CONTRA A CORRENTE
Gustavo Maia Gomes
Postagem no Facebook, 28/12/2020
O Brasil tinha, em 2019, quase 52 milhões de pobres, definidos como as pessoas com renda mensal de até R$ 436. (Esse é um parâmetro usado pelo Banco Mundial.) Muita gente, sem dúvida. Temos esse problema.
Acontece que a nossa população, no mesmo ano, era de 210 milhões. Se quem não é pobre é rico, existiam, naquele ano, 158 milhões de ricos no Brasil. Três vezes mais. Apesar disso, legiões de economistas estudam a pobreza no país. Identificam os seus problemas, fazem medições sofisticadas, propõem soluções, das mais burras às mais inteligentes. Muito justo que o façam. Mas, não conheço ninguém que estude a riqueza.
Fiz um teste. Fui ao Ipeadata, site de estatísticas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Escrevi “pobreza” no lugar destinado às buscas. Apareceram 28 tabelas, cada uma com suas ramificações. Escrevi “riqueza”. Zero resposta. Zerinho da Silva. Será que os brasileiros não-pobres não têm nenhum problema? Que sua existência e felicidade eternas estão garantidas por decreto divino?
Vivemos a repetir que um objetivo nacional é reduzir a pobreza. Temos conseguido. Portanto, a quantidade de ricos tem aumentado. Ninguém parece notar. Até quando as questões teóricas e empíricas, macro e microeconômicas, associadas à riqueza irão permanecer indiscutidas?
Não é só no Brasil que o número de pobres tem diminuído. É no mundo todo, com uma ou outra exceção irrelevantes e excluídos das estatísticas anos loucos como foi 2020 e, tudo indica, também o será 2021. Na verdade, nas últimas quinze décadas, como mostra a figura abaixo, o produto interno bruto por habitante no mundo e em todas as suas regiões (umas mais, outras menos) tem crescido muito.
É líquido e certo que esse processo continuará a existir indefinidamente, ou ele será interrompido pela própria riqueza que tem criado? Não sei. Para contingentes cada vez maiores da população mundial o “problema econômico” já não é como conseguir comida, mas em que gastar a parte de seus rendimentos que sobra após a feira. Essas pessoas podem escolher se preferem trabalhar menos e ter mais lazer ou trabalhar mais e consumir bens e serviços com que seus pais jamais teriam sonhado. E ninguém quer saber disso? (No Brasil, pelo menos.)
Pois decidi quebrar o tabu. Pretendo apenas levantar algumas questões. "Bater o centro" (iniciar a partida), como se dizia no jargão futebolístico. Alguma coisa resultará da empreitada. Outros economistas que continuem o jogo, se o desejarem. Eu virei historiador, desde algum tempo.
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