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sábado, 26 de dezembro de 2020

A França Hoje (em 1993) - Paulo Roberto de Almeida

 384. “A França Hoje”, Paris, 16 dezembro 1993, 4 p. Texto sobre a situação política e estratégica da França no mundo contemporâneo e possibilidades de diálogo com o Brasil. Elaborado como “position paper” da Embaixada. Revisto sucessivas vezes para integrar maço básico sobre a França.

 

                                                A FRANÇA HOJE

 

Conselheiro Paulo Roberto de Almeida

Paris, 16/12/1993

 

A França sempre ocupou uma posição singular no quadro das relações internacionais e intraeuropeias contemporâneas: neutralizada durante a maior parte da segunda guerra e considerada no pós-guerra um “sócio menor” pelos aliados, ela teve de desenvolver uma ativa política externa, regional e internacional, para recuperar seu prestígio e posição abalados com a derrota e ocupação. A reafirmação política e o renascimento estratégico devem muito à ideologia gaullista, marcada pelo nacionalismo e pela ideia da “grandeza” da França, de que resultaram um grande esforço de modernização tecnológica e de capacitação militar, sobretudo nos terrenos nuclear, aeronáutico e espacial. Após o processo de descolonização, a manutenção de alguns postos coloniais caracterizados como “territórios de ultramar” também contribui no sentido da afirmação internacional do país.

Reassumindo no pós-segunda guerra sua condição de grande potência, ilustrada entre outros elementos pela sua participação como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU, a França ainda assim conservou uma postura à parte, quando não recalcitrante, em relação à moldura política e estratégica imposta pelos Estados Unidos aos participantes do bloco ocidental. Alguns fatos ilustram esse posicionamento independente da França: a recusa da Comunidade Européia da Defesa, em 1954, a busca de um poder nuclear não submetido política ou tecnologicamente ao controle norte-americano, a retirada em 1966 do esquema militar do Tratado do Atlântico e do comando integrado da OTAN e a recusa em aderir ao TNP, ainda que cumprindo seus pressupostos básicos, até 1992.

A projeção externa da França, nas últimas décadas, deve muito à sua “force de frappe” nuclear, adquirida e mantida independentemente de qualquer esquema ocidental de defesa estratégica. Mas, essa projeção também esteve intimamente vinculada aos progressos da integração europeia, ela mesma dependente do estado das relações entre a França e a Alemanha: o estabelecimento da Comunidade do Carvão e do Aço, em 1951, e o Tratado de Amizade assinado por Adenauer e de Gaulle em 1962 marcam as etapas mais importantes do novo equilíbrio geoestratégico no continente, com profunda influência na política internacional da França. Os diversos desdobramentos da integração europeia, desde o Tratado de Roma, de 1957, passando pelo Ato Único de 1986 e pelos acordos da União Europeia de Maastricht, de 1992, até a eventual implementação da união monetária, no final desta década, refletem o entendimento prioritário alcançado entre a França e a Alemanha.

A França de meados dos anos 90 é um país moderno, capacitado tecnologicamente, dotada de uma classe política e de uma burocracia partidárias do planejamento indicativo e da ação coordenadora do Estado e dispostos a assumir os custos políticos e econômicos da projeção internacional do país. Para marcar sua posição independente, o contexto europeu lhe serve de cenário privilegiado para iniciativas de política internacional e regional, descartando em alguns casos qualquer papel especial reservado aos Estados Unidos.  

Derivam dessa política de afirmação externa a proposta feita por Mitterrand de uma grande federação europeia (que retoma o antigo projeto de De Gaulle de uma “Europa do Atlântico aos Urais”), as tentativas no âmbito da CEE de criar um sistema próprio de defesa e de segurança (que têm se chocado com a posição atlantista do Reino Unido, que adere à visão norte-americana) e, mais recentemente, a proposta de um pacto europeu de estabilidade política continental, que conduziria, num quadro exclusivamente europeu, ao que a CSCE, concebida no auge da guerra fria, já não consegue mais realizar: a garantia das fronteiras e da paz civil numa Europa central e oriental abalada pelos excessos dos nacionalismos. O projeto não foi contudo bem recebido pelos seus supostos destinatários, os ex-satélites da URSS, e seria de alcance limitado na medida em que não se aplicaria nem aos Balcãs nem aos diversos contenciosos envolvendo a Grécia e a Turquia no cenário sub-regional. 

Precisamente no que se refere ao processo de pacificação na ex-Iugoslávia, e mais particularmente na solução ao difícil problema da Bósnia-Herzegovina, a diplomacia francesa teve um papel protagonista, tanto no plano humanitário (liberação do cerco a Sarajevo e fim dos bombardeios sobre a cidade) como no quadro mais amplo do processo de paz. O empenho das lideranças políticas francesas (e pessoal do Ministro Alain Juppé) foi fundamental para o convencimento dos norte-americanos no sentido de comprometer o esquema militar da OTAN, em coordenação com o Conselho de Segurança das Nações Unidas, com um ultimatum credível lançado às partes engajadas naquele cruel conflito. Da mesma forma, a diplomacia francesa continua atuante na articulação de iniciativas que possam trazer uma solução global ao problema da pacificação nas ex-repúblicas iugoslavas. No plano multilateral, cabe destacar o papel destacado assumido pela França na negociação bem sucedida da Convenção sobre Armas Químicas, que retoma e completa os objetivos do Protocolo de Genebra, de que o país é depositário, bem como sua ativa participação nos diversos dossiês relativos à não-proliferação nuclear e controle de tecnologias duais (MTCR, reforma do esquema do COCOM, etc.).

A postura assumida pela França nas negociações comerciais multilaterais da Rodada Uruguai, nas quais ela esteve aparentemente isolada em momentos cruciais da discussão dos temas agrícola e audiovisual, evidencia igualmente a capacidade de sua diplomacia em vincular a Europa à defesa de seus interesses nacionais, transformando-os igualmente em “interesses europeus”. Contribuem para essa eficácia de suas iniciativas externas a disponibilidade, nos vários escalões do Estado francês, de funcionários e diplomatas de alta capacidade intelectual e organizacional, provenientes dos mesmos centros de formação e que logram manter a permanência dos interesses nacionais a despeito das mudanças ministeriais. A dualidade básica do Executivo francês – um sistema parlamentar saído de eleições proporcionais e um Presidente diretamente eleito pelo eleitorado, com responsabilidades constitucionais em matéria de política externa – tem assim seus efeitos minimizados na implementação de sua ação diplomática, mesmo, como ocorre atualmente, no caso de uma coexistência de um chefe de Governo e de um chefe de Estado oriundos de partidos políticos ideologicamente opostos.

Do ponto de vista geopolítico e geoeconômico, os círculos concêntricos de interesse estratégico francês se disseminam a partir do epicentro comunitário, agora tornado ainda mais importante do ponto de vista político com a entrada em vigor dos acordos de Maastricht sobre a União europeia e a conformação progressiva de uma união econômica e monetária. Em escala ampliada comparecem os problemas de segurança europeia, no qual as relações com a Rússia assumem papel estratégico, a estabilidade política e social nas fronteiras meridionais (aqui incluídas, no sentido lato, as regiões balcânica e mediterrânea magrebina, a Argélia em primeiro lugar) e a recuperação econômica da África negra, especialmente das ex-colônias. Em todas essas regiões, a preocupação com a possibilidade de uma imigração maciça está presente na mente dos dirigentes políticos e da própria opinião pública francesa. 

No plano econômico, a despeito de problemas sociais persistentes, com o desemprego na faixa de 11%, e de algumas disfunções do setor público (déficit orçamentário de cerca de 5% do PIB, falência do sistema previdenciário), a situação parece relativamente confortável, com uma inflação sob controle e modestas perspectivas de crescimento nos próximos anos. O atual Governo retomou e aprofundou o programa de privatização iniciado em 1986, com grande sucesso na oferta pública de ações de grandes companhias do setor de serviços (Banque Nationale de Paris) e da área industrial (Rhone Poulenc).

As condições do comércio internacional pós-Rodada Uruguai e a situação do sistema monetário europeu (atualmente um “shadow-SME”, segundo os especialistas) são objeto das reflexões dos políticos e burocratas franceses no período recente. Os resultados razoavelmente favoráveis obtidos, graças à pertinácia de sua diplomacia, ao cabo da Rodada Uruguai (flexibilização da reestruturação na área agrícola e exclusão do tema audiovisual), deixarão ainda assim algumas hipotecas no âmbito comunitário (reformulação provável do programa de reforma da PAC) e nas relações com os Estados Unidos. 

A balança comercial tem liberado excedentes satisfatórios no período recente, devido sobretudo às exportações de alto valor agregado, mas também à queda das importações num contexto recessivo. As empresas francesas realizaram grandes investimentos no exterior, em especial nos Estados Unidos, na África e nos demais países europeus (Reino Unido, Espanha e Itália), com uma menor presença no Japão. O Brasil é um dos países privilegiados na estratégia externa dos investidores franceses, mas nos últimos anos o movimento de capitais de risco tem sido modesto. A França tornou-se igualmente um grande recipiendário de investimentos diretos estrangeiros.

Do ponto de vista brasileiro, a França é um país com o qual mantemos um bom diálogo no contexto europeu, bem como um excelente programa de cooperação técnico-científica, com desdobramentos na área tecnológica. Como pontos de aproximação entre o Brasil e a França no terreno político podem ser citados uma mesma concepção geral sobre a necessidade de autonomia tecnológica, militar e estratégica em relação à única superpotência remanescente, uma aceitação doutrinária de um papel econômico regulador para o Estado e uma postura aberta à reforma dos fundamentos institucionais da ordem mundial sem pressupostos ideológicos muito marcados.

Parecem portanto estar abertos os caminhos para o aprofundamento do diálogo político de alto nível, com possibilidades de ampliar a cooperação em alguns setores selecionados da indústria de alta tecnologia, eventualmente inclusive na área espacial, objeto, no curso de 1992, de conversações ente o Ministro da Ciência e Tecnologia do Brasil e o Ministro da Pesquisa e do Espaço da França. Do ponto de vista da cooperação econômica e científica, não existem obstáculos maiores à intensificação de programas abrangentes nos mais diversos setores. Caberia, portanto, definir mecanismos e modalidades de consulta e coordenação para o estabelecimento de uma agenda de cooperação no período futuro.

 

 

[Paris, PRA: 314e: 16.12.93]

[2a. versão: 21.12.93]

[3a. versão: 22.12.93]

[4a. versão: 11.01.94]

[5a. versão: 03.03.94]

[6a. versão: 06.03.94]

 

384. “A França Hoje”, Paris, 16 dezembro 1993, 4 pp. Texto sobre a situação política e estratégica da França no mundo contemporâneo e possibilidades de diálogo com o Brasil. Elaborado como “position paper” da Embaixada. Revisto sucessivas vezes para integrar maço básico sobre a França.

 

 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O caso curioso dos assassinatos inconscientes - Paulo Roberto de Almeida

 O caso curioso dos assassinatos inconscientes

(Mas ainda não solucionados por Hercule Poirot)

Paulo Roberto de Almeida


Da postagem em Twitter de jornalista ou atuante em comunicação:

“Hoje conversei com um médico que atua em um famoso hospital de  SP. 

E ele: 

“Perdi a conta de quantos intubei, você que atua em comunicação, me diz, o que eu preciso fazer para que as pessoas não façam festas e reuniões no fim do ano? O que vc acha que funciona? Faço qualquer coisa!” 

Eu: ...”


PRA: Em algumas circunstâncias, em processos judiciais, o dono da arma também pode ser considerado culpado se não foi responsável o suficiente para evitar uma tragédia. Por exemplo, o adulto que deixou arma carregada em caso de suicídio ou morte indesejada de menor.

Seria igualmente o caso desses disseminadores do virus no caso da morte de inocentes alheios a qualquer evento onde se propagou o virus?

Estamos assistindo à normalização de todo um contingente de irresponsáveis inconscientes?

Deveriam eles ser responsabilizados criminalmente, caso comprovada a transmissão?

Paulo Roberto de Almeida

Sobre a correta caracterização do capitão - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre a correta caracterização do capitão

Paulo Roberto de Almeida


Todos os que me leem (com algumas exceções, sempre tem) são pessoas sensatas, bem informadas, que não se deixam impressionar por rótulos.

Devem saber que o capitão que desgoverna o país não é, nunca foi e nunca será um LIBERAL. Tampouco é um CONSERVADOR, pois para isso precisaria ter um mínimo de instrução política (o que ele NUNCA teve), para distinguir doutrinas (mas isso é coisa de teórico, o que ele nunca foi), ou para simplesmente saber o que deve ser conservado numa sociedade organizada.

Mas, tampouco é um REACIONÁRIO, como querem alguns. Para ser reacionário é preciso saber minimamente o que se quer afastar, em troca de outros elementos, o que tampouco é capaz de saber ou fazer.

Pior do que um reacionário, o capitão é um DESTRUIDOR, pois está ativamente empenhado na destruição de tudo o que existe, sem ter nada para propor no lugar. Reacionários racionais desejam repor algo do passado de volta, no caso teria de ser a ditadura militar. Mas não é, e ele nem sabe fazer: é um destruidor!

O Brasil está entregue a um DESMATELADOR GERAL DA REPÚBLICA, como o chamou o editorial do Estadão desta quinta-feira, 17/12/2020, reproduzido em meu blog Diplomatizzando.

Quem não se concientizar disso, e ainda apoiar ou ser complacente com o capitão degenerado, ou é muito ignorante e desinformado, ou é conivente com a destruição da nação. Em qualquer das hipóteses, está no lugar errado, se por acaso for leitor de minhas postagens.

Apenas para diminuir o volume de postagens subsequentes, agradeço a atenção, mas não creio que caibam mensagens de apoio.

Quanto aos que pretenderiam defender o capitão, ou tentar passar o pano sobre seus comprovados CRIMES, apenas um alerta: DESISTAM, ou serão imediatamente deletados deste espaço.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 17/12/2020

Brasil: uma nação que se suicida lentamente? - Paulo Roberto de Almeida

 Os editoriais do Estadão são cada vez mais contundentes, mas ainda não chegaram naquele ponto de não retorno, depois de 13 de março de 1964, quando vários grandes jornais do país publicaram manchetes e editoriais proclamando o “BASTA” contra Goulart, ou seja, sinalizando para o golpe militar com amplo apoio dos principais governadores, que “seguiram” as consignas do “Movimento das Mulheres pela Família e pela Liberdade” (ou seja, contra o “comunismo”).

Estamos longe disso, e não temos nem governadores, nem militares golpistas. A sociedade assiste inerme, com o Congresso desarticulado, aos golpes que o degenerado aplica todos os dias contra a ética na governança e contra vários princípios e valores civilizatórios.

O que temos, por enquanto é uma sociedade dividida — mas os reais apoiadores do capitão são em número reduzido, sendo a maioria dos que ainda o toleram apenas indiferentes ao bem público — e a continuidade do desmantelamento das instituições pelo “demolidor da República”. 

Aparentemente, a sociedade, o Congresso, as elites civis, militares e econômicas vão continuar assistindo a esse espetáculo grotesco de desgovernança, sem tomar nenhuma atitude ativa contra o capitão que DESTRÓI os fundamentos da República, esperando que em 2022 algum outro salvador providencial esteja em condições de enfrentar e derrotar o capitão para eventualmente tirar o país da atual rota de desastre. Alguns até se aproveitam da fraqueza do homem, e alegam não pretender violar a “normalidade democrática” (como se ela já não estivesse sendo conspurcada todos os dias).

Outras sociedades já passaram por esse tipo de situação: algumas juntaram forças para se salvar, outras se suicidaram lentamente...

Paulo Roberto de Almeida

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O demolidor da República e seus cúmplices 

Editorial | O Estado de S. Paulo (17/12/2020)

Na sua empreitada para arruinar a República, Bolsonaro conta com comerciantes da Ceagesp, policiais, militares e o Centrão

Desde sua posse, mas especialmente em meio à pandemia de covid-19, o presidente Jair Bolsonaro não se comportou em nenhum momento como se soubesse o que fazer com o poder que os eleitores lamentavelmente lhe conferiram em 2018. Bolsonaro não preside a República; depreda-a – e nisso é coadjuvado não somente pelos fanáticos camisas pardas bolsonaristas, mas por muitos brasileiros comuns que, por ignorância do que vem a ser uma República, respaldam a vandalização da Presidência e, por extensão, da própria democracia.

Já não é mais possível saber qual dos atentados de Bolsonaro foi o mais grave nos dois anos de seu tenebroso governo, mas a terça-feira passada é forte candidata a entrar para a história como o dia em que o presidente declarou guerra a seus governados. Jamais houve nada parecido com isso em tempos democráticos.

Bolsonaro deu declarações em que explicitamente desencorajou seus compatriotas de tomar a vacina contra a covid-19, fazendo terrorismo acerca de eventuais efeitos colaterais. No dia anterior, Bolsonaro havia informado que, diante das ressalvas dos laboratórios, exigirá de quem queira tomar a vacina a assinatura de um “termo de responsabilidade”. Ele mesmo anunciou que não tomará a vacina, “e ponto final”.

Desde o início da pandemia, a única preocupação de Bolsonaro é livrar-se de qualquer responsabilidade, seja sobre as mortes, seja sobre os problemas econômicos. Mas atribuir aos próprios cidadãos uma responsabilidade que é inteiramente do Estado constitui desfaçatez inaudita até para este governo. Para ser aplicada, qualquer vacina precisa ser autorizada pelos órgãos sanitários competentes, que nesse ato reconhecem sua responsabilidade. Assim, não há nenhuma base jurídica para exigir dos cidadãos um termo de consentimento diante dos supostos riscos.

Mas Bolsonaro nunca esteve preocupado com bases jurídicas ou quaisquer outros pormenores republicanos. Perdeu-se a conta de quantas medidas provisórias, decretos e projetos de lei produzidos por ordem de Bolsonaro foram ignorados, suspensos ou rejeitados pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal por não atenderem aos requisitos mínimos de legalidade e interesse público.

O desdém de Bolsonaro pela República que lhe coube presidir é tamanho que, para ele, nem mesmo sua assinatura vale o papel em que foi escrita. Seu nome chancela o Decreto 10.045, de 4 de outubro de 2019, que determina a inclusão da Ceagesp no Programa Nacional de Desestatização. Contudo, esse mesmo signatário, em tom de comício, subiu num palanque na Ceagesp, na terça-feira passada, para garantir que “nenhum rato” privatizará a companhia. Referia-se, obviamente, ao governador paulista e principal desafeto, João Doria.

Tampouco o princípio republicano da impessoalidade resistiu à ofensiva bolsonarista para aparelhar o Estado com apaniguados a serviço do presidente e de seus filhos. A Procuradoria-Geral da República, a Polícia Federal e a Agência Brasileira de Inteligência são hoje comandadas por leais servidores de Bolsonaro, que parecem empenhados em tranquilizar o chefe e sua prole enrolada na Justiça.

Assim, na sua empreitada para arruinar a República, Bolsonaro conta com vários outros cúmplices – como os comerciantes que se aglomeraram sem máscara e urraram de excitação com o discurso virulento de Bolsonaro na Ceagesp, os policiais e os militares que o tratam como “mito” em eventos País afora e os políticos do Centrão que lhe dão guarida parlamentar em troca de acesso ao butim do Estado. 

Confortável, Bolsonaro abandonou de vez a fantasia reformista que inventou para se eleger e anunciou que retomará sua agenda deletéria, a começar pela nova tentativa de ampliar a excludente de ilicitude para policiais, um projeto já rejeitado pela Câmara por constituir evidente licença para matar. 

Defender que policiais fiquem fora do alcance da lei para que possam matar à vontade, bem como sabotar os esforços para vacinar a população contra a covid-19, são atitudes típicas de um presidente que, hostil aos princípios republicanos, trata todos os cidadãos da República – com exceção dos que levam seu sobrenome – como inimigos em potencial.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A Estranha Metamorfose de EA, 3 (uma novela distópica, capítulo 3)

 A Estranha Metamorfose de EA, 3

(uma novela distópica, capítulo 3)

Foi com uma nova disposição para o trabalho, energia renovada, que EA sentou-se à frente do computador para dar enfim início a uma nova etapa, em sua vida. A conversa da manhã, depois de uma noite de angústia kirkegaardiana e recalques freudianos, tinha sido uma espécie de fim da história de falsidades, sob o manto do pensamento único: estava pronto para se iniciar na metapolítica, mas não tinha ainda um programa de trabalho pronto e acabado; precisava pensar cuidadosamente sobre como processar todo aquele fluxos de novas e velhas ideias e colocá-las em ordem para servir adequadamente aos novos paladinos da liberdade e da justiça, sob a proteção de Deus, da Virgem Maria e de todos os santos.

Para isso, decidiu afastar temporariamente qualquer posicionamento imediato sobre os altos e baixos da política nacional corrente, sob risco de desagradar o velho profeta da doutrina libertadora ou o novo representante da nova política: afinal, não se sabia bem o que pensavam um e outro sobre o caráter errático das promessas de campanha. Ficava bem posar de liberal e proclamar uma luta sem tréguas contra a corrupção, mas nessa tribo de liberais tinha até marxistas reciclados, e nessa coisa de corrupção seria melhor não remexer muito; vai que...

Por isso, remeteu a um arquivo de pendentes suas poucas ideias sobre o momento presente, e decidiu cavoucar no passado da civilização judaico-cristã, indo até um pouco mais longe, penetrando a fundo nas nossas origens gregas e romanas, chegando inclusive até a batalha de Salamina.

E foi assim que, juntando um pouco de grego aqui, um latim acolá, alguma filosofia dionisíaca em alemão mais adiante, que conseguiu salpicar de erudição um texto rebarbativo, que também tinha a Virgem Maria e templários salvadores da civilização ocidental, infelizmente perdida no vazio cultural da Europa, mas que ainda tinha uma réstia de esperança num gajo inculto do marketing televisivo, que prometia finalmente combater os novos inimigos da Cristandade, o novo perigo amarelo.

EA estava pronto para fazer o seu magnum opus, que desabaria como granito na cabeça de colegas e defensores do pensamento único, que sequer tinham prestado atenção nos seus escritos anteriores, dois romances distópicos que ninguém parecia ter lido, sequer sabido da existência. Foi com um enorme sentimento de raiva e desejo de vingança — como talvez aquele medíocre pintor austríaco se sentiu ao serem desprezadas as suas obras na Kunst Akademie — que EA decidiu-se a começar seu trabalho filosófico-político mais importante, a sua luta contra os que de certa forma tinham apunhalado nas costas o Brasil conservador, obrigando o seu povo a ser o que não era: um povo profundamente religioso, dominado durante mais de uma década por uma tribo de ateus. 

EA estava no limiar de dar o passo mais ousado de sua vida, arriscando inclusive a carreira e uma situação até confortável, por ter se aproximado dos donos do poder, que no fundo da alma ele desprezava.

Foi juntando todas aquelas citações, todos aqueles nomes pouco conhecidos por aqui, que EA pôs-se a escrever...

(Continua...)


A Estranha Metamorfose de EA, 2 (Uma novela distópica, segundo capítulo)

 A Estranha Metamorfose de EA, 2

(Uma novela distópica, segundo capítulo)

Após a conversa, EA estava de malas prontas para embarcar numa nova e grande aventura. Enfim liberto dos grilhões do maldito programa de Gotha, que prometia dar a cada um de acordo com as suas necessidades, visto que ele sempre achou aquilo materialmente impossível, inclusive porque havia necessidades específicas, como as dele, por exemplo, que não seria possível atender pelo igualitarismo pretendido.

Mas ele estava sobretudo aliviado pois passaria a não mais prestar fidelidade a quem prometia hipocritamente pedir de cada um de acordo com sua capacidade, ao mesmo tempo em que viviam num castelo de privilégios, condenando todos os demais a uma espécie de colônia penal do pensamento único, feita de pão ordinário para o povo e brioches para a Nomenklatura. Chega daquela conversa mole libertária, quando a liberdade deles era na verdade opressão. Nunca tinha se sentido tão livre, leve e solto, para embarcar, finalmente, num outro tipo de política: a metapolítica, uma etapa superior da política, quando todo o poder recairia, por fim, no povo eleito por Deus para salvar a humanidade da mentira e da escravidão dos ímpios. E ainda tinha também essa vantagem de poder denunciar um punhado de iluminados não eleitos e sua pretensão de determinar o que o povo de Deus poderia ou não fazer de suas próprias vidas. Afinal de contas, a liberdade é até mais preciosa do que a vida.

E foi com o pensamento enfim liberto da opressão espiritual na qual tinha vivido durante todo o seu itinerário pós-universitário, quando teve de viver praticamente sozinho no armário de todas as suas crenças mais recônditas, que EA voltou aliviado de sua conversa com um interlocutor privilegiado, um novo parceiro na jornada que estava prestes a iniciar. Só precisava recolher algumas ideias de suas muitas leituras clandestinas feitas laboriosamente ao longo desses anos de angústias espirituais — quando pensava uma coisa, mas precisava aparentar outras - e consolidar essas ideias num ensaio sobre a salvação da civilização judaico-cristã, que seria a porta aberta para a sua consagração como um dos mais fiéis discípulos do novo credo (na verdade velho, mas restaurado e renascido), um texto que inauguraria o seu desabrochar na Metapolítica; só faltava um subtítulo para o novo empreendimento, mas ele surgiria naturalmente do conjunto de novas ideias velhas às quais estava retornando depois de uma longa caminhada solitária na terra dos incrédulos. 

E foi com esse sentimento que EA retornou aos seus livros, para juntar todos aqueles cacos de pensamento, decidido, finalmente e corajosamente, a trilhar a nova estrada. Foi uma libertação, e uma revelação: aquele era o caminho da verdade e da luz, e como já se sabe, desde Mateus, o conhecimento da verdade liberta o homem...

(Continua...)


A Estranha Metamorfose de EA, 1 (novela distópica)

 A Estranha Metamorfose de EA

(novela distópica)

Um dia, pela manhã, EA acordou sobressaltado, mas não saiu logo da cama. Estava tomado por certa sensação febril, não tinha vontade de levantar-se para iniciar a mesma rotina diária de todos aqueles anos. Ainda deitado, mas olhando para o teto, não teve vontade, nem disposição para calçar os chinelos, ao pé da cama, ir ao banheiro, completar a rotina matutina, tomar o café da manhã e sair para o trabalho. Não que o corpo pesasse, ou que apresentasse qualquer mudança estranha, fisiológica, isso não. Tudo parecia em ordem com os seus braços e pernas, com as costas e a cabeça, nada diferente, tudo parecia conforme ao que sempre fora, desde que saiu da juventude para a maturidade, e continuava antenado nas mesmas coisas de sempre: o trabalho, regular, aborrecido, mas de vez em quando uma nova tarefa, os livros no mesmo lugar, as roupas sóbrias de sempre, nada parecia predispô-lo a uma grande mudança.

E, no entanto, sentia que era chegada a hora de adotar uma nova atitude, operar uma verdadeira metamorfose em sua vida, começar a se comportar como realmente queria, não como os outros, os colegas, os amigos, os professores e os chefes queriam que ele fosse: um funcionário cumpridor dos seus deveres, sempre engajado no mesmo processo, nas mesmas rotinas, fazendo sempre o que lhe era demandado, e o que diziam que era o certo, mesmo não entendendo bem porque teria de ser daquela maneira, e não de outra, de acordo ao seu verdadeiro ser, a coisa em si, o mundo como ele achava que deveria ser, de acordo com a sua vontade, não o mundo como representação, de acordo com a vontade dos outros.

Ainda deitado na cama, e fitando o teto, resolveu tomar de coragem para começar a sua metamorfose: não mais seria como eles queriam que ele fosse, e sim seria como estava decidido a ser, o seu verdadeiro eu interior, aquele que tinha brotado da figura paterna, austera, responsável, temente a Deus, mas que tinha ficado submerso naquele universo de seres enquadrados na verdade do momento, que tinha de ser apenas figuração, porque na faculdade eram assim, e no trabalho também, todos convergentes para um universo espiritual com o qual não estava de acordo, mas com o qual tinha de concordar, tinha de aceitar, para não ser o discordante, o diferente, o verdadeiro.

Foi ainda deitado que começou a remontar o pensamento que lhe havia aflorado à mente quando se deitou para dormir, e que aparentemente ficou remoendo entre um sonho e outro, até que acordou com aquela sensação febril. Mas era uma febre diferente: em lugar de abatê-lo, de enfraquecê-lo, ela encheu-o de força, de vontade, e foi assim que decidiu assumir plenamente a mudança, em direção do seu verdadeiro eu, sua metamorfose. 

Levantou-se da cama com energia, esqueceu até de calçar os chinelos, e foi até o telefone e chamou aquele que lhe tinha sugerido, na noite anterior, que deixasse toda aquela figuração de lado, aquelas duas décadas e meia de representação, de falsa conformidade, de hipocrisia, ao ter de servir ideias, homens e políticas com as quais não concordava, e que assumisse de uma vez a sua personalidade real, aquela legada por seu pai, e que correspondia aos seus sentimentos profundos.  Disse, rapidamente, que tinha pensado muito naquilo, e que concordava, que estava decidido a anunciar uma nova etapa de vida, juntar-se ao movimento, para salvar o país da opressão  e da mentira. Estava pronto, afinal. Disse que se arrumaria rapidamente e que poderiam combinar um encontro, naquela mesma manhã, para conversar sobre a melhor maneira de efetivar sua metamorfose. 

(Continua…)


sábado, 12 de dezembro de 2020

Uma síntese cronológica anual de nossa desesperança atual - Paulo Roberto de Almeida

 Uma síntese cronológica anual de nossa desesperança atual

Paulo Roberto de Almeida

A decisão de apoiar o capitão foi tomada lá atrás, pelo efeito combinado das manifestações de 2013, das eleições de 2014, da crise de 2015, do impeachment de 2016, da Lava Jato em 2017, das hesitações no STF em 2018, e de conversas nos altos comandos militares. 

O cálculo dos generais graduados era outro: tutelar o capitão e obter ganhos corporativos para as FFAA.

Eles se enganaram terrivelmente: foram aprendizes de feiticeiro e com isso jogaram o povo brasileiro nas mãos e pés do pior dirigente do Brasil de todos os tempos, desde D. Tomé de Souza (1549) pelo menos, ou seja, desde sempre.

Em síntese, tivemos, em 2019, uma pequena amostra de todas as falcatruas de que era capaz uma mente doentia, apenas obcecada com a sua reeleição e com a defesa da ficha miliciana e corrupta de toda a sua familia, e em 2020 uma demonstração cabal de todo o mal que um psicopata armado do poder presidencial é capaz de infligir a toda uma população incapaz de reagir por seus próprios meios, pois que confrontando-se a instituições republicanas aparelhadas por oportunistas notórios, impulsionados pela grande corrupção política, e também a militares inermes em face de tantos desatinos perpetrados com sua aparente colaboração.

Num possível cenário prospectivo, teremos um 2021 ainda marcado por muitas mortes suplementares às que teriam resultado de uma curva “normal” da pandemia, não fossem os desatinos e o comportamento mórbido e criminoso do capitão-presidente, e, finalmente, teremos um 2022, o ano de um infeliz bicentenário da Independência, provavelmente caracterizado por uma grande divisão doentia da sociedade e da política, com grandes incertezas quanto às próximas definições eleitorais, um cenário econômico ainda depressivo, a miséria cultural já definitivamente instalada no país e um clima geral marcado por muita desesperança em nosso povo.

Desulpem-me por ser, uma vez mais, apenas realista quanto ao nosso passado recente, nosso presente depressivo e deprimente e nosso futuro ainda sombrio, em função das más escolhas feitas preteritamente.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12/12/2020

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Nota sobre as crises econômicas que atingem o Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Um comentário rápido sobre as crises econômicas que atingem o Brasil 

Paulo Roberto de Almeida


A atual, da Covid-19, não pode entrar em linha de conta, pois atinge a todos os países indistintamente, com maior ou menor acuidade dependendo da gestão feita sobre os efeitos da pandemia pelos seus dirigentes. Já sabemos que os dois negacionistas maiores provocaram os MAIORES números de mortos, independentemente da maior ou menor recessão ou desemprego, que possuem outras variáveis. Estou falando do número de VIDAS PERDIDAS, grande parte podendo ser atribuídas ao comportamento IRRESPONSÁVEL dos dois dirigentes mentecaptos, Trump e Bolsonaro.

Mas 2020 é um ano perdido para o mundo inteiro, e isso ficará na História.

Com relação ao Brasil, cabe relembrar que, de 2016 a 2019, já vínhamos de uma lenta e difícil recuperação de uma trajetória de gastos públicos em aumento desde 2005, quando Dona Dilma assumiu a Casa Civil e que não era sustentável mesmo que o lulopetismo continuasse por mais dois governos, sem impeachment em 2016.

A expansão de gastos públicos era generalizada em todos os setores, era insustentável, como foi, e que terminou provocando a Grande Destruição de 2015-16, a maior recessão econômica de toda a nossa história, inteiramente “made in Brazil”, que se deve em sua maior parte a causas fiscais e que não tem nada a ver com qualquer crise externa (como alegado pela inepta dirigente e seus petistas amestrados) e que continua a ser a maior de toda a nossa história mesmo em face da pandemia, que é totalmente exógena.

Mesmo que não houvesse a pandemia, o Brasil continuaria numa trajetória de lenta e medíocre recuperação, que faria com que em 2022, o ano do bicentenário da Independência, nós estaríamos exibindo uma renda per capita menor que DEZ ANOS antes, e com uma previsão de retomada dos superávits primários (para pagar unicamente os juros da dívida pública) apenas no final da década e o prosseguimento de taxas medíocres de crescimento econômico até a década de 2030 em adiante. 

Isso sem falar da mediocridade dos ganhos de produtividade, pela ausência completa de melhorias significativas na educação.

Ou seja, não estou sendo pessimista, ou minimizando a pandemia. Estou sendo realista: nossa situação é muito PIOR do que o que é normalmente falado.

Desculpem por estragar a quarta-feira, 9/12/2020.

Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Moeda comum em blocos comerciais: textos (1998-2009) - Paulo Roberto de Almeida

 Moeda comum em blocos comerciais: 

textos Paulo Roberto de Almeida

Problemas da unificação monetária na América do Sul e no Mercosul

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orgpralmeida@me.com

Lista seletiva parcial de textos sobre questões monetárias nos processos de integração

Brasília, 23/11/2020

Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44556080/3798_Moeda_comum_em_blocos_comerciais_textos_Paulo_Roberto_de_Almeida_Problemas_da_unifica%C3%A7%C3%A3o_monet%C3%A1ria_na_Am%C3%A9rica_do_Sul_e_no_Mercosul_2020_)

 

 

Recentemente, um estudante consultou-me a respeito das possibilidades de uma moeda única na América Latina, um objetivo que eu julgo realisticamente utópico nas condições atuais de fragmentação dos processos integracionistas na região, e mesmo de retrocesso nos que existem, seja a Comunidade Andina de Nações, seja o Mercosul, para não mencionar a fantasmagórica Alba do coronel Chávez. Com base nessa consulta fui verificar o que eu já havia escrito sobre a questão, o que compreende um pouco da experiência europeia com o euro da União Europeia – o único exitoso até o momento, e ainda assim apenas uma moeda comum para parte de seus membros, não uma moeda única de todo o bloco – e várias especulações sobre o mesmo experimento no Mercosul ou na América do Sul.

Creio que a leitura de pelo menos alguns desses meus textos – que obviamente não esgotam a questão – poderá levar à conclusão de que tal objetivo é virtualmente impossível no estado atual de desagregação da região. Na verdade, nem julgo esse objetivo prioritário, ou sequer necessário, numa conjuntura em que sequer existem zonas de livre comércio na região. No momento em que a questão se colocar de maneira concreta, poderei escrever sobre isso.

 

Lista cronológica de alguns textos de Paulo Roberto de Almeida sobre questões monetárias em processos de integração

 

606. “O futuro euro e o Brasil: efeitos esperados”, Brasília, 5 março 1998, 2 p. Texto sobre o impacto do euro para a economia brasileira, com destaque para as áreas de comércio, investimentos, finanças, reservas e no sistema monetário internacional. Publicado na Carta de Conjuntura do CORECON-DF (Brasília: ano 12, nº 56, março/abril de 1998, p. 18-19). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-futuro-euro-e-o-brasil-efeitos.html). Relação de Publicados nº 216.

 

648. “Preparando a união monetária: as agendas política e econômica”, Brasília, 25 novembro 1998, 20 p. Exposição preparada, com base no trabalho 647, para o V Fórum Brasil–Europa: “Novos desafios para a União Europeia e o Mercosul no marco das privatizações e da união monetária”, organizado pela Fundação Konrad Adenauer (São Paulo), cooperação com IRELA e BNDES, e apresentada em 27/11/1998 no painel “Mercosul: da união alfandegária à união monetária”, sob coordenação de Wolf Grabendorff (IRELA, Madrid), BNDES, Rio de Janeiro, conjuntamente com Fabio Giambiagi (“Custos e benefícios globais e regionais de uma moeda única do Mercosul”). Previsão de publicação no Caderno Debates da FKA. Serviu de base à elaboração de “Problemas da união monetária no Mercosul” (2 julho 1999, 29 pp), sob demanda da revista Civitas, da PUC-RS, depois substituído pelo trabalho de n. 700. Divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/mercosul-da-uniao-alfandegaria-uniao.html).

 

655. “O papel do euro no sistema monetário internacional”, Brasília, 22 janeiro 1999, 5 p. Artigo sobre o impacto internacional da nova moeda europeia, elaborado a pedido do NUPRI-USP. Publicado em Carta Internacional (São Paulo: NUPRI-USP, ano VI, nº 69, novembro 1998, p. 4-5). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/202; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-papel-do-euro-no-sistema-monetario.html); Divulgado igualmente na versão (incompleta) da Carta Internacional na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44555203/655_O_papel_do_euro_no_sistema_monet%C3%A1rio_internacional_1999_). Relação de Publicados nº 231.

 

700. “Mercosul: problemas da coordenação de políticas macroeconômicas e de uma futura união monetária”, Brasília, 28 julho 1999, 19 p. Palestra em seminário da Fundação Konrad Adenauer no Rio de Janeiro, em painel sobre integração monetária na UE e no Mercosul. Anexo (não arquivado): “Mercosul em Ciência Hoje: Precisões”, Brasília, 28 de julho de 1999, 4 p. Comentários e observações a entrevista do economista Wilson Cano, na revista Ciência Hoje, nº 151 (julho 1999) a propósito do Mercosul. O texto é exatamente o mesmo que já foi divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/mercosul-da-uniao-alfandegaria-uniao.html).

         

719. “Euro: a moeda europeia”, Washington, 14 janeiro 2000, 6 p. Texto de verbete para a Enciclopédia de Direito Brasileiro. Revisto em 30/09/2000, para refletir o resultado negativo do plebiscito na Dinamarca e a decisão pela entrada da Grécia na UEM. Publicado em Carlos Valder do Nascimento e Geraldo Magela Alves (coords.), Enciclopédia de Direito Brasileiro, 2. volume: Direito Comunitário, de Integração e Internacional (Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002; ISBN 85-309-0860-0), p. 214-219. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44555431/O_euro_a_moeda_europeia_2002_); divulgado no blog Diplomatizzando(22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-euro-moeda-europeia-2000-in.html). Relação de Publicados n. 330.

 

739. “Fundo Monetário da América Latina? Uma ideia discutível”, Washington, 21 jun. 2000, 3 p. Comentário acerca da ideia de criação de um Fundo latino-americano de reservas. Publicado no boletim Network (Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudo das Américas, v. 9, n. 2, abr/jun. 2000, p. 1 e 2). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/fundo-monetario-da-america-latina-uma.html). Relação de Publicados n. 255.

 

855. “Mercosul: da união alfandegária à união monetária”, Washington, 28 jan. 2002, 19 p. Artigo sobre as perspectivas de unificação monetária no Mercosul, a partir do trabalho n. 648, de 1998, para a revista Estratégia, do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais (Lisboa; Ricardo Migueis). Divulgado no blog Diplomatizzando (30/04/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/mercosul-da-uniao-alfandegaria-uniao.html). 

 

869. “Moeda Única no Mercosul: uma agenda para os debates”, Washington, 16 fevereiro 2002, 3 p. Contribuição ao debate sobre a moeda única, no âmbito da lista Mercosul de direito internacional (mercosul@yahoogrupos.com.br). Divulgado no blog Diplomatizzando (22/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/moeda-unica-no-mercosul-uma-agenda-para.html).

 

879. “O euro: a moeda europeia”, Washington, 15 mar. 2002, 7 p. Atualização do texto inserido como “leitura complementar” do Capítulo 9 (“Impactos e desafios do processo de globalização”) de meu livro Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002), p. 179-184. Divulgado no blog Diplomatizzando (23/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/o-euro-moeda-europeia-2002-paulo.html).

 

1445. “A Moeda Única europeia e a experiência do Mercosul”, Brasília, 22 jun. 2005, 7 p. Respostas a questionário colocado por Rodrigo do Amaral Souza, para servir de anexo a tese de CAE-IRBr. Divulgado no blog Diplomatizzando em 1/07/2012 (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/07/moeda-unica-europ-e-experiencia-do.html). 

 

2017. “O grande retrocesso monetário e cambial: comércio em moedas locais”, Brasília, 18 junho 2009, 2 p. Comentários em torno das propostas de se substituir o dólar por moedas nacionais nas transações comerciais entre os países. Postado sob n. 1164) no blog Diplomatizzando (Link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/06/1164-o-grande-retrocesso-monetario-e.html). Postado novamente em 18/07/2014 (http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/contra-hegemonia-do-dolar-uso-de-moedas.html).

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23 de novembro de 2020.


O euro: a moeda europeia (2002) - Paulo Roberto de Almeida

 O euro: a moeda europeia

 

Paulo Roberto de Almeida

pralmeida@mac.comwww.pralmeida.org

O presente texto constitui “leitura complementar” do

Capítulo 9 (“Impactos e desafios do processo de globalização”) de meu livro

Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002), pp. 179-184.

 

 

Em janeiro de 2002, após vários anos de preparação, o euro foi finalmente introduzido como meio circulante único dos integrantes da chamada “Euroland”, isto é, uma área monetária composta por doze dos quinze países-membros da União Europeia que optaram por integrar a União Econômica e Monetária e funcionando sob um regime de regras unificadas coordenadas pelos ministros de finanças dos países integrantes e pelo Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, na Alemanha. O euro já tinha sido convertido, desde janeiro de 1999, em moeda oficial da UEM — então com onze países participantes — embora funcionando ainda sob forma escritural, mas já dotado de uma paridade única de câmbio em relação a terceiras moedas.

Sua inauguração representa, para a Europa e para o mundo, o início de uma fase de grandes transformações no sistema monetário internacional, até agora marcado pela presença dominante do dólar enquanto instrumento de intercâmbio, reserva de valor e unidade de referência para dezenas de países integrando o sistema financeiro mundial. Essa etapa recente do movimento de unificação monetária na Europa ocidental deriva de um longo processo de aproximação econômica que pode ser remontado à visão integracionista de Jean Monnet, do final dos anos 1940, e à concepção política que presidiu, desde então, à integração europeia.

Com efeito, ainda que não mencionado expressamente nos primeiros instrumentos jurídicos da integração europeia – o Tratado da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), de 1951, e os Tratados de Roma, de 1957 – o projeto de um “poder monetário” estava implícito nos propósitos a vocação “unionista” que foram dando sustentação econômica ao alargamento progressivo dos campos de intervenção da então Comunidade Europeia. Os primeiros seis países que assinaram os Tratados de Roma (Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo e Países Baixos) já previam trabalhar com políticas econômicas comuns, nomeadamente no domínio da agricultura. Esses campos foram sendo depois ampliados para novos domínios, como os da indústria e da ciência e tecnologia, ainda que não com o monitoramento estrito em matéria de organização da produção e da comercialização como na agricultura ou com o abandono completo de soberania em matéria de política comercial que representou a concretização da união aduaneira, em 1968, e do mercado comum pleno nas etapas subsequentes.

O movimento “unificacionista” no campo monetário começa efetivamente a caminhar em meados dos anos 1960 — em pleno regime de paridades fixas do sistema de Bretton Woods –, a partir do plano Barre (1967-69) e do relatório Werner de união monetária (de 1968, mas aprovado em 1970 e prevendo sua realização num espaço de dez anos). Ambos foram tornados inexequíveis pelo desmantelamento, entre 1971 e 1973, do sistema de Bretton Woods que, ao operar a desvinculação do dólar de seu valor fixo em ouro, significou igualmente a interrupção desse processo por etapas de unificação das moedas nacionais da então Comunidade Europeia.

No regime de livre flutuação de moedas que se seguiu, os países europeus avançaram nos esforços de coordenação, estabelecendo primeiro a “serpente dentro do túnel” e depois, como resposta política à crise do sistema monetário internacional, o Sistema Monetário Europeu (1979). O SME – com um número variável de países participantes, segundo as épocas – funcionava segundo um mecanismo de banda cambial ajustável entre as moedas participantes (tendo o marco alemão como âncora), mas com paridades estreitamente correlacionadas entre si. De fato, durante a maior parte de existência do SME, o mundo viveu em constante turbulência monetária, ocorrendo grandes variações nos valores respectivos das principais moedas, o deutsche mark, o iene japonês e o dólar dos Estados Unidos. No interior do próprio SME, contudo, as margens de variação recíproca estabelecidas para moedas como o marco alemão e o florim holandês eram, obviamente, bem menores do que aquelas permitidas para a flutuação de moedas mais “fracas” como a lira italiana. 

Em 1986, a adoção do acordo conhecido como “Ato Único Europeu” deslancha o processo de unificação definitiva do mercado comum, instituindo uma série de medidas adicionais de liberalização econômica, em especial na prestação de serviços, inclusive financeiros, e na circulação de capitais. Em 1989, o relatório Delors já proclamava o objetivo de uma futura moeda comum, podendo-se considerar o ecu – European currency unit, até então um simples instrumento de contabilidade orçamentária – como o antecessor do euro. Mas é o Tratado de Maastricht sobre a União Europeia, de 1992, que dá os fundamentos jurídicos da união econômica e monetária e da moeda única europeia.

O Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em novembro de 1993, estabeleceu três fases para a concretização da UEM: a primeira, com início em 1º de Julho de 1990, permitiu a livre circulação de capitais e o oferecimento de serviços bancários além-fronteiras; a segunda, começando em 1º de Janeiro de 1994, constituiu uma fase intermediária de preparação para a moeda única, tendo assistido ao estabelecimento da independência dos bancos centrais nacionais e à criação do Instituto Monetário Europeu, já com sede em Frankfurt. A terceira fase, que começou em 1º de janeiro de 1999, viu o estabelecimento do Banco Central Europeu — no lugar do IME – e o lançamento da moeda única (cujo nome, euro, tinha sido escolhido dois anos antes).

No decurso da segunda fase seriam definidos os países habilitados a entrar na terceira fase da união monetária, segundo rígidos requisitos de “bom comportamento macroeconômico”, o que significou a instauração de uma coordenação reforçada das políticas econômicas nacionais, visando a reduzir a inflação, as taxas de juros e as flutuações cambiais, assim como os déficits e a dívida pública dos Estados. Os principais critérios de convergência definidos pelo Tratado de Maastricht referiam-se à estabilidade dos preços, à disciplina orçamentária, às contas públicas, à convergência das taxas de juros e à estabilidade das taxas de câmbio. Concretamente, eles significaram que os países desejosos de aderir à moeda comum necessitariam cumprir os requisitos seguintes: a taxa de inflação não poderia ser superior em mais de um ponto e meio percentual à média dos três Estados-membros com as taxas menos elevadas de inflação; o déficit público não deveria ultrapassar 3% do PIB e a dívida pública não poderia ultrapassar 60% do PIB; a taxa de juros de longo prazo não poderia ser superior em mais de dois pontos percentuais à média dos três Estados-membros com as taxas menos elevadas; no plano cambial, deveriam ser observadas, durante dois anos, as margens normais do SME, sem tensões graves nem desvalorizações, o que nem sempre pôde ser alcançado.

Com uma avaliação algo mais política do que estritamente econômica dos critérios de Maastricht (uma vez que nem a Bélgica nem a Itália, por exemplo, se qualificavam do ponto de vista da dívida pública), em 1998 foram definidos os Estados-membros que participariam do euro a partir de 1º de janeiro seguinte. O Conselho Europeu de Bruxelas (maio de 1998) determinou que os Estados-membros participantes seriam em número de onze: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos e Portugal. Três outros membros da UE, Dinamarca, Reino Unido e Suécia, decidiram, por escolha própria, permanecer à margem do novo esquema monetário e apenas um, a Grécia, não conseguiu se qualificar em diversos critérios importantes. No final desse ano, foram fixadas irrevogavelmente as taxas de câmbio entre o euro e as moedas nacionais, e no início de 1999 entrou em vigor a legislação sobre o euro, com o que os mercados monetários e cambiais passaram a poder operar com euros (sob forma escritural).

A opção dos Estados-membros da UE pela renúncia à soberania monetária e em favor da administração coletiva da coordenação macroeconômica apresenta forte conteúdo emblemático para a Europa unida do século XXI e para seu subsequente papel internacional. O elemento fundamental desse avanço na “união cada vez mais estreita dos povos europeus” no plano monetário é de natureza interna e tem a ver, em termos kantianos, com o compromisso irrevogável dos países membros com uma ordem comunitária como garantia de “paz perpétua” no continente. Adicionalmente, as funções que o euro possa assumir futuramente enquanto “moeda mundial” e seu papel eventual de desafio à hegemonia internacional do dólar representarão a consequência natural da afirmação ulterior do poder econômico da União Europeia no plano internacional.

De fato, o euro confirma uma das tendências mais evidentes do processo de globalização, em curso acelerado desde a derrocada final do socialismo no começo dos anos 90, movimento tendente a unificar mercados, concentrar força e poder nas mãos de alguns global players e vincular estreitamente circuitos produtivos e financeiros. Ele também reforça as tendências à estabilidade do processo de integração europeia no que se refere aos mecanismos de coordenação intergovernamental de políticas macroeconômicas – o que parece ser válido para experiências similares de integração, como seria supostamente o caso do Mercosul –, ainda que a adesão permanente das autoridades financeiras nacionais, em relação a eventuais “desvios” orçamentários, por exemplo, tenha tido de ser reforçada por um “Pacto de Estabilidade e Crescimento”, concluído em meados de 1997. Esse último acordo representou, como se sabe, um difícil compromisso entre aqueles que defendem, antes de mais nada, a manutenção do poder de compra da nova moeda – como é o caso do Bundesbank e outros aderentes da ortodoxia monetária – e os que privilegiam seu papel “social” e que gostariam de ver o Banco Central Europeu promover políticas de estímulo à criação de empregos, como os franceses e italianos. Cabe recordar a esse propósito que, de acordo com disposições do próprio Tratado de Maastricht, as autoridades monetárias nacionais são proibidas de financiar déficits orçamentários, prevendo ainda o Pacto penalidades pecuniárias para aqueles Estados que incorrerem em desvios significativos em relação aos critérios de Maastricht nesse particular (máximo de 3% do PIB de déficit orçamentário e compromisso político de manutenção do equilíbrio fiscal).

No plano interno, as vantagens do euro parecem evidentes: ele simplesmente suprime os riscos de câmbio, reforça o mercado único e a convergência das economias e favorece o investimento na zona do euro. Suas vantagensmicroeconômicas também são facilmente demonstráveis, sobretudo do ponto de vista do viajante e do consumidor, ao facilitar as operações financeiras transfronteiras, eliminar os encargos relacionados com as operações cambiais e tornar totalmente transparente a comparação dos preços entre países e mais especialmente regiões fronteiriças (e portanto a eventual punção fiscal exercida por alguns Estados).

O período de transição, que estendeu-se de 1º de Janeiro de 1999 a 31 de Dezembro de 2001, assistiu ao desenvolvimento de processos importantes do ponto de vista da implantação da nova moeda: os principais agregados monetários e a emissões passaram a ser de responsabilidade exclusiva do BCE, os mercados financeiros passaram a operar em euros, ainda que do ponto de vista prático o euro só podia ser utilizado sob forma escritural (mas qualquer pessoa passou a poder ter uma conta bancária em euros e emitir cheques nessa moeda). Finalmente, no primeiro trimestre de 2002, ocorreu a substituição completa do meio circulante nos países integrantes da UEM, com a entrada em circulação das notas e das moedas de euros, de modo concomitante à retirada das notas e das moedas nacionais, aqui incluída a Grécia, qualificada para ser admitida na zona monetária no decorrer de 2000. O mais tardar em 1º de julho de 2002 se assistirá à supressão do curso legal das notas e moedas nacionais e passam a circular unicamente notas e moedas de euro. Entretempos, outros candidatos – os atuais ou futuros países membros da UE – poderão decidir-se por sua incorporação à UEM.

Do ponto de vista da “geopolítica” do sistema financeiro internacional, o euro será, inevitavelmente, um formidável concorrente em face do dólar, este até então marginalmente complementado pelo deutsche mark e pelo iene japonês enquanto moedas de intercâmbio e expressão de ativos econômicos. A nova moeda terá efeitos diversos, de grande amplitude, nas áreas do comércio de bens e serviços, de fluxos de investimentos (de risco e de portfólio), dos mercados financeiros (isto é, empréstimos e créditos), das reservas em divisas dos países extra-europeus e, também, no âmbito do sistema monetário internacional, o que está vinculado ao poder econômico da União Europeia.

A importância da União Europeia na economia mundial pode ser comparada à dos Estados Unidos. Com uma população de aproximadamente 300 milhões de pessoas, o PIB comunitário de mais de 9 trilhões de dólares — algo similar ao norte-americano — cai ligeiramente quando computado apenas o peso da “Euroland”, mas deve aumentar para volumes equivalentes quando os países hoje ausentes da união monetária a ela aderirem numa fase seguinte. A Europa mobiliza parte significativa – perto de um terço – do comércio mundial, assim como ela constitui, igualmente, fonte importante de capitais internacionais de empréstimo e de investimento direto nos mercados emergentes. Seria de se esperar, por exemplo, que com base na política conservadora do Banco Central Europeu, o euro contribua para a estabilização dos mercados financeiros globais, ao lado do papel ainda dominante do dólar e da importância reduzida do iene nas transações comerciais e financeiras internacionais. Não há, entretanto, nenhum acordo de princípio entre as autoridades monetárias dos Estados Unidos, da “Euroland” e do Japão para a manutenção de paridades correlacionadas entre suas respectivas moedas, o que indica obviamente que o sistema monetário e financeiro internacional continuará a ser tão turbulento e instável como ele tem sido desde a derrocada do padrão-ouro ao final da belle époque e do desmantelamento do regime de Bretton Woods nos anos 1970.

O fato inédito é que assistimos ao começo do final — um cenário ainda longínquo, reconheça-se — da hegemonia do dólar no sistema financeiro internacional. Esse declínio da predominância absoluta do dólar será tanto mais lento quanto forem incertos os elementos propriamente econômicos e tecnológicos que poderão sustentar uma ascensão da Europa a sua antiga posição de world’s banker. Em favor do dólar deve-se lembrar que os padrões dominantes tendem a ganhar por inércia. Em favor do euro pode-se adiantar sua menor volatilidade intrínseca e seu papel político positivo em outras experiências de integração regional, a começar pelo Mercosul. De fato, um mercado comum pleno requer, quase que naturalmente, uma moeda comum e o fato da existência do euro deverá atuar como catalisador político e econômico no processo de ampliação ulterior da União Europeia.

O comportamento de uma moeda, contudo, é tanto a expressão das condições objetivas da economia que a sustenta quanto o resultado de fatores sociais e psicológicos subjacentes, basicamente a confiança dos detentores em seu futuro poder de compra. Desse ponto de vista, o euro (ainda que apenas virtual) sofreu, desde sua introdução, alguns percalços monetários e políticos: ele não apenas enfrentou, em 2000, uma inesperada desvalorização de 25% frente ao dólar, em vista de um desempenho econômico mais fraco (e da maior taxa de desemprego) na Europa, como manifestou-se uma certa desafeição dos cidadãos em relação ao que é percebido como um excesso de centralismo legislativo e de controles burocráticos por parte de Bruxelas. Com efeito, a despeito dos progressos efetuados pela Grécia no sentido de sua incorporação à UEM (em 2001) e da campanha favorável conduzida pelo big business nos prováveis membros, em especial na Grã-Bretanha, o plebiscito dinamarquês sobre a introdução do euro, efetuado em setembro de 2000, com resultados negativos, pode sinalizar o reforço das correntes contrárias à unificação monetária nos demais países e o aparecimento de uma espécie de “marcha lenta” no processo de integração europeia. 

Que ensinamentos ou que consequências poderiam ser extraídos a partir da experiência europeia para um esquema de integração conduzindo tendencialmente a um mercado comum como o Mercosul? Se é verdade que este não pretende permanecer uma simples zona de livre comércio ou uma união aduaneira imperfeita, como hoje, a questão da moeda única deve ser colocada como objetivo final, ainda que longínquo. Um mercado comum pleno, repita-se, pede naturalmente a moeda única. Atualmente, contudo, parece evidente que o problema não se coloca ainda em termos de moeda, mas simplesmente como uma obrigação de coordenação de políticas econômicas. Este é um requisito essencial para que choques assimétricos (sempre à espreita) não introduzam dificuldades adicionais e uma séria distorção nos efeitos potencialmente benéficos do processo integrativo. 

De fato, as crises enfrentadas pelos países membros do Mercosul abriram um debate em torno da criação de uma moeda única no bloco. Os primeiros passos na direção de um espaço monetário integrado no Mercosul foram dados em dezembro de 2000, com o anúncio de metas e mecanismos de um exercício de coordenação e de convergência macroeconômica, tais como os referentes à: i) variação da dívida fiscal líquida do setor público consolidado; ii) dívida líquida do setor público consolidado (deduzidas as reservas internacionais) sobre o PIB nominal; iii) inflação, com base nas estatísticas harmonizadas elaboradas pelo Grupo de Monitoramento Econômico.

As autoridades financeiras dos países-membros do Mercosul devem reconhecer, antes de mais nada, que as políticas cambiais são uma matéria de interesse comum e que a interação constante entre formuladores de políticas e o permanente intercâmbio de informações entre seus operadores constituem passos indispensáveis para a coordenação de políticas nas áreas monetária e cambial. Essa coordenação deve ser institucionalizada progressivamente, até atingir-se o “ponto de não-retorno”, quando a própria renúncia de soberania monetária passa a ser considerada como uma garantia adicional de boa gestão macroeconômica e um passaporte para a estabilidade.

 

 

Referências: 

A principal fonte de informação sobre o euro e as economias dos países membros é a página do banco Central Europeu, que comporta textos em português: http://www.ecb.int.

Para a questão da moeda única no Mercosul, podem ser citados os seguintes trabalhos:

GIAMBIAGI, Fabio. “Uma proposta de unificação monetária dos países do Mercosul”, Revista de Economia Política, v. 17, nº 4, 1997, p. 5-30

––––. “A Moeda Comum como Base do Crescimento do Brasil e Argentina”, Revista do BNDES, V. 8, n. 16, dez 2001, p. 119-166

LAVAGNA, Roberto e GIAMBIAGI, Fábio. Hacia la creación de una moneda común: una propuesta de convergencia coordinada de políticas macroeconómicas en el Mercosur. Ensaios nº 06, BNDES, Macroeconomia, março de 1998

RIBEIRO, Maria de Fátima. “O Euro e as perspectivas de implantação de uma moeda única no Mercosul”, Revista de Direito Constitucional e Internacional, Ed. Revista dos Tribunais, nº 31, ano 8 abril-junho-2000, p. 9-26.

 

 

PRA: Washington, 879; 15/03/2002

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Mini-reflexão sobre o papel (ainda confuso) dos militares na política brasileira - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre o papel (ainda confuso) dos militares na política brasileira

Paulo Roberto de Almeida


A decisão dos militares de apoiar o capitão, em sua aventura muito acima do “Peter principle”, foi tomada lá atrás, pelo efeito combinado das manifestações de 2013, das eleições de 2014, da crise econômica de 2015, do impeachment de 2016, das operações da Lava Jato em 2017, das hesitações no STF em 2018 e depois sobre as prisões de corruptos de gravata, e de conversas mantidas nos altos comandos em todos esses anos. 

O cálculo deles era outro: controlar o pior militar que já tiveram em suas fileiras e que hesitaram em punir da forma devida, por vergonha e espírito corporativo.

Mas, não se lembraram da famosa Lei de Murphy, neste caso com efeitos exacerbados.

Na verdade, os militares se revelaram aprendizes de feiticeiro, mas ainda não decidiram fazer o que já deveriam ter feito desde o primeiro dia, ou seja, a total desvinculação.

Preferiram as prebendas corporativas e as vantagens individuais: ganharam (e muitos: 6 mil?, ainda ganham), mas com isso diminuiram o respeito que a sociedade lhes estava atribuindo, depois dos crimes cometidos durante a ditadura, que ainda não reconheceram explicitamente.

Vai chegar: tudo no Brasil caminha muito lentamente. 

Demoramos 50 anos para abolir o tráfico e 80 para a eliminação, apenas formalmente, da mancha infame da escravidão, ainda não eliminada totalmente das consciências. 

Mais grave: ainda não conseguimos montar e manter um sistema público de educação de massa de boa qualidade.

Querem atraso maior do que este?

Paulo Roberto de Almeida


quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida - lista atualizada das últimas semanas

Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida mais recentes:   

3736. “Um cronista secreto do Itamaraty bolsolavista: as armas da crítica sarcástica”, Brasília, 20 agosto 2020, 2 p. Introdução às crônicas de um diplomata desconhecido sobre o Itamaraty atual. Em postagem sistemática no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/um-cronista-secreto-do-itamaraty.html). (...) Postadas novamente no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/as-cronicas-secretas-do-batman-do.html).

 

3737. “Crônicas do Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 21 agosto 2020, 17 p. Consolidação das crônicas de um diplomata desconhecido sobre o Itamaraty atual, com minha Introdução geral e as introduções parciais a cada uma das crônicas. Feita postagem resumo no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/um-cronista-misterioso-anima.html) e postagem em arquivo pdf na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43909791/Cronicas_do_Itamaraty_bolsolavista_Cronista_misterioso_2020_). Estatísticas de acesso às postagens nas duas plataformas, postadas (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/o-cronista-misterioso-do-itamaraty-teve.html).

 

3738. “Sobre a política externa e a diplomacia brasileira em tempos obscuros”, Brasília, 22 agosto 2020, 2 p. Crítica ao bolsolavismo diplomático. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/sobre-politica-externa-e-diplomacia.html).

 

3739. “Duas diplomacias contrastadas: a do lulopetismo e a do bolsolavismo”, Brasília, 23 agosto 2020, 35 p. Exercício de comparação recapitulativa dos principais elementos de política externa e de diplomacia em cada uma das duas épocas, incluindo também a de FHC. Preparado para a Semana de Relações Internacionais da Universidade La Salle, de Canoas, RS, no dia 28/08/2020, 19:00hs; link para a palestra: https://meet.google.com/pkk-xdho-rdp). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43930886/3739_Duas_diplomacias_contrastadas_a_do_lulopetismo_e_a_do_bolsolavismo_2020_); anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/duas-diplomacias-contrastadas-do.html). Incorporado como capiítulo ao livro Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (n. 3749).

 

3740. “A sobrevivência da democracia no Brasil”, Brasília, 26 agosto 2020, 2 p. Comentário sobre a necessidade de união entre os democratas para evitar a derrocada da democracia sob o bolsonarismo. Divulgado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/a-sobrevivencia-da-democracia-no-brasil.html) e nas outras ferramentas sociais. Distribuído entre os membros do grupo de pesquisa “Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro”. 

 

3741. “Bases conceituais de uma política externa nacional”, Brasília, 27 agosto 2020, 24 p. Nova versão do trabalho n. 1929, revisto e ampliado a partir da versão inserida no livro Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais, para o livro Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira. Incorporado como primeiro capítulo ao livro Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (n. 3749).

 

3742. “Two giants of Development Economics: Peter Bauer and Gunnar Myrdal; Two continents at odds: different roads taken by Latin America and Asia”, Brasília, August 27, 2020, 2 p. Abstract for “Towards a Global Intellectual History of an Unequal World, 1945-Today”Symposium http://global-inequality.com/global-inequality@cas.au.dk). Participants are expected to send a work-in-progress paper (max 4000 words) by January 31st 2021, and a full paper (max 8000 words) by 31st March 2021. Full papers will be distributed to and expected read by all participants before the symposium (queries can be directed to global-inequality@cas.au.dk; learn more about the project hosting the symposium on http://global-inequality.com/). 

 

3743. “A diplomacia brasileira e o comércio internacional”, Brasília, 28-30 agosto 2020, 4 p. Notas para palestra para estudantes e professores da Faculdade de Economia da UFPR. Notas divulgadas no blog Diplomatizzando (30/08/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/08/a-diplomacia-brasileira-e-o-comercio.html).

 

3744. “Dez regras sensatas para a diplomacia profissional”, Brasília, 28 agosto 2020, 7 p. Revisão atualizada do trabalho n. 800 (2001), sobre as dez regras modernas de diplomacia para publicação em novo livro sobre o Itamaraty. Postado no blog Diplomatizzando (2/09/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/dez-regras-sensatas-para-diplomacia.html), em Academia.edu (2/09/2020; link: https://www.academia.edu/44005218/Dez_regras_sensatas_para_a_diplomacia_profissional_2020_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344058572_Dez_regras_sensatas_para_a_diplomacia_profissional). Incorporado como apêndice ao livro Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (n. 3749).

 

3745. “O destino da nação: declínio ou renovação da democracia brasileira?”, Brasília, 31 agosto-1 setembro 2020, 7 p. Notas para uma palestra debate no quadro do projeto BNFB, Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro, com apresentação em 8/09/2020. Disponível nas plataformas Academia.edu (link: https://www.academia.edu/43998324/O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira), Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344037061_O_destino_da_nacao_declinio_ou_renovacao_da_democracia_brasileira) e no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/o-destino-da-nacao-declinio-ou.html). Encaminhado a Eduardo Wolf (eduwolfp@gmail.com) e a Gilberto Morbach (gilbertomorbach@gmail.com). 

 

3746. “Prólogo: Uma certa ideia do Itamaraty”, Brasília, 4 setembro 2020, 6 p. Prefácio ao novo livro em composição: Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira. Incorporado ao livro Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (n. 3749).

 

3747. “Epílogo: Preparando a reconstrução da política externa”, Brasília, 5 setembro 2020, 10 p. Capítulo conclusivo ao novo livro em composição: Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira.

 

3748. “Movimentos políticos de massa na História do Brasil”, Brasília, 6 setembro 2020, 2 p. Relação sintética dos movimentos de massa que lograram provocar alguma mudança na relação de forças no Brasil, com distinção entre os progressistas e os de direita. Notas para uma palestra-debate no quadro do projeto BNFB, Bolsonarismo Novo Fascismo Brasileiro, com apresentação em 8/09/2020. Divulgado no Blog Diplomatizzando (7/09/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/movimentos-de-massa-na-historia-do.html); plataforma Academia.edu (8/09/2020; link: https://www.academia.edu/44039276/Movimentos_politicos_de_massa_na_Historia_do_Brasil_2020_).

 

3749. Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira, Brasília, 7 setembro 2020, 169 p. Livro sobre a diplomacia, incorporando o Programa Renascença, do Instituto Diplomacia para Democracia, do diplomata Antonio Cottas Freitas. Anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/uma-certa-ideia-do-itamaraty_7.html). Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44037693/Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_2020_); Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/344158917_Uma_certa_ideia_do_Itamaraty_A_reconstrucao_da_politica_externa_e_a_restauracao_da_diplomacia_brasileira_Brasilia_Diplomatizzando_2020_169_p). Relação de Publicados n. 1465.

 

3750. “Condutas dos servidores na campanha eleitoral: ironias do Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 9 setembro 2020, 8 p. Considerações sobre as recomendações e exemplos retirados do blog do chanceler acidental. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/condutas-dos-servidores-na-campanha.html).

 

3751. “A Funag, o IPRI e o compromisso com o sentido de seus mandatos”, Brasília, 10 setembro 2020, 4 p. Nota em relação às atividades atuais do IPRI e da Funag. Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44062729/A_Funag_o_IPRI_e_o_compromisso_com_o_sentido_de_seus_mandatos_2020_), disseminado pelo blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/a-funag-o-ipri-e-o-compromisso-com-o.html).

 

3752. “European Brazilianism: historical and comparative perspective”, Brasília, 11 setembro 2020, 6 p. Projeto de pesquisa para candidatura ao French Institute of Advanced Studies, apresentado em 15/09/2020, com carta de apoio. 

 

3753. “Meio século de reflexões sobre o Brasil”, Brasília, 12 setembro 2020, 2 p. Num tom levemente pessimista. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/meio-seculo-de-reflexoes-sobre-o-brasil.html).

 

3754. “Paulo Roberto de Almeida: capítulos em obras coletivas, 1987-2020”, Brasília, 13 setembro 2020, 23 p. Relação a mais completa possível de minhas colaborações em obras coletivas, algumas editadas por mim mesmo, em colaboração ou individualmente. Disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44077314/Paulo_Roberto_de_Almeida_Capitulos_em_Obras_Coletivas_1987_2020); anunciado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/paulo-roberto-de-almeida-capitulos-em.html).

 

3755. “Paulo Roberto de Almeida: Curriculum Vitae with an almost complete bibliography”, Brasília, 13 setembro 2020, 49 p. Para envio como candidato a um estágio junto ao French Institute for Advanced Studies. Enviado em 14/09/2020, por meio de formulário eletrônico (https://www.fias-fp.eu/apply-online), com resultados prometidos para janeiro de 2021. Agradecimento à diretora do IHEAL, Capucine Boidin, pela carta de apoio.

 

3756. “Política externa e diplomacia brasileira: notas para uma entrevista”, Brasília, 17 setembro 2020, 7 p. Respostas a questões colocadas por Marcos Rolim, professor e funcionário do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, com gravação em 18/09/2020 por via de ferramenta de comunicação. Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44111524/3756_Politica_externa_e_diplomacia_brasileira_notas_para_uma_entrevista_2020_) e no blog Diplomatizzando (18/09/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/politica-externa-e-diplomacia.html). Transmitido no programa Atitude TCE Entrevista da TV Assembleia do RS (21/09/2020; (link: https://www.youtube.com/watch?v=ArHDFztC7Ng&feature=youtu.be e link: https://www.youtube.com/watch?v=ArHDFztC7Ng&t=2s). Relação de Publicados n. 1467. 

 

3757. “Mini-reflexão sobre a “ideologia” atualmente em construção no Itamaraty bolsolavista”, Brasília, 19 setembro 2020, 2 p. Mais uma demonstração de resistência ante os descaminhos da política externa e da diplomacia bolsolavista. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/mini-reflexao-sobre-ideologia.html).

 

3758. “Sobre ser diplomata atualmente”, Brasília, 19 setembro 2020, 6 p. Notas para palestra online para estudantes secundaristas, no Rotary Club de Curvelo, MG, em 26/09/2020. Divulgado no blog Diplomatizzando (20/09/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/sobre-ser-diplomata-atualmente-paulo.html). Transmitido pelo canal do YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=5miNoOVJHOw). 

 

3759. “Um discurso recheado de mentiras: confronto com a realidade”, Brasília, 22 setembro 2020, 6 p. Comentários confrontacionistas sobre o discurso do presidente Bolsonaro na abertura dos debates na 75ª. AGNU. Para servir de base a entrevista ao vivo no Livres (22/09/2020, 19h10; link: https://www.youtube.com/watch?v=qxP4SDMsiaM&feature=youtu.be). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/bolsonaro-na-onu-um-discurso-recheado.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44143786/3759_Bolsonaro_na_ONU_um_discurso_recheado_de_mentiras_2020_). 

 

3760. “Carta aberta a meu bom aluno, Nestor Forster, embaixador do Brasil em Washington”, Brasília, 23 setembro 2020, 4 p. Cumprimentos ao novo embaixador e rememorando certas convicções do passado. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/carta-aberta-meu-bom-aluno-nestor.html).

 

3761. “Resumindo a situação: estaremos nessa situação por algum tempo”, Brasília, 23 setembro 2020, 2 p. Comentários sobre o momento presente e a consciência de que não há muitas soluções para o Brasil. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/resumindo-situacao-estaremos-nessa.html).

 

3762. “Novas crônicas do Itamaraty bolsolavista – Cronista Misterioso”, Brasília, 25 setembro, 1 p. Postagem agrupada das novas crônicas recebidas recentemente. Postadas individualmente, depois agrupadas nesta postagem do Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_76.html). Postagens individuais: 13) Era uma vez na Arábia um homem chamado Abu (Semana 13 - Parte 01) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty.html); 14) ABU V, o heterônimo (Semana 14 - Parte 02) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_25.html); 15) O estranho caso de Abu (Semana 15 - Parte 03) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_43.html); 16) A jornada do herói (Semana 16) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_19.html); 17) Rumo à Idade Média (Semana 17) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_70.html); 18) Patriotas? (Semana 18) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_57.html); 19) Os leitões de Niemöeller (Semana 19) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_81.html ); 20) Receita contra o globalismo (semana 20) (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/novas-cronicas-do-itamaraty_58.html).

 

3763. “A destruição da economia mundial na primeira metade do século XX”, Brasília, 26 setembro 2020, 33 slides. Aula n. 6 para o Mestrado em Direito do Uniceub, segunda parte do programa, sobre a destruição do mundo econômico do século XIX, com base em Craig N. Murphy: International Organization and Industrial Change: global governance since 1850 (New York: Oxford University Press, 1994), com complemento sobre consequências econômicas da Grande Guerra: efeitos no Brasil, sobretudo em política comercial. Disponibilizado em formato pdf na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44173050/3763_A_Destruicao_da_economia_mundial_no_entre_guerras_2020_).

 

3764. “As bibliotecas de minha infância e adolescência”, Brasília, 28 de setembro de 2020, 3 p. Nota sobre minha formação intelectual. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/as-bibliotecas-de-minha-infancia-e.html). 

 

3765. “Mini-reflexão sobre o estado da desinteligência no Brasil atual”, Brasília, 28 setembro 2020, 1 p. Nota para expressar minha opinião para denunciar o retrocesso intelectual em curso no Brasil atual. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/09/mini-reflexao-sobre-o-estado-da.html).

 

3766. “Constatando o óbvio sobre o atual estado de desgovernança no Brasil”, Brasília, 7 outubro de 2020, 3 p. Nota para expressar opinião pessoal sobre a política atual no Brasil, para participar do debate público sobre os caminhos das oposições no Brasil. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/minha-opiniao-sobre-o-quadro-atual-da.html). 

 

3767. “Abertura comercial e inserção internacional: o Brasil e o mundo”, Brasília, 11 outubro 2020, 3 p. Nota sobre dados de comércio, tarifas e investimentos, para debate no âmbito do Grupo de Pesquisas Brasil Global. Distribuído ao GP. 

 

3768. “Investimentos diretos: fluxos, determinações, distribuição geográfica, resultados”, Brasília, 11 outubro 2020, 32 slides. Apresentação em PP sobre dados de investimentos diretos estrangeiros, para exposição e debate no âmbito do Grupo de Pesquisas Brasil Global. Distribuído ao GP. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44275183/3768_Investimentos_diretos_fluxos_determinacoes_distribuicao_geografica_resultados_GPq_Brasil_Global_2020_).

 

3769. “Roberto Campos: uma frase infeliz e os liberais brasileiros”, Brasília, 11 outubro 2020, 6 p. Artigo em defesa do pensamento e da obra do economista e diplomata brasileiro, em virtude de frase transcrita, e suprimida, do site do Livres: “Há três saídas no Brasil: o aeroporto do Galeão, Cumbica e o liberalismo”. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/roberto-campos-uma-frase-infeliz-e-os.html). Publicado no site do Livres (14/10/2020; link: https://www.eusoulivres.org/artigos/roberto-campos-uma-frase-infeliz-e-os-liberais-brasileiros/).

 

3770. “Plano de Trabalho e Projeto de Pesquisa para Pesquisador Senior da UnB”, Brasília, 15 outubro 2020, 6 p. Conjunto de documentos submetidos ao IRel-UnB para o status de pesquisador sênior da UnB na área de relações internacionais, constante de formulário, CV (seletivo; não incluído, plano de trabalho e projeto de pesquisa). Encaminhado ao Prof. Antonio Carlos Lessa, para processamento e carta de apresentação. 

 

3771. “Política energética no Brasil: sua participação no desenvolvimento econômico e no relacionamento internacional”, Brasília, 16 outubro 2020, 1 p. Perguntas a serem formuladas por Alexandre Hage, para lançamento de livro homônimo em formato virtual, no dia 19/10/2020, 14hs, em evento organizado pelo Nupri/Caeni da USP; notas sintéticas para desenvolvimento oral. Debate realizado em 19/10, via online (link: ).

 

3772. “O outro lado da glória: o reverso da medalha da diplomacia brasileira”, Brasília, 16-21 outubro 2020, 23 p. Uma releitura do lado menos glorioso da diplomacia e da política externa brasileira (DOI: 10.13140/RG.2.2.25939.40482). Disponível na plataforma Research Gate (22/10/2020; link: https://www.researchgate.net/publication/344822014_O_outro_lado_da_gloria_o_reverso_da_medalha_da_diplomacia_brasileira), Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44317668/3772_O_outro_lado_da_gloria_o_reverso_da_medalha_da_diplomacia_brasileira_2020_) e no blog Diplomatizzando (17/10/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-outro-lado-da-gloria-o-reverso-da.html). Dividido em cinco partes, mais bibliografia, para publicação em Mundorama: 1) primeira parte: “1. Tropeços na independência e durante o império” Mundorama (Brasília: Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília; vol. 14, 19/10/2020; ISSN: 2175–2052; link: https://medium.com/mundorama/19-10-2020-79603a3a81dc); 2) 2ª parte, “2. Os fracassos da primeira diplomacia republicana”, Mundorama (Brasília: Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília; vol. 14, 21/10/2020; ISSN: 2175–2052; link: https://link.medium.com/BA8X67qLLab); 3) . Relação de Publicados n. 1470, n. 1471. Revisão completa e pequena ampliação, em 22/10/2020; enviado novamente a Antonio Carlos Lessa.

 

3773. “Mini-reflexão sobre as eleições bolivianas e nossa circunstância diplomática”, Brasília, 19 outubro 2020, 2 p. Notas preliminares sobre os descaminhos da diplomacia em face da vitória da oposição na Bolívia. Disponível no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/sobre-as-eleicoes-bolivianas-e-nossa.html).

 

3774. “O ‘modernismo’ brasileiro aos 100 anos”, Brasília, 20 outubro , 5 p. Notas improvisadas para um futuro trabalho reflexivo. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-modernismo-brasileiro-aos-100-anos.html).

 

3775. “Desafios a um Brasil Global: reflexões de um Grupo de Pesquisas no Uniceub”, Brasília, 21 outubro 2020, 1 p. Roteiro de questões para palestra no quadro da 3ª edição do EnCUCA (III Simpósio Internacional de Pesquisa e XVIII Encontro de Iniciação Científica do UniCEUB.

 

3776. “À la recherche du globalisme perduBrasília, 21 outubro 2020, 2 p. Fazendo troça dos conspiratórios antiglobalistas. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/a-la-recherche-du-globalisme-perdu.html).

 

3777. “O antiglobalismo derrotado nos EUA sobreviverá no Brasil?”, Brasília, 22 outubro 2020, 1 p. Comentários sobre possíveis efeitos da derrota de Trump para a diplomacia brasileira. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-antiglobalismo-derrotado-nos-eua.html). 

 

3748. “Lista consolidada de trabalhos, 1968-1992 (formato abreviado)”, Brasília, 23 outubro 2020, 18 p. Lista sintética dos trabalhos originais desde 1968 (001) até o final de 1992 (308). Divulgada na plataforma Academia.edu (24/10/2020; link: https://www.academia.edu/44359441/Paulo_Roberto_de_Almeida_Lista_consolidada_de_trabalhos_1968_1992) e anunciada no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-dilema-dos-grandes-numeros-minha.html).

 

3749. “O dilema dos grandes números: minha lista consolidada (mas abreviada) de trabalhos, de 1968 a 1992”, Brasília, 24 outubro 2020, 4 p. Apresentação da lista de trabalhos no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/o-dilema-dos-grandes-numeros-minha.html ), remetendo à Academia.edu (24/10/2020; link: https://www.academia.edu/44359441/Paulo_Roberto_de_Almeida_Lista_consolidada_de_trabalhos_1968_1992)

 

3750. “Mini-reflexão sobre o estado (pouco) civilizatório do Brasil”, Brasília, 26 outubro 2020, 3 p. Nota de reflexão sobre o estado presente do Brasil, com a finalidade de preparar um novo plano estratégico para o futuro do país. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/mini-reflexao-sobre-o-estado-pouco.html).

 

3751. “Perspectivas para as Relações Internacionais do Brasil: desafios de uma diplomacia ideológica”, Brasília, 27 outubro 2020, 1 p. Listagem de temas para exposição e debate com alunos de Relações Internacionais e outras disciplinas da USP, a convite do Instituto Brasileiro de Debates; palestra efetuada no dia 28/10/2020, com transmissão online por via do YouTube (link: https://youtu.be/xoOyjqahJRI). 


3752. “A República das Letras do Itamaraty”, Brasília, 28 outubro 2020, 2 p. Nota preliminar a lista sobre os diplomatas vivos que se ocupam de literatura (prosa e poesia) no Itamaraty. Postado no blog Diplomatizzando (link:  https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/10/a-republica-das-letras-do-itamaraty.html).