equivocada, que merecia ganhar um Darwin Awards (não sabe o que é? Procure no Google...).
A recomendação vem assim, logo na Unidade 1 do curso:

Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida, “Contra a Antiglobalização”.

O problema é que o link para esse meu texto remete ao meu site (www.pralmeida.org), temporariamente desativado depois que o meu provedor de hospedagem pegou o meu dinheiro e sumiu. Calma: já providencia outro hospedeiro, mas agora vai demorar um pouco para carregar todos os documentos, e infelizmente os links já não serão os mesmos.
Mas, a própria bibliografia do curso, ao final do Módulo I, recomenda outro livro meu. Este aqui:
ALMEIDA, Paulo Roberto de. Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as Relações Internacionais. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

Gosto muito desse livro, com esse título Aroniano, eu que sempre considerei o Raymond Aron o homem mais inteligente da França (depois do General De Gaulle, claro), assim como o Rui Barbosa era considerado o homem mais inteligente do Brasil (pelo menos os baianos pensam assim, e muita gente concorda).

OK, agora que eu já sei de onde veio a recomendação de leitura, agradeceria receber, de todos os leitores (pelo menos os mais ativos) críticas aos argumentos desse meu trabalho decididamente globalizador, e claramente contrário aos antiglobalizadores.
Como sempre, meus textos são para serem avaliados, repudiados, contraditados, contestados, rejeitados, mas sempre com argumentos que respondam claramente às minhas posições neles expostas.
Agradeço, de todo modo, aos que se interessam por essas peças de didática contrarianista no universo do politicamente correto da maior parte das nossas academias.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de julho de 2016

De onde vem meu anarquismo anti-estatal? (desculpem a redundancia) - Paulo Roberto de Almeida

Confesso que, mesmo quando eu era marxista, no século passado, no milênio anterior, eu nunca gostei muito do Estado, pois sempre fui um rebelde com causa, e o Estado é a coisa mais determinada que possa existir, sempre se metendo na nossa vida, dizendo o que podemos, e sobretudo o que não podemos fazer.
Assim, mesmo quando eu  queria expropriar a burguesia, nacionalizar os setores ditos estratégicos, e socializar a riqueza, eu nunca fui muito propenso a entregar tudo isso a burocratas. Talvez tenha sido a influência do Maurício Tragtenberg, meu professor de História no colegial (clássico), na segunda metade dos anos 1960, ele que era um judeu ateu, e um socialista anarquista, da tradição autogestionária (já escrevi sobre ele, e vou recuperar esse texto sobre "A Educação de Maurício Tragtenberg").
Mas, no texto abaixo, que recupero nesta hora da saudade (de 2004), está minha primeira reflexão sistemática (e utópica) sobre o Fim do Estado e a adesão a uma tresloucada coisa que eu chamei de "governança global" (como se pode ser ingênuo, não é mesmo?).
Mas, sem mais delongas, vamos ver o que eu escrevia sobre isso doze anos atrás.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de julho de 2016


Contra a soberania estatal: uma proposta para acabar com Vestfália

Paulo Roberto de Almeida
Simpósio trilateral da Fundação Konrad Adenauer sobre
Política Social Internacional
(Rio de Janeiro, 27 e 28 de Maio de 2004;
Pestana Rio Atlântica Hotel – Av. Atlantica, 2964 - Copacabana – RJ)

(Notas para desenvolvimento oral, e ulteriormente texto escrito)

            Respondo sumariamente à seguinte questão que me foi colocada pelos organizadores:
“Que reformas no sistema internacional são desejáveis e possíveis a fim de se alcançar justiça social internacional?”
            Sendo telegráfico, eu diria apenas o seguinte:
O sistema de relações internacionais precisaria caminhar para a construção de uma arquitetura política e econômica que possa se basear na governança global e na democracia preventiva.
            Dito assim, parece fácil, mas o que estamos propondo resultaria, a termo, na própria extinção, eliminação ou redução substancial do sistema de Vestfália, ou seja, o da soberania absoluta dos estados nacionais.
            Talvez seja totalmente utópico, irrealista e impossível de ser implementada uma tal revolução no sistema de relações internacionais, mas acredito, sinceramente, que o direito internacional se encaminha, ainda que a passos muito lentos, nessa direção.
            Recordemos, antes de mais nada, que também Kant aspirava a uma utopia desse tipo, a paz perpétua, que para ele deveria ser baseada numa espécie de monarquia universal, o que significaria, em nossos tempos, regimes constitucionais e democráticos. Ora, o avanço do sistema multilateral, consubstanciado na ONU e na OMC, representa, de certa forma, um esboço dessa futura arquitetura política na qual os conflitos tendem a ser marginais e decrescentes.
            Se partilharmos da opinião, bastante sensata, de que regimes plenamente democráticos não conduzem guerras ofensivas e que respeitam os direitos básicos de seus cidadãos e os de todos os demais, então podemos afirmar que a democracia é um requisito essencial de todo e qualquer regime aspirando à justiça e à paz internacionais.
            Ora, sendo as ditaduras o resultado de processos políticos internos aos países e que estes são normalmente constituídos e reconhecidos segundo o modelo de Vestfália, então poderemos concluir, pela lógica formal, que a realização da democracia pode requerer, em certos casos, a abrogação gradual do sistema de Vestfália para que o ideal democrático possa ser realizado. Estou simplificando, obviamente, e nem acredito que a democracia possa ser implantada desde fora, mas creio, fundamentalmente, em valores universais que são os representados pelo Iluminismo europeu, multilateralizados na prática desde a Revolução francesa e o moderno sistema onusiano (com suas conhecidas limitações soberanistas, justamente). Desse ponto de vista, recuso o relativismo histórico e a relatividade culturalista: valores universais são valores universais, e o primado do indivíduo deve passar antes dos interesses dos Estados.
            Por isso, acredito que o próximo passo na elaboração conceitual do direito internacional esteja indicado pelo itinerário da afirmação dos direitos individuais contra os direitos do Estado e contra a razão de Estado. Não é fácil admitir este princípio, pois se teme o unilateralismo, a arrogância imperial e os abusos derivados dos interesses dos mais fortes, mas creio que o multilateralismo político já avançou ao ponto de poder limitar o poder da força e tentar afirmar, doravante, a força do direito.
            Contrariamente aos que acreditam que a intervenção americana no Iraque representou uma crise da ONU e de seu CS, creio que ela representa, ao contrário, uma reafirmação de certos princípios básicos que estarão sendo novamente defendidos pela maioria dos países membros.

            Isto, do ponto de vista da democracia e dos direitos humanos. Do ponto de vista da afirmação das aspirações dos povos a maior bem-estar, a maior justiça, pela garantia de condições mínimas de uma existência digna, creio igualmente que o caminho para essa prosperidade ampliada dos países e pessoas mais pobres ou mesmo miseráveis (que são justamente os suscetíveis de abrigarem regimes despóticos e autoritários) passa pela ampliação irrefreável da globalização, o fator mais poderoso, nos dias que correm, para a ampliação das franquias e a criação de riquezas.
            Uma globalização ampliada constitui o mais poderoso fator de convergência entre os povos, ainda que alguns acreditem que ela produz desemprego, concentração ou até mesmo miséria. Os dados disponíveis até aqui são todos inquestionavelmente em favor da globalização. O nacionalismo econômico costuma ir de par com regimes fechados, cartelizados, protecionistas, enfim, restritivos das escolhas individuais e portanto das liberdades humanas, entre elas a liberdade econômica de trabalhar e de acumular.
            Trabalhei sobre alguns dos estudos de economistas, entre eles Sala-i-Martin e Surjit Bhalla, que confirmam os efeitos inegavelmente positivos da globalização na melhoria da condição dos mais pobres.
            Dois requerimentos se impõem para ampliar a globalização: eliminar o absurdo protecionismo comercial e o subvencionismo pornográfico dos países ricos nas áreas da economia agrícola e da produção industrial labour-intensive, e reduzir o absurdo nacionalismo econômico dos países mais pobres, que só traz prejuízos aos seus povos, em benefício exclusivo de suas elites. Alguns ainda crêem que soberania econômica e capitalismo nacional são sinônimos de dignidade e bem estar, quando estes princípios, na verdade, estão associados a baixos níveis de produtividade e de desempenho econômico.
            Por isso, não hesito em afirmar: abaixo Vestfália, abaixo o soberanismo político e o nacionalismo econômico, ambos restritivos e tendencialmente autoritários. Viva a abertura, a universalização dos direitos individuais, a globalização e o internacionalismo.
            O sentido da história é este: poderá demorar um certo tempo, mas o caminho é este.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de maio de 2004