O presidente, e o seu guru destrambelhado da Virgínia, são os principais responsáveis pelo surto de autoritarismo em vigor no Brasil atualmente, secundados pela horda de aloprados hidrófobos que vêm nas manifestações nos países vizinhos instigações de comunistas teleguiados pelo Foro de São Paulo, e que são por esse bando de ignaros totalitários classificados como terroristas. Já ofereci, nesta minha nota (https://diplomatizzando.blogspot.com/…/mini-reflexoes-sobre…), minhas considerações sobre esses movimentos, legítimos ainda que iludidos quanto ao poder dos Estados ou governos generosidades sociais, que só podem piorar a situação geral dos países da região, que assim volta ao seu mainstream populista e demagógico. Isso não autoriza os desvairados dirigentes a lançarem alertas contra um alegado perigo de "comunização do Brasil". Totalitários precisam ser barrados pela força das instituições republicanas.
Paulo Roberto de Almeida
Taubaté, 27/10/2019
Surtos autoritários
É crucial, mais do que nunca, que as
instituições não se dobrem à truculência dos que se mostram incapazes de se
subordinar à ordem democrática
· Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
27 de outubro de 2019 | 03h00
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Celso de Mello chamou recentemente a atenção para o
“momento extremamente delicado” que o País atravessa. O decano do STF denunciou
os “surtos autoritários” e os “inconformismos incompatíveis com os fundamentos legitimadores
do Estado de Direito”. Apontou também as “manifestações de grave intolerância
que dividem a sociedade civil”, estimuladas pela “atuação sinistra de
delinquentes que vivem na atmosfera sombria do submundo digital”. Esses
delinquentes seriam parte de um “estranho e perigoso projeto de poder”.
Uma vez implementado,
disse o ministro Celso de Mello, tal projeto de poder “certamente comprometerá
a integridade dos princípios que informam e sobre os quais se estrutura esta
República democrática e laica, concebida sob o signo inspirador e luminoso da
liberdade, da solidariedade, do pluralismo político, do convívio harmonioso
entre as pessoas, da livre e ampla circulação de ideias e opiniões, do veto ao
discurso do ódio, do repúdio a qualquer tratamento preconceituoso e
discriminatório, do respeito indeclinável pelas diferenças e da observância aos
direitos fundamentais de todos os que integram, sem qualquer distinção, a
coletividade nacional”.
Não
foram palavras ao vento. O surto autoritário a que aludiu o ministro de fato
está em pleno curso. Em nome de uma guerra imaginária contra o “comunismo”,
mobilizam-se as energias do Estado e da sociedade para combater impiedosamente
um inimigo que, como uma insidiosa bactéria, estaria infiltrado no corpo nacional.
Essa mobilização se dá tanto na superfície, por meio de ações e declarações dos
atuais ocupantes do governo, como no subterrâneo das redes sociais, onde
habitam os delinquentes a que aludiu o ministro Celso de Mello.
Numa
luta dessa natureza, é claro que a democracia é um obstáculo, pois esse regime
pressupõe o respeito à opinião alheia e a aceitação dos limites impostos pela
lei. Todo aquele que critica o atual governo ou se dispõe a lhe fazer oposição
política tem sido tratado como “comunista” – isto é, como inimigo – pelas
milícias digitais bolsonaristas, estimuladas explicitamente por integrantes do
primeiro escalão da administração federal e da família do presidente Jair
Bolsonaro, quando não pelo próprio Bolsonaro.
Os
protestos no Chile e no Equador contra governos vistos por Bolsonaro como
aliados na tal luta contra o “comunismo” serviram de pretexto para que o
presidente invocasse a possibilidade de mobilizar as Forças Armadas a fim de
conter, no Brasil, eventuais atos “terroristas” – que é como Bolsonaro
qualificou as manifestações no Chile.
Ora,
numa democracia, nenhum projeto de poder é legítimo se nele opositores são
tratados como “terroristas”, se contra estes se ameaça usar força militar, se a
imprensa livre é considerada inimiga e se sicários digitais são incitados a
destruir reputações alheias e a disseminar mentiras para confundir a opinião
pública em favor da ideologia do presidente e de seu entorno.
Não
se sabe qual será o próximo passo da escalada, mas o alerta do ministro Celso
de Mello está longe de ser um exagero; deve, ao contrário, ser levado a sério
por todos aqueles que, malgrado sua eventual decepção com a política, ainda
acreditam que a democracia é o melhor regime.
Sabe-se
que ainda há inconformados com a redemocratização do Brasil. Para estes, o País
foi entregue de mão beijada aos “comunistas” derrotados nos porões da ditadura
militar, razão pela qual não demonstram o menor respeito pelo regime
democrático. Antes limitados às margens da política, esses radicais se julgam
agora com poder para desafiar a ordem que, em sua concepção, foi criada para
dar boa vida a esquerdistas. A tentação autoritária, portanto, está no ar.
Sendo assim, é crucial, mais do que nunca,
que as instituições não se dobrem à truculência dos que se mostram incapazes de
se subordinar à ordem democrática. Antes que a serpente da tirania choque seu
ovo, cabe aos homens e mulheres responsáveis deste país seguir o exemplo de
Celso de Mello e colocar-se de prontidão contra os liberticidas que ousem
atentar contra a República.
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