Eu já disse que tenho alergia à burrice, não à ignorância dos ingênuos, mas à estupidez daqueles que poderiam não ser imbecis, pois dispõem de todos os meios para se informar e que ESCOLHEM ser imbecis.
Paulo Roberto de Almeida
IMBECIL
JOSÉ HORTA MANZANO
… Em francês, até o século 18, imbécil conservava o significado latino de pessoa fraca de corpo. Aos poucos, foi adquirindo o sentido de fraco de inteligência…
O adjetivo imbecil existia em latim sob a forma imbecillus. Na língua dos romanos, seu significado era diferente do que lhe atribuímos hoje. Era usado para indicar fraqueza de corpo. Em vários textos de Cícero, o adjetivo aparece como qualificativo de homem: homo imbecillus = indivíduo fisicamente diminuído.
É daquelas palavras órfãs que não parecem pertencer a nenhuma família. Sua origem é controversa. Alguns cogitam que talvez pudesse ser formada pela partícula in + becillum, uma forma alterada de bacillum, diminutivo de baculum (bastão). Se assim fosse, a palavra imbecil evocaria a imagem do indivíduo que se move apoiado num bastão. Apesar de simpática, a explicação não é geralmente aceita.
Em francês, até o século 18, imbécil conservava o significado latino de pessoa fraca de corpo. Aos poucos, foi adquirindo o sentido de fraco de inteligência.
Dado que o burro é um animal simpático (e não mais burro que uma galinha, um sapo ou uma girafa), me dói chamar de burro um indivíduo pouco inteligente. Prefiro imbecil, termo que evoluiu até tornar-se hoje perfeito para designar pessoa com forte déficit de inteligência.
Ainda ontem, pela enésima vez, doutor Bolsonaro avisou que não tomará a vacina contra a covid, seja ela qual for. Logo ele, que tem a pretensão de tornar-se nosso guia!
Seu universo mental é limitado e não lhe permite enxergar a realidade como ela é. Não se dá conta de que sua ostensiva resistência à vacinação vai influenciar boa parte dos cidadãos, que acabarão fugindo da imunização. E os não-vacinados continuarão a infectar-se entre si, prolongando a duração da pandemia. E a economia continuará sem fôlego. Ora, prosperidade econômica é a chave da reeleição! Mas ele não consegue enxergar isso.
O homem está preso a meia dúzia de ideias que vem ruminando há 30 ou 40 anos. São essas e mais nenhuma.
Acredita ter vocação para ditador e acalenta a tola esperança de que o povo se levante numa guerra civil e o consagre como defensor perpétuo da nação. Isso explica sua fixação em distribuir armas à população.
Homem de poucas letras e de cultura geral indigente, tem visão fragmentária do mundo exterior.
De alguma viagem que possa ter feito no passado, reteve algumas imagens que gostaria de aplicar ao Brasil. Isso explica
- 1) sua insistência em transformar santuários marinhos em resorts tipo Cancún;
- 2) sua vontade de fazer ancorar na minúscula ilha de Fernando de Noronha naves de cruzeiro de 6000 passageiros;
- 3) sua afirmação de que ‘na Europa, não há mais florestas’, quando se sabe que a cobertura vegetal do território europeu é bem superior à do Brasil – excluída a selva amazônica.
Para falta de cultura, existe remédio. Se se esforçar, o indivíduo pode até cultivar o espírito através do estudo. Lula da Silva, um dos predecessores de Bolsonaro, é, de certa forma, um exemplo. Mesmo tendo chegado à Presidência ignorantão e não tendo estudado nada durante o mandato, manteve o espírito aberto e conseguiu absorver algum conhecimento.
Já o déficit de inteligência é mais cruel. É o caso de nosso doutor. Chegou à Presidência ignorantão e de lá há de sair ignorantão.
É a sina dos imbecis.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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