O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 15 de maio de 2010

Um debate sobre a demagogia politica (da pior maneira possivel: com um anonimo)

Das várias maneiras de ser demagogo (e se esconder atrás do anonimato)

Ser Anônimo, eu já escrevi num minúsculo tratado sobre o anonimato (sim, creio que só merece o adjetivo "minúsculo), significa não ter coragem de assumir suas próprias ideias, nem ter certeza sobre a solidez de seus argumentos. Anônimos se permitem certas coisas que pessoas normais, como eu e todos os que escrevem abertamente, não se permitem: qual seja, assumir responsabilidade pela defesa de certas posições, e se esconder, ao contrário, sob essa condição para eventualmente ofender o responsável pelo blog, para fazer acusações não fundamentadas, enfim, para ser livre de exercer sua dose de inconsistência e de posições duvidosas, sem ter de assumir os riscos de passar vergonha ao ser contrariado.
Normalmente, eu nem deveria postar ou sequer responder a Anônimos -- que ainda vão merecer um mini-tratado en bonne et due forme de minha parte, para tratar dessa espécie velha como a Bíblia, mas que se multiplicou como fungos na humidade, com a internet e os meios impessoais de comunicação -- mas vou me permitir uma exceção a minhas próprias regras pois que julgo que o debate merece uma amplitude maior, alcançando outras pessoas eventualmente interessadas no tema, em lugar de ficar reservado a uma nota de rodapé escondida nas dobraduras de uma postagem.

O tema tem a ver com a demagogia política, e começo reproduzindo o comentário de um Anônimo, que retiro assim da mediocridade do Anonimato para lhe dar um destaque que ele não merece. Não o faço por consideração ao Anônimo em causa, mas apenas pelas ideias e argumentos que estão vinculados ao tema, que me interessa expandir e explicitar minhas ideias, publicamente, nao escondendo-me covardemente no anonimato.

Pois escreveu um Anônimo anônimo -- vale a redundância -- neste sábado 15 de maio:

Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Como torrar o dinheiro publico e fazer demagogia ao mesmo tempo":


O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano. A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão. O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso. Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior.
Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público.


Pois bem, voltei (PRA):

Anônimo,
Primeiro aprenda uma coisa, definitiva, se ouso dizer: em nenhum momento, em nenhum lugar de meu post, supracitado, eu citei um partido, uma pessoa, responsáveis concretos, ainda que pudesse, e talvez devesse, pois não sou dos que se escondem nos subterfúgios e nos circunlóquios. Costumo assumir responsabilidade pelo que escrevo, e pelo que assino embaixo, e como bom anarquista de ideias, não me intimidam autoridades, nem posicoes.
Aprenda pois esta coisa muito simples: eu nao ataco, ou defendo, pessoas ou funções, partidos ou movimentos; eu ataco, ou defendo, ideias e posicoes, posturas e medidas, atitudes e politicas, ponto. Acho que ficou claro, para começar a discussão.
Não me interessa quem está expressando esta ou aquela ideia, se pessoa fisica ou juridica, se autoridade ou partido. Só me interesse pelas posições e ideias que sao sustentadas e defendidas, e o faço com base unicamente em dois critérios: sua racionalidade ou coerência intrínseca -- pois tenho horror do que não se sustenta no plano da simples lógica formal -- e sua adequação do ponto de vista do interesse nacionbal, ou seja, aquilo que serve ou não serve ao Brasil e seu povo, aquilo que beneficia o maior número, e aumenta o que os economistas chamam de bem-estar coletivo, ou aquilo que diminui as chances de que esse bem-estar seja alcançado.
Acho que isso ficou claro, não é Anônimo?

Agora venho as suas afirmações leves, levianas, descuidadas e infundadas:

1) "O Brasil que funciona no plano das ideias PRA não reflete de fato no cotidiano."
PRA: Uma afirmação gratuita, que vale tanto quanto o seu contrário, ou seja, não quer dizer absolutamente nada, a não ser que venha fundamentada em provas empiricamente provadas. Anônimo aprenda a fundamentar suas afirmações.

2) "A dinâmica e o modo como as os governos, municipais, estaduais e federal gastam o dinheiro na maioria das vezes seguem critérios que não interessam ao cidadão."
PRA: Afirmação totalmente absurda e anti-cidadã, anticívica, antidemocrática, se é que ela consegue dizer alguma coisa com sentido. Anônimo não seja tudo isso. Defenda o dinheiro dos cidadãos, que aliás é o seu próprio. Nunca vi alguém desinteressar-se de como é gasto o seu próprio dinheiro, claro só se for alguém totalmente indiferente, e ignorante. Anônimo não demonstre seu desinteresse pelo dinheiro que lhe sai do bolso.

3) "O chato é culpar SÓ o PT por tudo isso."
PRA: Acho que o Anônimo está se traindo, por algum sintoma de petice aguda, ou partidarismo compulsivo. Em nenhum momento de meu post eu mencionei o nome de algum partido ou de qualquer pessoa. Eu ataquei a demagogia política, não um partido em particular. Ainda que o fizesse, eu estaria atacando as práticas, ou as políticas de um partido, não o próprio in abstracto, ou vagamente. Anônimo releia o que eu escrevi logo no começo...

4) "Sei que o PT é corporativista, sindicalista, teimoso, mas é melhor que muita coisa que está aí, como por exemplo o DEM, que é um partido de coroneis no interior."
PRA: Bem se é você quem está dizendo, não vou contradizê-lo, embora não me tenha ocupado desses traços detestáveis num partido que já encarnou a ética na política, uma "maneira diferente" de fazer política, um compromisso com a verdade, e tudo aquilo que o nosso Anônimo já sabe (e por isso deve sentir raiva pelo fato de esse partideco mentiroso tê-lo contrariado de maneira tão desavergonhada). Anônimo escreva uma carta para a Comissão de Ética do seu partido de eleição, se é que ela existe ainda. Quanto ao DEM, não me interessa defendê-lo, nem atacá-lo, na medida em que não está em condições de implementar políticas estatais ou executivas: só me ocupo de ideias e posicoes, de atitudes e políticas. Indique-me uma atitude ou ideia demagogica do DEM, que eu terei prazer em fazer aquilo que sempre faço: condenar o besteirol e aquilo que é nocivo do ponto de vista do interesse dos brasileiros.
Aliás, não sei se você reparou, Anônimo, mas a geografia do voto do brasileiro alterou-se notavelmente desde 2002: os velhos coronéis estão todos com o governo, ou seja com o governo do PT, e os políticos do DEM estão na rua da amargura, sem dinheiro para distribuir, sem demagogia para fazer. Se voce verificar exatamente o voto dos chamados grotões, Anônimo, chegará a esta conclusão: a clintela dos coronéis, e os próprios, estão agora com o partido do governo, que você sabe qual é. Não precisa me agradecer pela aula de geopolítica eleitoral, basta consultar os mapas eleitorais da Justiça eleitoral. O DEM ficou órfão, a clientela dos coronéis está onde você sabe onde... Anônimo, aprenda a ser um bom analista político, que para isso que servem os cidadãos esclarecidos...

5) "Como mineiro e eleitor da Dilma, tenho de concordar que o tucano Aécio fez um ótimo governo aqui em MG privilegiando digamos "o cidadão" no que concerne aos investimentos e a eficiência do setor público."
PRA: Bem, o Anônimo se revela mineiro, e não tão desgostoso assim do governo do PSDB, ou de Aécio (ele escolhe). Talvez seja a única coisa consistente que ele tenha escrito em todo o seu comentário, mas nem por isso me sinto obrigado a concordar com ele. Ótimo governo eu só diria com base num conhecido adequado dos números e realizações do dito cujo, o que eu não tenho. Parece que ele andou mais passeando do que governando, tarefa que ficou a cargo do seu vice, que parece ser um administrador competente, e dispensa o governador, portanto, de meter a mão na massa (o que é, digamos assim, uma empulhação política, pois o governador é pago para governar, não para passear).
Quanto a sua única realização mais vistosa, digamos assim, a tal cidade administrativa desenhada pelo último stalinista ativo do planeta (talvez da galáxia), eu a considero inútil, dispendiosa, disfuncional (como tudo o que ele constroi) e provavelmente horrorosa de se trabalhar ou sequer circular. Esse tal arquiteto stalinista é a coisa mais fraudulenta que já apareceu no Brasil, e todo político que escolhe esse sujeitinho para fazer qualquer obra, pode ser um banheiro público, revela seu desejo de fama, não seu amor ao dinheiro público ou sua preocupação com a funcionalidade administrativa.

Anônimo, vou lhe dar uma última oportunidade de se redimir. Indique me três razões para ser eleitor da Dilma, apenas três. Não vale propaganda vazia, mas argumentos consistentes, coisas defensáveis, matéria tangível...

Embora eu tenha horror do Anonimato, pois acho que as pessoas devem ter coragem de assumir opiniões, ideias, posicoes, eu vou conceder que você ainda escreva sob essa cobertura conveniente.
Mas seja consistente, do contrário vou ser obrigado a barrar o seu comentário...

Venho, por fim, o que você não fez, ao objeto do meu post: a demagogia política de prometer uma bolsa-eterna aos milionários da seleção, aos mercenários do futebol.
Eu diria que não é tanto demagogia quanto ato criminoso mesmo, passível de ser sancionado por uma tribunal de responsabilidade política, se o Brasil tivesse um. Quem quer que esteja em responsabilidades executivas e promete um absurdo desse, não é apenas demagogo, é criminoso mesmo, pois está dilapindo os recursos públicos com uma inutilidade que não tem QUALQUER sentido social, apenas demagogia pura e simples. Aliás, deve ser punível criminalmente também, se o Brasil tivesse uma justiça digna do nome.
Anônimo aprenda a ser um cidadão consciente, e defender o seu, o meu, o patrimônio de todos os brasileiros. Recuse a demagogia e os atos ilegais como esse.
Seja um cidadão com coragem para assumir ideias defensáveis e consistentes...

Paulo Roberto de Almeida
(Hong Kong, 15 de maio de 2010)

Sempre se pode piorar o que ja é ruim...

Dilma diz que, se eleita, vai implantar cotas raciais também na pós-graduação
Por Ranier Bragon, na Folha Online (15.05.2010):

A petista Dilma Rousseff afirmou na noite desta sexta-feira, na abertura do Encontro Nacional de Negras e Negros do PT, que se eleita ampliará a política de cotas raciais no ensino “queiram eles ou não”. E chegou a apoiar manifestação do público defendendo a adoção do sistema para o ingresso em mestrado e doutorado.

“O que nos une é o compromisso de que nós vamos fazer políticas afirmativas ou de cotas queiram eles ou não”, discursou Dilma, que acolheu depois manifestação vinda da plateia: “Isso, cota pra mestrado, pra pós-graduação”.

O governo, que desde 2004 tenta aprovar no Congresso um modelo de cotas raciais para a graduação das universidades federais, adota hoje a política no ProUni, o programa de subsídio nas universidades particulares a estudantes de baixa renda.

Na pauta de julgamentos do STF (Supremo Tribunal Federal) há uma ação que questiona a constitucionalidade do sistema.

No discurso de ontem Dilma afirmou que “entre os pobres há um contingente enorme da população negra” e também defendeu a presença de negros no Itamaraty. Ela afirmou no encontro que o presidente Lula dará o nome “Zumbi dos Palmares” ao próximo petroleiro brasileiro.

Como torrar o dinheiro publico e fazer demagogia ao mesmo tempo

Pague os craques
O presidente Lula propôs a criação da Bolsa-Bola, para premiar com R$ 100 mil cada jogador que tenha participado das Seleções campeãs do mundo de 1958, 1962 e 1970. Além disso, cada craque terá direito a R$ 3.400,00 mensais, para ele ou a família. Destrinchando: há jogadores, como o meia Moacir, reserva de Didi na Copa de 1958, que ficaram pobres e estão doentes. Mas há Zagalo, Rivelino, Tostão, Leão, Gerson, Dino, Zito, Carlos Alberto, Pelé e tantos outros que não estão propriamente mal de vida. Tostão já recusou a Bolsa-Bola.

E já foram pagos
Todos os astros da Seleção, a propósito, eram profissionais: recebiam salários e prêmios para jogar. Não era tanto dinheiro quanto hoje, mas estava bom para a época. Além disso, em 1958, o presidente Juscelino Kubitschek ofereceu a cada craque um emprego público, o que também era um absurdo. Só Zagalo se apresentou para o trabalho (hoje está aposentado). Os demais não se interessaram.

Não são necessários comentários. Basta a constatação...

Conselheiros da Petrobras, ops, do BNDES

Um post, neste blog, sobre os famosos (alguns obscuros) conselheiros da Petrobras, que recebiam uma grana firme por alguns conselhos eventuais (alguns nem isso) em períodos esparsos, foi o que mais rendeu comentários, alguns raivosos, sobre o assunto.
Não importa tanto o dinheiro em si, pois se trata de empresas, com contabilidade supostamente aferida pelo mercado, ou pelas agências públicas de controle. O que se está mencionando é a "qualidade" (ou falta de) dos conselheiros, na verdade apenas indicados para complementação salarial (entre companheiros, claro).

Pague a ministra
A substituta de Dilma Rousseff na Casa Civil, Erenice Guerra (aquela do dossiê contra a falecida Ruth Cardoso), já tem novo complemento de salários: foi nomeada pelo presidente Lula para o Conselho de Administração do BNDES. Erenice é, desde o início de 2008, membro do Conselho Fiscal do BNDES. Recebe, a cada reunião, realizada de três em três meses, o jeton de R$ 15.370,00. Recebe também o salário de ministra, R$ 11.240 mensais.

PS: Já espero vários comentários, alguns raivosos. Ofensas serão deletadas, comentários sem foco no objeto também. Apenas um aviso preventivo (PRA).

E agora, de volta a um velho tema: corrupcao no Brasil...

Calculando a ladroeira
Coluna Carlos Brickmann
Coluna de domingo, 16 de maio

Qual o custo da corrupção no Brasil? De acordo com estudo da Fiesp, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, pode variar entre R$ 41 bilhões e R$ 69 bilhões por ano. É mais do que se gasta em segurança pública, é metade do orçamento da saúde; e, reduzido, permitira que a renda média do brasileiro tivesse crescido uns 15% nos últimos oito anos. Os números estão explicados aqui (este colunista acha que a ladroeira é maior).

É um estudo muito interessante, especialmente nas comparações: o que poderia ser feito se a corrupção fosse menor - não se fala em corrupção zero, porque isso não existe nem onde se cumpre a lei. Seria possível aumentar em um quarto as verbas para a Educação, quase dobrar o objetivo de construção de habitações para a baixa renda, aumentar em um quinto a meta federal de construção de estradas, elevar em 89% o número de leitos do SUS, dobrar o saneamento básico.

E como combater a corrupção? O estudo da Fiesp sugere três caminhos, todos de longo prazo: limitação do poder de funcionários públicos e instituições, com a implantação de regras claras e completas; tornar a corrupção mais perigosa, até com o incentivo à delação; a realização de auditorias frequentes e o reforço do sistema judiciário; e reformas econômicas que simplifiquem os procedimentos administrativos, legais e tributários, de maneira a dificultar os atos de corrupção.

É um bom começo para, como diria o Bóris Casoy, passar o Brasil a limpo.

Decadencia da Argentina: uma opiniao sincera

Tenho exatamente a mesma ideia, sem ser historiador, ou sequer especialista na história argentina. Mas basta examinar a realidade e conhecer um pouquinho a história econômica dos últimos cem anos...

Opinión
¿El mejor gobierno de la historia argentina?
Por Roberto Cachanosky
La Nacion, Viernes 14.05.2010

Tal vez llevado por el calor de la tribuna política, Néstor Kirchner dijo que el gobierno de su esposa era el mejor de la historia de la Patria. Desde mi punto de vista luce un tanto desproporcionado sostener que el gobierno de Cristina Fernández superó al de Sarmiento, Mitre, Roca o Pellegrini. Por dar algunos ejemplos, entre 1881 y 1900 llegaron y se quedaron a vivir en el país 1.489.000 extranjeros. Entre 1901 y 1910 llegaron a la Argentina 1.764.000 personas (Fuente: Díaz Alejandro. Ensayo sobre la historia económica argentina ). Italianos, españoles, franceses, alemanes, polacos y rusos, entre otras nacionalidades, venían al país porque ofrecía oportunidades de progreso. Francamente, no se percibe que hoy, bajo el gobierno del matrimonio, tengamos una inmigración de esa envergadura. Más bien nuestros hijos se plantean en qué país, que no sea éste, pueden tener un futuro mejor.

Por más que quiera descalificarse a la generación del 80, inspirada políticamente en las ideas de la generación del 37, lo cierto es que transformó a la Argentina de un desierto a uno de los países más prósperos del mundo de esos años.

Ya en la década del 20 la Argentina tenía un comercio exterior (exportaciones + importaciones) que representaban el 50,1% del conjunto de los siguientes países: Brasil, Chile, Uruguay, Perú, Colombia, Bolivia, Venezuela, Ecuador y Paraguay. En 2007, aún con el viento a favor del mundo (real y euro fuertes frente al dólar, aumento de los precios de los commodities y el mundo creciendo a tasas anuales del 4 al 5 por ciento) nuestro comercio exterior representó solamente el 15% del conjunto de los países mencionados. Una diferencia de nada menos que 35 puntos porcentuales.

En La Economía Argentina de Alejandro Bunge, pueden encontrarse los siguientes datos. Hacia la década del 20, de los 88.000 kms. de líneas férreas que había en América latina, el 42,7% estaba en la Argentina. Hoy todavía estamos esperando el tren bala y, por la forma en que la gente viaja en los trenes suburbanos, no podríamos afirmar que somos un modelo de país ferroviario.

Es más, en esos años se transportaba el 60% de la carga total y el 57% del total de pasajeros de América latina. Además, de las 349.000 líneas telefónicas que había en los países mencionados, 157.000 estaban en la Argentina. De los 214.000 automóviles que había en la región, el 58% correspondía al país. Hoy, nuestro mercado automotor deber ser el 10% del de Brasil.

Otro dato interesante es que desde principios del siglo XX y hasta la crisis del 29, las exportaciones argentinas representaban entre el 2 y el 3 por ciento de las exportaciones mundiales y en 2008, con el mundo a favor, nos mantuvimos en el 0,4% que teníamos en las décadas del 80 y del 90. Para ubicarnos en contexto, si la Argentina hubiese mantenido su participación del 2% del comercio mundial, deberíamos estar exportando U$S 321.000 millones anuales.

Es cierto que en los últimos años las exportaciones argentinas crecieron, pero con toda sinceridad, todo parece indicar que crecieron no por las políticas aplicadas por el matrimonio sino a pesar del matrimonio. Ejemplo, entre 2003 y 2008 las exportaciones nacionales se multiplicaron por 2 y las chilenas por 3. Actualmente Chile exporta casi el mismo valor absoluto que la Argentina mientras Brasil está en el orden de los U$S 198.000 millones anuales.

Por supuesto que uno no puede pedir que en 7 años se transformen por completo décadas de decadencia, pero en rigor de verdad si Cristina Fernández festeja que entrega subsidios para 3,5 millones de niños, implementa los planes Trabajar por los cuales se pelean los diferentes grupos piqueteros y una batería de otros planes sociales, quiere decir que en vez de mejorar estamos empeorando. Puesto en otros términos, si el modelo fuera tan exitoso y el mejor de toda la historia de la Patria, los padres de familia tendrían que poder mantener a sus hijos con el fruto de su trabajo y no mediante subsidios que le otorga el Estado. Me animaría a afirmar que si los $ 180 se entregan plenos a condición de que los chicos vayan al colegio, la Argentina ha caído en un nivel de degradación muy grande, porque si tenemos que entregar subsidios a los padres de familia para que sus hijos estudien, muy bien no estamos funcionando. Ni económica ni moralmente. Un modelo exitoso se traduciría en nuevos puestos de trabajo, mejor remunerados y los padres de familia manteniendo a sus hijos y mandándolos al colegio por el futuro de ellos y no por cumplir con un plan social.

Francamente no se observa hoy en día el aluvión de inversiones que atraía nuestra patria a fines del siglo XIX y principios del siglo XX, y mucho menos una corriente inmigratoria fenomenal buscando un porvenir. Más bien se observa a empresarios analizando en qué otro país van a invertir que no sea la Argentina, a dirigentes piqueteros peleando por las migajas de los planes trabajar y otros subsistiendo en base a subsidios que se los devora la inflación.

En definitiva, si comparamos la Argentina del primer centenario en que la gente venía a radicarse porque con su trabajo y esfuerzo progresaba, con la actual en que se ha impuesto la cultura de la dádiva en reemplazo de la cultura del trabajo, me parece que estamos utilizando parámetros muy diferentes para definir cuál fue el mejor gobierno de la historia de la Patria. Algunos consideraremos que el mejor es aquel que crea las condiciones para que la gente pueda tener la dignidad de vivir del fruto de su trabajo. Otros consideran que estamos en presencia del mejor gobierno de la historia cuando, por falta de seguridad jurídica no hay inversiones y, por lo tanto, falta el trabajo y la gente tiene que vivir de la dádiva del gobierno de turno.

Progresar por el esfuerzo personal o vivir de las dádivas del Estado son dos modelos de país diferente. En el primer centenario de nuestra patria, la gente vivía de su trabajo. Hoy depende de la dádiva. ¿Cuál es el mejor gobierno de la historia?

O relativismo cultural comeca a contaminar o bicentenario...

O Brasil, posso apostar, não estará imune a esse tipo de besteirol pré-colombiano, os "puros" dos "povos originários", que de puros e originários não tem nada.
Sim, vamos ter de contar com as ONGs pretensamente humanitárias que vão começar a desfilar o festival de bobagens como sempre ocorre nessas ocasiões.

Los indígenas argentinos exigen un Estado plurinacional
ALEJANDRO REBOSSIO
El País, 13/05/2010

Tres marchas por el Bicentenario recorren el país

Buenos Aires - Más que un festejo por el bicentenario de la independencia de Argentina, los indígenas de este país prefieren la protesta. No rechazan las celebraciones por la Revolución de Mayo de 1810, pero miles de kollas, guaraníes, mapuches, huarpes, wichíes, mocovíes, diaguitas y qom-tobas, entre otros pueblos, iniciaron ayer tres marchas desde el noroeste, el noreste y el sudeste de Argentina hasta Buenos Aires para reclamar un Estado plurinacional, como el que acaba de inaugurar la Bolivia de Evo Morales.

En Argentina, la población indígena representa el 1,4% de sus 40 millones de habitantes, a lo que se puede añadir otro 6,5% de mestizos. No es como en Bolivia, donde el 60% pertenece a etnias originarias y otro 27,5%, es mestizo.

La Marcha Nacional de Indígenas tiene tres ramas que confluirán hoy en la capital argentina. La del noroeste se inició en La Quiaca, en la frontera con Bolivia; la del noreste, en Formosa y Posadas (ambas en el límite con Paraguay), y la del sudeste, en Mendoza y Bariloche. Los indígenas caminarán por las 25 ciudades por las que pasen, pero entre una y otra irán en 200 autobuses alquilados. El próximo día 21, los organizadores esperan reunir a 10.000 personas para marchar desde el Congreso hasta la Plaza de Mayo, donde está la Casa Rosada (de Gobierno) y donde esperan ser recibidos por la presidenta de Argentina, Cristina Fernández de Kirchner. Esto sucederá cuatro días antes del 25 de mayo, cuando este país sudamericano festejará los 200 años de la revolución que significó la independencia real de España, aunque la ruptura formal del vínculo se materializó en 1816.

Un dirigente diaguita, Santiago Mamaní, recordó que "había cerca de 200 pueblos que hablaban 300 lenguas antes de la conquista [española] que fueron atacados y casi desaparecieron", pero además apuntó contra los diversos Gobiernos argentinos que también los combatieron: "El Estado [argentino] fue una imposición". El Documento Fundacional de la marcha advierte que ya han pasado "dos siglos de desprecio, invisibilidad y exclusión de la diversidad cultural". De todos modos, Mamaní aclara que no quieren enfrentarse ahora con el Estado argentino: "Queremos hacer que los argentinos no se peleen con sus pueblos indígenas". De hecho, entre las organizaciones que se manifiestan figura la kirchnerista Organización Barrial Tupac Amaru, de la provincia de Jujuy (noroeste). "No nos oponemos a que se festejen los 200 años, vamos a acompañar los festejos", aclaró Milagro Sala, líder de la Tupac Amaru.

El Estado plurinacional implicaría, según los indígenas, el acceso al título de propiedad de los territorios comunitarios, la entrega a sus pueblos de tierras del Estado, el cumplimiento de la ley que ordenó en 2006 un censo de sus territorios ancestrales, el reconocimiento de sus lenguas como idiomas oficiales de Argentina, la creación de centros educativos propios, la eliminación del festivo del 12 de octubre, la declaración del agua como recurso "sagrado", la ley de protección de glaciares que ha vetado Fernández, la formación de tribunales ambientales y la constitución de un fondo para el desarrollo de sus comunidades.

La columna del noroeste pasará por Tucumán y protestará frente a los tribunales por la muerte de un diaguita, Javier Chocobar, el pasado 12 de octubre, a manos de un terrateniente y dos ex policías. Un vídeo grabado por uno de ellos y colgado en YouTube ilustra el enfrentamiento.

No todos los colectivos indígenas se han adherido a la marcha. Por ejemplo, el autodenominado Parlamento Mapuche de la provincia de Río Negro (sur de Argentina), que alega que fue convocado sólo por la kirchnerista Tupac Amaru.

Otros que la rechazan son los mbya guaraní de la provincia de Misiones (noreste). "Es un debate ideológico, no se trata sólo de subir a un colectivo [autobús] y participar de los festejos, que para nosotros son una fecha más", declaró el dirigente guaraní Alejandro Méndez.

Ecologismo literario nas paginas do NYRBooks: vale ler...

Para os mais ecológicos que frequentam este blog, recomendo a leitura destas resenhas publicadas no New York Review of Books. Não sou adepto da religião, mas os artigos do NYRB são sempre de qualidade...
Paulo Roberto de Almeida

The Message from the Glaciers

by Orville Schell
NYRBooks, May 27, 2010

A full listing of sources appears at the end of this article.

Climate Change 2007: The Physical Science Basis
Working Group I Contribution to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change
Cambridge University Press, 996 pp., $90.00 (paper)

When the Rivers Run Dry: Water—The Defining Crisis of the Twenty-first Century
by Fred Pearce
Beacon, 324 pp., $16.00 (paper)

Too Smart for Our Own Good: The Ecological Predicament of Humankind
by Craig Dilworth
Cambridge University Press, 546 pp., $90.00; $29.99 (paper)

Black Soot and the Survival of Tibetan Glaciers
by Baiqing Xu, Junji Cao, James Hansen, and others
Proceedings of the National Academy of Sciences, December 29, 2009

On Avoiding Dangerous Anthropogenic Interference with the Climate System: Formidable Challenges Ahead
by Veerabhadran Ramanathan and Y. Feng
Proceedings of the National Academy of Sciences, September 23, 2008

The Great Melt: The Coming Transformation of the Arctic
by Alun Anderson
World Policy Journal, Winter 2009/2010

It was not so long ago that the parts of the globe covered permanently with ice and snow, the Arctic, Antarctic, and Greater Himalayas (“the abode of the snows” in Sanskrit), were viewed as distant, frigid climes of little consequence. Only the most intrepid adventurers were drawn to such desolate regions as the Tibetan Plateau, which, when finally surveyed, proved to have the planet’s fourteen highest peaks. Because these mountains encompass the largest nonpolar ice mass in the world—embracing some 46,298 glaciers covering 17 percent of the area’s land and since time immemorial have held water in frozen reserve for the people of Asia—they have come to be known as “The Third Pole.”

Ler todo o artigo, em três partes, neste link.

Crise grega: uma opiniao pessimista sobre o pacote de ajuda

Abaixo o ensaio, feito ainda antes de ser aprovado o GIGANTESCO plano de ajuda à Grécia pela UE, FMI e consórcio de países (inclusive, o Brasil), por um economista do Institute of International Economics.
Devo dizer que concordo inteiramente com ele e vou além: a Grécia NÃO devia ser ajudada. Deveria quebrar, ser obrigada a renegociar a sua dívida (com perdas para os financiadores e não para os contribuintes) e assim aprender a viver com seus próprios meios, não com dinheiro emprestado irresponsavelmente.
O povo grego é ingrato: deveria simplesmente ser deixado de lado, e aprender a eleger gente mais responsável...
Paulo Roberto de Almeida

Greek Deal Lets Banks Profit from "Immoral Hazard"
by Arvind Subramanian
Peterson Institute for International Economics
Op-ed in the Financial Times
May 6, 2010

The economic adjustment program agreed last weekend between Europe, the International Monetary Fund, and Greece will be considered, and approved, by the IMF's executive board soon. Early satisfaction with the program has given way to serious market doubts about it. These doubts are rational because the fiscal arithmetic simply does not work. For the IMF, this program represents a squandered opportunity because it could have been ahead of events and designed a much better program, specifically by facilitating orderly debt restructuring. Instead, we could end up with a program that is inequitable, perverse, and unsuccessful with much greater costs all around.

When the Greece saga began, the mantra of the German government and many purists in Europe, including the European Central Bank, was: "no default, no bailout, no exit." European private sector holders of Greek debt would be spared any pain (no default). The European taxpayer would be protected (no bailout). And European companies would be shielded because Greece could not devalue its currency (no exit). That left one and only one policy measure that could be brought to bear on the problem, namely a fiscal austerity program, with the average Greek citizen bearing all the burden of adjustment. Europe, in short, had defined this to be an exclusively Greek problem.
Insisting on contributions from all parties—not just the Greek citizen and international taxpayer—would have led to a program that was fair, avoided 'immoral hazard' and the perverse incentives associated with rewarding reckless financial sector behavior, and would have maximized chances of success.

The recently negotiated IMF program changed that situation in one important way: the burden of adjustment is now being spread to include European ($105 billion) and international ($40 billion) taxpayers. China, India, and Brazil, among many others will contribute—which is as it should be—given their growing economic status and the cooperative nature of the endeavor. But there will still be no contribution from European banks that hold large amounts of Greek debt. That taxpayers in much poorer countries should contribute so that rich financial institutions can get away with reckless lending seems unfair and perverse. One might call this "immoral hazard": heads the banks win, tails much poorer taxpayers thousands of miles away pick up the tab.

What is worse is that this bailout of European financial institutions increases the already high odds of failure of the IMF program. Greece's fiscal predicament requires not just adjustment and financing but devaluation and debt restructuring. And with devaluation being achieved through painful deflation, the case for restructuring looks only stronger. Substantial debt write-offs are necessary and will probably remain so even if Greece exits the eurozone.

Consider the prerequisites for a successful program. First, Greeks must acquiesce in the sharp decline in living standards over the next three years. Second, after three years of the program, Greek debt will be much greater than today's 115 percent of GDP. At that point, markets will have to think it plausible that Greece is on a path toward reasonable debt levels because it is able to grow fast enough and maintain the fiscal belt-tightening for some considerable time. Doubts on the part of markets on any of these scores will lead to higher costs of borrowing for Greece and put it back into the viciously self-sustaining fiscal debt dynamic in which it has found itself recently, except that the starting point in terms of debt levels will only be worse. This might well prove to be the (unlucky) 13th labor of Hercules.

Why then has the IMF gone along with this arrangement? A generous reading is that the IMF has to work with governments, and if Greece and Europe have strong preferences, then those must be respected. A less charitable reading is that the IMF is a Euro-Atlantic Monetary Fund, where its management does the bidding of its richer shareholders. It is true that, in this instance, the IMF has imposed tough conditions on the borrower, but it has done so because Germany would have it no other way. It has gone along?with?a?bailout of the?banks because the major players, including the European Central Bank, wanted it that way.

All this is a pity because Greece could have been a real opportunity for the IMF to regain durable legitimacy. Insisting on contributions from all parties—not just the Greek citizen and international taxpayer—would have led to a program that was fair, avoided "immoral hazard" and the perverse incentives associated with rewarding reckless financial sector behavior, and would have maximized chances of success. The IMF could have set a precedent for orderly debt resolution programs. Debt restructuring will happen, but it will be disorderly and messy with all the actors reacting to rather than shaping events. So, for now, we must continue to watch this unfolding Greek tragedy whose essence is not just sadness and pain but their inevitability.

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Addendum: no mesmo sentido vai esta entrevista publicada pelo Le Monde:

"On ne peut pas résoudre une crise de dette par plus d'endettement"
LE MONDE, 11.05.10

Thorsten Polleit est chef économiste de Barclays Capital en Allemagne. Il porte un regard très critique sur le gigantesque paquet de sauvetage monté par les Etats de la zone euro.

Comment jugez-vous le plan de secours de 750 milliards d'euros pour la zone euro ?
On ne peut pas résoudre le problème par de l'endettement supplémentaire. Pour soutenir certains pays pris dans une crise de dette, les gouvernements vont devoir emprunter encore. Ce n'est pas une solution. L'urgence aujourd'hui, pour la zone euro, c'est d'annoncer une stratégie crédible de réduction des déficits. Si la pression des marchés est devenue si forte, si les investisseurs perdent confiance, c'est précisément parce qu'un tel concept n'existe pas. Il est temps de le formuler.

Que faut-il faire ?
Les décisions sont du ressort de chaque gouvernement, au niveau national. Il faut voir comment couper dans les dépenses, réduire les déficits le plus rapidement possible, graver ces objectifs dans le marbre comme nous l'avons fait en Allemagne en inscrivant un mécanisme de "frein à la dette" dans notre Constitution… On doit se rappeler qu'à l'origine, si le pacte de stabilité avait été respecté à la lettre, on n'en serait pas là.

Grâce à ce plan, n'a-t-on pas néanmoins écarté le risque de contagion de la crise grecque ?
Oui en ce qui concerne les pays menacés dans l'immédiat. Mais c'est la qualité de crédit des Etats bien notés qui en subira les conséquences. Les conditions d'emprunt des pays prêteurs vont sans doute se dégrader. En fait, le problème ne fait que se déplacer et risque, à terme, de s'aggraver.

La décision de la Banque centrale européenne (BCE) d'acheter de la dette publique porte-t-elle un coup à sa crédibilité ?
Il est clair que si la BCE agit ainsi, c'est parce que les gouvernements européens le souhaitent. On a là un instrument de politique monétaire qui semble n'avoir pas été décidé en toute indépendance. Cette décision est très problématique: dans la durée, un tel programme risque de créer de l'inflation et d'entraîner une perte de confiance des investisseurs.

Qu'en est-il de la stabilité de l'euro à long terme ?
Si les Etats ne trouvent pas le moyen de réduire leur endettement qui atteint souvent des niveaux insoutenables, l'euro est sérieusement menacé. La création de la monnaie unique a été une vaste expérimentation dont l'issue est aujourd'hui très incertaine. Surtout si les choses continuent ainsi, avec certains pays condamnés à payer encore et encore des sommes toujours plus importantes.

Croyez-vous que l'Allemagne récupérera l'argent des prêts faits à la Grèce ?
Non, je crois au contraire que les sommes ne seront jamais remboursées.

Propos recueillis par Marie de Vergès
Article paru dans l'édition du 12.05.10

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Estud. av. vol.20 no.58 São Paulo 2006
A crise do sistema internacional: um futuro pior do que o passado?
Estud. av. vol.19 no.53 São Paulo 2005

Integração externa, sinônimo de desintegração interna?
Estud. av. vol.14 no.40 São Paulo Set/Dec 2000

Alcântara Machado: testemunha da imigração
Estud. av. vol.7 no.18 São Paulo May/Aug. 1993

Revista de Economia & Relações Internacionais - FAAP
Trade challenges in a globalizing imbalanced world
Revista de Economia & Relações Internacionais, vol.5(8), jan.2006

Vários
A Santa Casa da Misericórdia da Bahia e o padre Antonio Vieira na construção da sociedade brasileira
RERE - Revista Eletrônica da Reforma do Estado
Edição 4 - 2005
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La Crise du Système International: Un avenir pire que le passé?
HEI – Institut des Hauts Etudes Internationales
Genève - Swisse - 15 décembre 2004

Com integradores como esses, nao precisamos de "desintegradores"...

Acho que realmennte não é preciso. Nós nos desintegramos por nossa própria conta (e incompetência).
A Argentina prova que é possível, sim, graças à inteligência e a memória prodigiosa que possuem certas pessoas, reincidir várias vezes nos mesmos erros, tanto em matéria de economia interna -- vocês sabem, controle de preços, de câmbio, dirigismo, essas coisas -- como em matéria de economia internacional: política comercial, cambial, de investimentos, etc.
Os argentinos vem fazendo as mesmas bobagens, repetidamente, há pelo menos 80 anos: não surpreende, assim, que o país ande cada vez mais para trás.
Agora, nessa questão da integração, tanto argentinos quanto brasileiros, erraram e continuam errando, falando em retaliações comerciais (inclusive um ministro de Estado).
My God, as pessoas não sabem que existem regras multilaterais que comandam os processos de tarificação, de defesa comercial, de simples relacionamento comercial. Elas ainda estão naquela fase pré-histórica, em que um ataque da tribo inimiga comandava a formação de um batalhão de voluntários para ir lá e desmantelar com os atacantes.
A lei da selva, na verdade, vive na cabeça das pessoas: ela fala espanhol, portugiês, inglês...
Por vezes me pergunto se as pessoas são alfabetizadas...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina teme retaliação
Da Redação
Diário do Comércio e Indústria,
Quarta-feira, 12 de maio de 2010

Os empresários brasileiros ganharam ontem uma parceria de peso contra as novas barreiras alfandegárias que o governo argentino está programando e que poderá entrar em vigor no início de junho. É que empresários argentinos de grande porte na participação no PIB daquele país temem represálias brasileiras à importação de alimentos. Em reunião ontem, na câmara de empresas alimentícias da Argentina, os empresários defenderam claramente a necessidade de se respeitarem os acordos comerciais internacionais diante da possibilidade de imposição de barreiras do governo à importação de alimentos, o que poderia provocar represálias.

A Coordenadoria de Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal) frisou que sustenta firmemente a urgência de que toda medida de política comercial respeite os critérios dos tratados internacionais dos quais a Argentina faz parte. O respeito aos acordos é uma das garantias necessárias para evitar represálias no comércio mundial, ressaltou o comunicado oficial da entidade.

A reação ocorreu assim que se confirmaram informações segundo as quais a Secretaria de Comércio argentina pediu às grandes redes de supermercados que deixem de importar produtos alimentícios, o que afeta exportadores do Brasil e da União Europeia (UE). As barreiras comerciais para proteger a indústria alimentícia argentina ante uma eventual avalanche de importações decorrente da desvalorização do euro favoreceriam os exportadores da UE e desviariam à Argentina parte do comércio entre Brasil e o bloco europeu.

O ministro da Economia argentino, Amado Boudou, disse que é preciso cuidar do mercado interno e dos produtores nacionais, mas evitou falar de medidas concretas.

Brasil e UE são os principais parceiros comerciais da Argentina. O Brasil exporta anualmente US$ 22 bilhões em alimentos à Argentina e importa US$ 1 bilhão, segundo dados da Copal. Os alimentos importados representam cerca de 3% dos que oferecem os supermercados no mercado argentino, segundo cálculos de fontes do setor. O assunto causou mal-estar no Brasil e de países da União Europeia.

A Secretaria de Comércio começaria a aplicar barreiras à importação de uma lista de alimentos, dentre os quais frangos do Brasil.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Triplice fronteira deve se mudar para o Panamá...

Joking, mas é o que imagino que vai acontecer se a diretora Kathryn Bigelow não tiver autorização dos três países para filmar na região, com aquele estilo americano de simplificar tudo, colocar terrorista de araque onde eles não estão e um herói que vai salvar a América (eles) no último minuto...
Preparem-se. Depois não digam que não avisei...
Enfim, não sei se dá para recriar as cataratas no Panamá, mas os mosquitos não devem ser muito diferentes, e para os terroristas, eles devem pegar uns taxistas de NY...
Paulo Roberto de Almeida

Reações inflamadas
André Miranda
O Globo, 14/05/2010

'Tríplice fronteira': Brasil, Argentina e Paraguai se voltam contra Kathryn Bigelow

RIO - A anunciada intenção da diretora americana Kathryn Bigelow de filmar o longa-metragem "Tríplice fronteira" tem causado um certo desconforto em Argentina, Paraguai e Brasil. As primeiras informações divulgadas sobre o filme indicam que ele trataria da existência de máfias, contrabando e tráfico de drogas, inclusive com a presença de terroristas árabes, na região das Cataratas do Iguaçu, uma divisa dos três países.

O secretário de Turismo de Foz do Iguaçu, Felipe Gonzalez Camilo Rorato, divulgou uma nota em que diz que "a liberação de qualquer imagem turística (...) da cidade só será autorizada após leitura e aprovação do roteiro". Ele escreveu ainda: "Sobre a suposta temática do filme, acreditamos que não há elementos concretos para se afirmar qualquer conexão de empresários, entidades ou pessoas de ascendência árabe da fronteira com o financiamento de grupos terroristas islâmicos."

A ministra do Turismo do Paraguai, Liz Cramer, foi além em entrevista ao jornal espanhol "El País":

- Falei com o secretário de Turismo da Argentina e com autoridades brasileiras. Estamos todos indignados. Eles querem nos sujar como os perversos do mundo.

Kathryn é a atual detentora dos Oscars de melhor direção e filme, por "Guerra ao terror". Ela ainda não se manifestou sobre as críticas acerca de "Tríplice fronteira".

Agora, espaço para a mão invisível lusitana...

Agora, espaço para a mão invisível lusitana...
(um pouco chinesa, também, que os chineses também são capitalistas escoceses)
Paulo Roberto de Almeida

Hoje testei a mão invisível do lado em que ela não deveria funcionar, ou seja, nos famosos domínios ibéricos, tão refratários à liberdade econômica e tão adeptos do dirigismo econômico. Estivemos, Carmen Licia e eu, em Macau, para uma visita de um dia inteiro, a partir de Hong Kong, para onde viajamos, para uma curta estada de quatro dias.
Depois de ter-me informado pela internet de todas as ligações entre os dois lados da baia do rio das Pérolas, peguei um ferry, melhor dito um Jetfoil, primeira classe, para escapar um pouco da horda – sem nenhuma intenção de ofender – de chineses e turistas de havaianas que pululam entre os dois lados da baia num volume inacreditável para um dia normal: sexta-feira. Não me pareceu que o pessoal embarcando na classe econômica do jetfoil estivesse indo jogar nos famosos cassinos de Macau, pois vários carregavam pacotes, alguns malas ou mochilas, ou seja, eram pessoas a trabalho ou em turismo econômico. Os ricos, ou os jogadores, chegam de helicóptero, de avião, ou também de turbojets de primeira classe a partir da noite de sexta-feira quando lotam os cassinos estilo Las Vegas para jogar até o domingo. Tem até um cassino facsimilar (se me permitem a expressão) de um famoso em Las Vegas: The Venitian, com direito a ponte do Rialto, canais e gôndolas e tudo o que você quiser para não se sentir dépaysé em Macau...
Passei ao largo disso tudo, como devem ter passado ao largo vários dos que embarcaram comigo e Carmen Lícia no deck superior do Jetfoil: chineses de Hong Kong, de terno e gravata, mulheres com ar de executivas, turistas bem vestidos, enfim, gente mais bem situada na vida do que a massa de viajantes, todos bem vestidos, aliás, que lotavam a classe econômica, muitas famílias chinesas com crianças, e vários turistas de mochila.
A mão invisível também funciona direitinho na travessia: impossível fazer qualquer previsão de viagem, pois quando você chega para comprar um bilhete para certa hora, descobre que tem um barco outro saindo dali a dez minutos, prontinho para embarcar, não dá nem tempo de aproveitar o lounge de primeira classe, pois já estamos sendo chamados para o turbojet. De fato, Adam Smith ficaria novamente orgulhoso, talvez ainda não com os macauenses, mas com os hong-konguianos, pois existe praticamente um barco por minuto saindo de uma ponta a outra do cais. Na travessia, isso se confirma: passamos por alguns ferries mais lentos e somos ultrapassados por outros ainda mais velozes, e do outro lado há a sucessão de barcos rápidos e alguns saipans pelo meio do caminho, chineses fazendo o seu trabalho de alimentar dezenas de ilhas e todo um continente com todos os tipos de frutos do mar.
Poltronas confortáveis, lanche estilo avião, e leitura para todos os gostos. Leio dois jornais macauenses, no percurso de uma hora: O Clarim, jornal católico, me informa sobre a visita do papa em Fátima, no dia 13 de maio, dia da própria, mas também diz que o papa quer padres no ciberespaço. Outras matérias mais “sérias”, no interior do jornal não deixam de veicular críticas às autoridades chinesas de Macau e relatam que os portugueses – sim, os lusitanos que ainda tem algo a dizer – planejam mandar mais juízes a Macau, talvez por desconfiar da justiça a cargo de juízes chineses. Também fiquei sabendo que a Air Macau nunca deu lucro, provavelmente porque nunca funcionou segundo Adam Smith preconizaria. Aposto que nenhum dos ferries (e helicópteros) que fazem a travessia entre as duas ex-colônias (agora “colônias” chinesas) sabem o que significa déficits, perdas, resultados negativos, e a concorrência é brutal, posso assegurar...
Mas Adam Smith também ficaria orgulhoso dos macauenses: a despeito de terem sido colônia portuguesa (um pouco de araque) por quinhentos anos, eles se renderam à evidência: adotaram métodos e procedimentos britânicos, para atender sua maior clientela: trânsito na “contra-mão” (todos os carros e ônibus com direção “inglesa”) e tudo escrito em chinês, português e inglês, nessa ordem ou em outra ordem, segundo as conveniências. Eles também transacionam sem problemas com o dólar de HK, a despeito de terem sua própria moeda, a pataca, que tem um inevitável sabor colonial, pois era uma moeda que circulou no Brasil três séculos atrás.
Assim é que, recém desembarcados (de volta a China, de alguma forma, ainda que também seja, como HK, uma região administrativa especial, mas com controle sino-macauense de passaportes), somos bombardeados com milhares de ofertas de tours, visitas guiadas, trajetos especiais, recomendações de hotéis, restaurantes, cassinos, alfaiantes, wathever... Adam Smith ficaria, de fato, contente, ao ver o funcionamento de sua mão invisível: milhares de ofertantes disputando as escolhas dos turistas. Dispensamos tudo isso e pegamos um taxi para ir direto onde pretendíamos visitar em primeiro lugar: a Fortaleza do Monte, e o Museu de Macau. O taxista não fala português, obviamente, sequer o patuá local (que só os mais velhos, atualmente, devem conhecer), e mal se expressa em inglês: deve ser, como milhares de seus colegas, um chinês emigrado do continente, que só fala cantonês ou algum outro dialeto chinês. Não importa: com o mapa e a sinalização verbal convincente, ele sabe onde queremos ir, e nos leva rapidamente por vielas que parecem com o Chiado lisboeta. Pagamos em dólares HK e desembarcamos exatamente ao lado das ruínas da Igreja de S.Paulo e ao lado da Fortaleza do Monte, onde está o Museu de Macau.
As ruínas, na verdade não exatamente ruínas, mas apenas a fachada, bem preservada, à falta de todo o resto. A Fortaleza, de gloriosa memória, pois vem do tempo em que os holandeses também tentaram tomar Macau aos portugueses (em 1622), está muito bem preservada, mas apenas sua parte murada, pois o interior foi totalmente reformado para abrigar um moderníssimo museu, com as modernas técnicas da museologia e da história. Passamos quase duas horas aprendendo sobre a gloriosa história de Macau, uma verdadeira aula de “imperialismo português”, que na verdade não aparece como tal, e sim como um encontro de culturas muitas vezes benéfico a todos os povos que aqui se encontraram, não apenas chineses e portugueses. Recomendo a visita, a quem quer que seja, pois faz parte de nossa história, também, essa projeção colonial de Portugal, com alguns personagens que também ficaram em nossa história, como é obviamente o caso.
Vamos andando até o Largo do Senado, parte pedestre de Macau, sempre assaltados pelos vendedores de qualquer coisa, comida em profusão, Rolex verdadeiros e falsos, enfim todo tipo de bugiganga e de mercadorias de luxo, numa profusão que certamente encantaria Adam Smith, pois é a própria mão invisível em ação. De fato, Macau é uma HK multicolorida e ainda mais diversificada, sem aquela ordem inglesa, quase asséptica, com certa bagunça mais ao gosto brasileiro (talvez baiano, para ser mais exato, sem qualquer intenção de ofender os baianos, mas eles sabem o que eu quero dizer). Depois de percorrer a cidade, vamos ao que interessa: comida portuguesa, que é para isso que viemos aqui.
Escolhemos o Vela Latina, perto do Largo do Senado, na verdade, um restaurante chinês que serve comida portuguesa e tailandesa. Nosso menu começa com sardinhas assadas de aperitivo, já regadas a um Casal Garcia verde, bem gelado, e depois Bacalhau com alho (que eu escolhi, para minha completa satisfação) e um Bacalhau à Braz, escolhido pela Carmen Licia, que do Braz só tinha o nome. Talvez perdido em quatro séculos, ou nos últimos anos de administração chinesa (não adianta, os chineses tomaram quase tudo), veio um bacalhau em tiras, com ovos mexidos (sic) e batatas fritas misturadas (resic). Estava gostoso, mas nunca vi um Braz desse jeito... Em todo caso, liquidamos quase tudo, inclusive sobremesa de frutas e um expresso para terminar...
Depois fomos à Fundação Oriente, supostamente para comprar livros, e para nossa decepção nenhum havia para vender: só uma exposição com cartazes políticos da revolução dos cravos em Portugal, com coisas do arco da velha, se me permitem a expressão (quanto o Partido Socialista Português ainda era anti-capitalista, se é que me compreendem...). Cumprido o ritual, fomos direto à Livraria Portuguesa, perto do Largo do Senado. Compramos dez quilos de livros (bem uma maneira de dizer), mas para meu desgosto, descobri, já no jetfoil de volta a HK, que esqueci meu Moleskine de notas na Livraria, depois de ter anotado dois volumes das obras completas de Charles Boxer, o grande historiador do império marítimo português dos séculos 15 a 19. Uma pena: espero que o dono da livraria, condoído com a minha perda, me mande um e-mail para tentar devolver meu caderninho de notas, onde estavam várias anotações de viagem, gastronômicas, resumos de livros, artigos e ensaios começados em viagem, enfim, todo tipo de coisa que eu vou rabiscando nos meus vários Moleskines. Tenho sempre dois comigo, em qualquer circunstância, mas esse de bolso de camisa é sempre o preferido para anotações rápidas. Para escritos mais consistentes, escolho o de tamanho médio, mais reflexivo. Nada que a mão invisível não resolva, pois em qualquer livraria do mundo (OK, nas de boa qualidade) se podem achar Moleskines de todos os tipos, tamanhos e cores...
Na volta, novamente a mão invisível: estávamos chegando para o ferry de 18h15, como anunciado no folheto da companhia, e descobrimos que podíamos embarcar rapidamente no das 17h15, que estava ali mesmo, nos esperando, como guiado pela terrena providência smithniana... Serviço impecável, rapidez garantida: tendo lido os jornais de Macau na ida, fiquei ouvindo Diana Krall no meu iPhone que havia comprado um dia antes em HK: Live in Paris, que já ouvi dezenas de vezes, e me parece o melhor CD da pianista-cantora-jazzista. Metro em duas linhas, chegamos cansados, mas satisfeitos com a jornada altamente enriquecedora. Melhor solução é banho restaurador no hotel, abandonamos planos de jantar fora e ficamos sem sair, mas plenamente abastecidos: queijos franceses, pão sueco, uvas e vinho chilenos no próprio quarto, comprados no supermercado, no shopping ao lado do Hotel.
Novamente, thanks Mr. Adam Smith, tudo funcionou perfeitamente nesse mundo em que ninguém, de fato, controla a oferta de bens: produtos do mundo inteiro, em qualquer quantidade e da melhor qualidade, por preços absolutamente razoáveis. Camembert, queijo de cabra, Caprice de Dieux, pão com alho, que delícia. Eu me pergunto como é que as pessoas não se dão conta que esse é o sistema que funciona, sem que uma autoridade governamental venha dizer como os mercados devem ser controlados para impedir crises e desigualdades.
Por acaso, no mesmo dia, leio esta notícia na internet (rapidíssima) no hotel: “Chávez ameaça fechar as bolsas da Venezuela” (está em meu blog, podem ler: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/05/una-aulita-mas-de-deseconomia-gracias.html). Eu me pergunto como é que as pessoas podem ser além de autoritárias, estúpidas. Não precisaria ser assim, talvez só uma das coisas por vez...

Paulo Roberto de Almeida
Hong Kong, 14-15 de maio de 2010

Una aulita mas de deseconomia: gracias profesor Chavez...

Não há melhor professor de deseconomia do que nosso prêmio Nobel al revés...

Chávez ameaça fechar as bolsas da Venezuela
De Agencia EFE – 14.05.2010

Caracas, 13 mai (EFE).- O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse nesta quinta-feira que está disposto a eliminar as bolsas de valores do país, que, segundo ele, estão supostamente envolvidas em um plano para elevar artificialmente o valor do chamado 'dólar permuta'.

"Se for preciso acabar com todas as casas de bolsa, faremos", declarou Chávez, durante ato oficial em Caracas, onde acusou as instituições de serem instrumentos criados pela burguesia para conduzir o dinheiro do povo.

O líder fez a afirmação ao comentar a aprovação nesta quinta-feira de uma reforma à Lei contra Ilícitos Cambiais que deixa em mãos do Banco Central da Venezuela (BCV) o controle do chamado dólar permuta.

Nesse contexto, Chávez voltou a assinalar que as bolsas fizeram supostos manejos especulativos de bônus nominados ou pagáveis em dólares, emitidos pelo BCV, o que elevou o valor da divisa de forma "irracional".

"Farão falta as casas de bolsa? Quem aqui do povo precisa delas? Não, não fazem falta. Os ricos inventaram um sistema para conduzir os recursos do povo, os recursos do Estado, os recursos do país", afirmou Chávez.

O presidente disse ainda que essa alta artificial do dólar permuta, que afetou de maneira importante a inflação segundo os economistas locais, faz parte de um "plano da burguesia" que persegue gerar "mal-estar" na população e descontente em relação ao Governo "revolucionário" que dirige há 11 anos.

A Venezuela tem um controle estatal de câmbio com duas taxas fixadas pelo Banco Central da Venezuela (BCV): uma preferencial de 2,6 bolívares por dólar para as importações consideradas essenciais, e outra de 4,3 bolívares para o restante das operações.

Também há o chamado dólar paralelo, ou 'permuta', ligado a bônus nominados ou pagáveis em moeda estrangeira emitidos pelo BCV e negociados pelo sistema financeiro, cujo preço chegou a ser o dobro do valor oficial.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Nossos fornecedores queridos de avioes, helicopteros e outros brinquedos...

França não quer negociar com Mercosul

Dez países europeus liderados pela França se opõem à retomada de negociações comerciais com o Mercosul, por discordarem das cláusulas que restringem os subsídios agrícolas. Para eles, é "um mau sinal para a agricultura europeia”. Há a expectativa de que o Mercosul e a União Europeia assinem um tratado comercial em Madri, no dia 17. “Este é de longe o projeto mais importante economicamente da Europa na América Latina, e de Madri”, disse um diplomata europeu.

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O amor, com amor se paga?
Paulo Roberto de Almeida

Hermanos, pero no mucho...

OK, já usei o título acima para uma resenha de um livro, mais exatamente a história paralela de Brasil e Argentina, por Fausto e Devoto. Já não eram mucho, nem un poquito, agora son mucho menos, casi inimigos (e, por incrivel que pareça, estimulados pelo governo brasileiro para seus abusos continuados).

O editorial do Estadão toca apenas nas medidas argentinas, e pouco na tolerância do governo brasileiro com essas medidas totalmente abusivas, absolutamente ilegais (tanto do ponto de vista do Mercosul, como do GATT-OMC) e que só são adotadas contra o Brasil porque o governo brasileiro resolveu ser compreensivo, leniente, generoso...
Mas o título do editorial é um pouco equivocado. A Argentina não está adotando essas medidas em função do Mercosul, que não tem absolutamente nada a ver com isso, é apenas um Pilatos no Credo. Todas as medidas argentinas são totalmente unilaterais, e sequer comunicadas aos sócios do Mercosul. Uma arrogância sem par...
Paulo Roberto de Almeida

Esse Mercosul não serve
Editorial do Estado de São Paulo:
quarta-feira, 12 de maio de 2010

O governo argentino ameaça atacar de novo os parceiros do Mercosul com medidas protecionistas, desta vez contra a importação de alimentos com similares nacionais. As autoridades preveniram importadores e dirigentes de supermercados, antes de oficializar as novas barreiras. O Brasil será atingido, embora o objetivo da manobra, segundo se afirma em Buenos Aires, seja barrar a entrada de produtos europeus barateados pela desvalorização do euro.

Basta uma visita a um supermercado brasileiro para verificar grande variedade de produtos comestíveis importados, procedentes de vários países, inclusive da Argentina, em concorrência livre com similares nacionais. Seria um escândalo se, de repente, os supermercados fossem obrigados a expurgar de suas prateleiras os produtos estrangeiros por supostos danos aos produtores nacionais.

Por absurdo que pareça é exatamente o que o governo argentino pretende fazer, sem aviso nem mesmo aos parceiros do Mercosul. E não se trata de uma interdição nas alfândegas, apenas. A partir de 10 de junho, inspetores da Secretaria de Comércio da Argentina vão percorrer o comércio para uma varredura de alimentos estrangeiros.

Esse furor contra os alimentos importados, atingindo produtos brasileiros, amplia conflitos comerciais iniciados há muitos anos e agravados com a imposição de licenças prévias pela Argentina a partir da crise de 2008. Depois de gestões de governo e de empresários, as restrições foram amenizadas, isto é, enquadradas nas normas da OMC. Até essas normas foram atropeladas, quando as autoridades argentinas passaram a levar mais de 60 dias para conceder as licenças. O governo brasileiro, apesar de alguma reação, foi, como de costume, tolerante em relação à política do vizinho.

Agora, como não foram invocados motivos sanitários para a proibição dos alimentos ? a costumeira justificativa para a prática protecionista ?, o instrumento para fazer valer a proibição será o trancamento de licenças de importação. Hoje, a possibilidade de um comércio normal entre os maiores sócios do Mercosul parece mais distante. Fala-se em retaliação do governo brasileiro. Indústrias que sofrem no mercado interno a concorrência de produtos argentinos, como o vinho, podem ser encorajadas a pedir ao governo a adoção de barreiras que até agora o Brasil tem evitado. Seria uma saída ruim.

Pode-se até entender a preocupação dos argentinos com o euro. Mas não é admissível, nem compreensível, a imposição de barreiras a um parceiro de bloco. O intercâmbio com o Brasil vem evoluindo, nos últimos meses, com mais equilíbrio. De janeiro a abril, o Brasil vendeu à Argentina US$ 4,8 bilhões e importou US$ 4,3 bilhões. A situação nem de longe é parecida com a de 2008, quando o Brasil acumulou superávit de US$ 4,347 bilhões no comércio bilateral. Além disso, os alimentos representam pequena fração do valor do intercâmbio, no qual predomina o comércio de automóveis.

Como 73,9% dos consumidores argentinos são contrários à proibição de importação de alimentos, segundo pesquisa do site do La Nación, o mais provável é que o governo argentino, em mais um surto de nacionalismo demagógico, tenha cedido a pressões de produtores locais. Também criticou a medida a Câmara dos Importadores da República Argentina (Cira), que alertou para o risco de desabastecimento de certos produtos. Não se conhece uma relação oficial. A proibição pode atingir, segundo se estima, hortaliças, frutas, molho de tomate e outras preparações, cacau e chocolate. Mas é difícil calcular a extensão da lista.

Da forma como têm evoluído as relações comerciais entre Brasil e Argentina, o Mercosul vem-se tornando um trambolho para o comércio exterior brasileiro. Como o bloco é oficialmente uma união aduaneira, o Brasil não pode firmar acordos de livre comércio sem a participação dos outros sócios. Mais uma vez se comprova que o melhor seria abandonar a união aduaneira e reduzir o Mercosul à condição de área de livre comércio. Até agora, o bloco não preenche sequer as condições para merecer essa denominação. Com um pouco mais de modéstia e realismo, seria possível achar o caminho de uma integração efetiva.

Encontrei a mao invisivel: ela funciona...

Bem, sei que os mais céticos (inclusive alguns que frequentam este blog e adoram render culto ao Estado corretor da anarquia dos mercados) não vão acreditar, mas acabo de encontrar a famosa mão invisível de Adam Smith.
Eu a vi em plena operação e posso dizer que funciona direitinho, trazendo riqueza e prosperidade para gregos e goianos, ou melhor, britânicos e chineses, residentes de Hong Kong e imigrantes, enfim todo tipo de gente.
Sim, refiro-me a Hong Kong, um exemplo perfeito de que a mão invisível funciona, cria riquezas e regula naturalmente os mercados, sem precisar de todos aqueles planos estatais e o intervencionismo estúpido de certos governos...
Hong Kong era uma ilha sem nenhuma importância, na frente de Macau, então um próspero centro de comércio na desembocadura do rio das Pérolas, onde os portugueses estavam instalados desde 1555, quando os ingleses resolveram se instalar e fazer como os portugueses.
Depois de muitos percalços, e de proibições do Imperador a que o comércio fosse feito ali (reservando apenas alguns portos para um comércio restrito com os estrangeiros), e de muito desequilíbrio no comércio bilateral (muito simples e parece hoje: os chineses tinham muita coisa para vender e quase nada queriam comprar dos ingleses), os ingleses resolveram corrigir o déficit à sua maneira: exportando ópio produzido na India para a China. Com a proibição e os desentendimentos, vieram as guerras do ópio e a humilhação da China (que já tinha humilhado pelo menos três enviados diplomáticos britânicos), que foi obrigada a ceder Hong Kong aos representantes de Sua Majestade.
O que era um simples entreposto e repouso de pescadores, prosperou até tornar-se uma vibrante cidade comercial.
Sofreu com a ocupação japonesa (1942 a 1945), não tinha água, sujeita a tornados, deslizamentos, afluxo maciço de refugiados do continente (fugindo do comunismo de Mao Tse-tung), e até com crises bancárias, mas soube se transformar e ficar rica, sempre tendo como base a liberdade de comércio e de empreendedorismo.
De implantação comercial, tornou-se um grande centro industrial -- para manufaturas leves -- e hoje praticamente não tem mais indústrias, que foram todas deslocadas para a China formalmente comunista (Shenzen, Guangzhou, antes conhecida como Cantão).
Vive de comércio, finanças e outras atividades ligadas aos intangíveis. Tem uma população altamente educada, e continua desregulada como sempre foi: quem quiser iniciar um novo negócio, é livre para fazê-lo, desde que siga regras muito simples.
Hong Kong já teve muitos cortiços, verdadeiras favelas brasileiras, penduradas nos morros, que eram devastadas com os deslizamentos de terras por ocasião de enxurradas, tornados e tempestades, ainda muito frequentes.
Hoje não se vê um único traço dessas habitações miseráveis, ainda visíveis no início dos anos 1960. Prédios altíssimos, muitos de luxo, estendem-se pelas vias expressas que serpenteiam entre os morros e enseadas. Metros moderníssimos por todo lado, ligando ilhas e o continente, ferries, teleféricos, ônibus estilo inglês (sim, se dirige do "lado errado" nesta ex-colônia britânica, assim que melhor olhar para os dois lados quando for atravessar uma rua), enfim, não faltam meios de transporte nesta geografia complicadissima que é Hong Kong.
De tudo o que se pode ver, não descobri uma empresa estatal, e o próprio dinheiro, dólar de Hong Kong, é emitido por um banco, o famoso Hong Kong and Shanghai Bank Corporation, atualmente presente no Brasil também.

Enfim, eu vi a mão invisível: ela não apenas está viva, como goza de excelente saúde, e promete continuar enriquecendo Hong Kong pelo futuro previsível, que os chineses não são idiotas de matar uma galinha com ovos de diamante, como é este conglomerado de seguidores naturais de Adam Smith.
Quem quer que diga que a mão invisível não existe ou que ela não funciona adequadamente, eu convido a fazer um passeio em Hong Kong. Se desejar, pode fazer um stop antes em Dubai, que funciona mais ou menos segundo os mesmos princípios.
Adam Smith deve ser cidadão honorário, nas duas cidades. Ele também deve piscar um olho de satisfação, onde quer que esteja
E ainda tem gente que não acredita na mão invisível...

Paulo Roberto de Almeida
(Hong Kong, 13 de maio de 2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Noticias do jornalismo ordinario: o caso grego...

Leiam primeiro esta matéria:

O sacrifício imposto à Grécia
Luis Nassif
Coluna Econômica - 11/05/2010

Durante anos, a Grécia foi um dos paraísos do capital especulativo. Contraiu grandes empréstimos que foram utilizados para consumo, não para investimento.

Em 2000, o déficit grego era de 3,7% do PIB, pouco acima do limite da eurozona, de 3% do PIB. De 2001 a 2007 o déficit oscilou entre 3,6% (2006) a 7,5% (2004), ano em que o país sediou as Olimpíadas, aumentando para 7,7% em 2008 e disparando para 13,6% em 2009.

Atualmente, o PIB (Produto Interno Bruto) da Grécia foi de 237,5 bilhões de euros.

Em 2009, a Grécia registrou um déficit de 13,6% do PIB, segundo dados divulgados em abril pela agência de estatísticas Eurostat. Apesar de bastante elevado, há suspeitas de que possa ser maior ainda. Quando foi constituída a União Européia, definiu-se um limite de 3% do PIB para os déficits nacionais.

A dívida pública grega chegou a 115,1% do PIB, atrás apenas da Itália, com 115,8%. Na Zona do Euro, a relação dívida/PIB bateu em 78,7%.

***

Todo esse movimento proporcionou lucros extraordinários aos credores, bancos internacionais, gregos e fundos de investimento. Estourando a crise, há riscos concretos de moratória. Decretada, haveria uma redução automática do passivo grego – já que os títulos da dívida cairiam de valor.

A pretexto de evitar crises sistêmicas, os Bancos Centrais mais o FMI (Fundo Monetário Internacional) montaram pacotes de ajuda que salvam a cara dos credores mas impõem pesados sacrifícios aos devedores. Como não há um desconto no valor da dívida a ser paga, o esforço fiscal tem que ser redobrado. E aí se bate nos limites de sacrifício da população e nos limites políticos das ações de sacrifício.

***

Para se habilitar ao pacote de ajuda do FMI – e evitar a moratória – o governo grego concordou em reduzir seu orçamento em 30 bilhões de euros até 2014 – o que significará o corte de inúmeros programas públicos voltados para o bem estar da população.

Os salários e as aposentadorias do funcionalismo público serão reduzidos e congelados nesse período. Além disso, o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) – espécie de ICMS – será aumentado de 21% para 23%, havendo uma taxação adicional de 10% sobre combustíveis, álcool e tabaco.

***

Não é uma situação fácil.

A ajuda desagradou tanto aos gregos, que a receberam, como aos alemães, que foram os maiores emprestadores.

A população grega reagiu violentamente contra a perspectiva de piora do seu padrão de vida por meio de greves e protestos. Na Alemanha, nação mais poderosa da Zona do Euro, a coalizão de partidos liderados pela chanceler Angela Merkel perdeu as eleições estaduais na Renânia do Norte-Vestfália, punida por uma população majoritariamente contrária ao socorro financeiro.

A União Européia vai garantir a Grécia e o euro. Mas adiará a recuperação da economia do continente.


Comento agora (PRA):

O título já começa errado: "sacrifício imposto à Grécia"???!!!
Paraíso dos especuladores???!!!

Esse jornalista só pode ser maluco.
Qualquer pessoa honesta deveria começar por reconhecer estes pecados gregos:
Dívida pública elevada;
Gasto público maior do que a receita pública;
Concessão pelo estado de privilégios de qualquer espécie;
Aposentadoria e pensões sem o respectivo cálculo atuarial individual;
Inchaço da máquina pública;
Maquiagem das contas públicas.

Depois disso, ele pode falar de especulação, que foi montada, alimentada, favorecida pelo governo grego...
Inacreditável como anda o jornalismo brasileiro

Notícias ordinarias da Venezuela

Aliás, bem ordinárias: uma inflação de 40% ao ano já fugiu do controle das autoridades monetárias. Sem indexação, a vida se torna insuportável para os assalariados comuns, como para os pobres de maneira geral.
Essa é a herança que Chávez vai deixar: um país dividido, com a economia arrasada, milícas armadas, delinquência em alta, violência não controlada, tirania encoberta...

Focus on Venezuela
Citi - Emerging Markets Daily: Latin America Edition
13.05.2010

Recent proposals to outlaw the parallel FX market coupled with rising food inflation have led us to revise our inflation forecast for year-end to 40%. We believe the only plausible solution to reduce the FX gap, and thus inflation pass-through, is higher USD supply from the government.

Homenagem a Jerusalem, uma cidade teimosa (e dividida, nao pela Historia, mas pelos homens)

IOM YERUSHALAIM - O DIA DE JERUSALÉM
OS 43 ANOS DE JERUSALÉM REUNIFICADA

Osias Wurman - 12/05/2010

(O artigo abaixo foi publicado, há 10 anos, na página de Opinião do jornal O Globo)

Jerusalém pertence a todos

A todos que praticam a fé monoteísta, sejam judeus, católicos ou muçulmanos, a cidade de Jerusalém ,lembrada e cantada como sagrada, eterna, de ouro e da paz, é um dos maiores e mais antigos tesouros da religiosidade, tendo sido palco dos mais importantes eventos para estas religiões.
Para os judeus, a capital do reino de David, que conquistou Jerusalém há mais de 3000 anos, abriga as ruínas do templo do Rei Salomão, considerado o local mais sagrado do judaísmo. Segundo a tradição judaica, foi deste local que o Criador coletou o pó da terra para fazer surgir o primeiro ser humano a sua semelhança: Adão. Foi, também, onde seu filho Caim matou por inveja seu irmão Abel. O local também foi palco de uma das mais importantes passagens bíblicas que relata a lealdade do patriarca Abraão à Deus, quando levou seu filho Isaac para sacrificá-lo em louvor ao Senhor.
Para os muçulmanos, a Mesquita de Omar, construída sob o espaço outrora ocupado pelo Grande Templo, representa o terceiro mais sagrado local depois de Meca e Medina . Conta a tradição muçulmana que o profeta Maomé teria subido deste local para os céus.
Para a fé cristã, a Igreja do Santo Sepulcro marca o local onde Jesus foi crucificado e ressuscitou.
Na população atual da cidade encontramos uma acentuada predominância de judeus, que totalizam 450 mil pessoas, seguidos dos muçulmanos com 185 mil e apenas 14 mil cristãos. Ao longo de três milênios, os judeus foram o único povo a considerar esta cidade como sua capital política e espiritual. Mesmo durante os 2000 anos de exílio judaico, sempre existiram grupos de seguidores das leis mosaicas morando em Jerusalém.
Para comprovar textualmente a importância de Jerusalém para os judeus, comparada com as co-irmãs monoteístas, basta contar as 657 vezes em que é citada no Velho Testamento, 154 vezes no Novo Testamento e sem menção no Corão.
Independentemente à notória prevalência judaica nas raízes desta sagrada cidade, cabe às três religiões o mesmo direito de livre acesso e de auto-administraç&atild e;o de seus locais sagrados, seguindo rigorosamente os ditames, de suas crenças.
É para garantir este estado de liberdade de acesso e segurança total que o governo de Israel insiste em manter a soberania política sobre a totalidade da região. Vale lembrar que até Julho de l967, quando a Cidade Velha foi liberada do domínio Jordaniano, durante a Guerra dos Seis Dias, os locais sagrados para os judeus como o Muro das Lamentações, eram mantidos em péssimas condições de manutenção e proibido o acesso de israelenses à estes locais. Até sanitários existiam defronte às ruínas do Grande Templo de Salomão.
Um episódio histórico serve para ilustrar, com clareza, a filosofia dos governantes de Isra el com relação às outras religiões da região . Durante os ferozes combates na Velha Jerusalém, em l967, o comandante-em-chefe das tropas israelenses General Moshe Dayan, considerado o maior herói militar do Estado de Israel, ao chegar ao Muro das Lamentações com suas tropas, avistou uma bandeira com a estrela de David tremulando no topo da Mesquita de Omar. Imediatamente chamou seu ajudante de ordens e ordenou a retirada sumária da bandeira de Israel, alegando tratar-se de um desrespeito aos muçulmanos. Esta vem sendo a postura da unanimidade dos governantes israelenses que lhe sucederam nestes 33 anos que se passaram. Uma predominância do respeito a todas as religiões.
As recentes conversações em Camp David foram suspensas em função de um intransponível desacordo com referência ao status de Jerusalém. Segundo às últimas declarações do Presidente Clinton, a intransigência do líder palestino Yasser Arafat teria levado as negociações para o impasse. O presidente americano até formulou ameaças caso não sejam revertidas as inaceitáveis exigências palestinas.
Clinton e Arafat estão há mais de 7 anos, desde os acordos de Oslo, negociando a paz entre israelenses e palestinos. A questão de Jerusalém, devido a sua alta carga de emotividade , foi sendo “empurrada para baixo do tapete” durante todos estes anos . Agora, o tempo decorreu e Arafat ameaça decla rar, unilateralmente, o Estado Palestino em 13 de setembro, atitude que poderá se converter num verdadeiro barril de pólvora numa região tão explosiva como o Oriente Médio. Se existem culpados por esta situação certamente devemos excluir o nome do premier israelense Yehud Barak que, eleito há apenas um ano, já cumpriu com coragem todos os compromisso que assumiu em sua plataforma de governo com referencia aos árabes, inclusive retirando as tropas israelenses do sul do Líbano, além de ter entregue à administração palestina, expressiva parcela dos territórios ocupados por Israel na margem ocidental do Rio Jordão.
Todos os locais sagrados estão situados na Cidade Velha de Jerusalém que, atualmente ,representa menos de 1% da área total da cidade . A proposta de dividir ou internacionalizar a cidade é, portanto, absolutamente desnecessária e inaceitável para Israel que ali mantêm sua capital há 52 anos, e que vem garantindo o livre acesso e a ordem interna.
A importância desta cidade para o povo judeu já era cantada nos Salmos que dizem:
“Se eu te esquecer, Jerusalém, que minha mão direita esqueça sua perícia”.
Indiscutivelmente a Cidade Velha de Jerusalém, pela sua história de fé e devoção - conta hoje com mais de 2 bilhões de seguidores em todo mundo - pertence a todos os povos amantes da paz e deve permanecer eternamente sob a custódia dos que sabem respeitá-la: os descendentes da religião do Rei David.

Osias Wurman – é jornalista.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ordem (?), Corrupcao e Progresso (?): novo lema da bandeira do Brasil

Quando é que o povo, a sociedade brasileira, os cidadãos comuns vão aprender que, quanto mais dinheiro circular pelo Estado, e quanto mais dinheiro for distribuido de forma centralizada, maiores serão as oportunidades para que alguns espertos tenham soluções criativas para o "emprego" desse dinheiro.
O gosto atávido do brasileiro pelo Estado ainda vai deixá-lo com menos da metade da renda auferida em atividades lícitas...
Paulo Roberto de Almeida

Operação Parceria
ONG com sede no Paraná desviou pelo menos R$ 300 milhões de verbas federais em cinco estados
O Globo, 11/05/2010 às 12h39m

SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) prendeu 11 pessoas em cinco estados, acusadas de desviar recursos de programas sociais implementados com verbas federais. Segundo a Polícia Federal, o grupo desviou R$ 300 milhões de reais dos cofres públicos nos últimos 5 anos. Os recursos eram obtidos por meio de uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), sediada em Curitiba, no Paraná, denominada Centro Integrado de Apoio Profissional (Ciap). O Ciap fazia parceria com Prefeituras para implementar programas sociais, principalmente na área de educação e saúde, e faturou mais de R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Pelo menos 30% deste dinheiro teria sido desviado para pessoas ou empresas do grupo que orbitam em torno de projetos feitos em parceria com o setor público.

Entre os presos, cinco foram detidos em Londrina. Em Curitiba foi detido Dinocarme de Oliveira, presidente do Ciap. Mais de 200 agentes públicos foram mobilizados na operação.

Somente na cidade de Londrina, no Paraná, o Ciap teria recebido R$ 34 milhões. Segundo a Controladoria Geral da União, que investigou o esquema junto com o Ministério Público Federal, a Receita Federal e a PF, mais de R$ 10 milhões em despesas não foram comprovados. Além do Paraná, o esquema tinha ramificações nos estados de São Paulo, Goiás, Maranhão e Pará.

De acordo com as investigações, o Ciap movimentava por ano cerca de R$ 130 milhões e simulava a aplicação integral em projetos promovendo contratações de empregados e compras de bens e serviços. Porém, 30% da verba era transferida para uma conta da entidade, a título de despesa administrativa. Os saques eram de alto valor, feitos em dinheiro, sem destinação especificada. As autoridades descobriram ainda que muitos dos que era pagos como fornecedores eram, na verdade, empresas que pertenciam a parentes dos responsáveis pela entidade ou pessoas de sua confiança.

Além do desvio de recursos, foi descoberto um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens, além de crimes tributários e compras suspeitas de títulos da dívida pública "podres" e de imóveis rurais supostamente inexistentes no estado do Pará. Estes imóveis eram usados como garantia em dívidas públicas.

Para a PF, há indícios de que o esquema era estruturado com hierarquia. O primeiro passo era identificar os recursos públicos disponíveis. Logo depois, o Ciap firmava acordo com prefeituras e lobistas passavam a atuar para garantir o repasse do dinheiro. Em geral, os contratos e convênios eram superfaturados. Os saques eram feitos em dinheiro e em grandes quantias, além de movimentações feitas por pessoas e empresas ligadas ao grupo. A contabilidade do Ciap era manipulada para a prestação de contas, dificultando o rastreamento do dinheiro.

No total, a PF tinha 14 mandados de prisão a serem cumpridos na operação desta terça. Outros 40 mandados de busca e apreensão foram incluídos na operação desta terça-feira. A operação foi batizada de "parceria" em referência ao instrumento jurídico firmado com órgãos públicos.

A figura da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) foi instituída pela Lei 9790, de 1999. O OSCIP é um certificado emitido pelo poder público federal em favor de entidades do terceiro setor,constituídas por iniciativa privada, sem fins lucrativos, que comprovem o cumprimento de certos requisitos estabelecidos na referida lei federal. Em contrapartida, podem celebrar com o poder público os chamados termos de parceria.

A ideia é que a atuação destas entidades de terceiro setor garantam eficiência e universalização de serviços públicos nas áreas de saúde, educação, cultura, profissionalização, assistência social, alem da difusão da consciência de proteção ao meio ambiente e do patrimônio histórico e artístico etc.

Para a PF, os envolvidos em desvios de dinheiro por meio do Ciap viram na lei uma forma de se apropriar facilmente de verbas públicas e desviá-las.

Da minha serie: A Academia vai para o brejo...

Recebo um anuncio sobre uma "conferência internacional" (enfim, Bahia, SP, RS e Alemanha), de um grupo de estudo das religiões, em uma universidade católica de prestígio (não revelo o local para não constranger os organizadores ou participantes; quem quiser achar, vai achar facilmente).
Dentre os vários temas e mesas altamente relevantes para o estudo das religiões, num mundo tão globalizado e cruel, encontro dois que eu definiria como exemplares:

- Conferencia: ‘Grupos e movimentos cristãos contra a globalização capitalista Autoritária’, Fulano de Tal – (Alemanha)

14h30min – Debate e interação (PRA: a interação é fundamental, já que o tema é espinhoso)

16h – Conferencia: ‘As chances da religião libertadora – teologia da libertação e as utopias político-religiosas dos excluídos’ - Sicrano - Argentina

Juro que eu torço para a universidade ir para o brejo rapidamente. Quem sabe, algo melhor pode resultar daí?
Bem, pelo menos, a partir de agora, quando eu me referir à "globalização capitalista" já sei que devo acrescentar: "autoritária".
Sempre aprendendo algo novo...

Divida Bruta da Uniao - Ricardo Bergamini

O professor Ricardo Bergamini é sempre didático em suas exposições sobre os dados econômicos brasileiros. Tudo é muito evidente, pois que ele apenas lida com números, mas tudo fica mais claro depois que ele explica. Trata-se de uma síntese efetuada em Fevereiro de 2010, mas que ainda conserva atualidade, ou seja, se houve mudança, desde então, foi para pior...
Paulo Roberto de Almeida

Para melhor entendimento da matéria vamos analisar a dívida bruta da União:
Ricardo Bergamini
Fevereiro de 2010

1 _ Em 2002 a dívida externa bruta da União era de US$ 127,8 bilhões (25,32% do PIB), em 2009 era de US$ 287,9 bilhões (18,40% do PIB). Aumento nominal de 125,27% e queda real em relação ao PIB de 27,33 %.

2 – Em 2002 a dívida interna bruta da União (em poder do mercado e do Banco Central) era de R$ 841,0 bilhões (56,91% do PIB), em 2009 era de R$ 2.037,6 bilhões (65,20% do PIB). Aumento nominal de 142,28% do PIB e aumento real em relação ao PIB de 14,57%.

3 – Com base nos itens acima podemos concluir que a dívida bruta total da União (Interna e externa) era de 82,23% do PIB em 2002, aumentando para 83,60% do PIB em 2009. Aumento real em relação ao PIB de 1,67%.

4 – Em 2002 as reservas eram de US$ 37,8 bilhões (7,53% do PIB), em 2009 de US$ 238,5 bilhões (15,24% do PIB). Aumento nominal de 530,95% e aumento real em relação ao PIB de 102,39%. O volume das reservas fez com que o aumento real da dívida bruta de 1,67% do PIB se transformasse em redução real de 8,49% do PIB na dívida líquida.

Em vista do acima exposto o Brasil depende das reservas para aparentar ser uma nação com os fundamentos econômicos sólidos, para tanto pagou, no ano de 2009, juros reais médios em torno de 12,57% ao ano, enquanto todas as moedas do planeta pagaram juros reais negativos. Cabe lembrar que as nossas reservas (US$ 238,5 bilhões) foram remuneradas, no ano de 2009, com juros reais negativos de 4% ao ano nos Estados Unidos (Juros zero e inflação americana de 4 % ao ano).

Investimentos Externos Líquidos (Diretos e Indiretos)

Série histórica dos investimentos externos líquidos (diretos e indiretos) com base na média/ano foi como segue: 85/89 (negativo de US$ 6,3 bilhões = -2,14% do PIB); 90/94 (positivo de US$ 7,0 bilhões = 1,57% do PIB); 95/02 (positivo de US$ 24,3 bilhões = 3,46% do PIB). De janeiro de 2003 até dezembro de 2009 (positivo de US$ 28,3 bilhões = 2,59% do PIB).

O mercado financeiro internacional, por gratidão, deveria colocar um busto do Presidente Lula em cada agência bancária existente no planeta, e não apenas conceder o simbólico prêmio de Estadista Mundial inventado às pressas.

A dificil continuidade futura da politica externa - Marcelo de Paiva Abreu

Uma coisa é o Brasil, outra é Lula
Marcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.5.2010

Têm sido frequentes as tentativas de rebater as críticas à política externa adotada desde 2003, com base na constatação de que publicações estrangeiras afirmam que "nunca o Brasil teve tanto prestígio". Sem entrar no mérito de tais avaliações e, mesmo acreditando que protagonismo e voluntarismo não são alicerces ideais de uma política externa eficaz, é importante desfazer confusões que impedem uma avaliação menos superficial da política externa do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Avaliação que ajude a alicerçar análise realista do que poderá ser a política externa pós-Lula.

É indubitável que a percepção que a opinião pública mundial tem do Brasil, hoje, configura avanço em relação ao passado. O Brasil, afinal, pode ser levado a sério depois da superação da inflação crônica que solapou sua credibilidade internacional por longo tempo. Reformas seletivas permitiram minorar distorções setoriais ou sociais mais gritantes. Por outro lado, houve o impacto favorável da imagem do presidente Lula na opinião pública internacional, que culminou no "this is the guy" de Barack Obama.

A política externa brasileira tem sido marcada pela simbiose do protagonismo institucional do Itamaraty com o protagonismo pessoal do presidente da República. Com base na diplomacia presidencial, vicejou a concentração de esforços em assegurar um lugar no novo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Multiplicaram-se as iniciativas de cunho político. Para o bem ou para o mal, a política externa foi acomodada à exploração da boa marca Lula.

A avaliação substantiva da política externa nos últimos oito anos sugere que os resultados estão longe de memoráveis. Do ponto de vista da imagem de Lula, contudo, o resultado é favorável.
Lula é hoje um líder mundial indubitavelmente influente. Mas isso não significa que a política externa brasileira tenha tido sucesso. Uma coisa é o Brasil, outra é Lula.

A sucessão de Lula se encarregará de sublinhar a diferença entre a avaliação da política externa e da política de exposição da imagem internacional do presidente. Será sustentável a atual política externa a partir do início de 2010? De fato, nem José Serra nem Dilma Rousseff têm perfis que se assemelhem de longe ao de Lula. No atual governo, a política externa caracterizou-se por privilegiar a forma em detrimento da substância. Sem poder contar com um substituto de Lula no plano midiático, a política externa do novo governo teria de ser rebalanceada para dar ênfase à substância. Menos protagonismo presidencial, menos fogos de artifício, mais arroz com feijão.

Ambos os candidatos podem aproveitar a limitada herança substantiva a ser recebida do atual governo sem ter grandes problemas. Talvez a melhor parte dessa herança seja o que se acumulou em reputação desde o início dos panels sobre algodão e açúcar em 2002, na Organização Mundial do Comércio (OMC). E, também, nas negociações da Rodada Doha. Embora a coalizão do G-20 da OMC se tenha trincado, há uma reputação que poderá ser útil em negociações futuras. Muito do que se fez quanto a negociações políticas também é pouco controvertido, embora os resultados sejam etéreos: integração na América do Sul, cooperação política com os demais países que compõem o Bric e relações com Índia e África do Sul no âmbito do Ibas.

As questões espinhosas a enfrentar no terreno político têm a ver com iniciativas que o atual governo considera como sinais de "altivez" e seus críticos consideram demonstrações de imprudência. Por razões distintas, quem suceder a Lula provavelmente tenderá a moderar tais iniciativas, em particular quanto ao Irã e seu programa nuclear e à sintonia automática com a hostilidade do neobolivarianismo aos Estados Unidos. Seja por discordância, seja por insegurança, mesmo que temporária.

Resta saber se algum dos dois candidatos terá condições de alcançar resultados substanciais na política externa, que sejam capazes de compensar o arrefecimento do ativismo "protagônico". Há pouco espaço para otimismo. Os candidatos têm indicado que haveria reticência, se não hostilidade, a negociações bilaterais, regionais ou multilaterais no terreno econômico.
De um lado, protecionismo pertinaz e alinhamento estreito com interesses industriais. De outro, além de protecionismo, crença quase religiosa no papel condutor do Estado.
O risco é que isso resulte em política externa sem fogos de artifício, mas, também, sem grande substância.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio.

Going nuke? - Der Spiegel

O autor do artigo do Der Spiegel exagera, e o urânio enriquecido para os reatores dos submarinos nucleares da Marinha não permitiriam fabricar armas atômicas, mas que tem muita gente desejosa de avançar por mares nunca dantes navegados, isso tem, e não apenas entre os militares...

O Brasil está desenvolvendo a bomba?
De Spiegel, 3 maio 2010

Em outubro de 2009, a renomada revista americana “Foreign Policy” publicou um artigo intitulado “As futuras potências nucleares com as quais você deve se preocupar” (The Future Nuclear Powers You Should Be Worried About). Segundo o autor, Cazaquistão, Bangladesh, Mianmar, Emirados Árabes e Venezuela são os próximos candidatos — depois do Irã — a membros do clube das potências nucleares. Apesar de suas interessantes evidências, o autor deixou de mencionar a potência nuclear virtualmente mais importante: o Brasil.

Hoje em dia, o Brasil é visto com alta estima pelo resto do mundo. Seu presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, se tornou um astro no cenário internacional. “Esse é o cara”, disse certa feita o presidente dos EUA, Barack Obama, em um elogio ao parceiro. Lula, como se sabe, pode até mesmo receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, com todas as honras, numa demonstração de apoio a seu programa nuclear, em razão do qual o Irã enfrenta o ostracismo no resto do mundo.

A autoconfiança de Lula é um indicativo da reivindicação do Brasil de assumir o status de grande potência — inclusive em termos militares. A reivindicação militar está refletida na Estratégia Nacional de Defesa, que foi apresentada no fim de 2008. Além do domínio do ciclo completo do combustível nuclear — que já foi conquistado —, o documento trata da construção de submarinos nucleares.

Perto de construir a bomba
Pode soar inofensivo, mas não é, porque o termo “submarino nuclear” poderia ser, de fato, uma fachada para um programa de armas nucleares. O Brasil já teve três programas nucleares secretos entre 1975 e 1990, cada uma das Forças Armadas buscando seu próprio caminho. A atuação da Marinha provou ser a mais bem-sucedida: usa centrífugas importadas de alta performance para produzir urânio altamente enriquecido, a partir de hexafluoreto de urânio, para poder operar pequenos reatores para submarinos. No momento certo, a capacidade nuclear recém-adquirida do país seria revelada ao mundo com uma “explosão nuclear pacífica”, seguindo o exemplo já dado pela Índia. Um poço de 300 metros para o teste já tinha sido perfurado. Segundo declarações do ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear, em 1990, os militares brasileiros estavam prestes a construir uma bomba.

Mas isso nunca aconteceu. Durante a democratização do Brasil, os programas nucleares secretos foram efetivamente abandonados. Segundo a Constituição de 1988, as atividades nucleares ficaram restritas a “usos pacíficos”. O Brasil ratificou em 1994 o Tratado de Proibição de Armas Nucleares na América Latina e Caribe e, em 1998, o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e o Tratado Abrangente de Proibição de Testes Nucleares. O flerte do Brasil com a bomba aparentemente havia terminado.

Sob Lula, entretanto, este flerte volta a predominar, e os brasileiros estão se tornando cada vez menos hesitantes em brincar com sua com sua própria opção nuclear. Poucos meses depois da posse de Lula, em 2003, o país retomou oficialmente o desenvolvimento de um submarino nuclear.

Já durante a campanha eleitoral, Lula criticou o Tratado de Não-Proliferação, chamando-o de injusto e obsoleto. Apesar de o Brasil não ter denunciado o tratado, tornou evidentemente mais difíceis as condições de trabalho dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A situação se tornou tensa em abril de 2004, quando foi negado à AIEA acesso ilimitado a uma instalação de enriquecimento recém-construída em Resende, perto do Rio de Janeiro. O governo brasileiro também deixou claro que não pretendia assinar o protocolo adicional do Tratado de Não-Proliferação, o que permitira a inspeção de instalações sem aviso prévio.

Em meados de janeiro de 2009 — durante uma reunião do Grupo dos Fornecedores Nucleares, seis países que trabalham pela não proliferação por intermédio do controle da exportação de materiais nucleares —, os motivos dessa política restritiva ficaram claros: o representante do Brasil fez de tudo para combater as exigências que tornariam transparente o programa do submarino nuclear.

Aberto à negociação
Por que todo esse sigilo? O que há para esconder no desenvolvimento de pequenos reatores para mover submarinos, sistemas que vários países possuem há décadas? A resposta é tão simples quanto perturbadora. Também o Brasil, provavelmente, está desenvolvendo algo mais do que declarou: armas nucleares. O vice-presidente José Alencar apresentou uma razão quando defendeu abertamente a obtenção de armas nucleares pelo Brasil, em setembro de 2009. Para um país com uma fronteira de 15 mil quilômetros e ricas reservas de petróleo em alto-mar, disse Alencar, essas armas não seriam apenas uma ferramenta importante de “dissuasão”, mas também dariam ao Brasil os meios para aumentar sua importância no cenário internacional. Quando se lembrou que o Brasil tinha assinado o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, Alencar reagiu calmamente, afirmando que era um assunto aberto à negociação.

Como exatamente o Brasil poderia produzir armas nucleares? A resposta, infelizmente, é que isso seria relativamente fácil. Uma precondição para a fabricação legal de pequenos reatores para os motores de submarino é que o material nuclear regulado pela AIEA seja aprovado. Como o Brasil define suas instalações para a construção do submarino nuclear como áreas militares restritas, os inspetores da AIEA não têm acesso a elas. Em outras palavras: assim que o urânio enriquecido fornecido legalmente passa pelo portão da instalação onde os submarinos estão sendo construídos, ele pode ser utilizado para qualquer propósito, incluindo a produção de armas nucleares. E como quase todos os submarinos nucleares funcionam com urânio altamente enriquecido, o mesmo utilizado nas armas, o Brasil pode facilmente justificar a produção de combustível nuclear altamente enriquecido.

Mesmo sem nenhuma prova definitiva das atividades nucleares do Brasil (ainda), eventos passados sugerem que é altamente provável que o Brasil esteja desenvolvendo armas nucleares. Nem a proibição constitucional nem o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares impedirão que isso aconteça. Bastaria a Lula dizer que o EUA não têm o direito do monopólio das armas nucleares nas Américas para obter uma autorização do Congresso. Se isso acontecesse, a América Latina não mais seria uma zona livre de armas nucleares — e a antevisão de Obama de um mundo livre de armas nucleares estaria acabada.