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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Bolsonaro Government’s Message to Biden: Trumpism Lives On in Brazil - Samy Adghirni and Walter Brandimarte

Bolsonaro Government’s Message to Biden: Trumpism Lives On in Brazil

By Samy Adghirni and Walter Brandimarte

Bloomberg News, 15 de janeiro de 2021 07:35 BRT

https://www.bloomberg.com/news/articles/2021-01-15/biden-is-told-trump-may-be-going-but-trumpism-lives-on-in-brazil?sref=69Fifx0M

 

Brazil foreign minister says conservatives are being silenced

Ernesto Araujo hopes Biden will understand Brazil as Trump did

 

Brazilian President Jair Bolsonaro’s government, which embraced both the Trump administration and its core ideals, wants President-elect Joe Biden to know that it’s not about to reverse course in response to the change of U.S. leadership.

Instead, it expects Biden to realize that Brazil and the U.S. have many shared interests, including promoting democracy and security in Latin America, and are not on opposite sides regarding the environment, according to Foreign Minister Ernesto Araujo.

“We hope that the new U.S. administration perceives our government for what it really is, for what the Brazilian people are and stand for,” Araujo said in an interview at his office in Brasilia on Thursday. “Both sides must make an effort for mutual understanding.”

 

That type of mutual comprehension came easily with Donald Trump, not only because of his friendship with Bolsonaro but because Trump understood that Brazilians made a choice by electing the former army officer as their president, Araujo said. In exchange for Brazil’s alignment with U.S. positions, Trump lifted a ban on fresh-beef imports from the Latin American country, supported its bid to join the Organisation for Economic Co-operation and Development, and signed deals for cooperation in defense and space exploration.

Brazil, as Latin America’s largest economy, does more trade with the U.S. than any other country except China. Yet Bolsonaro has been publicly at odds with Biden since he threatened Brazil in a campaign debate with “significant economic consequences” if it didn’t act to preserve the Amazon. People familiar with Biden’s plans said in December that he would lead a united Western front to put pressure on Bolsonaro to adopt stricter environmental policies, following two years of international outrage over the spread of fires destroying the rainforest.

 

Araujo, however, said that environmental concerns are overblown by local and international media. Brazil remains in the Paris Agreement, he said, and has made an important offer to bring forward its carbon neutrality goal in exchange for $10 billion a year from developed countries. He said that with the U.S. set to rejoin the global accord, there will be more money on the table for such payments.

 

Conservatives Silenced

Bolsonaro, who styled himself a Brazilian version of Trump, publicly supported his candidacy and was one of the last world leaders to congratulate Biden for his victory. Last week, as rioters invaded the U.S. Capitol, the Brazilian president repeated claims that there had been “a lot of fraud” in the U.S. vote as well as during his own 2018 election -- which he claims he should have won in the first round of voting.

Araujo declined to comment on the fraud allegations but said that concerns over voting systems in the U.S., Brazil and other countries are legitimate and must be addressed. He condemned the violence in Washington last week but cautioned that it can’t be used as an excuse to muzzle conservative voices around the world.

“As much as nothing justifies the invasion, nothing justifies the curtailment of freedom of speech,” he said, criticizing Twitter Inc’s decision to ban Trump from the platform and accusing the company of removing thousands of his own followers for no clear reason. “It’s become a witch hunt,” Araujo said.

The minister didn’t rule out the possibility that the type of protests seen in Washington could happen elsewhere, including in Brazil’s 2022 presidential election.

“When people feel suffocated in their capacity to speak and hear, this can lead to serious problems in any country,” he said.

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Mini-reflexão à margem das eleições intermediárias - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão à margem das eleições intermediárias

Paulo Roberto de Almeida 


Agora que o PT foi amplamente derrotado, de Norte a Sul, quantos bolsonaristas não ideológicos — isto é, os que apoiavam o capitão menos por convicção e mais por oposição, rejeição, medo ou ódio da esquerda — não se sentirão mal representados por um capitão tosco, ignorante, negacionista, que envergonha o Brasil no mundo, como aliás no próprio Brasil?

Tenho a impressão que muitos largarão esse lastro nauseabundo, jogando-o ao pequeno mar dos fanáticos, para seguir viagem no oceano da política de forma mais leve e menos angustiada com alguma paúra ideológica.

Quem ganhou, nas recentes eleições, não foi a direita, ou o conservadorismo, contra uma esquerda supostamente única, e sim a sensatez e o foco nos problemas reais das cidades, contra as divagações abstratas e vazias, de direita ou de esquerda.

Acredito que o número de eleitores “bolsonaristas” diminuirá significativamente daqui até 2022, inclusive porque o capitão não corre nenhum risco de melhorar. Ele continuará obtuso e fanático como sempre foi, envergonhando o Brasil e os brasileiros cada vez que pode, inclusive ao inventar inimigos imaginários: o voto eletrônico, o comunismo, as ONGs estrangeiras, etc.

Outro derrotado foi o projeto de poder de alguns caciques evangélicos.

Acreditem: o eleitorado brasileiro, na sua aparente baixa educação política, é menos ingênuo do que se supõe. 

E não é o conservadorismo que prevalece, e sim o bom-senso.

Quanto à esquerda, sim, ela continuará existindo e presente, enquanto o Brasil continuar com pobreza e concentração de renda de um lado, e crenças ingênuas no distributivismo estatal de outro.

O que faz falta, sim, tanto na esquerda quanto na direita, são estadistas. Esse, sim, será um artigo faltante no mercado da política enquanto nossas elites continuarem medíocres, predatórias e incompetentes.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30/11/2020


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Com Biden, Bolsonaro fica à deriva - Bernardo Mello Franco (Globo)

ELEIÇÕES AMERICANAS

Vitória de Biden deixaria Bolsonaro à deriva

Por Bernardo Mello Franco

O Globo, 01/11/2020 • 01:22


https://blogs.oglobo.globo.com/bernardo-mello-franco/post/vitoria-de-biden-deixaria-bolsonaro-deriva.html

 

Há dez dias, o ministro Ernesto Araújo disse não se importar com a perda de relevância do Brasil no cenário internacional. “É bom ser pária”, desdenhou, em discurso para jovens diplomatas. O isolamento do país já é uma realidade desde a posse de Jair Bolsonaro. Mas pode se agravar a partir de terça-feira, quando os Estados Unidos escolherão seu próximo presidente.

Uma possível vitória de Joe Biden será péssima notícia para o capitão e seu chanceler olavista. Os dois ancoraram a política externa numa relação de vassalagem com Donald Trump. Agora arriscam ficar à deriva se o republicano for derrotado, como indicam as pesquisas.

Quando ainda sonhava em ser embaixador nos EUA, o deputado Eduardo Bolsonaro posou com um boné da campanha de Trump. O pai chegou perto disso. Às vésperas da eleição, ele reafirmou a torcida pelo magnata. “Não preciso esconder isso, é do coração”, declarou-se.

Para bajular o aliado, o bolsonarismo pôs a diplomacia brasileira de joelhos. O Itamaraty abriu mão de protagonismo, deu as costas à América Latina e trocou a defesa do interesse nacional pela subordinação ao interesse americano. Em setembro, permitiu que o secretário Mike Pompeo usasse Roraima como palanque para agredir um país vizinho.

Na pandemia, Bolsonaro imitou a pregação de Trump contra a Organização Mundial da Saúde, o uso de máscaras e as medidas de distanciamento. O negacionismo da dupla abriu caminho para o avanço do vírus. Não por acaso, os EUA e o Brasil lideram o ranking de mortes pela Covid.

O capitão surfou a onda nacional-populista que produziu o Brexit, elegeu Trump e impulsionou partidos de extrema direita na Europa. Uma derrocada do republicano deixará essa tropa sem comandante. Será um alento para quem aposta no diálogo e na cooperação internacional, hoje sufocados pelo discurso do ódio e pela intolerância.

Biden está longe de ser um símbolo do progressismo. Mesmo assim, comprometeu-se com a defesa da democracia, do meio ambiente e dos direitos humanos. Isso significa que sua possível vitória provocará mudanças sensíveis nas relações entre Washington e Brasília.

No primeiro debate presidencial, Biden já avisou que pressionará Bolsonaro a frear o desmatamento da Amazônia. Ele acenou com uma cenoura e um porrete: a criação de um fundo de US$ 20 bilhões para estimular a preservação da floresta ou a imposição de sanções econômicas ao Brasil.

No dia seguinte, o capitão acusou o democrata de tentar suborná-lo. Além de exagerar no tom, conseguiu errar o primeiro nome do adversário de Trump. O bate-boca indicou o que vem por aí se Joseph — e não John — assumir a Casa Branca.

BERNARDO MELLO FRANCO

É colunista de política do GLOBO. Também passou pelo Jornal do Brasil e pela Folha de S.Paulo. Foi correspondente em Londres e repórter no Rio, em SP e Brasília. É autor de "Mil Dias de Tormenta - A crise que derrubou Dilma e deixou Temer por um fio"


domingo, 6 de setembro de 2020

Palestra sobre o destino do Brasil atual - Paulo Roberto de Almeida

 Na próxima terça-feira, dia 8, às 14:00, no quadro das atividades do projeto “Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro”, do Labô-PUC-SP, farei um breve palestra, em torno do texto abaixo, que não pretendo ler, e que por isso mesmo já coloquei à disposição de todos, segundo os links também fornecidos. 
Informarei oportunamente sobre o link de transmissão do dessa palestra-debate, na qual o mais importante é justamente o debate. 
Na mesma ocasião, estarei lançando meu mais recente livro: “Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira” (que será tornado disponível simultaneamente).
Um paper para debate: 

3745. “O destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira?”, Brasília, 31 agosto-1 setembro 2020, 7 p. Notas para uma palestra debate no quadro do projeto BNFB, Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro, com apresentação em 8/09/2020. Disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43998324/O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira), Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344037061_O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira).


destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira?

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: Notas para desenvolvimento oral no quadro de debates no âmbito do projeto BNFB; finalidadepalestra-debate, 8/09/2020; 14h00]

Sumário: 
1. Prolegômenos conceituais preliminares
2. A História não se repete, nem mesmo como farsa
3. O que fazer na ausência de algum estadista circunstancial?
4. Uma nova Idade das Trevas?


1. Prolegômenos conceituais preliminares
Sou bastante cético quanto ao primeiro B do projeto “Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro”, provavelmente contra a opinião de certa parte dos cientistas políticos de nossa torre de marfim acadêmica, atualmente mais parecida a uma Torre de Babel no que concerne justamente a interpretação desse fenômeno. Recuso-me a atribuir tanta honra (invertida) a essa espécie de lumpen-fascismo, quando ele talvez não mereça sequer uma nota de rodapé nos futuros livros de história do Brasil a serem escritos até o final do século XXI.
Será que essa doença política superficial – uma mera alergia de pele? –, incômoda neste momento, desaparecerá sem deixar muitos traços na epiderme da sociedade brasileira, ao lhe aplicarmos uma pomada eleitoral em 2022? Ou será que ela persistirá por pelo menos mais um período de mandato presidencial – graças ao sucesso temporário dos remédios distributivos que estarão sendo aplicados neste terceiro ano de desgoverno – até que o fracasso previsível do populismo de direita conduza o país aos mesmos impasses econômicos já produzidos por certos populismos de esquerda?
(...)
Ler a íntegra nos seguintes links: 
Essa palestra-debate se insere no projeto abaixo descrito, que copio do site do Labô da PUC-SP:

15) Bolsonarismo, o Novo Fascismo Brasileiro 


Este é o novo projeto de pesquisa do Labô. Em uma investigação multidisciplinar e colaborativa que envolve pesquisadores voluntários de diversas instituições de ensino superior do Brasil, o projeto BNFB pretende unir esforços para compreender o atual estágio da crise da democracia liberal, constitucional e representativa, a ascensão de populismos de extrema direita, a degradação das instituições brasileiras e a ameaça política, social e humanitária representada pelo movimento social e político do bolsonarismo.

Coordenação: Eduardo Wolf
Doutor em filosofia pela USP, foi pesquisador visitante na Universidade Ca'Foscari (Veneza, Itália), Eduardo Wolf é colaborador da revista Veja e editor da plataforma multimídia "O Estado da Arte" no jornal O Estado de S. Paulo. Editou, entre outros, os volumes Pensar a (Veneza, Itália). É professor e pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP e pesquisador do Grupo de Estudos de Filosofia Antiga da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Foi secretário-adjunto de cultura do município de Porto Alegre (2017) e curador-assistente do Fronteiras do Pensamento (2016 a 2018).
É colaborador da revista Veja e editor da plataforma multimídia "O Estado da Arte" no jornal O Estado de S. Paulo. Editou, entre outros, os volumes Pensar a Filosofia e Pensar o Contemporâneo, lançados pela Arquipélago Editorial. Traduziu os ensaios de T. S. Eliot (Notas para uma Definição de Cultura e A Ideia de uma Sociedade Cristã e Outros Ensaios É Realizações) e diversos títulos de filosofia (A Filosofia Antes de Sócrates, de Richard Mckirahan, A invenção da Filosofia, de Néstor-Cordero, entre outros).

terça-feira, 1 de setembro de 2020

O destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira? - Paulo Roberto de Almeida

Um paper para debate: 

3745. “O destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira?”, Brasília, 31 agosto-1 setembro 2020, 7 p. Notas para uma palestra debate no quadro do projeto BNFB, Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro, com apresentação em 8/09/2020. Disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43998324/O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira), Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344037061_O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira).

destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira?

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: Notas para desenvolvimento oral no quadro de debates no âmbito do projeto BNFB; finalidadepalestra-debate, 8/09/2020; 16h00]

Sumário: 
1. Prolegômenos conceituais preliminares
2. A História não se repete, nem mesmo como farsa
3. O que fazer na ausência de algum estadista circunstancial?
4. Uma nova Idade das Trevas?


1. Prolegômenos conceituais preliminares
Sou bastante cético quanto ao primeiro B do projeto “Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro”, provavelmente contra a opinião de certa parte dos cientistas políticos de nossa torre de marfim acadêmica, atualmente mais parecida a uma Torre de Babel no que concerne justamente a interpretação desse fenômeno. Recuso-me a atribuir tanta honra (invertida) a essa espécie de lumpen-fascismo, quando ele talvez não mereça sequer uma nota de rodapé nos futuros livros de história do Brasil a serem escritos até o final do século XXI.
Será que essa doença política superficial – uma mera alergia de pele? –, incômoda neste momento, desaparecerá sem deixar muitos traços na epiderme da sociedade brasileira, ao lhe aplicarmos uma pomada eleitoral em 2022? Ou será que ela persistirá por pelo menos mais um período de mandato presidencial – graças ao sucesso temporário dos remédios distributivos que estarão sendo aplicados neste terceiro ano de desgoverno – até que o fracasso previsível do populismo de direita conduza o país aos mesmos impasses econômicos já produzidos por certos populismos de esquerda?
(...)

Ler a íntegra nos seguintes links: 

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A SOBREVIVÊNCIA da democracia no Brasil: um alerta - Paulo Roberto de Almeida

A sobrevivência da democracia no Brasil 

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivoalertafinalidadeinsistir sobre a necessidade de união dos democratas]


Sobre o cenário político brasileiro de aqui até 2022 e mais além

Algumas pessoas ainda não perceberam o que está em jogo no presente e no futuro da DEMOCRACIA brasileira, atualmente patinando no pântano bolsonarista, e arriscando afundar de aqui até 2022, ou, quem sabe, soçobrar completamente até 2026.
No dia da Operação Barbarossa, a invasão da União Soviética pelas tropas nazistas, em 22 de junho de 1941, Churchill declarou imediatamente que se deveria ir em socorro a Stalin e à União Soviética, até então (e os bolcheviques em geral desde 1917) os grandes inimigos das democracias "capitalistas". 
Churchill tinha perfeita consciência de que se não o fizesse, a Europa e boa parte do mundo poderiam cair sob o domínio tirânico de Hitler, por 30 anos ou mais. Esse era o futuro...
Foi realmente o momento decisivo para a possibilidade de sobrevivência, já não digo da democracia, mas da simples civilização, tal como a concebemos. 
E que se registre: isto ocorreu ANTES da entrada oficial dos EUA na guerra, junto da Grã-Bretanha, o que só ocorreu no final do ano, com o ataque japonês a Pearl Harbor, em dezembro de 1941. Daí a sobrevivência e a vitória estavam asseguradas, com as forças aliadas das três grandes potências. Mas foram preciso quatro longos anos de lutas árduas, de combates terríveis, mas esse foi o preço a pagar para a sobrevivência da vida civilizada sobre boa parte do planeta.
Churchill tinha a exata percepção de que precisava se unir ao Diabo, para evitar o mal maior, a derrota da democracia e da civilização. Existe um preço, que depois foi resgatado na longa Guerra Fria, a partir da declaração do próprio Churchill sobre a "cortina de ferro" que se abateu sobre a metade da Europa. 
Churchill não viu o final, ocorrido 30 anos depois de sua morte, mas em 1941, ele já sabia o que era preciso fazer para garantir a preservação da democracia e da civilização.
Acredito que os democratas brasileiros, de quaisquer tendências, precisam pensar em como evitar o mal maior...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3740, 26 de agosto de 2020

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Trump e seus camisas negras (para fins eleitorais)

Mussolini tinha seus “camisas negras”; as tropas de assalto de Hitler vestiam  camisas marrons; Trump pensa desfilar suas camisas camufladas.
O capitão vai mobilizar as camisas cinzentas dos PMs?


We don’t need Trump’s thugs in Chicago
The excuse for sending federal police here is to protect federal property. The reality is that this is a cynical re-election ploy aimed at earning support for a law-and-disorder president.
Jesse Jackson
Chicago Sun-Times – 29.7.2020

“Hitler had his Brown shirts and Mussolini had his Black shirts, now Donald Trump has his camouflage shirts.” Thus began a statement signed by 15 distinguished interdenominational religious leaders in Chicago that I joined, including ministers, priests, and rabbis.
Comparisons to Hitler are always explosive, but the comparison is apt. “Hitler’s bullyboys,” the statement continues, “operated on the fringes or outside of the law to violently intimidate Germany’s leftists and finally to exterminate Jews. Trump’s bully boys are operating on the fringes or outside the law to violently intimidate America’s progressives and people of color who are exercising their First Amendment right to protest racial injustice.”
Portland, Oregon, provides the model. Trump dispatched untrained, unidentified, camouflage-wearing, military-uniformed, no name-tagged bullyboys who are literally kidnapping protesters, stuffing them in unidentified vans, taking them to unknown locations without charges — and against the wishes of local law enforcement officers the mayor of Portland and the governor of Oregon.
Trump has announced that he will send similar teams to Chicago, New York, Detroit, Atlanta, Baltimore and other “liberal Democrat-run cities,” to use his phrase. The excuse is to defend federal property. The reality is that this is a cynical re-election ploy. As Portland shows, Trump’s gambit will spark a large, hostile reaction which he hopes to use to scare suburban voters into supporting this law-and-disorder president.
Chicago Mayor Lori Lightfoot has warned Trump not to try this in Chicago. “[N]o troops, no agents that are coming in outside of our knowledge, notification, and control that are violating people’s constitutional rights.” Lightfoot told CNN’s Jake Tapper on Sunday during an appearance on “State of the Union. “We can’t just allow anyone to come into Chicago, play police in our streets, in our neighborhoods, when they don’t know the first thing about our city. That’s a recipe for disaster. And that’s what you’re seeing playing out in Portland on a nightly basis.”
We support her resistance — and the opposition expressed by the Pentagon, members of Congress, former U.S. military officials, historians and constitutional scholars — to Trump’s effrontery.
We don’t need the president’s thugs in Chicago, but we would like real federal assistance. While overall crime has decreased compared to last year, violent crime — particularly murders and shootings — has soared.
Chicago has no gun shop and no gun range. The guns come from outside of Chicago, generally across the border from Indiana. We need common sense regulations on guns to stop the pipeline into Chicago. Trump could help because it is Republicans and the gun lobby that stands in the way.
Real federal assistance wouldn’t be dispatching bullyboys to terrorize citizens exercising their First Amendment rights. It would help with jobs and training for the young. It would help with rent and mortgage forgiveness during the pandemic lockdown when people can’t work. If Trump and Senate Republicans don’t act immediately, literally millions will be on the verge of eviction.
We need real investment in our schools, so the savage inequality with suburban schools can be reduced. We need health care to be a right, not a privilege, and at the very least for the federal government to cover all medical expenses related to COVID-19. In a pandemic, we all have a stake in ensuring that the sick can afford to get the treatment they need.
Our sons and daughters volunteer to serve in the military. When Vladimir Putin puts a bounty on the heads of our soldiers, we need Trump to defend them, not to ignore the attack.
Trump scorns real assistance to cities. He scorns meeting with our elected leaders before announcing that he plans to dispatch his thugs to our city. And he disgraces our democracy with this cynical and dangerous campaign ploy.
Black Lives Matter Chicago and other organizations are going to court to get an injunction to prohibit Trump’s agents from “interfering in or otherwise policing lawful and peaceful assemblies and protests” in Chicago.
The religious leaders who issued the statement pledged that if Trump dispatched bullyboys to Chicago without the permission of the mayor, they would be met with a “massive, disciplined, nonviolent ... march of resistance.” We will not let the president trample our Constitution, suppress our rights, and terrorize our citizens with impunity.

*

Ugly Protests Are Trump's Only Hope
Froma Harrop
Seatlle Times – 29.7.2020

It would take quite a spectacle to upstage America's humiliating failure to contain the coronavirus. It's not every day that the Bahamas labels U.S. tourists as carriers of disease to be kept out.
President Donald Trump's poll numbers continue to sink as cases and death tolls rise. The only thing that could possibly save him is political violence in America's cities. And that's what he's cooking up.
It's entirely in Trump's playbook to provoke civic discord. He's been drawing his detractors into his game for four years. And what better way now than to send armed federal officers in unmarked cars into cities that don't want them? Unfortunately, protesters in Portland easily rose to the bait. And that chaos set off violent clashes, this time with local police, in Seattle, Omaha and Oakland, California.
"I'm furious that Oakland may have played right into Donald Trump's twisted campaign strategy," Oakland Mayor Libby Schaaf said. "Images of a vandalized downtown is exactly what he wants to whip up his base and to potentially justify sending in federal troops that will only incite more unrest."
Suppose the protesters hadn't shown up. Suppose they had left the federal agents with empty streets and little to do.
Their causes may be just and their demonstrations overwhelmingly peaceful. But that matters not in these fraught times. Any video snippet of street fighting is guaranteed to get on the evening news.
Meanwhile, some protests have been infiltrated by far-right creeps. In Nevada, for example, the U.S. attorney has charged three members of the "boogaloo" movement -- extremists trying to foment a race war -- with conspiring to cause destruction during peaceful marches in Las Vegas. They were found to possess Molotov cocktails.
If you were out to help Trump, isn't that what you would do? Predictably, Trump's attorney general, William Barr, blamed only left-wingers linked to antifa for the violence. Some may well be part of the poisonous mix. And large protests, especially after nightfall, have provided cover for some old-fashioned criminality.
Trump is already running a "You won't be safe in Joe Biden's America" campaign. Of course, it features video of fights with police in fiery clouds of tear gas. That all this stuff is, in fact, happening in Trump's America may be a valid point, but it is a point that will be lost on some viewers.
And with Americans already exhausted and scared, piling on night after night of chaotic protests will eventually work against the protesters' goals. Very intelligent people don't seem to get that.
Yale historian Timothy Snyder was just on Rachel Maddow saying, "If you're not protesting now, this would be a good time to start." That might have won him warm applause at the MSNBC studios, but it also greenlighted political events that even responsible organizers can no longer control.
Anxiety sells news. If two marchers among hundreds hold up idiotic "Defund Police" signs, they will be the featured image.
For the record, most black mayors want better policing, not less of it."We do not call for abolishing or defunding police departments," said McKinley Price, mayor of Newport News, Virginia, and president of the African American Mayors Association.
Again, no one is questioning the right to demonstrate, only the wisdom of letting it move the focus away from rampant disease, a plummeting economy and lockdown stress that has drained so many people of their self-control.
In fewer than 100 days, Americans will have an opportunity to send Trump packing. Those who want that should avoid becoming bit players in his staged spectaculars.
If protest leaders are smart -- and have sympathy for their suffering cities -- they will turn their attention to registering voters and away from large gatherings in the streets, at least until the election. Isn't more than 50 straight days of protests in Portland enough for now?
The answer in Trump world would undoubtedly be no.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Consequências involuntárias da tragédia bolsonarista no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Consequências involuntárias da tragédia bolsonarista no Brasil

Diz a sabedoria popular que não há bem que sempre dure, nem há mal que nunca acabe. 
Toda e qualquer experiência humana, ou social, mesmo uma das mais horríveis e degradantes, como pode ser a delinquência política e a deterioração intelectual em nosso país, atualmente em curso, sempre pode, aliás deve, nos trazer modestos ensinamentos, e algumas infelizes lições, sobre o que deveríamos ter feito de acertado, e não fizemos, assim como sobre o que poderemos, ou que pelo menos deveríamos fazer de melhor da próxima vez.
Aprendemos uma variação do velho adágio segundo o qual o preço da liberdade é a eterna vigilância. Corrigindo: o preço da democracia é o constante esforço em não nos deixarmos arrastar em divisões sectárias em torno dessas querelas menores sustentadas em meras conquistas táticas, ao preço de uma perda de objetivos estratégicos, que significam, simplesmente, a derrocada do edifício democrático tão duramente construído contra ventos e marés ao longo das últimas três décadas.
Aprendemos a valorizar a unidade — pelo menos espero — das forças democráticas em torno de um patrimônio civilizatório que vem sendo atacado pelos novos bárbaros, que já conquistaram a praça forte, a despeito da indigência de suas propostas e das mentiras tão amplamente disseminadas (ou, mais provavelmente, por isso mesmo, a julgar pela mentalidade obtusa daqueles que os seguem de forma tão entusiasta).
Os bárbaros nos fizeram um favor — pelo menos espero — que é o de valorizar algumas pequenas coisas, que acabam sendo grandes em retrospecto: a importância da convergência de metas mais elementares que vantagens políticas secundárias, que vêm a ser a preservação do diálogo democrático entre nossas tribos até aqui desunidas e a união do conjunto de nossas forças dispersas em nome da simples sobrevivência de valores e princípios que estão na base de uma sociedade civilizada, oposta à peste negra do fascismo e do autoritarismo.
A vitória circunstancial e temporária — pelo menos espero — das forças bárbaras nos demonstra quão vã era a nossa ingênua crença na racionalidade das massas depois que o virus da divisão da nação já nos tinha sido inoculado pelos aderentes a crenças aparentemente opostas, mas inacreditavelmente similares em propósitos — a tal “revolução cultural” da reforma completa daqueles princípios e valores — e mecanismos: a promessa de um futuro melhor nas mãos de algum líder salvador que dá início a um novo ciclo de bajulação e servilismo. 
Uma das consequências involuntárias da presente tragédia  — pelo menos espero — pode ser um esforço de reflexão em torno dos nossos erros acumulados e da dolorosa busca de uma plataforma mínima de sobrevivência, até que uma nova acumulação de forças convergentes nos permita expulsar os novos bárbaros da cidadela, o que não poderá ser feito sem o convencimento de uma maioria de cidadãos complacentes com o regime danoso dos novos bárbaros.
Temos a nosso favor a bestialidade, a ignorância, a estupidez desses bárbaros, assim como a sua completa falta de visão sobre o futuro da nação. Temos de poder oferecer à cidadania — pelo menos espero — alguma razão para acreditar que um projeto iluminista e humanista passa antes, é melhor, do que o empreendimento de destruição prometido e implementado pelos novos bárbaros, ainda que estes possam contar, momentaneamente, com a ajuda da força e do dinheiro. 
Nem sempre a autoridade do argumento prevalece sobre o argumento da autoridade, mas, em princípio, ideias são mais poderosas que as armas, e em muitos casos a pluma pode vencer o poder da espada.
Pelo menos espero...
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 10 de junho de 2020

sábado, 7 de dezembro de 2019

O sujo mundo das milícias digitais que impulsionam o gabinete do ódio do bolsonarismo conspiratório

Parte de robôs bolsonaristas usados em ataques tem origem no exterior

Apresentação usada por Joice Hasselmann (PSL-SP) na CPMI das Fake News - Reprodução/UOL
Apresentação usada por Joice Hasselmann (PSL-SP) na CPMI das Fake News Imagem: Reprodução/UOL
Uma parcela dos robôs que atuam na militância virtual bolsonarista tem origem no exterior, de acordo com integrantes da comissão mista que investiga a disseminação de notícias falsas.
Assim como ocorreu nos EUA, na França e no México, as eleições e os debates políticos brasileiros podem estar sendo influenciados por forças externas, contratadas desde o Brasil ou diretamente pagas no exterior.
O uso de robôs políticos está em destaque desde o depoimento da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) nesta quarta-feira na CPMI das Fake News.
Antes aliada da família Bolsonaro, a relevância da narrativa de Hasselmann está na fissura que provocou na máquina de promoção e linchamento virtual governista.
Hasselmann revelou que 1,4 milhão dos 5,5 milhões de seguidores do presidente Jair Bolsonaro corresponde a robôs, ou seja, 25% são usuários artificiais geridos por computador. A deputada do PSL apresentou estudo que indicou que o deputado federal Eduardo Bolsonaro, a quem qualificou de chefe do "gabinete do ódio", tem 468 mil robôs em meio ao 1,7 milhão de seguidores que possui, o equivalente a 26% de perfis falsos.
De acordo com a deputada, servidores e recursos públicos alimentam a máquina virtual, com uma só hashtag a ser lançada na rede custando R$ 20 mil.
Houve momentos constrangedores no depoimento como quando Hasselmann disse a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) que Bolsonaro questionara se a parlamentar fora prostituta na Espanha ou aquele em que o plenário da CPMI ouviu gravação de assessor de Eduardo Bolsonaro fazendo referências chulas a ex-aliados.
Decoro e elegância parecem coisas ultrapassadas quando a militância virtual está em questão. Os robôs bolsonaristas adoram trocadilhos com aqueles que apoiaram ou tinham a admiração do presidente e em algum momento saíram do tom. Trump vira Trapo; Lobão é rebatizado de Lobostão; Alexandre Frota de Fruta. Estes são alguns dos apelidos publicáveis porque há uma dezena deles com trocadilhos com alusões genitais a nomes como o do general Santos Cruz ou ex-ministro Gustavo Bebbiano.
Os robôs têm sido usados por todo o espectro político não apenas para conquistar seguidores, mas também para conduzir ataques a opositores. São contas de redes sociais controladas por software que gera artificialmente conteúdo e estabelece interações com não robôs. As contas buscam imitar o comportamento humano, interferir em debates espontâneos e criar discussões forjadas. Criam a falsa sensação de amplo apoio político a certa proposta, ideia ou figura pública, modificam o rumo de políticas públicas, interferem no mercado de ações, disseminam rumores, notícias falsas e teorias conspiratórias, geram desinformação e poluição de conteúdo. Um quinto das discussões políticas em momentos importantes como as eleições têm origem em robôs, contabilizou a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV.
É difícil, entretanto, que a partir do relato de Hasselmann haja punição aos mentores de linchamentos virtuais. O crescimento da ação de robôs representa riscos concretos à democracia ao manipular o processo de formação de consensos e do estabelecimento das agendas públicas e ao influenciar na escolha de representantes no Executivo e no Legislativo.

domingo, 20 de outubro de 2019

Os irmãos siameses em campos opostos, mas reciprocamente dependentes - Mario Vitor Rodrigues (GP)

Bolsonaro é Lula Livre; Lula é Bolsonaro “fala mais”

Imagem: internet
Antes do início do segundo turno, quando até os céticos como eu já haviam entendido que Jair Bolsonaro seria eleito presidente da República, houve quem previsse o pior: tanques nas ruas, fechamento do Congresso e extinção do Supremo Tribunal Federal. O medo pela volta da ditadura era tão palpável que na virada do ano amigos chegaram a me desejar “feliz 1964”. Embora nada perto disso tenha acontecido — vale dizer, até esta data —, o governo se comprovou um pesadelo de proporções inéditas.
Não que o autoritarismo passe longe da atual administração. Ele está tão explícito nas palavras quanto nas atitudes. Se faz presente na promiscuidade entre Estado e religião para garantir um específico curral de votos, na defesa de pautas que agridem o meio ambiente, na desinibição com a qual o presidente favorece seus filhos, na postura obsequiosa do ministro da Justiça quando a Operação Lava Jato é esvaziada e no incentivo para que uma militância em absoluto estado de negação abafe quaisquer críticas ao governo.
Contudo o bolsonarismo não é feito somente de arroubos autoritários. É também inapto. Eis a realidade: para além dos vícios de ordem moral, a gestão Bolsonaro é acima de tudo ruim. A pior em décadas. Um descalabro capaz de reposicionar na história a imagem da Era Dilma Rousseff.
Pois, dados esses dez primeiros meses catastróficos, só há uma pessoa capaz de reanimar o governo e seu projeto de poder, dito conservador por muitos, ainda que não passe de populismo escancarado: Lula.
Constatada a incompetência da atual gestão no comando do país, o bolsonarismo se vê fadado a bater o bumbo da dicotomia ideológica. Uma ladainha movida a espantalhos como o da volta do PT e da corrupção associada à sua imagem.
Acontece que oposição, na prática, não há. Pelo contrário, a esquerda se mostra tão manquitola que acaba enfraquecendo o já surrado discurso bolsonarista. De resto, e isso até o maior fã do capitão precisa reconhecer, fica a dúvida se, mesmo em seus melhores dias, ela, a oposição, conseguiria provocar tantos estragos quanto o mito e seus comandados são capazes de infligir a si mesmos.
Luiz Inácio, entretanto, tem o poder de funcionar como uma bandeira vermelha tremulando diante do touro bravio. Não será capaz de tornar o governo competente, disposto ao diálogo e preocupado em combater a corrupção, todavia pode estimular sentimentos que, se bem manipulados, tendem a reforçar o antiesquerdismo e a narrativa do “pelo-menos-não-é-o-PT”.
O líder petista aposta nisso. É astuto. Se sua liberdade será usada do outro lado do balcão para estimular a militância pró-governo, o mesmo impulso, no sentido contrário, servirá para animar os seus correligionários.
O cenário favorece os extremos. Bolsonaro precisa de Lula como quem clama por oxigênio; Lula conta com a verve raivosa e o amadorismo do governo para reposicionar a sua tropa de olho em 2022. Esta é a má notícia.
A boa é que o desgaste em ambos os polos tende a aumentar. Resta saber se será suficiente para acordar a sociedade.

sábado, 27 de julho de 2019

O bolsonarismo precisa alimentar a tribo esquerdista: ele vive disso - Rodrigo Levino

O ‘bolsonarismo’ entre a conciliação e a revolta

A decisão do min. Dias Toffoli do STF por suspender investigações baseadas em dados fornecidos pelo COAF a partir de um pedido do senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), encalacrado com as movimentações financeiras pouco ortodoxas do seu entorno político, selou um pacto menos institucional do que estratégico e de autoproteção entre os Bolsonaro e o establishment, que põe o primeiro numa encruzilhada.
Em janeiro passado, quando o ministro Luiz Fux acatou o pedido liminar suspendendo qualquer procedimento investigatório contra Flavio até que o relator do processo no Supremo se pronunciasse, a militância bolsonarista descarregou críticas sobre o filho mais velho do presidente, surrando a retórica para dar conta de isolar o mandatário da família das suspeitas que se avolumavam de mau uso do dinheiro público.
Desde a semana passada, no entanto, essas posições vem mudando de face. O ‘sim’ de Toffoli ao novo pedido do senador, filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro, serviu de fleet paralisante, pacificou a timeline bolsonarista, que sentiu o cheiro de queimado, embora a maioria ainda esteja na fase de negação. A tergiversação deu o tom e mesmo as críticas públicas dos ponta-de-lança militantes nas redes sociais não foram além de acanhados ‘lamentável’.
O coro de ‘Dudu Chapeiro para embaixador nos EUA’ foi parte da estratégia. Calculou-se que era uma forma menos desgastante de desviar a atenção das franjas mais radicalizadas da militância do flerte descarado da família Bolsonaro com o estamento burocrático que ela diz pretender drenar. As declarações vulgares do presidente sobre fome e cinema no Brasil serviram ao mesmo fim.
A forma final dessa encruzilhada talvez se dê nas próximas semanas, quando o mesmo STF que agiu para proteger Flavio Bolsonaro, talvez aja para beneficiar o ex-presidente Lula, nêmesis do bolsonarismo. A ideia de ‘um cabo e um soldado para fechar o STF’ ainda é a melhor síntese do respeito legado pela militância do presidente a corte maior.
Intutelável, de pendor revolucionário, ainda mais radicalizado desde as manifestações de maio passado, tendo degradado as posições tanto dos militares quanto, em menor grau, é verdade, dos liberais dentro do governo, o arranjo olavobolsonarista que guia o pensamento do presidente e seus apoiadores mais fiéis é milenarista e tem afinado um clamor à violência crescente e cada vez mais desavergonhado nas redes sociais, onde ela melhor se organiza.
Mas a entropia aos poucos vaza para o mundo real. Episódios como o enfrentamento do grupo Direita SP contra membros do Movimento Brasil Livre nas manifestações recentes de apoio a Lava Jato, por exemplo, tem guarida e são, se não comemorados, tolerados em grupos de Whatsapp e fóruns de discussão reacionários como uma espécie de processo de depuração da ‘verdadeira direita’.
Protestos como o contra a participação da jornalista Miriam Leitão numa feira de literatura em Santa Catarina são estimulados com fervor de brigadas lutando contra o comunismo em pleno 1930. A fala do presidente atacando a jornalista e chancelando indiretamente os manifestantes parece loucura, mas tem método. Como numa lição que se repete mais claramente desde Revolução Francesa, as primeiras vítimas dos extremistas, para quem apoio é subserviência, são os moderados, ‘entulhos’, ‘isentões’ e ‘traidores’.
Em vídeos, memes e podcasts a gradação da linguagem bélica vai desde o uso de termos como ‘ucranizar’ (agressão pública em série a políticos de oposição) a elogios mal disfarçados de ‘zueira’ e ‘humor politicamente incorreto’ ao motorista suspeito de atropelar um idoso na semana passada num ato do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, de esquerda, em Valinhos (SP), ou frases como ‘nós vamos fazer o que os militares deixaram de fazer em 1964’, ‘vai faltar necrotério’ em alusão clara à repressão política.
Uma frase do escritor Olavo de Carvalho ilustra o ímpeto dos mais exaltados, quando diz que ‘moderação na defesa da verdade é prestar serviço à mentira’. Os que comungam desse entendimento respondem com presteza o que seria a verdade (o credo olavista e o apoio irrestrito ao presidente), a mentira (tudo que por eles seja identificado como comunismo), mas o limite da não moderação resta sempre em aberto. ‘Temer por suas existências físicas’ e ‘quebrar as pernas’ já foram expressões usadas pelo mesmo Olavo referindo-se aos opositores do presidente.
A pauta moral vai servindo de pasto ao gado militante e mantém, em potencial, a violência que pode ser conclamada mais abertamente à medida que se configurem embates político-institucionais como os que podem sequenciar ao abrandamento do cumprimento da pena do ex-presidente Lula.
É quando chegará a hora de por à prova a resistência do pacto Dias Toffoli-Bolsonaros. Um caminho leva à conciliação, com Supremo com tudo. Outro, ao arrostamento contra um dos três poderes da República, ‘cúmplice de tudo que está aí’. O eleitor raiz de Bolsonaro, cuja percepção é de podridão institucional generalizada, saliva pelo segundo. Os vazamentos da comunicação entre integrantes da força tarefa Lava-Jato só aguçaram esse faro para a carniça.
Pode não ser, no agudo da crise política que se avizinha, a hora em que a violência coesa e organizada vai entrar em cena no debate público, mas as aproximações a essa realidade tem sido paulatinas.
Como descreve René Girard, autor caro ao olavismo, ‘na onda crescente dos escândalos, cada represália evoca uma nova, mais violenta que a precedente. Se nada vier estancá-la, a espiral irá necessariamente desembocar nas vinganças em série, fusão perfeita de violência e de mimetismo’.
A prisão de Lula foi, dentro dessa visão sectária, o auge das represálias, de modo que sustá-la deixará uma lacuna. É fundamental ao bolsonarismo manter o espantalho do lulismo vivo, questão ontológica. A manutenção desse espectro/capital político talvez peça ao presidente, quem sabe, o sacrifício do seu próprio filho.