Ninguém sabe, ao certo, qual será a política econômica da "prospective winner of the Brazilian elections", como devem estar escrevendo agora mesmo os correspondentes econômicos dos principais jornais internacionais.
Na dúvida, os indicadores tendem a se deteriorar, como já ocorreu nas eleições de 2002, mas agora bem menos, pois a candidata oferece, na verdade, "continuidade" (claro, "aperfeiçoando o que deve ser aperfeiçoado").
Sem saber do que, e de quem, será feita essa política econômica, só podemos, pelo momento, especular, como faz o editor do Ordem Livre, site com o qual também colaboro, a convite.
Existem boas e más especulações, como gostaria de dizer alguns. Acredito que esta aqui é da boa. Não que agrade os interessados, mas se trata de um exercício baseado inteiramente em declarações dos mais próximos do pensamento político (se existe algum) da candidata oficial.
A conferir.
Paulo Roberto de Almeida
Apostando na mediocridade
Diogo CostaTags
Ordem Livre, 20 de Agosto de 2010
Ninguém sabia ao certo qual seria a política econômica do governo Lula antes de sua eleição. Agora todos acreditam saber exatamente qual será a política econômica da candidata Dilma Roussef caso eleita.
Assim como o pessimismo antes de Lula, o otimismo em relação a Dilma também pode ser exagerado. Por um lado, é possível que ela siga uma linha mais próxima de Palocci ou até mesmo (para a nossa sorte) de Henrique Meirelles. Por outro, há a possibilidade de Dilma se render à base do seu partido, que reivindica o socialismo petista.
Em geral, faltam perguntas da mídia por maiores detalhes da política econômica de Dilma, e falta articulação da candidata para responder questões mais específicas. Ontem, Alessandro Teixeira, coordenador do programa de governo de Dilma, tentou sintetizar a visão econômica de um suposto governo Dilma em entrevista para o Estadão online.
Se Teixeira é um representante fiel do pensamento de sua equipe, a candidata irá insistir na mediocridade.
Teixeira frisou repetidamente sua visão de “estado fomentador, um estado que ajuda a dar dinâmica a economia.” Eu defendo que nenhum jornalista permita a políticos e economistas usar analogias como “fomentar” “movimentar”, ”dinamizar” impunemente. Verbos como esses escondem a ação verdadeira que esses sujeitos têm em mente. “Estado fomentador” para Teixeira é estado gastador. Só que com uma diferença: “nós não chamamos isso de gasto”, diz Teixeira, “é investimento”. Chamar despesas de investimento: não é esse o truque de qualquer vendedor de seguros?
Fomentar a economia por meio de gastos, já disse Russel Roberts, é similar a tentar encher a parte rasa de uma piscina com a água retirada da parte funda da mesma piscina. Os baldes entornados podem até fazer barulho, mas o nível da água permanece o mesmo.
Todo recurso que o estado diz injetar na economia precisa sair do bolso dos brasileiros. Diz Teixeira que “PAC 1 e PAC 2 colocaram na economia mais de 700 bilhões de reais.” Bem, Sr. Teixeira, onde estavam esses 700 bilhões que o governo colocou na economia? Flutuando no éter, numa altura que apenas a mão estatal consegue alcançar para trazer ao plano da economia real? Claro que não. Esses bilhões já estavam na economia. O que seu governo fez foi desviar os recursos que atenderiam aos objetivos da sociedade civil para que eles passassem a atender aos objetivos estatais.
Mas não esperem que essa ilusão contábil mude com Dilma. De acordo com Teixeira, “do ponto de vista de condução macroeconômica, política macroeconômica, com todos os dados positivos que nós temos, e nós não temos um dado negativo — nenhum dado negativo — nós não podemos mudar a condução porque o resultado tem sido colocado.”
Então a equipe de Dilma não tem nenhum dado negativo da política macroeconômica? Permita-me sanar a ignorância do time do Sr. Teixeira. De 2003 a 2008, a média do crescimento econômico brasileiro foi de 4.1%. A média da América Latina e Caribe durante o mesmo período foi de 4.8%. Ou seja, durante o período do governo Lula a média de crescimento brasileiro ficou abaixo da média de uma região que não deve ser modelo para nada. Se formos analisar o desempenho dos outros membros do BRIC, a comparação fica pior. China, India e Rússia cresceram em uma média de 8.7% durante o período — mais que o dobro do crescimento brasileiro. Dá até pra desconfiar, como fez Martin Wolf no Financial Times, se o Brasil merece mesmo fazer parte do grupo.
Se o Brasil quiser dar motivos para o otimismo, é preciso redefinir o papel do estado na economia. Os países que mais crescem são aqueles em que a intervenção na economia é limitadíssima, e a proteção a propriedade bem segura. Infelizmente, Teixeira não quer discutir o papel do estado: “Não existe nenhum estado hoje que vai advogar o seguinte: estado mínimo e não investimento na área social porque isso significa gasto. Essa visão está ultrapassada hoje em qualquer país.”
Uma das formas mais comuns de refutar os liberais é situá-los nas pegadas da história. No diálogo “A politician in sight of haven” Auberon Herbert já coloca na boca do adversário estatista: “Todo mundo hoje imagina que o laissez-faire está do outro lado do horizonte atrás de nós”.
A verdade é que ninguém consegue apontar onde está essa época libertária, de estado mínimo, de laissez-faire. Em todas as épocas, os defensores do estado mínimo estão em minoria. Mas a verdade é que, onde quer que as ideias liberais sejam aplicadas, seja o imposto único na Rússia, ou a abolição das tarifas de exportação na Estônia, o resultado é maior prosperidade para todos. Será que algum dia os políticos brasileiros aprenderão a lição?
Diogo G. R. Costa é editor de OrdemLivre.org
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
A poderosa agricultura brasileira - The Economist
Brazilian agriculture: The miracle of the cerrado

The Economist, Aug 26th 2010
Brazil has revolutionised its own farms. Can it do the same for others?

CREMAQ, PIAUÍ
IN A remote corner of Bahia state, in north-eastern Brazil, a vast new farm is springing out of the dry bush. Thirty years ago eucalyptus and pine were planted in this part of the cerrado (Brazil’s savannah). Native shrubs later reclaimed some of it. Now every field tells the story of a transformation. Some have been cut to a litter of tree stumps and scrub; on others, charcoal-makers have moved in to reduce the rootballs to fuel; next, other fields have been levelled and prepared with lime and fertiliser; and some have already been turned into white oceans of cotton. Next season this farm at Jatobá will plant and harvest cotton, soyabeans and maize on 24,000 hectares, 200 times the size of an average farm in Iowa. It will transform a poverty-stricken part of Brazil’s backlands.
Three hundred miles north, in the state of Piauí, the transformation is already complete. Three years ago the Cremaq farm was a failed experiment in growing cashews. Its barns were falling down and the scrub was reasserting its grip. Now the farm—which, like Jatobá, is owned by BrasilAgro, a company that buys and modernises neglected fields—uses radio transmitters to keep track of the weather; runs SAP software; employs 300 people under a gaúcho from southern Brazil; has 200km (124 miles) of new roads criss-crossing the fields; and, at harvest time, resounds to the thunder of lorries which, day and night, carry maize and soya to distant ports. That all this is happening in Piauí—the Timbuktu of Brazil, a remote, somewhat lawless area where the nearest health clinic is half a day’s journey away and most people live off state welfare payments—is nothing short of miraculous.

These two farms on the frontier of Brazilian farming are microcosms of a national change with global implications. In less than 30 years Brazil has turned itself from a food importer into one of the world’s great breadbaskets (see chart 1). It is the first country to have caught up with the traditional “big five” grain exporters (America, Canada, Australia, Argentina and the European Union). It is also the first tropical food-giant; the big five are all temperate producers.
The increase in Brazil’s farm production has been stunning. Between 1996 and 2006 the total value of the country’s crops rose from 23 billion reais ($23 billion) to 108 billion reais, or 365%. Brazil increased its beef exports tenfold in a decade, overtaking Australia as the world’s largest exporter. It has the world’s largest cattle herd after India’s. It is also the world’s largest exporter of poultry, sugar cane and ethanol (see chart 2). Since 1990 its soyabean output has risen from barely 15m tonnes to over 60m. Brazil accounts for about a third of world soyabean exports, second only to America. In 1994 Brazil’s soyabean exports were one-seventh of America’s; now they are six-sevenths. Moreover, Brazil supplies a quarter of the world’s soyabean trade on just 6% of the country’s arable land.

No less astonishingly, Brazil has done all this without much government subsidy. According to the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), state support accounted for 5.7% of total farm income in Brazil during 2005-07. That compares with 12% in America, 26% for the OECD average and 29% in the European Union. And Brazil has done it without deforesting the Amazon (though that has happened for other reasons). The great expansion of farmland has taken place 1,000km from the jungle.
How did the country manage this astonishing transformation? The answer to that matters not only to Brazil but also to the rest of the world.
An attractive Brazilian model
Between now and 2050 the world’s population will rise from 7 billion to 9 billion. Its income is likely to rise by more than that and the total urban population will roughly double, changing diets as well as overall demand because city dwellers tend to eat more meat. The UN’s Food and Agriculture Organisation (FAO) reckons grain output will have to rise by around half but meat output will have to double by 2050. This will be hard to achieve because, in the past decade, the growth in agricultural yields has stalled and water has become a greater constraint. By one estimate, only 40% of the increase in world grain output now comes from rises in yields and 60% comes from taking more land under cultivation. In the 1960s just a quarter came from more land and three-quarters came from higher yields.
So if you were asked to describe the sort of food producer that will matter most in the next 40 years, you would probably say something like this: one that has boosted output a lot and looks capable of continuing to do so; one with land and water in reserve; one able to sustain a large cattle herd (it does not necessarily have to be efficient, but capable of improvement); one that is productive without massive state subsidies; and maybe one with lots of savannah, since the biggest single agricultural failure in the world during past decades has been tropical Africa, and anything that might help Africans grow more food would be especially valuable. In other words, you would describe Brazil.
Brazil has more spare farmland than any other country (see chart 3). The FAO puts its total potential arable land at over 400m hectares; only 50m is being used. Brazilian official figures put the available land somewhat lower, at 300m hectares. Either way, it is a vast amount. On the FAO’s figures, Brazil has as much spare farmland as the next two countries together (Russia and America). It is often accused of levelling the rainforest to create its farms, but hardly any of this new land lies in Amazonia; most is cerrado.

Brazil also has more water. According to the UN’s World Water Assessment Report of 2009, Brazil has more than 8,000 billion cubic kilometres of renewable water each year, easily more than any other country. Brazil alone (population: 190m) has as much renewable water as the whole of Asia (population: 4 billion). And again, this is not mainly because of the Amazon. Piauí is one of the country’s driest areas but still gets a third more water than America’s corn belt.
Of course, having spare water and spare land is not much good if they are in different places (a problem in much of Africa). But according to BrasilAgro, Brazil has almost as much farmland with more than 975 millimetres of rain each year as the whole of Africa and more than a quarter of all such land in the world.
Since 1996 Brazilian farmers have increased the amount of land under cultivation by a third, mostly in the cerrado. That is quite different from other big farm producers, whose amount of land under the plough has either been flat or (in Europe) falling. And it has increased production by ten times that amount. But the availability of farmland is in fact only a secondary reason for the extraordinary growth in Brazilian agriculture. If you want the primary reason in three words, they are Embrapa, Embrapa, Embrapa.
More food without deforestation
Embrapa is short for Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, or the Brazilian Agricultural Research Corporation. It is a public company set up in 1973, in an unusual fit of farsightedness by the country’s then ruling generals. At the time the quadrupling of oil prices was making Brazil’s high levels of agricultural subsidy unaffordable. Mauro Lopes, who supervised the subsidy regime, says he urged the government to give $20 to Embrapa for every $50 it saved by cutting subsidies. It didn’t, but Embrapa did receive enough money to turn itself into the world’s leading tropical-research institution. It does everything from breeding new seeds and cattle, to creating ultra-thin edible wrapping paper for foodstuffs that changes colour when the food goes off, to running a nanotechnology laboratory creating biodegradable ultra-strong fabrics and wound dressings. Its main achievement, however, has been to turn the cerrado green.
When Embrapa started, the cerrado was regarded as unfit for farming. Norman Borlaug, an American plant scientist often called the father of the Green Revolution, told the New York Times that “nobody thought these soils were ever going to be productive.” They seemed too acidic and too poor in nutrients. Embrapa did four things to change that.
First, it poured industrial quantities of lime (pulverised limestone or chalk) onto the soil to reduce levels of acidity. In the late 1990s, 14m-16m tonnes of lime were being spread on Brazilian fields each year, rising to 25m tonnes in 2003 and 2004. This amounts to roughly five tonnes of lime a hectare, sometimes more. At the 20,000-hectare Cremaq farm, 5,000 hulking 30-tonne lorries have disgorged their contents on the fields in the past three years. Embrapa scientists also bred varieties of rhizobium, a bacterium that helps fix nitrogen in legumes and which works especially well in the soil of the cerrado, reducing the need for fertilisers.
So although it is true Brazil has a lot of spare farmland, it did not just have it hanging around, waiting to be ploughed. Embrapa had to create the land, in a sense, or make it fit for farming. Today the cerrado accounts for 70% of Brazil’s farm output and has become the new Midwest. “We changed the paradigm,” says Silvio Crestana, a former head of Embrapa, proudly.
Second, Embrapa went to Africa and brought back a grass called brachiaria. Patient crossbreeding created a variety, called braquiarinha in Brazil, which produced 20-25 tonnes of grass feed per hectare, many times what the native cerrado grass produces and three times the yield in Africa. That meant parts of the cerrado could be turned into pasture, making possible the enormous expansion of Brazil’s beef herd. Thirty years ago it took Brazil four years to raise a bull for slaughter. Now the average time is 18-20 months.
That is not the end of the story. Embrapa has recently begun experiments with genetically modifying brachiaria to produce a larger-leafed variety called braquiarão which promises even bigger increases in forage. This alone will not transform the livestock sector, which remains rather inefficient. Around one-third of improvement to livestock production comes from better breeding of the animals; one-third comes from improved resistance to disease; and only one-third from better feed. But it will clearly help.
Third, and most important, Embrapa turned soyabeans into a tropical crop. Soyabeans are native to north-east Asia (Japan, the Korean peninsular and north-east China). They are a temperate-climate crop, sensitive to temperature changes and requiring four distinct seasons. All other big soyabean producers (notably America and Argentina) have temperate climates. Brazil itself still grows soya in its temperate southern states. But by old-fashioned crossbreeding, Embrapa worked out how to make it also grow in a tropical climate, on the rolling plains of Mato Grosso state and in Goiás on the baking cerrado. More recently, Brazil has also been importing genetically modified soya seeds and is now the world’s second-largest user of GM after the United States. This year Embrapa won approval for its first GM seed.
Embrapa also created varieties of soya that are more tolerant than usual of acid soils (even after the vast application of lime, the cerrado is still somewhat acidic). And it speeded up the plants’ growing period, cutting between eight and 12 weeks off the usual life cycle. These “short cycle” plants have made it possible to grow two crops a year, revolutionising the operation of farms. Farmers used to plant their main crop in September and reap in May or June. Now they can harvest in February instead, leaving enough time for a full second crop before the September planting. This means the “second” crop (once small) has become as large as the first, accounting for a lot of the increases in yields.
Such improvements are continuing. The Cremaq farm could hardly have existed until recently because soya would not grow on this hottest, most acidic of Brazilian backlands. The variety of soya now being planted there did not exist five years ago. Dr Crestana calls this “the genetic transformation of soya”.
Lastly, Embrapa has pioneered and encouraged new operational farm techniques. Brazilian farmers pioneered “no-till” agriculture, in which the soil is not ploughed nor the crop harvested at ground level. Rather, it is cut high on the stalk and the remains of the plant are left to rot into a mat of organic material. Next year’s crop is then planted directly into the mat, retaining more nutrients in the soil. In 1990 Brazilian farmers used no-till farming for 2.6% of their grains; today it is over 50%.
Embrapa’s latest trick is something called forest, agriculture and livestock integration: the fields are used alternately for crops and livestock but threads of trees are also planted in between the fields, where cattle can forage. This, it turns out, is the best means yet devised for rescuing degraded pasture lands. Having spent years increasing production and acreage, Embrapa is now turning to ways of increasing the intensity of land use and of rotating crops and livestock so as to feed more people without cutting down the forest.
Farmers everywhere gripe all the time and Brazilians, needless to say, are no exception. Their biggest complaint concerns transport. The fields of Mato Grosso are 2,000km from the main soyabean port at Paranaguá, which cannot take the largest, most modern ships. So Brazil transports a relatively low-value commodity using the most expensive means, lorries, which are then forced to wait for ages because the docks are clogged.
Partly for that reason, Brazil is not the cheapest place in the world to grow soyabeans (Argentina is, followed by the American Midwest). But it is the cheapest place to plant the next acre. Expanding production in Argentina or America takes you into drier marginal lands which are much more expensive to farm. Expanding in Brazil, in contrast, takes you onto lands pretty much like the ones you just left.
Big is beautiful
Like almost every large farming country, Brazil is divided between productive giant operations and inefficient hobby farms. According to Mauro and Ignez Lopes of the Fundacão Getulio Vargas, a university in Rio de Janeiro, half the country’s 5m farms earn less than 10,000 reais a year and produce just 7% of total farm output; 1.6m are large commercial operations which produce 76% of output. Not all family farms are a drain on the economy: much of the poultry production is concentrated among them and they mop up a lot of rural underemployment. But the large farms are vastly more productive.
From the point of view of the rest of the world, however, these faults in Brazilian agriculture do not matter much. The bigger question for them is: can the miracle of the cerrado be exported, especially to Africa, where the good intentions of outsiders have so often shrivelled and died?
There are several reasons to think it can. Brazilian land is like Africa’s: tropical and nutrient-poor. The big difference is that the cerrado gets a decent amount of rain and most of Africa’s savannah does not (the exception is the swathe of southern Africa between Angola and Mozambique).
Brazil imported some of its raw material from other tropical countries in the first place. Brachiaria grass came from Africa. The zebu that formed the basis of Brazil’s nelore cattle herd came from India. In both cases Embrapa’s know-how improved them dramatically. Could they be taken back and improved again? Embrapa has started to do that, though it is early days and so far it is unclear whether the technology retransfer will work.
A third reason for hope is that Embrapa has expertise which others in Africa simply do not have. It has research stations for cassava and sorghum, which are African staples. It also has experience not just in the cerrado but in more arid regions (called the sertão), in jungles and in the vast wetlands on the border with Paraguay and Bolivia. Africa also needs to make better use of similar lands. “Scientifically, it is not difficult to transfer the technology,” reckons Dr Crestana. And the technology transfer is happening at a time when African economies are starting to grow and massive Chinese aid is starting to improve the continent’s famously dire transport system.
Still, a word of caution is in order. Brazil’s agricultural miracle did not happen through a simple technological fix. No magic bullet accounts for it—not even the tropical soyabean, which comes closest. Rather, Embrapa’s was a “system approach”, as its scientists call it: all the interventions worked together. Improving the soil and the new tropical soyabeans were both needed for farming the cerrado; the two together also made possible the changes in farm techniques which have boosted yields further.
Systems are much harder to export than a simple fix. “We went to the US and brought back the whole package [of cutting-edge agriculture in the 1970s],” says Dr Crestana. “That didn’t work and it took us 30 years to create our own. Perhaps Africans will come to Brazil and take back the package from us. Africa is changing. Perhaps it won’t take them so long. We’ll see.” If we see anything like what happened in Brazil itself, feeding the world in 2050 will not look like the uphill struggle it appears to be now.

The Economist, Aug 26th 2010
Brazil has revolutionised its own farms. Can it do the same for others?

CREMAQ, PIAUÍ
IN A remote corner of Bahia state, in north-eastern Brazil, a vast new farm is springing out of the dry bush. Thirty years ago eucalyptus and pine were planted in this part of the cerrado (Brazil’s savannah). Native shrubs later reclaimed some of it. Now every field tells the story of a transformation. Some have been cut to a litter of tree stumps and scrub; on others, charcoal-makers have moved in to reduce the rootballs to fuel; next, other fields have been levelled and prepared with lime and fertiliser; and some have already been turned into white oceans of cotton. Next season this farm at Jatobá will plant and harvest cotton, soyabeans and maize on 24,000 hectares, 200 times the size of an average farm in Iowa. It will transform a poverty-stricken part of Brazil’s backlands.
Three hundred miles north, in the state of Piauí, the transformation is already complete. Three years ago the Cremaq farm was a failed experiment in growing cashews. Its barns were falling down and the scrub was reasserting its grip. Now the farm—which, like Jatobá, is owned by BrasilAgro, a company that buys and modernises neglected fields—uses radio transmitters to keep track of the weather; runs SAP software; employs 300 people under a gaúcho from southern Brazil; has 200km (124 miles) of new roads criss-crossing the fields; and, at harvest time, resounds to the thunder of lorries which, day and night, carry maize and soya to distant ports. That all this is happening in Piauí—the Timbuktu of Brazil, a remote, somewhat lawless area where the nearest health clinic is half a day’s journey away and most people live off state welfare payments—is nothing short of miraculous.

These two farms on the frontier of Brazilian farming are microcosms of a national change with global implications. In less than 30 years Brazil has turned itself from a food importer into one of the world’s great breadbaskets (see chart 1). It is the first country to have caught up with the traditional “big five” grain exporters (America, Canada, Australia, Argentina and the European Union). It is also the first tropical food-giant; the big five are all temperate producers.
The increase in Brazil’s farm production has been stunning. Between 1996 and 2006 the total value of the country’s crops rose from 23 billion reais ($23 billion) to 108 billion reais, or 365%. Brazil increased its beef exports tenfold in a decade, overtaking Australia as the world’s largest exporter. It has the world’s largest cattle herd after India’s. It is also the world’s largest exporter of poultry, sugar cane and ethanol (see chart 2). Since 1990 its soyabean output has risen from barely 15m tonnes to over 60m. Brazil accounts for about a third of world soyabean exports, second only to America. In 1994 Brazil’s soyabean exports were one-seventh of America’s; now they are six-sevenths. Moreover, Brazil supplies a quarter of the world’s soyabean trade on just 6% of the country’s arable land.

No less astonishingly, Brazil has done all this without much government subsidy. According to the Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), state support accounted for 5.7% of total farm income in Brazil during 2005-07. That compares with 12% in America, 26% for the OECD average and 29% in the European Union. And Brazil has done it without deforesting the Amazon (though that has happened for other reasons). The great expansion of farmland has taken place 1,000km from the jungle.
How did the country manage this astonishing transformation? The answer to that matters not only to Brazil but also to the rest of the world.
An attractive Brazilian model
Between now and 2050 the world’s population will rise from 7 billion to 9 billion. Its income is likely to rise by more than that and the total urban population will roughly double, changing diets as well as overall demand because city dwellers tend to eat more meat. The UN’s Food and Agriculture Organisation (FAO) reckons grain output will have to rise by around half but meat output will have to double by 2050. This will be hard to achieve because, in the past decade, the growth in agricultural yields has stalled and water has become a greater constraint. By one estimate, only 40% of the increase in world grain output now comes from rises in yields and 60% comes from taking more land under cultivation. In the 1960s just a quarter came from more land and three-quarters came from higher yields.
So if you were asked to describe the sort of food producer that will matter most in the next 40 years, you would probably say something like this: one that has boosted output a lot and looks capable of continuing to do so; one with land and water in reserve; one able to sustain a large cattle herd (it does not necessarily have to be efficient, but capable of improvement); one that is productive without massive state subsidies; and maybe one with lots of savannah, since the biggest single agricultural failure in the world during past decades has been tropical Africa, and anything that might help Africans grow more food would be especially valuable. In other words, you would describe Brazil.
Brazil has more spare farmland than any other country (see chart 3). The FAO puts its total potential arable land at over 400m hectares; only 50m is being used. Brazilian official figures put the available land somewhat lower, at 300m hectares. Either way, it is a vast amount. On the FAO’s figures, Brazil has as much spare farmland as the next two countries together (Russia and America). It is often accused of levelling the rainforest to create its farms, but hardly any of this new land lies in Amazonia; most is cerrado.

Brazil also has more water. According to the UN’s World Water Assessment Report of 2009, Brazil has more than 8,000 billion cubic kilometres of renewable water each year, easily more than any other country. Brazil alone (population: 190m) has as much renewable water as the whole of Asia (population: 4 billion). And again, this is not mainly because of the Amazon. Piauí is one of the country’s driest areas but still gets a third more water than America’s corn belt.
Of course, having spare water and spare land is not much good if they are in different places (a problem in much of Africa). But according to BrasilAgro, Brazil has almost as much farmland with more than 975 millimetres of rain each year as the whole of Africa and more than a quarter of all such land in the world.
Since 1996 Brazilian farmers have increased the amount of land under cultivation by a third, mostly in the cerrado. That is quite different from other big farm producers, whose amount of land under the plough has either been flat or (in Europe) falling. And it has increased production by ten times that amount. But the availability of farmland is in fact only a secondary reason for the extraordinary growth in Brazilian agriculture. If you want the primary reason in three words, they are Embrapa, Embrapa, Embrapa.
More food without deforestation
Embrapa is short for Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, or the Brazilian Agricultural Research Corporation. It is a public company set up in 1973, in an unusual fit of farsightedness by the country’s then ruling generals. At the time the quadrupling of oil prices was making Brazil’s high levels of agricultural subsidy unaffordable. Mauro Lopes, who supervised the subsidy regime, says he urged the government to give $20 to Embrapa for every $50 it saved by cutting subsidies. It didn’t, but Embrapa did receive enough money to turn itself into the world’s leading tropical-research institution. It does everything from breeding new seeds and cattle, to creating ultra-thin edible wrapping paper for foodstuffs that changes colour when the food goes off, to running a nanotechnology laboratory creating biodegradable ultra-strong fabrics and wound dressings. Its main achievement, however, has been to turn the cerrado green.
When Embrapa started, the cerrado was regarded as unfit for farming. Norman Borlaug, an American plant scientist often called the father of the Green Revolution, told the New York Times that “nobody thought these soils were ever going to be productive.” They seemed too acidic and too poor in nutrients. Embrapa did four things to change that.
First, it poured industrial quantities of lime (pulverised limestone or chalk) onto the soil to reduce levels of acidity. In the late 1990s, 14m-16m tonnes of lime were being spread on Brazilian fields each year, rising to 25m tonnes in 2003 and 2004. This amounts to roughly five tonnes of lime a hectare, sometimes more. At the 20,000-hectare Cremaq farm, 5,000 hulking 30-tonne lorries have disgorged their contents on the fields in the past three years. Embrapa scientists also bred varieties of rhizobium, a bacterium that helps fix nitrogen in legumes and which works especially well in the soil of the cerrado, reducing the need for fertilisers.
So although it is true Brazil has a lot of spare farmland, it did not just have it hanging around, waiting to be ploughed. Embrapa had to create the land, in a sense, or make it fit for farming. Today the cerrado accounts for 70% of Brazil’s farm output and has become the new Midwest. “We changed the paradigm,” says Silvio Crestana, a former head of Embrapa, proudly.
Second, Embrapa went to Africa and brought back a grass called brachiaria. Patient crossbreeding created a variety, called braquiarinha in Brazil, which produced 20-25 tonnes of grass feed per hectare, many times what the native cerrado grass produces and three times the yield in Africa. That meant parts of the cerrado could be turned into pasture, making possible the enormous expansion of Brazil’s beef herd. Thirty years ago it took Brazil four years to raise a bull for slaughter. Now the average time is 18-20 months.
That is not the end of the story. Embrapa has recently begun experiments with genetically modifying brachiaria to produce a larger-leafed variety called braquiarão which promises even bigger increases in forage. This alone will not transform the livestock sector, which remains rather inefficient. Around one-third of improvement to livestock production comes from better breeding of the animals; one-third comes from improved resistance to disease; and only one-third from better feed. But it will clearly help.
Third, and most important, Embrapa turned soyabeans into a tropical crop. Soyabeans are native to north-east Asia (Japan, the Korean peninsular and north-east China). They are a temperate-climate crop, sensitive to temperature changes and requiring four distinct seasons. All other big soyabean producers (notably America and Argentina) have temperate climates. Brazil itself still grows soya in its temperate southern states. But by old-fashioned crossbreeding, Embrapa worked out how to make it also grow in a tropical climate, on the rolling plains of Mato Grosso state and in Goiás on the baking cerrado. More recently, Brazil has also been importing genetically modified soya seeds and is now the world’s second-largest user of GM after the United States. This year Embrapa won approval for its first GM seed.
Embrapa also created varieties of soya that are more tolerant than usual of acid soils (even after the vast application of lime, the cerrado is still somewhat acidic). And it speeded up the plants’ growing period, cutting between eight and 12 weeks off the usual life cycle. These “short cycle” plants have made it possible to grow two crops a year, revolutionising the operation of farms. Farmers used to plant their main crop in September and reap in May or June. Now they can harvest in February instead, leaving enough time for a full second crop before the September planting. This means the “second” crop (once small) has become as large as the first, accounting for a lot of the increases in yields.
Such improvements are continuing. The Cremaq farm could hardly have existed until recently because soya would not grow on this hottest, most acidic of Brazilian backlands. The variety of soya now being planted there did not exist five years ago. Dr Crestana calls this “the genetic transformation of soya”.
Lastly, Embrapa has pioneered and encouraged new operational farm techniques. Brazilian farmers pioneered “no-till” agriculture, in which the soil is not ploughed nor the crop harvested at ground level. Rather, it is cut high on the stalk and the remains of the plant are left to rot into a mat of organic material. Next year’s crop is then planted directly into the mat, retaining more nutrients in the soil. In 1990 Brazilian farmers used no-till farming for 2.6% of their grains; today it is over 50%.
Embrapa’s latest trick is something called forest, agriculture and livestock integration: the fields are used alternately for crops and livestock but threads of trees are also planted in between the fields, where cattle can forage. This, it turns out, is the best means yet devised for rescuing degraded pasture lands. Having spent years increasing production and acreage, Embrapa is now turning to ways of increasing the intensity of land use and of rotating crops and livestock so as to feed more people without cutting down the forest.
Farmers everywhere gripe all the time and Brazilians, needless to say, are no exception. Their biggest complaint concerns transport. The fields of Mato Grosso are 2,000km from the main soyabean port at Paranaguá, which cannot take the largest, most modern ships. So Brazil transports a relatively low-value commodity using the most expensive means, lorries, which are then forced to wait for ages because the docks are clogged.
Partly for that reason, Brazil is not the cheapest place in the world to grow soyabeans (Argentina is, followed by the American Midwest). But it is the cheapest place to plant the next acre. Expanding production in Argentina or America takes you into drier marginal lands which are much more expensive to farm. Expanding in Brazil, in contrast, takes you onto lands pretty much like the ones you just left.
Big is beautiful
Like almost every large farming country, Brazil is divided between productive giant operations and inefficient hobby farms. According to Mauro and Ignez Lopes of the Fundacão Getulio Vargas, a university in Rio de Janeiro, half the country’s 5m farms earn less than 10,000 reais a year and produce just 7% of total farm output; 1.6m are large commercial operations which produce 76% of output. Not all family farms are a drain on the economy: much of the poultry production is concentrated among them and they mop up a lot of rural underemployment. But the large farms are vastly more productive.
From the point of view of the rest of the world, however, these faults in Brazilian agriculture do not matter much. The bigger question for them is: can the miracle of the cerrado be exported, especially to Africa, where the good intentions of outsiders have so often shrivelled and died?
There are several reasons to think it can. Brazilian land is like Africa’s: tropical and nutrient-poor. The big difference is that the cerrado gets a decent amount of rain and most of Africa’s savannah does not (the exception is the swathe of southern Africa between Angola and Mozambique).
Brazil imported some of its raw material from other tropical countries in the first place. Brachiaria grass came from Africa. The zebu that formed the basis of Brazil’s nelore cattle herd came from India. In both cases Embrapa’s know-how improved them dramatically. Could they be taken back and improved again? Embrapa has started to do that, though it is early days and so far it is unclear whether the technology retransfer will work.
A third reason for hope is that Embrapa has expertise which others in Africa simply do not have. It has research stations for cassava and sorghum, which are African staples. It also has experience not just in the cerrado but in more arid regions (called the sertão), in jungles and in the vast wetlands on the border with Paraguay and Bolivia. Africa also needs to make better use of similar lands. “Scientifically, it is not difficult to transfer the technology,” reckons Dr Crestana. And the technology transfer is happening at a time when African economies are starting to grow and massive Chinese aid is starting to improve the continent’s famously dire transport system.
Still, a word of caution is in order. Brazil’s agricultural miracle did not happen through a simple technological fix. No magic bullet accounts for it—not even the tropical soyabean, which comes closest. Rather, Embrapa’s was a “system approach”, as its scientists call it: all the interventions worked together. Improving the soil and the new tropical soyabeans were both needed for farming the cerrado; the two together also made possible the changes in farm techniques which have boosted yields further.
Systems are much harder to export than a simple fix. “We went to the US and brought back the whole package [of cutting-edge agriculture in the 1970s],” says Dr Crestana. “That didn’t work and it took us 30 years to create our own. Perhaps Africans will come to Brazil and take back the package from us. Africa is changing. Perhaps it won’t take them so long. We’ll see.” If we see anything like what happened in Brazil itself, feeding the world in 2050 will not look like the uphill struggle it appears to be now.
Capitalismo castrador e livre sexualidade: um tema nao habitual
Atenção: este blog não tem a nada a ver com sexualidade (ele sequer tem problemas sexuais) e jamais pretendeu se meter em assuntos que não são da sua alçada, como esses que são objeto do post abaixo. Ele apenas se ocupa de ideias, se possível inteligentes, e de problemas reais de políticas públicas.
Ocorre, porém, que o capitalismo constitui, sim, um dos temas habitualmente debatidos aqui. Aliás, nem deveria ser objeto de discussão, pois o capitalismo simplesmente existe, sem precisar pedir permissão a ninguém. Apenas ocorre que, numa sociedade capitalisticamente atrasada, como a brasileira, ele é objeto de contestação intelectual, o que já é um absurdo, mas vá lá: acadêmicos alienados ainda praticam o "tiro ao capitalismo" como um de seus esportes habituais.
Pois eu achei curioso, como leio nessa declaração abaixo, que o capitalismo, já responsável por tantos malefícios causados à humanidade, ao meio ambiente e à saúde mental das pessoas, em geral, seja acusado de também provocar alguma forma de "repressão sexual". Pelo menos é o que se pode depreender desta afirmação:
"Denunciamos o sistema patriarcal e capitalista que oprime as mulheres."
Nos meus tempos juvenis, entre as leituras de todo tipo que eu fazia, já me encantei com os trabalhos -- que hoje reconheço dementes e não fundamentados -- de Wilhelm Reich, para quem, justamente, o capitalismo -- especificamente em sua forma fascista -- era um sistema repressivo e castrador, que inibia a livre expressão da sexualidade das pessoas, especialmente dos trabalhadores.
Que coisa! A gente lutando contra a mais-valia e também tinha que se preocupar com os efeitos do capitalismo sobre a ereção. Bem, espero que as lésbicas, como no chamamento abaixo, possam lutar contra os maus efeitos do capitalismo sobre sua legítima expressão sexual.
Em todo caso, desejo um bom encontro a todos e a todas!
PS: Aqui cabe uma nota de caução. Antigamente a gente se referia a todos e a todas, baseando-se na premissa de que existiam dois sexos, como sempre figuram nos formulários-padrão; ali não tem escolha, você só pode clicar em "male" ou "female". Mas isso deve ser agora considerado tremendamente redutor: apenas duas opções??!! Esses formulários deveriam ter várias opções, com todas essas letras que o pessoal escreve: GLBTS, ou GBLT, ou GLTs (confesso que não sei) ou outras que vocês quiserem...
Paulo Roberto de Almeida
Entidades promovem Dia Nacional da Visibilidade Lésbica
Muitas atividades acontecem esta semana no país para comemorar o 29 de agosto, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, instituído em 1996, em referência ao I SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas, ocorrido no Rio de Janeiro. Em 2003, durante o V SENALE, realizado em São Paulo, as lésbicas reafirmaram essa data e decidiram realizar atividades em todo o País. Desde então, ano a ano, crescem em número e qualidade as ações pela visibilidade lésbica.
Para a Marcha Mundial das Mulheres, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é um momento para o resgate “da luta das lésbicas e bissexuais nos movimentos feministas, mistos e LGBT. Denunciamos o sistema patriarcal e capitalista que oprime as mulheres. Denunciamos a heteronormatividade (a imposição da heterossexualidade como norma e padrão da sociedade). Lutamos por nossas alternativas políticas e pelo fim da discriminação a da violência contra as lésbicas e bissexuais baseada na sexualidade”. A MMM, além de levar de divulgar o Dia da Visibilidade, também convida a todos que reconhecem o direito à diversidade a juntar-se às ações do dia 29 colocando panos coloridos em suas janelas.
A Liga Brasileira de Lésbicas realiza no domingo, 29 de agosto, roda de conversa e apresentação de peça teatral, em São Paulo. A roda começa às 14 horas e tem como tema “Visibilidade Lésbica em suas diferentes matizes”.
Ocorre, porém, que o capitalismo constitui, sim, um dos temas habitualmente debatidos aqui. Aliás, nem deveria ser objeto de discussão, pois o capitalismo simplesmente existe, sem precisar pedir permissão a ninguém. Apenas ocorre que, numa sociedade capitalisticamente atrasada, como a brasileira, ele é objeto de contestação intelectual, o que já é um absurdo, mas vá lá: acadêmicos alienados ainda praticam o "tiro ao capitalismo" como um de seus esportes habituais.
Pois eu achei curioso, como leio nessa declaração abaixo, que o capitalismo, já responsável por tantos malefícios causados à humanidade, ao meio ambiente e à saúde mental das pessoas, em geral, seja acusado de também provocar alguma forma de "repressão sexual". Pelo menos é o que se pode depreender desta afirmação:
"Denunciamos o sistema patriarcal e capitalista que oprime as mulheres."
Nos meus tempos juvenis, entre as leituras de todo tipo que eu fazia, já me encantei com os trabalhos -- que hoje reconheço dementes e não fundamentados -- de Wilhelm Reich, para quem, justamente, o capitalismo -- especificamente em sua forma fascista -- era um sistema repressivo e castrador, que inibia a livre expressão da sexualidade das pessoas, especialmente dos trabalhadores.
Que coisa! A gente lutando contra a mais-valia e também tinha que se preocupar com os efeitos do capitalismo sobre a ereção. Bem, espero que as lésbicas, como no chamamento abaixo, possam lutar contra os maus efeitos do capitalismo sobre sua legítima expressão sexual.
Em todo caso, desejo um bom encontro a todos e a todas!
PS: Aqui cabe uma nota de caução. Antigamente a gente se referia a todos e a todas, baseando-se na premissa de que existiam dois sexos, como sempre figuram nos formulários-padrão; ali não tem escolha, você só pode clicar em "male" ou "female". Mas isso deve ser agora considerado tremendamente redutor: apenas duas opções??!! Esses formulários deveriam ter várias opções, com todas essas letras que o pessoal escreve: GLBTS, ou GBLT, ou GLTs (confesso que não sei) ou outras que vocês quiserem...
Paulo Roberto de Almeida
Entidades promovem Dia Nacional da Visibilidade Lésbica
Muitas atividades acontecem esta semana no país para comemorar o 29 de agosto, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, instituído em 1996, em referência ao I SENALE – Seminário Nacional de Lésbicas, ocorrido no Rio de Janeiro. Em 2003, durante o V SENALE, realizado em São Paulo, as lésbicas reafirmaram essa data e decidiram realizar atividades em todo o País. Desde então, ano a ano, crescem em número e qualidade as ações pela visibilidade lésbica.
Para a Marcha Mundial das Mulheres, o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica é um momento para o resgate “da luta das lésbicas e bissexuais nos movimentos feministas, mistos e LGBT. Denunciamos o sistema patriarcal e capitalista que oprime as mulheres. Denunciamos a heteronormatividade (a imposição da heterossexualidade como norma e padrão da sociedade). Lutamos por nossas alternativas políticas e pelo fim da discriminação a da violência contra as lésbicas e bissexuais baseada na sexualidade”. A MMM, além de levar de divulgar o Dia da Visibilidade, também convida a todos que reconhecem o direito à diversidade a juntar-se às ações do dia 29 colocando panos coloridos em suas janelas.
A Liga Brasileira de Lésbicas realiza no domingo, 29 de agosto, roda de conversa e apresentação de peça teatral, em São Paulo. A roda começa às 14 horas e tem como tema “Visibilidade Lésbica em suas diferentes matizes”.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Dominacao, exploracao - artigo Paulo R Almeida
Preeminência, hegemonia, dominação, exploração: realidades ou mitos?
Paulo Roberto de Almeida,
Ordem Livre, 16 de Agosto de 2010
Admitamos desde o início e de modo incontroverso: preeminência, hegemonia, dominação, exploração são realidades concretas (com perdão pela redundância); todas essas situações e interações fazem parte do mundo como ele é, desde o início dos tempos até nossos dias. O “mundo como ele é” foi e é justamente feito dessas realidades desagradáveis, até brutais, que não devem ser travestidas por qualquer visão “panglossiana” da história das civilizações humanas. Os mitos, entretanto, começam quando se pretende explicar o mundo como ele é apenas por meio dessas realidades tangíveis, algumas até “intangíveis”, ou seja, existentes virtualmente, quase despercebidas materialmente.
(...)
Leia na íntegra neste link.
Paulo Roberto de Almeida,
Ordem Livre, 16 de Agosto de 2010
Admitamos desde o início e de modo incontroverso: preeminência, hegemonia, dominação, exploração são realidades concretas (com perdão pela redundância); todas essas situações e interações fazem parte do mundo como ele é, desde o início dos tempos até nossos dias. O “mundo como ele é” foi e é justamente feito dessas realidades desagradáveis, até brutais, que não devem ser travestidas por qualquer visão “panglossiana” da história das civilizações humanas. Os mitos, entretanto, começam quando se pretende explicar o mundo como ele é apenas por meio dessas realidades tangíveis, algumas até “intangíveis”, ou seja, existentes virtualmente, quase despercebidas materialmente.
(...)
Leia na íntegra neste link.
Unasul a deriva - Rodrigo Botero Montoya
A Unasul à deriva
Rodrigo Botero Montoya
O Globo, Quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Está-se testando a conveniência de seguir criando foros multinacionais de configurações variáveis e sem propósitos institucionais precisos na América Latina.
Além do risco de incorrer na redundância, começa-se a fazer evidente a limitante óbvia que o tempo que podem dedicar-lhe os governantes a assistir às reuniões de cúpula é um recurso escasso.
Com maior razão quando se reúnem em uma mesma pessoa as condições de chefe de Estado e chefe de governo, como ocorre em quase todos os países latino-americanos.
Uma organização multinacional que revela sintomas prematuros de ineficácia perde credibilidade e cria motivos para pôr em julgamento sua razão de ser. À raiz da denúncia colombiana de existência de acampamentos das Farc na Venezuela, o governo venezuelano solicitou uma reunião emergencial de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) em Quito. Convocada de afã, sem uma preparação diplomática cuidadosa, foi um fracasso.
Os representantes dos governos em desacordo repetiram tudo que haviam feito no plenário da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A reunião não contou com a presença de Néstor Kirchner, secretáriogeral da Unasul, nem de Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Néstor Kirchner tinha obrigações na Argentina que reclamavam sua atenção, como membro do Congresso e aspirante à candidatura presidencial em 2011. Celso Amorim devia atender a questões de transcendência mundial relacionadas com o conflito no Oriente Médio e o programa nuclear do Irã. As novas prioridades da diplomacia brasileira quiçá expliquem a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que as diferenças entre Bogotá e Caracas eram consequência de desavenças pessoais entre Hugo Chávez e Álvaro Uribe. Mas tanto Lula como Kirchner ofereceram seus bons ofícios para atuar como mediadores.
Estas gestões resultaram desnecessárias com o discurso de posse do presidente Juan Manuel Santos, no qual agradeceu e declinou das ofertas de mediação internacional.
Expressou sua vontade de discutir os problemas com o governo venezuelano diretamente, tal como ocorreu três dias depois em Santa Marta.
Depois de uma reunião a sós entre os dois presidentes, se anunciou a retomada das relações diplomáticas e a conformação de comissões binacionais para trabalhar sobre distintos temas de interesse comum.
Houve gestões amistosas por parte do presidente Lula e de Néstor Kirchner a favor da reconciliação entre os governos de nações irmãs. Mas o fator decisivo foi a proposta do presidente Santos de normalizar as relações por meio de conversações diretas, convite que o presidente Chávez se apressou a aceitar. Ambos governantes tinham razões para manejar os desacordos em tom menor, de maneira institucional, por meio de seus serviços diplomáticos.
Santos deseja iniciar sua gestão internacional sem a anomalia de um desencontro regional. Chávez tem suficientes problemas com a inflação, o desabastecimento e a crise econômica, para insistir em um conflito externo. O governo colombiano decidiu não condicionar a relação com a Venezuela à questão das Farc.
Para o governo venezuelano, perdeu urgência a pronta ativação do acordo militar entre o governo da nação vizinha e o dos Estados Unidos, acordo que segundo a Corte Constitucional da Colômbia requer a aprovação prévia pelo Congresso.
As concessões recíprocas que facilitaram o restabelecimento das relações diplomáticas só podiam ser feitas pelos dois presidentes, sem necessidade de intermediários. Para a Unasul será necessário encontrar uma missão construtiva, que evite duplicidade de funções com outras organizações hemisféricas e fortaleça os valores democráticos no continente.
Para cumprir esse papel, não é necessário promover demasiadas cúpulas presidenciais, nem montar um aparato burocrático custoso.
Rodrigo Botero Montoya
O Globo, Quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Está-se testando a conveniência de seguir criando foros multinacionais de configurações variáveis e sem propósitos institucionais precisos na América Latina.
Além do risco de incorrer na redundância, começa-se a fazer evidente a limitante óbvia que o tempo que podem dedicar-lhe os governantes a assistir às reuniões de cúpula é um recurso escasso.
Com maior razão quando se reúnem em uma mesma pessoa as condições de chefe de Estado e chefe de governo, como ocorre em quase todos os países latino-americanos.
Uma organização multinacional que revela sintomas prematuros de ineficácia perde credibilidade e cria motivos para pôr em julgamento sua razão de ser. À raiz da denúncia colombiana de existência de acampamentos das Farc na Venezuela, o governo venezuelano solicitou uma reunião emergencial de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) em Quito. Convocada de afã, sem uma preparação diplomática cuidadosa, foi um fracasso.
Os representantes dos governos em desacordo repetiram tudo que haviam feito no plenário da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A reunião não contou com a presença de Néstor Kirchner, secretáriogeral da Unasul, nem de Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil.
Néstor Kirchner tinha obrigações na Argentina que reclamavam sua atenção, como membro do Congresso e aspirante à candidatura presidencial em 2011. Celso Amorim devia atender a questões de transcendência mundial relacionadas com o conflito no Oriente Médio e o programa nuclear do Irã. As novas prioridades da diplomacia brasileira quiçá expliquem a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que as diferenças entre Bogotá e Caracas eram consequência de desavenças pessoais entre Hugo Chávez e Álvaro Uribe. Mas tanto Lula como Kirchner ofereceram seus bons ofícios para atuar como mediadores.
Estas gestões resultaram desnecessárias com o discurso de posse do presidente Juan Manuel Santos, no qual agradeceu e declinou das ofertas de mediação internacional.
Expressou sua vontade de discutir os problemas com o governo venezuelano diretamente, tal como ocorreu três dias depois em Santa Marta.
Depois de uma reunião a sós entre os dois presidentes, se anunciou a retomada das relações diplomáticas e a conformação de comissões binacionais para trabalhar sobre distintos temas de interesse comum.
Houve gestões amistosas por parte do presidente Lula e de Néstor Kirchner a favor da reconciliação entre os governos de nações irmãs. Mas o fator decisivo foi a proposta do presidente Santos de normalizar as relações por meio de conversações diretas, convite que o presidente Chávez se apressou a aceitar. Ambos governantes tinham razões para manejar os desacordos em tom menor, de maneira institucional, por meio de seus serviços diplomáticos.
Santos deseja iniciar sua gestão internacional sem a anomalia de um desencontro regional. Chávez tem suficientes problemas com a inflação, o desabastecimento e a crise econômica, para insistir em um conflito externo. O governo colombiano decidiu não condicionar a relação com a Venezuela à questão das Farc.
Para o governo venezuelano, perdeu urgência a pronta ativação do acordo militar entre o governo da nação vizinha e o dos Estados Unidos, acordo que segundo a Corte Constitucional da Colômbia requer a aprovação prévia pelo Congresso.
As concessões recíprocas que facilitaram o restabelecimento das relações diplomáticas só podiam ser feitas pelos dois presidentes, sem necessidade de intermediários. Para a Unasul será necessário encontrar uma missão construtiva, que evite duplicidade de funções com outras organizações hemisféricas e fortaleça os valores democráticos no continente.
Para cumprir esse papel, não é necessário promover demasiadas cúpulas presidenciais, nem montar um aparato burocrático custoso.
A mistificacao como obra deliberada (3): o programa econômico da candidata oficial
Não era para acreditar
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 25 de agosto de 2010
Se alguém viu alguma promessa de seriedade na campanha da candidata Dilma Rousseff, esqueça. Foi uma falha de comunicação. Ela já negou a intenção de realizar um ajuste fiscal se for eleita. Desmentiu a notícia publicada um dia antes. Segundo a mesma reportagem, ela também poderia baixar a meta de inflação. A fonte da informação divulgada na segunda-feira foi o ex-ministro Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha petista.
O ajuste é desnecessário, disse ontem a candidata, porque a economia cresce, a inflação está sob controle, a relação dívida/PIB está em queda e há um bom volume de reservas internacionais. Talvez ela acredite nessa história e também esse detalhe é preocupante. Nenhuma pessoa razoavelmente informada pode estar tranquila em relação às contas públicas. A dívida pública bruta continua a crescer rapidamente por causa do aumento de compromissos do governo.
Só para reforçar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram emitidos papéis no valor de R$ 180 bilhões. Mais títulos serão lançados para a capitalização da Petrobrás. Ninguém sabe qual será o montante, porque isso dependerá do preço fixado para os 5 bilhões de barris de petróleo prometidos à empresa. Pelas avaliações propostas pelas consultorias, a soma poderá corresponder a algo entre US$ 25 bilhões e US$ 60 bilhões – sim, essas cifras são dólares.
A referência ao crescimento econômico seria irrelevante, se não indicasse um critério perverso: para a candidata, assim como para vários de seus ex-colegas de governo, a chave do equilíbrio fiscal é o aumento da receita. Se a arrecadação cresce, como é normal em fases de prosperidade econômica, as contas públicas vão bem. Foi esse o padrão seguido em muitos anos: a saída é sempre arrecadar mais, nunca reduzir despesas.
Mas ela ainda faz uma concessão. Segundo a ex-ministra, nenhum tostão será destinado, em seu governo, a gastos desnecessários. Se houvesse alguma seriedade nessa promessa, a ministra deveria, caso eleita, rever imediatamente os compromissos assumidos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Por quais critérios os gastos federais serão necessários?
O Brasil precisa mesmo gastar em prováveis elefantes brancos e ao mesmo tempo enfrentar os enormes custos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da exploração do pré-sal? O governo já se dispôs a participar, por meio do BNDES, da construção do trem-bala, um empreendimento de utilidade e de retorno altamente duvidosos, segundo opinião de técnicos. Enquanto isso, o quadro do saneamento divulgado na semana passada pelo IBGE continua assustador. A distribuição de água encanada melhorou muito nos últimos dez anos, mas não os serviços sanitários.
Se as concepções de política fiscal da ex-ministra forem as mesmas de seu patrono, dificilmente haverá alguma racionalidade no uso de recursos públicos. O ajuste realizado em 2003 foi uma solução de emergência, forçada pela circunstância política e executada por um ministro capaz de influenciar o presidente Lula. Nenhum outro, depois de Palocci, teve um poder semelhante. Além disso, o presidente nunca mais precisou de um auxiliar com ideias próprias – com exceção, é claro, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Passada a emergência, predominou a noção da política fiscal orientada para o gasto. O presidente Lula várias vezes defendeu a expansão da despesa como se fosse a marca do bom governo – e, como contrapartida, sempre tomou como referência os países com grande carga tributária. Falou em planejamento muitas vezes, mas nunca renunciou ao voluntarismo.
Isso explica sua defesa da política de financiamentos do Tesouro e do BNDES. Esse BNDES não é aquele gerido racionalmente para modernizar e ampliar a capacidade produtiva e disseminar o poder de competição. É uma instituição usada, em conjunto com o Tesouro, para favorecer a fusão de grandes grupos, facilitar a compra de empresas no exterior e financiar até obras da Copa do Mundo e um trem-bala ainda sem projeto e sem custo conhecido.
Quem apoia esse tipo de política não pode seriamente prometer um controle do uso de recursos públicos. E quanto pode valer seu compromisso de trabalhar pela reforma tributária e pela racionalização dos impostos, se o seu chefe e mentor continua defendendo uma aberração como o imposto do cheque, a CPMF?
Em sua conversa com a repórter Patrícia Campos Mello, o ex-ministro Palocci mencionou pontos indispensáveis na pauta de qualquer governo sério. Mas a agenda real da candidata petista, como ela mesma indica, deve ser bem diferente.
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, 25 de agosto de 2010
Se alguém viu alguma promessa de seriedade na campanha da candidata Dilma Rousseff, esqueça. Foi uma falha de comunicação. Ela já negou a intenção de realizar um ajuste fiscal se for eleita. Desmentiu a notícia publicada um dia antes. Segundo a mesma reportagem, ela também poderia baixar a meta de inflação. A fonte da informação divulgada na segunda-feira foi o ex-ministro Antônio Palocci, um dos coordenadores da campanha petista.
O ajuste é desnecessário, disse ontem a candidata, porque a economia cresce, a inflação está sob controle, a relação dívida/PIB está em queda e há um bom volume de reservas internacionais. Talvez ela acredite nessa história e também esse detalhe é preocupante. Nenhuma pessoa razoavelmente informada pode estar tranquila em relação às contas públicas. A dívida pública bruta continua a crescer rapidamente por causa do aumento de compromissos do governo.
Só para reforçar o caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram emitidos papéis no valor de R$ 180 bilhões. Mais títulos serão lançados para a capitalização da Petrobrás. Ninguém sabe qual será o montante, porque isso dependerá do preço fixado para os 5 bilhões de barris de petróleo prometidos à empresa. Pelas avaliações propostas pelas consultorias, a soma poderá corresponder a algo entre US$ 25 bilhões e US$ 60 bilhões – sim, essas cifras são dólares.
A referência ao crescimento econômico seria irrelevante, se não indicasse um critério perverso: para a candidata, assim como para vários de seus ex-colegas de governo, a chave do equilíbrio fiscal é o aumento da receita. Se a arrecadação cresce, como é normal em fases de prosperidade econômica, as contas públicas vão bem. Foi esse o padrão seguido em muitos anos: a saída é sempre arrecadar mais, nunca reduzir despesas.
Mas ela ainda faz uma concessão. Segundo a ex-ministra, nenhum tostão será destinado, em seu governo, a gastos desnecessários. Se houvesse alguma seriedade nessa promessa, a ministra deveria, caso eleita, rever imediatamente os compromissos assumidos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Por quais critérios os gastos federais serão necessários?
O Brasil precisa mesmo gastar em prováveis elefantes brancos e ao mesmo tempo enfrentar os enormes custos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da exploração do pré-sal? O governo já se dispôs a participar, por meio do BNDES, da construção do trem-bala, um empreendimento de utilidade e de retorno altamente duvidosos, segundo opinião de técnicos. Enquanto isso, o quadro do saneamento divulgado na semana passada pelo IBGE continua assustador. A distribuição de água encanada melhorou muito nos últimos dez anos, mas não os serviços sanitários.
Se as concepções de política fiscal da ex-ministra forem as mesmas de seu patrono, dificilmente haverá alguma racionalidade no uso de recursos públicos. O ajuste realizado em 2003 foi uma solução de emergência, forçada pela circunstância política e executada por um ministro capaz de influenciar o presidente Lula. Nenhum outro, depois de Palocci, teve um poder semelhante. Além disso, o presidente nunca mais precisou de um auxiliar com ideias próprias – com exceção, é claro, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Passada a emergência, predominou a noção da política fiscal orientada para o gasto. O presidente Lula várias vezes defendeu a expansão da despesa como se fosse a marca do bom governo – e, como contrapartida, sempre tomou como referência os países com grande carga tributária. Falou em planejamento muitas vezes, mas nunca renunciou ao voluntarismo.
Isso explica sua defesa da política de financiamentos do Tesouro e do BNDES. Esse BNDES não é aquele gerido racionalmente para modernizar e ampliar a capacidade produtiva e disseminar o poder de competição. É uma instituição usada, em conjunto com o Tesouro, para favorecer a fusão de grandes grupos, facilitar a compra de empresas no exterior e financiar até obras da Copa do Mundo e um trem-bala ainda sem projeto e sem custo conhecido.
Quem apoia esse tipo de política não pode seriamente prometer um controle do uso de recursos públicos. E quanto pode valer seu compromisso de trabalhar pela reforma tributária e pela racionalização dos impostos, se o seu chefe e mentor continua defendendo uma aberração como o imposto do cheque, a CPMF?
Em sua conversa com a repórter Patrícia Campos Mello, o ex-ministro Palocci mencionou pontos indispensáveis na pauta de qualquer governo sério. Mas a agenda real da candidata petista, como ela mesma indica, deve ser bem diferente.
A mistificacao como obra deliberada (2): os ataques as "zelites"
Basta transcrever:
Por alguns minutos, Lula transformou o diretor de Redação da Folha no seu FHC. Ou: a mentira como método e a imprensa como alvo
Reinaldo Azevedo, 26/08/2010
Eu mesmo já escrevi aqui, como vocês sabem, que parte da responsabilidade por essa quase unanimidade burra e injustificada de que goza Lula cabe às oposições, em particular ao PSDB, que fez de tudo para evitar o confronto. Há, eu sei, quem ache que faltou foi aderir mais. Cada um na sua. Amplos setores da imprensa podem oferecer o seu ombro para dividir o que tem tudo para se transformar num fardo. Também colaboraram para isso. Que o presidente fosse aprovado pela maioria, vá lá. A economia, como é sabido, pode explicar — e nem cabe aqui entrar no mérito do que se pode ou não atribuir a Lula. Que a aprovação atinja os níveis que estão sendo apontados pelas pesquisas — com a conseqüente transferência de voto para a candidata que ele inventou —, bem, aí a explicação requer um pouco mais do que aquele clichê chatinho: “É a economia, idiota!”.
Todas as mentiras que Lula contou e conta sobre o seu governo passaram quase sem contestação. Não raro, quando confrontadas, buscava-se encontrar um fundo que fosse de verdade no que ele dizia para evidenciar sabe-se lá a que tribunal que não havia preconceito nenhum contra ele. O lulo-petismo conseguiu seqüestrar a independência de jornalismo, que passou a se preocupar mais em não parecer antipetista — ainda que a verdade pudesse ser a primeira vítima desse procedimento — do que em se ater aos fatos. Escrevi anteontem um texto com dados sobre as universidades federais — dados que estão no Ministério da Educação e no IBGE. Eles provam a falácia da suposta revolução que ele fez na área. Até leitores habituais deste blog se surpreenderam. E daí? Lula falou o que bem quis nestes oito anos. A oposição não conseguiu se organizar de maneira eficiente para contestá-lo com fatos que estavam à sua disposição. Boa parte do jornalismo fez o mesmo.
E Lula se mostra, por isso, menos agressivo, virulento, com a imprensa — que o PT chama “mídia” — por isso? De jeito nenhum! O partido já tem pronto um estoque de maldades legais, que pretende apresentar na forma de projetos de lei, para tolher a liberdade de imprensa e intimidar as empresas de comunicação. Há exemplos no continente elogiados pelos petistas e considerados virtuosos por eles: a Venezuela e a Argentina.
Se alguém acredita que o partido está conformado com a liberdade de imprensa, pode tirar o cavalo da chuva. Na última reunião do Foro de São Paulo, realizada em Buenos Aires sob o comando do PT, o grupo tirou uma moção de apoio a Cristina Kirchner, que tenta liquidar o grupo Clarín.
Um episódio ocorrido ontem dá o que pensar. Reproduzo trecho de uma reportagem da Folha de hoje. Leiam com atenção:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou anteontem a imprensa em comício em Campo Grande (MS) ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima de preconceito da mídia que, segundo o presidente, não acreditava que ele seria capaz de governar por não ter curso universitário e por não saber falar inglês.
“Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: “Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?” Eu disse não. “Como é que você quer governar o Brasil se não fala inglês?” Eu falei: “Mas eu vou arrumar um tradutor”. “Mas assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês”. E eu perguntei para ele: “Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?”, afirmou.
“Eles achavam que Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu me senti chateado e levantei da mesa. E falei: “Não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Se é entrevista eu vou embora”. E levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora.”
Lula afirmou ainda que vai terminar o mandato “sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão”. “Também nunca faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com respeito comigo. (…) Se dependesse de determinados meios de comunicação, eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós temos neste país.”
Método
Em 2002, num almoço na Folha de S. Paulo, irritado com perguntas que lhe foram feitas por Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, Lula, de fato, levantou-se e foi embora. To do o resto que ele conta é mentira, não aconteceu. Otavio jamais fez aquelas perguntas. Aquele diálogo nunca aconteceu. O colunista Clóvis Rossi escreve a respeito hoje. Conheço várias pessoas que estavam presentes e que me relataram o episódio à época. O próprio jornal publicou reportagem.
Otavio perguntou, aí sim, por que ele optara por não estudar, tomando o cuidado de lembrar que Lincoln, o presidente americano, também não tinha formação superior e fizera um bom governo — notem que a ressalva era favorável ao então candidato. Ele não respondeu e acusou desrespeito. Pouco depois, o jornalista quis saber se a união com o PL não caracterizava uma adesão a práticas fisiológicas — o mensalão revelaria mais tarde como se deu esse casamento. Lula levantou e foi embora. Esse é o fato. Essa é a verdade.
Agora voltem ao trecho em vermelho e leiam a versão que ele levou ao palanque. Ontem, por alguns minutos, Otavio se transformou no FHC de Lula. O petista resolveu contar a história como bem quis. Não na Folha certamente, mas em outros veículos por aí, é provável que prospere a versão lulo-petista do episódio — afinal, jornalismo afora, não prosperou a versão fantasiosa de que as privatizações não passaram de “privataria”? Trata-se de uma lulice. Sim, haverá os porta-vozes da mistificação que se encarregarão de espalhar a mentira. Para muita gente, o diretor de Redação da Folha será aquele que perguntou a Lula como ele se atrevia a ser presidente sem falar inglês.
Notem mais: a mentira que conta nada tem de primitiva ou impensada. Ao contrário: ao se colocar como aquele que foi discriminado por um diretor de redação de jornal por não falar inglês — e por ter origem operária; é o subtexto —, convoca a solidariedade dos ouvintes, que, nesses dois particulares, estão mais próximos dele próprio do que de Otavio e do jornal. Investe, assim, na clivagem vigarista e falsa entre “o povo”, que ele representaria, e as elites, para as quais falaria a Folha — e, por extensão, todos os jornais, revistas, TVs, sites e blogs que não estão alinhados com a causa petista.
Os oito anos de gestão Lula têm, é claro, qualidades. Seria estúpido supor — e aqui nunca se disse isso — que ele é aprovado pela maioria da população apenas porque mente com o desassombro que se vê acima, sem hesitar, tremer o lábio, nada, emprestando às suas fantasias muito bem-articuladas aquele ar de verdade de que só um grande ator — eis o grande talento de Lula! — é capaz. Não! A aprovação tem explicações bastante objetivas. Mas os contornos de mito em que ele tem investido com fúria, especialmente no segundo mandato, esses foram desenhados com a falsificação sistemática do passado, do presente e, se querem saber, até do futuro. E, para tanto, ele contou com muita ajuda.
Não é gratuito
O ataque, nos termos em que ele o faz, não é gratuito. Deve ser visto, entendo, como um sinal de alerta pela imprensa brasileira, que tem de olhar com atenção o que se passa ao redor. Lula é hoje o principal aliado de todos os governos latino-americanos que abriram uma verdadeira guerra contra a imprensa que não se conforma em ser mera extensão do Poder Executivo.
Há quatro dias, Franklin Martins — aquele que nunca teve a menor dúvida de que o embaixador seria morto se as exigências dos terroristas não fossem cumpridas, ´s gargalhadas — deixou claro, como é mesmo?, o propósito de “acabar com o poder dos aquários”. Não se trata de “política do medo”, como dizem alguns cretinos e áulicos, mas de realismo: se eleita, a criatura de Lula tentará fazer o trabalho que não se fez nos dois mandatos do chefe. Eles partirão para o enfrentamento com a imprensa independente: em uma das mãos, trarão as ameaças legais; na outra, o “incentivo” às empresas amigas que estão sendo criadas ou robustecidas para disputar leitores, telespectadores e internautas. Quais empresas? Aquelas que não têm compromisso nenhum com a liberdade de imprensa e entendem que todos são livres para aderir ao governo.
Encerro: a economia pode ter feito o governo popular; mas foram as omissões que fizeram o mito. E o mito está assanhado.
Por alguns minutos, Lula transformou o diretor de Redação da Folha no seu FHC. Ou: a mentira como método e a imprensa como alvo
Reinaldo Azevedo, 26/08/2010
Eu mesmo já escrevi aqui, como vocês sabem, que parte da responsabilidade por essa quase unanimidade burra e injustificada de que goza Lula cabe às oposições, em particular ao PSDB, que fez de tudo para evitar o confronto. Há, eu sei, quem ache que faltou foi aderir mais. Cada um na sua. Amplos setores da imprensa podem oferecer o seu ombro para dividir o que tem tudo para se transformar num fardo. Também colaboraram para isso. Que o presidente fosse aprovado pela maioria, vá lá. A economia, como é sabido, pode explicar — e nem cabe aqui entrar no mérito do que se pode ou não atribuir a Lula. Que a aprovação atinja os níveis que estão sendo apontados pelas pesquisas — com a conseqüente transferência de voto para a candidata que ele inventou —, bem, aí a explicação requer um pouco mais do que aquele clichê chatinho: “É a economia, idiota!”.
Todas as mentiras que Lula contou e conta sobre o seu governo passaram quase sem contestação. Não raro, quando confrontadas, buscava-se encontrar um fundo que fosse de verdade no que ele dizia para evidenciar sabe-se lá a que tribunal que não havia preconceito nenhum contra ele. O lulo-petismo conseguiu seqüestrar a independência de jornalismo, que passou a se preocupar mais em não parecer antipetista — ainda que a verdade pudesse ser a primeira vítima desse procedimento — do que em se ater aos fatos. Escrevi anteontem um texto com dados sobre as universidades federais — dados que estão no Ministério da Educação e no IBGE. Eles provam a falácia da suposta revolução que ele fez na área. Até leitores habituais deste blog se surpreenderam. E daí? Lula falou o que bem quis nestes oito anos. A oposição não conseguiu se organizar de maneira eficiente para contestá-lo com fatos que estavam à sua disposição. Boa parte do jornalismo fez o mesmo.
E Lula se mostra, por isso, menos agressivo, virulento, com a imprensa — que o PT chama “mídia” — por isso? De jeito nenhum! O partido já tem pronto um estoque de maldades legais, que pretende apresentar na forma de projetos de lei, para tolher a liberdade de imprensa e intimidar as empresas de comunicação. Há exemplos no continente elogiados pelos petistas e considerados virtuosos por eles: a Venezuela e a Argentina.
Se alguém acredita que o partido está conformado com a liberdade de imprensa, pode tirar o cavalo da chuva. Na última reunião do Foro de São Paulo, realizada em Buenos Aires sob o comando do PT, o grupo tirou uma moção de apoio a Cristina Kirchner, que tenta liquidar o grupo Clarín.
Um episódio ocorrido ontem dá o que pensar. Reproduzo trecho de uma reportagem da Folha de hoje. Leiam com atenção:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou anteontem a imprensa em comício em Campo Grande (MS) ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima de preconceito da mídia que, segundo o presidente, não acreditava que ele seria capaz de governar por não ter curso universitário e por não saber falar inglês.
“Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: “Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?” Eu disse não. “Como é que você quer governar o Brasil se não fala inglês?” Eu falei: “Mas eu vou arrumar um tradutor”. “Mas assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente que fala inglês”. E eu perguntei para ele: “Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala português?”, afirmou.
“Eles achavam que Bill Clinton não tinha obrigação de falar português. Era eu, o subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu me senti chateado e levantei da mesa. E falei: “Não vim aqui para dar entrevista, vim para almoçar. Se é entrevista eu vou embora”. E levantei, larguei o almoço, peguei o elevador e fui embora.”
Lula afirmou ainda que vai terminar o mandato “sem precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma televisão”. “Também nunca faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com respeito comigo. (…) Se dependesse de determinados meios de comunicação, eu teria zero na pesquisa e não 80% de bom e ótimo como nós temos neste país.”
Método
Em 2002, num almoço na Folha de S. Paulo, irritado com perguntas que lhe foram feitas por Otavio Frias Filho, diretor de Redação do jornal, Lula, de fato, levantou-se e foi embora. To do o resto que ele conta é mentira, não aconteceu. Otavio jamais fez aquelas perguntas. Aquele diálogo nunca aconteceu. O colunista Clóvis Rossi escreve a respeito hoje. Conheço várias pessoas que estavam presentes e que me relataram o episódio à época. O próprio jornal publicou reportagem.
Otavio perguntou, aí sim, por que ele optara por não estudar, tomando o cuidado de lembrar que Lincoln, o presidente americano, também não tinha formação superior e fizera um bom governo — notem que a ressalva era favorável ao então candidato. Ele não respondeu e acusou desrespeito. Pouco depois, o jornalista quis saber se a união com o PL não caracterizava uma adesão a práticas fisiológicas — o mensalão revelaria mais tarde como se deu esse casamento. Lula levantou e foi embora. Esse é o fato. Essa é a verdade.
Agora voltem ao trecho em vermelho e leiam a versão que ele levou ao palanque. Ontem, por alguns minutos, Otavio se transformou no FHC de Lula. O petista resolveu contar a história como bem quis. Não na Folha certamente, mas em outros veículos por aí, é provável que prospere a versão lulo-petista do episódio — afinal, jornalismo afora, não prosperou a versão fantasiosa de que as privatizações não passaram de “privataria”? Trata-se de uma lulice. Sim, haverá os porta-vozes da mistificação que se encarregarão de espalhar a mentira. Para muita gente, o diretor de Redação da Folha será aquele que perguntou a Lula como ele se atrevia a ser presidente sem falar inglês.
Notem mais: a mentira que conta nada tem de primitiva ou impensada. Ao contrário: ao se colocar como aquele que foi discriminado por um diretor de redação de jornal por não falar inglês — e por ter origem operária; é o subtexto —, convoca a solidariedade dos ouvintes, que, nesses dois particulares, estão mais próximos dele próprio do que de Otavio e do jornal. Investe, assim, na clivagem vigarista e falsa entre “o povo”, que ele representaria, e as elites, para as quais falaria a Folha — e, por extensão, todos os jornais, revistas, TVs, sites e blogs que não estão alinhados com a causa petista.
Os oito anos de gestão Lula têm, é claro, qualidades. Seria estúpido supor — e aqui nunca se disse isso — que ele é aprovado pela maioria da população apenas porque mente com o desassombro que se vê acima, sem hesitar, tremer o lábio, nada, emprestando às suas fantasias muito bem-articuladas aquele ar de verdade de que só um grande ator — eis o grande talento de Lula! — é capaz. Não! A aprovação tem explicações bastante objetivas. Mas os contornos de mito em que ele tem investido com fúria, especialmente no segundo mandato, esses foram desenhados com a falsificação sistemática do passado, do presente e, se querem saber, até do futuro. E, para tanto, ele contou com muita ajuda.
Não é gratuito
O ataque, nos termos em que ele o faz, não é gratuito. Deve ser visto, entendo, como um sinal de alerta pela imprensa brasileira, que tem de olhar com atenção o que se passa ao redor. Lula é hoje o principal aliado de todos os governos latino-americanos que abriram uma verdadeira guerra contra a imprensa que não se conforma em ser mera extensão do Poder Executivo.
Há quatro dias, Franklin Martins — aquele que nunca teve a menor dúvida de que o embaixador seria morto se as exigências dos terroristas não fossem cumpridas, ´s gargalhadas — deixou claro, como é mesmo?, o propósito de “acabar com o poder dos aquários”. Não se trata de “política do medo”, como dizem alguns cretinos e áulicos, mas de realismo: se eleita, a criatura de Lula tentará fazer o trabalho que não se fez nos dois mandatos do chefe. Eles partirão para o enfrentamento com a imprensa independente: em uma das mãos, trarão as ameaças legais; na outra, o “incentivo” às empresas amigas que estão sendo criadas ou robustecidas para disputar leitores, telespectadores e internautas. Quais empresas? Aquelas que não têm compromisso nenhum com a liberdade de imprensa e entendem que todos são livres para aderir ao governo.
Encerro: a economia pode ter feito o governo popular; mas foram as omissões que fizeram o mito. E o mito está assanhado.
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