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sábado, 9 de dezembro de 2023

O stalinismo redivivo, aliás eterno - Paulo Roberto de Almeida

O stalinismo redivivo, aliás eterno

 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a tirania de Putin, mais longa e mais elaborado do que a de Stalin.

 

 

A Rússia retornou ao eixo central do stalinismo totalitário, com a única exceção do Gulag, não mais necessário para controlar eventuais insatisfações do povo com as carências do regime. Sem recorrer a colônias penais, Putin domina cada aspecto da sociedade. 

Um verdadeiro Stalin, mas sem Gulag, não mais necessário: Putin conseguiu instilar medo em todos e cada um, e os pouquíssimos liberais da era Ieltsin simplesmente evaporaram da paisagem. 

Um novo Orwell poderia se dispor a reescrever 1984 com uma nova data: 2034.

Ali se chegaria ao ápice do Big Brother totalitário, com a morte do tirano, o mais longevo na história secular da tirania russa, o único regime registrado por aquela civilização secular que só conheceu lampejos fugazes de liberalização extremamente raros em um itinerário milenar.

O putinismo conseguiu superar o stalinismo, não apenas temporalmente, mas também metodologicamente, instituindo o terror preventivo, que passou a estar embebido na população, uma configuração do Príncipe que passou despercebida a um espírito atilado como Maquiavel. 

Os futuros cientistas políticos vão debruçar-se sobre esse fenômeno.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4526, 9 dezembro 2023, 1 p.


domingo, 29 de outubro de 2023

Putin, o legítimo sucessor de Hitler e Stalin - Paulo Roberto de Almeida, Nina L. Khrushcheva (Project Sindicate)

 Putin, o legítimo sucessor de Hitler e Stalin

O eixo central da nova controvérsia geopolítica mundial — ou uma Segunda Guerra Fria — continua sendo a Rússia, a despeito da emergência da China como o real contendor da disputa hegemônica global, pois que é o militarismo autocrático expansionista de Putin que exacerbou o antagonismo convertido em violação aberta e brutal da Carta da ONU e do Direito Internacional, não a competição estratégica da China com os EUA, um processo normal na história do grande jogo interimperial.

 A Rússia atual confirma escritos de Marx de meados do século XIX e de George Orwell cem anos depois. Mas se trata de uma linguagem politica dotada de um imenso arsenal, inclusive misseis nucleares, o que ainda não era o caso quando Orwell escreveu sua novela distópica. A ameaça de uma IIIGM vem de Putin, não do atual imperador do novo Celeste Império.

 (PRA)

Russian Life Imitates Dystopian Art

Nina L. Khrushcheva sees in the country’s return to absolutism why George Orwell focused on language as a political weapon.

https://project-syndicate.us10.list-manage.com/track/click?u=9116789a51839e0f88fa29b83&id=cd72d8937b&e=55033487ab 

Russian Life Imitates Dystopian Art

The state in Russia has always tended toward absolutism, and its coercive and penal arms have rarely wielded as much power as they do now. Since launching his invasion of Ukraine, Russian President Vladimir Putin has combined neo-Stalinism and religious fervor, with all of the absurdities that this entails.

MOSCOW – The Kremlin rarely surprises me. When I read George Orwell’s 1984 in the 1970s, at age 10, I immediately recognized our Soviet life. By then, everyone was used to the state insisting that everything was becoming “better and more joyous,” as Stalin had claimed in 1935 when people were dying of hunger and being imprisoned for fictitious crimes. 

Later, in the 1970s, when Leonid Brezhnev was touting the Soviet model of “developed socialism,” some 300,000Soviet citizens were defecting to the West. Yet as large as that number seemed at the time, it pales in comparison to today’s figures. The mass exodus following Russia’s invasion of Ukraine in February 2022 is more reminiscent of the one triggered by the 1917 Bolshevik revolution. Between 1917 and 1922, up to three million aristocrats, landowners, doctors, engineers, priests, and other professionals fled the new dictatorship of the proletariat. 

Today, even modest estimates suggest that around 800,000 people – IT specialists, journalists, writers, scientists, actors, directors, intellectuals – left Russia in 2022 alone. As in the past, these professionals could see the writing on the wall. They left to escape Vladimir Putin’s increasingly repressive security apparatus. The state in Russia has always tended toward absolutism, and its coercive and penal arms have rarely wielded as much power as they do now. 

Of course, Putin owes his authoritarian mandate to Russians themselves. After the collapse of the Soviet Union, Russians – reeling from rapid, profound economic changes and the new culture of consumerist individualism – grew nostalgic for the “strong” state. Their superpower status, historic breakthroughs in space, and grand victories on the battlefield were all long gone. Trading their new freedoms for the promise of renewed imperial glory seemed like a good deal. 

They were duped. Those living in Russia today wake up every morning to a new chapter of 1984. “This must be a nightmare,” they tell themselves; yet it is all too real. 

Consider the recent charges brought against Oleg Orlov, the co-chair of the Nobel Prize-winning human-rights organization Memorial, for “discrediting the Russian armed forces.” During a courtroom hearing on October 11, prosecutors, appalled at Orlov’s willingness to stand up for his convictions, accused the defendant of having “a heightened sense of justice and a complete lack of self-preservation instinct.” The prosecutors have also resorted to “punitive psychiatry,” by calling for Orlov to undergo the kind of evaluations carried out in the 1970s. They contend that his long career of advocacy (including protesting the Soviet invasion in Afghanistan in 1979) must have left him mentally “inadequate.”


sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Como Putin usa mentiras e mercenários para destruir democracias - Estadão

 Como Putin usa mentiras e mercenários para destruir democracias 


Pouco antes de morrer em agosto, em um acidente aéreo em circunstâncias suspeitas, o líder do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin disse em suas redes sociais que estava na África “para tornar o continente mais livre. Era no continente, principalmente na região do Sahel, onde seus mercenários mantinham grande parte de sua operação. 

E é também nessa parte da África subsaariana onde estão alguns dos países mais voláteis politicamente do Sul Global. Países como Mali, Niger, Burkina Faso e Chade passaram recentemente por golpes de Estado, campanhas de desinformação e tráfico de armas, em ações patrocinadas pela Rússia de Vladimir Putin. Para aumentar a sua influência na região, o Kremlin atua em duas frentes. Uma é oficial, com a doação de até 50 mil toneladas de grãos e o o acordo de cooperação militar com 40 países anunciados por Putin durante a Cúpula Rússia-África. 

A outra, avança sem ser anunciada, com campanhas de desinformação e forte presença dos mercenários do grupo Wagner Um monitoramento recente da ONG Freedom House, que acompanha os direitos políticos e liberdades civis no mundo há cinco décadas, mostra um recuo do volume de países considerados “livres” no continente africano. 

Gana, Namíbia, Botsuana, Lesoto e África do Sul são cada vez mais exceções que regras, num continente marcado pela pobreza e a instabilidade política, onde sete Países enfrentaram golpes de Estado no últimos dois anos. E a Rússia tem atuado pra isso. O Centro de Estudos Estratégicos da África mostrou que há uma relação direta entre essa última, a ação desestabilizadora russa, e a perda de pontos na escala de países livres. 

Gana, que não tem registro de interferência, aparece com 80 pontos na escala que vai de zero a 100 — melhor avaliado que o Brasil (72). Enquanto os países onde a estratégia de Moscou é mais presente tem uma média de 19 pontos, o mesmo que a ditadura da Nicarágua. Em contrapartida, aponta o estudo, autocracias sem instituições sólidas e sem controles internos são mais permissivas à influência russa. O continente sofre com golpes de Estado em série, manobras de governantes que não querem deixar o poder para estender mandatos e eleições sob suspeita. 

Uma instabilidade crescente, depois da ascensão democrática que parecia ter encerrado a tendência de militarização observada entre as décadas de 1970 e 1980. Essas democracias fragilizadas, se encontram no meio de uma disputa por influência entre polos cada vez mais antagônicos. O professor de relações internacionais do IBMEC Christopher Mendonça alerta que uma das formas de rivalizar com os Estados Unidos e com o Ocidente de modo geral é justamente apresentar para os Países onde disputam influência os valores russos: “a democracia não está entre esses valores. A Rússia está muito mais voltada para o nacionalismo”. 

 Os interesses de Vladimir Putin Moscou tem um objetivo claro: substituir as potências ocidentais e aumentar a influência no continente que é o número dois no mundo em área e população. São 30 milhões de quilômetros quadrados divididos entre 54 países onde vivem 1,2 bilhão de habitantes. E esse interesse não é de hoje, explica Angelo Segrillo, historiador especializado em história russa.

 A antiga União Soviética já disputava com a China e as potências Ocidentais a influência sobre os Países africanos que conquistavam independência. A Rússia até herdou essa relação com o fim da URSS, mas enfraqueceu os laços com o continente no final da década de 1990, enquanto enfrentava um problema dentro de casa, a crise econômica, que levou o país a dar um calota na dívida externa.

 Na era Vladimir Putin, já com as contas acertadas, Moscou passou a buscar essas antigas relações. O movimento se acentuou a partir de 2014, quando a Rússia foi alvo das primeiras sanções por anexar a Crimeia e ganhou força no ano passado, a partir da invasão da Ucrânia, que azedou de vez a relação com o Ocidente. “Com o aprofundamento das sanções, a Rússia tenta aumentar os seus laços e influência tanto na Ásia quanto na África, almejando criar um verdadeiro bloco antiocidental”, aponta Segrillo. 

 Além de contornar os embargos econômicos, a Rússia de Vladimir Putin busca reduzir o seu isolamento, como foi observado no aniversário de um ano da guerra, quando a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução contra a invasão da Ucrânia. O texto foi facilmente aprovado com 141 votos a favor, mas dois países africanos votaram contra junto com a própria Rússia e seus aliados mais próximos, como Belarus. Dos 32 países que se abstiveram, metade fica na África. Sob sanções internacionais, é crucial para Rússia desenvolver esses fluxos alternativos de receita. Ao mesmo tempo, desenvolver parcerias com esses regimes possibilita um tipo de proteção contra condenação internacional pela invasão na Ucrânia. É uma forma de jogar a geopolítica”, nota o pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos da África Daniel Eizenga ao Estadão. 

 Embora o apoio ou posição de neutralidade entre os países africanos nem de longe tenha sido suficiente para barrar a resolução, os números mostram como o continente está dividido em relação à guerra, contrariando o Ocidente, que adota uma posição firme contra o Kremlin e esperam o mesmo de outros Países. A consequência, conclui Cristopher Mendonça é que “se aproximar desses Países melhora as condições da Rússia na ONU”, especialmente em votações da Assembleia-Geral. “A Rússia não é um país que questiona a ONU porque é um membro efetivo [do Conselho de Segurança], estava na criação desses sistema. 

E a África tem um número de votos que é superior ao de outras regiões”, justifica. Em contrapartida, Moscou tem usado o poder de veto como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU parar barrar resoluções contra os governos que apoia na África. Assim, tem livrado autocratas de sanções financeiras e da condenação internacional. Ressentimento com colonialismo abre espaço pra Rússia Enquanto Moscou busca espaço no continente, a relação com Paris se mostra cada dia mais desgastada a exemplo do que acontece no Mali. 

Seis décadas depois da conquista da independência da França, a nova Constituição, aprovada sob o governo militar, demoveu o francês da lista de idiomas oficiais do País. Um gesto considerado simbólico já que a própria carta magna foi escrita em francês, mas que evidencia o ressentimento com o passado colonizador e com as intervenções mais recentes, às vezes, desastrosas. No ano passado, antes de rebaixar o idioma, o Mali celebrou com uma multidão nas ruas a expulsão do embaixador e assistiu a retirada de tropas da França. 

Um dia recebidos como heróis contra o extremismo islâmico, os soldados deixaram o países acusados de neocolonialismo dez anos depois, no momento em que os grupos jihadistas ganham força. Logo depois, a vizinha Burkina Faso, também ex-colônia e também sob um regime militar, que mandou os soldados franceses embora. Mais recentemente, foi a vez do Níger, onde os militares tomaram o poder em julho. Quando apoiadores da junta militar foram às ruas manifestar apoio ao golpe, alguns queimaram a bandeira francesa enquanto outros exibiram a russa. 

Uma imagem que simboliza como Moscou avança para ocupar esse vácuo de influência deixado por Paris. Depois do golpe, o Níger também expulsou o embaixador da França e, em meio à tensão crescente, Emmanuel Macron já anunciou a retirada das tropas no País, que era tido como último ponto de apoio do Ocidente nas ações contra o terrorismo no Sahel. O problema é que os Países ocidentais também deram sustentação para autocratas e apoio militar para suas forças de segurança, fechando os olhos para violações de direitos humanos sob a justificativa de combate as grupos insurgentes, afirma diretora do programa africano da Freedom House Tiseke Kasambala ao Estadão. “Infelizmente, as intervenções ocidentais, incluindo aquelas promovidas por potências coloniais, como a França, nem sempre foram positivas levando a um ressentimento generalizado na população”, afirma. 

 Democracia, um sistema em crise Com exceção do Sudão, as ex-colônias francesas correspondem a seis dos sete países africanos que sofreram com golpes de Estado nos últimos dois anos. Além dos já citados, Mali, Burkina Faso e Níger, a lista inclui ainda Chade, Guiné e, mais recentemente o Gabão. Este último, mostra como o cenário é complexo já que mesmo antes do golpe, não é como se o País experienciasse uma democracia plena com alternância de poder. Ali Bongo, o presidente deposto há cerca de um mês pelo golpe, havia acabado de ganhar um terceiro mandato de sete anos.

 O antecessor, o seu pai Omar Bongo, comandou o Gabão por mais de 40 anos até morrer em 2009. A perpetuação dos Bongo no poder repetia uma tendência verificada também em outros Países africanos. Em Ruanda, Paul Kagame, é presidente desde os anos 2000 e, graças às reformas políticas aprovadas durante o governo, pode seguir no poder pelo menos até 2034. Quando confirmou, este mês, que será candidato novamente, ele se antecipou às possíveis críticas. “O que é democracia? O Ocidente ditar o que os outros devem fazer? Mas se eles violam os próprios princípios, como ouvimos a eles?”, questionou Kagame. 

E completou: “Procurar transferir a democracia para os outros já é uma violação da democracia em si. As pessoas deveriam ser independentes e ter o direito de ser organizar da forma que quiserem”. A Freedom House aponta ainda outras estratégias que limitam a democracia no continente, como leis de segurança digital que violam privacidade e liberdade de expressão ou políticas abrangentes, que deveriam combater o terrorismo, mas restringem o direito de livre associação. Exemplos disso, aponta a ONG, são an Uganda e o Zimbábue, onde opositores acabam de ser detidos, depois que o presidente Gift Siziba foi reeleito em uma disputa contestada, marcada por denúncias de irregularidades. 

 Apesar dos diferentes indícios de corrosão, a democracia é a forma de governo preferida por 66% da população em 36 países do continente, mostrou o Afrobarômetro, organização não governamental que há 20 anos conduz pesquisas na África. A grande maioria (cerca de 80%) rejeita governos de um homem só ou de partido único. Na mesma linha, quase 70% se dizem contra governos militares. Entretanto, só 38% expressaram satisfação com a forma como a democracia tem funcionado dentro dos seus Países. “Infelizmente, as aspirações políticas não se alinham com a realidade e os cidadãos descobriram que a oferta de democracia é extremamente deficiente”, conclui Tiseke Kasambala. 

Ela lembra que, nos Países onde o processo democrático foi interrompido, instituições frágeis falharam em atender as demandas sociais e oferecer serviços básicos. Ao mesmo tempo, a falta de pluralidade na política, favorece pequenas elites e aprofunda a desigualdade no continente onde mais de 540 milhões de pessoas vivem na pobreza, segundo dados da ONU. À media em que as pessoas exigem mudanças, seja nos rumos da política ou da economia, a resposta dos governantes tem sido endurecer as regras e não atender as demandas sociais. “Os governos violaram liberdades, dificultaram o trabalho da sociedade civil com leis repressivas, respostas violentas a protestos pacíficos e prisões de defensores dos direitos humanos, ativistas e jornalistas”, aponta Kasambala. 

 O grupo Wagner e o futuro indefinido Foi nesse cenário complexo, de instituições enfraquecidas, e busca por aliados sem relação com os antigos colonizadores, que a Rússia se apresentou como um parceiro atrativo e aumentou a presença do grupo Wagner na África. A relação de Moscou com os mercenários, no entanto, ficou estremecida pelo motim que ameaçou Vladimir Putin na Rússia. Depois da rebelião, o Kremlin afastou os paramilitares da Ucrânia, mas manteve as operações no continente africano.

 Foi lá, inclusive, que o chefe Ievgeni Prigozhin apareceu em vídeo pela primeira e última vez desde que liderou o avanço em direção à Moscou. Dias depois da aparição, o avião em que Prigozhin e o seu braço de direito viajavam caiu perto da capital russa. A morte do antigo aliado de Putin, chamado de “traidor” por organizar o motim, abriu um vácuo de poder dentro da organização e aumentou ainda mais a incerteza que paira sobre o futuro do grupo Wagner. Depois da morte de Prigozhin, Moscou indicou que deve manter os mercenários, mas sob seu controle. O sinal veio na semana passada, quando o militar reformado que atuava como um dos líderes do grupo Wagner, Andrei Troshev, recebeu a missão de recrutar combatentes para guerra na Ucrânia. Conhecido pelo apelido de “Sedoi” (grisalho, em russo), o comandante já havia sido apontado como o favorito de Vladimir Putin para comandar os mercenários e vai seguir ordens do Ministério da Defesa. 

A nomeação pareceu refletir o plano do Kremlin para colocar o grupo Wagner de volta à linha de combate ucraniana. Enquanto o mundo observa que papel os mercenários devem ter a partir de agora na guerra, o historiador Angelo Segrillo destaca que uma das saídas para o dilema que o grupo Wagner impôs ao Kremlin poderia ser justamente reforçar ação da milícia, já domada, longe do País. “Normalmente, o grupo teria sido desfeito depois do motim, mas sua presença na África é profunda e foi muito importante para a Rússia ao realizar — informalmente ou clandestinamente — as tarefas que Moscou não poderia executar oficialmente”, lembra o pesquisador.  

A volta de um personagem notório do exército russo pode ser um indicativo dessa estratégia, depois do susto que o grupo Wagner deu em Vladimir Putin. O general Sergei Surovikin, afastado por supostos vínculos com o motim, reapareceu na Argélia, importante comprador de armas russas, depois de semanas sem ser visto em público. “Surovikin é um general duro e que foi muito importante em vários cenários bélicos, principalmente na Síria, e também na própria Ucrânia, onde organizou as linhas de resistência nas províncias incorporadas por Moscou”, contextualizou Segrillo afirmando que o afastamento da Rússia e possível transferência do general poderia confirmar a possibilidade do grupo Wagner ter a energia mais focada em cenários distantes de Moscou, em especial, a África. 

 Seja qual for a estratégia, analistas concordam que o interesse da Rússia não vem de hoje e não vai acabar, independente de qual for destino do grupo Wagner.  


domingo, 10 de setembro de 2023

Fim de uma era, a do Barão do Rio Branco - Paulo Roberto de Almeida

Fim de uma era, a do Barão do Rio Branco

Paulo Roberto de Almeida 

A intenção de Lula de convidar ao G20 de 2024 o presidente Putin, buscado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra na sua guerra de agressão contra a Ucrânia, enterra definitivamente a postura formalizada 120 anos atrás pelo Barão do Rio Branco quanto ao absoluto respeito ao Direito Internacional pela diplomacia brasileira. 

Acabou assim um padrão estabelecido pelo grande patrono do Itamaraty para a política externa brasileira. Sem dúvida alguma, uma tomada histórica de posição, embora indigna de figurar nos livros de história diplomática do Brasil. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 10/09/2023

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Putin busca desesperadamente mercenarios para morrer na Ucrânia

 Cuba descobre rede da Rússia para aliciar seus mercenários

O Estado de S. Paulo, 5/09/2023

HAVANA - O Ministério das Relações Exteriores de Cuba acusou nesta terça-feira, 5, a Rússia de recrutar mercenários do país para lutar na guerra da Ucrânia. Em nota, a chancelaria afirmou que Moscou criou uma rede de tráfico de pessoas para incorporar cubanos que vivem na Rússia e na ilha comunista para se juntar as tropas de Vladimir Putin que ocupam o leste ucraniano. A acusação contra Moscou, um histórico aliado da ditadura castrista, vem a público em meio as tensões entre o Exército russo e o Grupo Wagner, depois do golpe frustrado dos mercenários russos contra Putin, em junho, e a morte de seu líder, Ievgeni Prighozin, no mês passado. Ainda de acordo com o governo cubano, a rede russa de tráfico de pessoas foi neutralizada e os suspeitos serão investigados. “Os inimigos de Cuba promovem informações distorcidas que procuram manchar a imagem do país e apresentá-lo como cúmplice destas ações, que rejeitamos categoricamente”, diz a nota. " Cuba não faz parte da guerra na Ucrânia. Atua e atuará com energia contra qualquer pessoa, do território nacional, que participe em qualquer forma de tráfico de pessoas para fins de recrutamento ou mercenarismo de cidadãos cubanos para uso de armas contra qualquer país.” A ditadura cubana não aponta quem estaria por trás dessa rede ou quantas pessoas teriam sido vítimas do tráfico humano. Aliada próxima do Kremlin desde a revolução de 1959, a ilha tem voos diretos para Rússia e um regime recíproco de isenção de vistos por 90 dias. 

De acordo com a Associação para Operações Turísticas da Rússia, cerca de 11 mil cubanos visitaram a Rússia no ano passado. No grupo do Facebook chamado Cubanos em Moscou, que reunia 76 mil pessoas nesta terça-feira, era possível encontrar ofertas com contratos de um ano para o exército russo, informou o The Moscou Times. Anteriormente, em junho, o Cazaquistão, uma ex-república soviética, já havia denunciado um esquema de anúncios nas redes sociais que pretendia atrair combatentes para a guerra na Ucrânia. No ano passado, jornais independentes da Rússia relataram que imigrantes da Ásia Central receberam promessas de cidadania em troca do recrutamento. 

 O ex-presidente Dmitri Medvedev, que integra o Conselho de Segurança russo anunciou que mais 230 mil combatentes teriam se alistado ao exército desde o início do ano. A campanha é divulgada nas redes e em cartazes nas ruas que promovem as Forças Armadas e prometem condições atrativas para os novos militares. Além do salário e de benefícios sociais, os recrutas podem manter os empregos civis durante o tempo de serviço e tem os empréstimos bancários congelados. Ainda como parte do esforço para ampliar a força na Ucrânia e evitar problemas como o motim do grupo Wagner, o presidente russo Vladimir Putin ordenou que os paramilitares devem jurar lealdade à bandeira russa após a morte de Prigozhin. 

 Com a guerra prolongada, além de pessoal o Kremlin também parece buscar artilharia. Depois que a Casa Branca alertou para uma troca de cartas entre Vladimir Putin e Kim Jong-un, o jornal The New York reportou que eles planejam um encontro da Rússia para discutir a troca de armas. A expectativa é de que a reunião ocorra na semana que vem/Com New York Times e AFP

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia - Paulo Roberto de Almeida (Revista Crusoé)

Meu artigo na Crusoé desta sexta-feira 1/09/2023, mas escrito antes do encontro, que é só na semana que vem:

O Brasil de Lula 3 no G20 da Índia

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Artigo sobre a reunião de cúpula do G20 na Índia.

Revista Crusoé (1/09/2023; link: https://oantagonista.com.br/mundo/crusoe-o-brasil-de-lula-3-no-g20-da-india/). Relação de Originais n. 4465; Relação de Publicados n. 1521. 

 

A 18ª reunião de cúpula do G20, a ser realizada em New Delhi, capital da Índia, não será propriamente uma novidade para Lula, que já participou dos primeiros encontros desse grupo desde que ele foi originalmente convocado para tratar da crise financeira de 2008, pelo próprio presidente George Bush, em Washington. O grupo deriva diretamente, embora em nível hierárquico inferior, do Financial Stability Forum, que por sua vez tinha nascido na crise financeira anterior, na segunda metade dos anos 1990. A diferença entre a natureza de um e outro grupo das economias mais relevantes do planeta está em que o antigo Forum tinha no seu certificado de nascimento uma crise, mais uma, de países em desenvolvimento, ao passo que o G20 deu seu primeiro passo, em nível de chefes de Estado, após a implosão da bolha imobiliária no mercado americano, seguida de seu impacto no sistema bancário e de seguros, se espalhando logo depois para os demais países desenvolvidos, devido aos efeitos sistêmicos dos derivativos financeiros criados a partir das hipotecas avalizadas por agências financeiras oficiais do governo americano e alegremente adquiridos por investidores da Europa e do Japão, certos de que o Triplo A atribuído a esses derivativos era para valer.

(...)

O G20 de Nova Delhi ocorre em outras condições, bem mais difíceis do que os exercícios anteriores, sob o impacto do segundo ano da guerra de agressão da Rússia à Ucrânia, de certo modo uma extensão da mudança de humor já iniciada quando da invasão e anexação ilegal da península da Criméia em 2014, quando a Rússia foi expelida do então “puxadinho” do G8, uma das várias sanções econômicas introduzidas contra o agressor pelos países ocidentais. Naquela ocasião, rompendo com a tradição do Itamaraty de estrito respeito às normas do Direito Internacional e de absoluto respeito à Carta da ONU, a presidente Dilma Rousseff não tomou qualquer posição a respeito da grave violação da soberania ucraniana, a pretexto de que tal invasão era um “problema interno da Ucrânia”. Foi um primeiro exemplo do baixo acatamento, pela diplomacia presidencial, dos padrões habituais do Itamaraty de adesão a princípios consagrados da legalidade internacional, práticas mais adiante continuadas, sob diferentes pretextos, pela diplomacia de Bolsonaro e de Lula 3.

(...)

Num contexto no qual o encantamento inicial com a terceira presidência Lula já deu mostras de arrefecimento junto aos principais governantes dos países ocidentais – em princípio, exatamente por causa da violação ao Direito Internacional causada pela Rússia e pouco enfatizada pelo governo Lula –, essa presidência do G20 pode ajudar a corrigir um pouco essa má percepção de suas atuais “alianças” internacionais, ou continuar a empanar a sua imagem  junto ao Ocidente e até a liderança na própria região, onde outros líderes progressistas – como Boric do Chile, ou Petro da Colômbia – já deram mostras de maior comprometimento com uma diplomacia fundada no respeito à Carta da ONU. Esperava-se mais de um governo declaradamente a favor, assim como o próprio Itamaraty, da estrita solução pacífica das controvérsias entre Estados. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4465, 31 agosto 2023, 3 p.

domingo, 13 de agosto de 2023

Putin: uma mistura de Hitler com Stalin - Editorial do Estadão

 E pensar que Lula ainda consegue apoiar um crápula absoluto como Putin é de dar ânsia de vômito. 

Grato a Augusto dd Franco pela transcrição.


“Leia para ter uma ideia de quão tenebrosa pode ser uma ditadura. E aqui no Brasil Filhos de Putin podem ser encontrados entre bolsonaristas e lulopetistas. Sim, em geral os populistas (digam-se de direita ou de esquerda), apoiam o governo de assassinos de Moscou.”

Augusto de Franco


Arquipélago Gulag 2.0

Editorial, O Estado de S. Paulo (13/08/2023)

O suplício de Alexei Navalny escancara a brutalidade – e o nervosismo – crescente de Putin

Se havia dúvida de que Vladimir Putin não hesitará em esmagar qualquer dissidência sob sua máquina de propaganda nem em cometer crimes e usar força letal contra seu próprio povo para perseguir suas ambições, ela foi incinerada pela guerra na Ucrânia. Nada simboliza mais esses horrores que o martírio de Alexei Navalny.

Navalny se notabilizou por publicar materiais sobre corrupção e organizar protestos por meio de sua Fundação Anticorrupção. Após ser envenenado em 2020, violou sua condicional para ser socorrido em Berlim, e em 2021 voltou à Rússia sabendo que seria detido. Um julgamento farsesco o condenou a nove anos por fraude. Agora, foi sentenciado a mais 19 anos por acusações de “extremismo” que em qualquer tribunal independente nem sequer seriam aceitas. Colaboradores relatam que ele está há meses confinado numa solitária. Sua última condenação o enviará a um “regime especial” numa colônia penal onde ficará ainda mais isolado.

Navalny é só a ponta do iceberg. Todas as atividades de sua fundação foram criminalizadas desde 2011. Diversos membros foram ou estão para ser condenados a penas até maiores. Mesmo seus advogados se tornaram alvos. Segundo a Anistia Internacional, até 20 mil russos sofreram represália por protestar contra a guerra. Muitos respondem a “combos” de acusação que aglutinam de infrações administrativas a desinformação e traição. Segundo o grupo Memorial de direitos humanos – dirigido por Oleg Orlov, também julgado por “desacreditar” as Forças Armadas –, o número de casos lembra a era Brejnev, nos anos 60 e 70, mas a brutalidade se assemelha ao “tempo de Stalin”.

Navalny não tem ilusões. “O número não importa”, disse nas redes sociais, através de interlocutores com acesso a seu perfil. “Entendo perfeitamente bem que, como muitos prisioneiros políticos, estou cumprindo uma prisão perpétua – onde a perpetuidade é medida pela duração da minha vida ou da vida deste regime.”

Como ele, outros ativistas estão decididos a ficar na Rússia, mesmo ante a perspectiva certa de imolação. Uma das razões, disse a advogada de direitos humanos Maria Eismont, é que nas cortes russas “você pode dizer abertamente coisas que estão, há muito tempo, proibidas em outros lugares”.

Com sua capacidade de negociação com o Kremlin no nível mais baixo desde a guerra fria, não resta ao Ocidente senão denunciar ostensivamente os crimes de Putin para tentar sensibilizar o povo russo. Mesmo autocratas precisam de uma fachada de legitimidade, e a comunidade internacional, especialmente políticos, diplomatas, ONGs e a imprensa, deveria usar toda oportunidade à mão para marretar a fachada podre de Putin. A escalada da selvageria é já um sinal de desespero.

“Vocês estão sendo forçados a entregar sem luta a sua Rússia a uma gangue de traidores, ladrões e canalhas que tomaram o poder”, disse Navalny a seus compatriotas. O mundo civilizado não deveria poupar esforços para dar voz aos russos dispostos a sacrificar suas vidas para livrar seu país, a Ucrânia e, no limite, todo o planeta das garras dessa gangue.


terça-feira, 8 de agosto de 2023

Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio: Putin se enquadra nos atos descritos? Certamente...

 Vejamos se, por acaso, os invasores russos, a mando de Putin, estão perpetrando qualquer um desses exemplos de genocídio: alguns, todos, pelo menos um? Então Putin é um genocida e como tal deve ser acusado.



O estranho caso de afinidade eletiva do Brasil de Lula para com um dos parceiros diplomáticos do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

O estranho caso de afinidade eletiva do Brasil de Lula para com um dos parceiros diplomáticos do Brasil 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a obsessão de Lula em defender os interesses de Putin no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. 

 

Lula deve ser um dos poucos, senão o único dos chefes de Estado de países relevantes do mundo que expressa cuidados e que defende as “legítimas preocupações da Rússia com sua segurança”! 

Defesa e segurança da Rússia?

DA RÚSSIA?!?!?

O BRASIL?!?!?

A Rússia, tão grande, com tantos recursos e um poderio bélico impressionante, não é capaz de se defender sozinha?

Alguém no mundo está atacando a Rússia?

Ela já pediu ajuda à ONU?

Já denunciou o sórdido ataque à sua soberania e a violação da Carta da ONU por esse vil atacante?

O Brasil precisa vir em seu socorro?

E Lula já determinou que sua diplomacia viesse ou fosse em socorro à “legítima preocupação de segurança da Rússia”?

 

Desculpem, mas tenho legítimas dúvidas sobre o sentido da preocupação de Lula e sobre os fundamentos da atuação, neste caso, da diplomacia brasileira.

Algum diplomata da ativa, desse setor ou de outro, poderia me explicar esse estranho caso de afeição particular do Brasil para com o maior país do mundo?

Tem alguma nota do Itamaraty sobre esse estranho caso de afinidade eletiva com um membro específico da comunidade internacional?

Alguma outra nota por acaso tratando do que vêm ocorrendo no território e com a população de um vizinho específico desse outro país específico objeto dessa estranha e bizarra afinidade?

Só queria entender essa preocupação especial do Brasil para com uma “operação militar especial” da Rússia.

Agradeceria explicações de quem de direito.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4454, 8 agosto 2023, 2 p.


sábado, 5 de agosto de 2023

A Ucrânia em guerra como marco relevante no horizonte do Brasil atual - Paulo Roberto de Almeida

A Ucrânia em guerra como marco relevante no horizonte do Brasil atual

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as causas e caminhos da política externa brasileira no contexto da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

  

Poucas pessoas bem-informadas sobre o estado do mundo atual recusarão a constatação de que a guerra de agressão deslanchada por Putin contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, e continuada desde então, constitui a ameaça mais relevante para a segurança e a paz na Europa e no mundo desde que Hitler empreendeu a conquista da Polônia em setembro de 1939, dando início ao mais devastador conflito global da contemporaneidade.

Eu escrevi Putin, e não Rússia, e Hitler, em lugar de Alemanha nazista, pois que ambos os ataques criminosos e ilegais, entre muitos outros atos criminosos que precederam tais ataques devastadores, são devidos exclusivamente à vontade pessoal de duas personalidades autoritárias, a rigor animadas por instintos tirânicos, e não aos desejos do povo alemão, em 1939, ou aos do povo russo em 2022.

Poucas pessoas bem-informadas sobre o estado do Brasil atual recusarão o fato de que agora estamos bem melhores, em termos de civilidade, de política “normal”, de comportamentos minimamente previsíveis dos agentes públicos, do que estávamos nos quatro anos anteriores. Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia afetou não só interesses econômicos e materiais do Brasil como um todo — inflação, comércio exterior, tensões internacionais —, mas também a própria política externa e a diplomacia brasileiras, a partir de 2023. 

Pretendo abordar essas duas questões — o estado incerto, na Europa e do mundo, na atual conjuntura, e os desafios daí decorrentes para o Brasil como um todo, em especial para as suas relações exteriores — numa abordagem de natureza conceitual, tanto quanto de ordem prática, dadas as múltiplas facetas do mundo pós-invasão da Ucrânia e do Brasil pós-terremoto bolsonarista. Não há como recusar o fato evidente e notório de que o mundo e o Brasil se ressentem de diversos elementos disruptivos desde a guerra putinesca de agressão à Ucrânia e desde as ameaças bolsonaristas às frageis bases do sistema democrático brasileiro durante os quatro anos do inédito desafio ao jogo mais ou menos tradicional da política doméstica.

Na raiz de ambas as questões — o estado do mundo e o do Brasil — existem tanto processos objetivos — as relações econômicas e políticas entre os respectivos atores — quanto elementos subjetivos, derivados das personalidades de Putin e de Lula, no tratamento dos problemas colocados em suas respectivas agendas pessoais e nacionais.

A complexidade dessas interações requer uma abordagem metódica e linear de cada um dos problemas, pois que o estado atual do mundo e do Brasil também é decorrente de decisões e escolhas feitas no passado, por cada um dos personagens.

(…)

(A continuar)

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4450, 5 agosto 2023, 2 p.

 

sábado, 22 de julho de 2023

Segurança alimentar, Direito Internacional, Direito do Mar e suas violações pela Russia de Putin - CDS

 O presidente Lula, sempre tão preocupado com a fome no mundo, em especial a segurança alimentar dos povos africanos, poderia pedir a seus assessores diplomáticos uma informação sobre as ações criminosas de Putin no Mar Negro e suas consequências sobre o mercado de alimentos no mundo inteiro. Aqui estão alguns dados:

Russia's Actions: Potential Impacts on Global Food Security, Ukraine, and Western Relations.

Center for Defense Studies, July 20, 2023

Russia is poised to starve millions of people in the developing world as it pursues the destruction of Ukraine and undermine the West. Russia pulled out from the Black Sea Grain Initiative (BSGI), threatened to target any cargo ships bonded to or from the Ukrainian ports, mined the sea routes, and stepped up targeting grain and other Ukraine's port and commodity-related infrastructure.

If Russia had succeeded in invading Ukraine, it would have the potential to emerge as a significant agricultural superpower, thereby gaining additional leverage to pursue its geopolitical goals. With 17% of world wheat exports in 2021 (33 million tons), Russia ranked first, surpassing the E.U. (16% or 31 million tons). Along with Ukraine (ranked 5th with 10% of exports or 19 million tons), it could have amassed a 27% share of global wheat exports — equivalent to the combined export share of the E.U. and the U.S. On top of that, before the all-out Russian invasion, Ukraine ranked first in exports of sunflower oil and millet; third in corn, barley and rapeseed; fifth in walnut and honey; and sixth in the export of soy.

Unable to achieve its initial neo-colonial objectives, Russia resorted to dismantling the Ukrainian economy and infrastructure. This strategy aimed to weaken the Ukraine’s ability to resist the invasion immediately and hinder its capacity to recover, rebuild, and allocate resources for defense and security in the long run.

Agriculture accounted for 10% of Ukraine's GDP in 2021 and was severely affected by Russia's illegal occupation and combat in Ukraine's Eastern and Southern oblasts, which are crucial agricultural regions. Russian forces intentionally targeted agricultural infrastructure, looting equipment and machinery, and "exporting" stolen grain and other products to foreign markets. 

Ukraine is now among the most heavily mined countries globally, with up to a third of its territory contaminated by mines and unexploded ordnance. The estimated time required for demining the territory, including crop fields, varies from thirty to sixty years. Russia's destruction of the Kakhovka dam also caused the irrigation system's collapse on which key regions depended (Kherson - 94%, Zaporizhzhia - 74%, and Dnipropetrovsk - 30%). 

After another instance of withdrawing from the grain deal, Russia has escalated its attacks on Ukrainian ports and agriculture-related infrastructure for several consecutive days. These actions constitute war crimes and will have lasting damaging implications for Ukraine's economy and worsen global food security for years to come.

The Black Sea Grain Initiative (BSGI) comprises two distinct agreements: one between Turkey, Ukraine, and the U.N. for exporting food from Ukraine and Turkey, and another between Russia, Turkey, and the U.N. for exporting food and fertilizers.

Russia has consistently disregarded the agreements it entered from the start of it. Just barely 12 hours after signing a deal on July 22, 2022, Moscow initiated a missile barrage against Odesa, targeting Ukraine's main port and infrastructure. It had frequently threatened to withdraw from the deal or decline its extension routinely. Moreover, it deliberately misused the monitoring mechanism to create shipment hurdles and disrupt their flow.

In October 2022, the Kremlin declared the suspension of its participation in the deal. However, it had to eventually rejoin the agreement due to the continued determination of Ukraine, Turkey, and the U.N. to proceed with the outflow of food under the terms of the deal.

The BSGI allowed Ukraine to export some 30 million tons of its food to foreign markets through the Black Sea, while enhancing alternative transportation routes. The railway is capable of exporting more than a million tons monthly, road transport could handle more than 600 thousand tons, and the Danube River ports might handle over two million tons, potentially reaching up to three million tons. However, alternative export routes can't substitute the sea trade for many reasons, including increased costs, logistical difficulties, the necessity for big-ticket and long-time infrastructure investments, etc. 

While its sea trade remains unimpeded, Russia has managed to claim control over the North-West part of the Black Sea, even though it did not succeed in occupying it, and faced no repercussions for doing so under the Law of the Sea. Instead of making Russia obey the Law of the Sea, ensuring freedom of navigation, the international community talks about prolonging the BSGI.

The U.N. State of Food Security and Nutrition in the World 2023 Report highlights that one in ten people worldwide faces hunger, and a staggering 3.1 billion individuals cannot afford a nutritious diet. Due to Russia's aggression against Ukraine, an alarming 23 million people have been pushed into hunger. The Russian authorities have been utilizing these vulnerable populations as leverage against the West. The Kremlin has been widely disseminating narratives in the Global South, attributing the surge in food prices and food scarcity to the Western sanctions imposed on Russia.

In June, a delegation of African leaders led by South African President Cyril Ramaphosa visited Kyiv and Moscow, advocating for their peace initiative, which involved facilitating food exports. Prior to that, in May, Senegalese President Macky Sall, acting as the African Union chief, visited Moscow and Paris (bypassing Kyiv), urging the West to lift sanctions against Russia. It's worth noting that there are currently no sanctions on Russian food and fertilizer exports, and these exports have been particularly lucrative, bringing Russia a 70% increase in revenue due to the surge in prices. Furthermore, U.N. Secretary-General Antonio Guterres recently emphasized that "Russian grain trade has reached high export volumes." 

Russia has strategically utilized the BSGI to undermine the Western sanctions directly or, in the event of failure, to shift the blame for the food crisis onto the West. The Kremlin's objective is to create a looming food crisis that could trigger waves of refugees, destabilizing social and political situations in European countries. The Russian hope is that this instability would pave the way for pro-Russian political forces to displace the current ones, consequently weakening support for Ukraine and disrupting Trans-Atlantic unity concerning Russia.

Ukraine has been proactively seeking a solution to restore its freedom of navigation and ensure a stable food supply to countries in need. Kyiv has urged its partners to create a naval demining coalition, either as a standalone initiative or as a first step towards enabling protected cargo convoys under the escort of a joint naval force. This coalition may involve assets from littoral states and, hopefully, from nations beyond the Black Sea region. In either scenario, the pivotal role of Turkey is crucial, as it possesses the largest Navy in the Black Sea.

Since the beginning of the all-out Russian invasion of Ukraine, Turkey has invoked the Montreux Convention of 1936 provisions, which restricts Russia and non-Black Sea nations from deploying naval assets to the Black Sea. Ankara is hesitant to proceed with shipments via cargo vessels under its flag, as it fears potential attacks as Turkey is a significant military power and a NATO member. 

The unique dynamics in the relationship between Vladimir Putin and Recep Tayyip Erdoğan could act as a buffer against further escalation. In 2015, Turkey downed a Russian jet that had violated its airspace, leading to a tense moment in bilateral relations. However, it did not escalate into a full-blown military response from Moscow.

An alternative approach that appears more feasible is chartering sea lines of communications from Ukrainian ports toward the Straits within the territorial waters of the littoral states (Romania, Bulgaria, and Turkey). However, this approach would require these nations to confront the risks of a direct attack, regardless of how insignificant it may be, and find solutions to the mine issue in the region.

In addition, legal actions under international law and Ukraine's domestic laws are crucial to hold Russia accountable for its actions. Ukraine's current military capabilities are insufficient to deter the Kremlin from transforming the Northern part of the Black Sea into a "Russian lake." The deployment of anti-ship missiles and modern Western fighter jets could play a significant role in restraining Moscow's actions in the region. 

As Russia continues to cause increasing damage to Ukraine, it has effectively deterred the West from taking more assertive actions against its exports. Notably, the Russian ports on the Sea of Azov and the Black Sea have remained sanctions-free. In fact, Russia has even escalated its exports of oil and oil products from the Black Sea ports, including instances that breach the prohibition of direct shipments to Europe.  

Before the E.U.'s 11th package of restrictive measures was announced, crude oil exports from Russia witnessed a significant surge, increasing by 14.55% in June alone. Among the 42 tankers transporting Russian oil from the Black Sea last month, 15 belonged to companies from E.U. countries, with 14 belonging to Greek shipowners and one to a Latvian company. Russia is gradually shifting its grain exports to Baltic Sea ports in response to capacity challenges.

To compel the Kremlin to reconsider its actions, it is imperative to enforce existing sanctions and target Russian ports in the Black Sea, the Sea of Azov, and the Baltic Sea. Additionally, Ukraine and its allies must intensify efforts to engage with developing countries to counter Russia's propaganda.

segunda-feira, 3 de julho de 2023

Putin prepara mais um gigantesco crime de guerra e contra a humanidade: a explosão da maior central nuclear da Europa

 Zaporizhzhia NPP

Several employees of "Rosatom," brought to the Zaporizhzhia NPP from Russia, have left Enerhodar, as well as some collaborators who were ZNPP employees that had contracts with the Russians, said the Mayor of Enerhodar, Dmytro Orlov, in a comment to Ukrainian Radio.

According to the Mayor's statement, the occupying forces brought explosives to the ZNPP nearly a year ago and proceeded to mine the plant's perimeter as well as the entire coast of the Kakhovka Reservoir. The Russians have continued mining activities this year, possibly in preparation for a potential counterattack by the Ukrainian Armed Forces. These mining activities, including the impact on the Kakhovka Hydroelectric Power Station, have caused significant concern among specialists in Enerhodar. The presence of trucks with explosives indicates that the occupiers are preparing for various scenarios, and their use of the nuclear power plant as a tool for international influence is seen as a means of blackmailing not only Ukraine but the entire world.

According to Orlov, the Mayor of Enerhodar, there are no shelters in the city in case of an explosion at the ZNPP. In the event of nuclear or radiation incidents at the plant, regulations and instructions dictate a complete evacuation from the city based on wind directions and weather conditions. Shelters are only available in industrial premises at the nuclear and thermal power plants and neighboring facilities. Orlov also highlighted that around 5,000-6,000 ZNPP workers in the city are effectively held hostage by the Russian army. The occupation authorities prevent them from leaving the city limits, and those who have not signed contracts with Rosatom have had their passes blocked, prohibiting them from working.

The humanitarian situation has worsened as well. Since September, the occupiers have blocked the delivery of humanitarian aid, including essential medications like insulin. Communication in the city is also challenging. While mobile networks can reach the upper floors of high-rise buildings, the occupiers have blocked Ukrainian TV channels, radio stations, and taken control of internet resources.

Source: CDS, July 2. 2023

domingo, 2 de julho de 2023

As companhias militares privadas e a tirania russa de Putin - Adam Tooze

The Wagner uprising and the centrigugal force of war

Adam Tooze

Chartbook, July 1, 2023


What happened this time last week in Russia? 

As Robert Armstrong observed it went by so fast that markets hardly had time to react. One could infer that Russia doesn’t matter that much. As Armstrong argued that would be a mistake. In fact it may very well be of decisive importance to a number of key facets of the world economy, notably energy markets. The problem is that like other crucial factors in the global scene right now - most notably the logic driving Chinese policy - it is devilishly hard to get good information about what is going on and to decide its significance. What it does clearly illustrate, however, is the centrifugal dynamic of war. 

On Ones and Tooze this week, Cameron Abadi and I discussed some of the questions that arise from the incident. 

  • What kind of organization was Wagner? 

  • Is Putin weaker now than he was prior to the mutiny? 

  • How far are economic factors decisive in political history, or is it ultimately men with guns who call the shots? 

  • And has Putin overcommitted his military to Ukraine? How many soldiers is it normal for states to have? 

You can listen and read more here.

One piece that really set me off was a an op ed by Tony Barber in the FT. He evoked what is supposedly a 

long tradition of unofficial, semi-official or secretly state-backed warriors who fight for Russia — a tradition that extends from the tsarist empire’s 19th-century volunteers to the Wagner group of Vladimir Putin’s presidency.

To make the point Barber invokes the character of Count Alexei Vronsky from Tolstoy’s Anna Karenina who set off to join thousands of Russian volunteers fighting in the Balkans for the liberation of fellow Slavs from Ottoman rule.

To me that seems about as illuminating as saying that the British mercenaries operating in the Gulf, or the Congo or West Africa in recent decades are descendants of a tradition that goes back to the Greek wars of liberation in the 1820s.

In fact, Russia’s laws are comparatively strict when it comes to truly free lance, private mercenary activity. That didn’t stop military entrepreneurialism of many kinds after the collapse of the Soviet Union. According to one report: “by 1998 an official Russian government estimate placed the total number of private security companies operating in Russia at around 5,000.” High-profile private operations overseas, however, were by no means encouraged. The survivors of one precursor organization to Wagner were arrested on their arrival back in Russia after their first and highly unsuccessful sally into Syria. 

It took a rethink on Putin’s part, between 2009 and 2012 to lead to the state backing of Wagner. As András Rácz pointed out in a CSIS blog:

As pointed out by Anna Borshchevskaya, in 2009 several special operations units of the Main Intelligence Directorate (GRU) were subordinated directly to Chief of Staff Nikolay Makarov. Though there is no direct evidence, these units were probably intended to become the personnel source for private military companies to be set up in the future. A year later, Makarov publicly spoke about the need to use private military companies “for delicate missions abroad.” The logic prevailed: in April 2012, when then-Prime Minister Vladimir Putin was asked in the Russian Duma about whether he supported the idea of creating a network of Russian private military companies, he replied positively and emphasized that PMCs could be tools of influence abroad, allowing the realization of national interests without the direct involvement of the state. As examples, he noted that such companies could provide protection of important facilities, as well as training for foreign military personnel abroad. Plausible deniability played a key role in Russia’s considerations about setting up private military companies, based also on the rich historical experiences Moscow has.

Wagner was never a PMC like Blackwater. It was always a proxy force, a deniable military arm of the Russian state. The obvious historical analogue, therefore, is less romantic military adventurers in the 19th century, than the kind of front companies used by the CIA in various settings. The main difference seems to be that whereas the CIA used front companies above all for air transport, Wagner developed into something like a miniature combined arms force. Its main base in Russia, its long-range logistics and tricky matters like passports were all provided by the GRU. 

As to the question of the state and the monopoly over the legitimate use of violence, Wagner was obviously in a grey zone. On the one hand it was deniable. On the other hand it was an open-secret that it was endorsed and backed by Putin himself, which gave it a status in a sense higher than the regular military. It was an exception defined by the sovereign and defining his sovereignty. 

The serious problem this kind of organization creates is less the question of legitimacy than the rivalry between different militaries, especially when the going gets rough and it is not victory, but the responsibility for defeat that has to be apportioned. 

This is not unusual in war. All armed forces are complex. This gives rise to rivalry and political arguments - with both a small and a capital “p”. In the American Civil War, for instance, different units of the Union army had more or less radical positions on abolition. In World War 2, Army Group Center on the Eastern Front harbored many of those involved in the bomb plot of 20 July 1944. The tensions are likely to be particularly acute when military forces are made up of units recruited through different politicized channels, as on the Republican side during the Spanish civil war. 

Tensions between Wagner and the regular Russian military flared already in Syria. In the disastrous war in Ukraine it was hardly surprising that they would reach a new pitch. The bushfire of indignant nationalist military bloggers on Telegram are a welcome extension of Kremlin propaganda, but a risk for the regular military leadership. This Al-Jazeera segment on the military bloggers was excellent. 

When Prigozhin’s attacks on the top brass became too outrageous and Wagner was ordered to be incorporated into the Russian military command chain, it was hardly surprising that this triggered opposition. It is surprising only that it was allowed to flare into an armed rebellion. It was not a rebellion against the war, or even truly against Putin, but an internal military on military struggle, which has been resolved in favor of the regular military command chain.

Bruno Macaes concludes with characteristic insight but also overstatement that what the Putsch shows us is that the Russian state is hollow. It certainly demonstrates that Putin is losing his grip in balancing the different factions and showed little actual ruthlessness in dealing with the rebellion. We surely expected to see Prigozhin subjected to savage reprisals. If he eventually falls victim to an assassin it will hardly be surprising, but nor will it do much to restore Putin’s authority. 

Rather than cause for celebration, as Alexander Clarkson remarks, if this is a sign of things to come, it should surely be reason for concern. 

In a system that has become reliant on an individual leader to act as arbiter between rival factions, the ability of a force made up of a few thousand troops to threaten the capital demonstrates the chaos that could unfold once Putin is gone. Putin’s unwillingness to select a potential successor who could become an alternative center of authority means that the risk of disputes over the succession process once he does eventually—and inevitably—leave office are inherent to the power structure he had put in place. With the severe pressure that a disastrous war against Ukraine has put on Russian society and the proliferation of parastatal armed units—of which Wagner and Chechen leader Ramzan Kadyrov’s Akhmat units are only the most prominent examples—the likelihood has risen sharply that such a succession dispute could escalate into a neo-feudal civil war that fractures the state.

We must also ask, surely, what the implications of this shock are for our wider thinking about the war and its future course. 

Of course, Putin’s Russia has a distinctive political structure. But Ukraine’s military effort too has its roots back in 2013 and 2014 in formations recruited under different flags and with very different politics. They have been welded together highly effectively by Kyiv. Success and the patriotic rally has done the rest. But will that unity hold if the Ukrainian offensive continues without major success, if supplies of equipment run critically short, or when it comes to negotiating peace? 

Tony Barber in his piece about the Wagner rebellion refers to the ominous example of the Freikorps in Weimar Germany. He cites them as an example of the breakdown of state power. But they were also a political force. They were the spawning ground of Nazism and they were organized above all around opposition to the decision by the democratic forces in Germany to negotiate a peace and to try and fulfill the terms of the Versailles peace treaty. They killed not only the revolutionary communist leaders Rosa Luxemburg and Karl Liebknecht, but also thousands of other leftists and two of the most prominent civilian politicians involved in negotiating the peace, Walther Rathenau and Matthias Erzberger. 

Nor was this logic of disintegration in the face of peace confined to Germany. Think of the civil war in Ireland that followed the Anglo-Irish Treaty of 1921. The IRA was able to resist the compromise peace with armed force, because it had grown out of an armed underground resistance with an independent system of financing and arming itself. In the moment that he put his signature on the Anglo-Irish Treaty, Michael Collins knew that he was a man marked for death.

Modern wars generate massive and violent centrifugal forces. We should not be surprised if this is just the beginning.