quinta-feira, 13 de julho de 2023

O novo Gulag do criminoso de guerra Putin - Lori Hinnant, Hanna Arhirova, Vasilisa Stepanenko

 O novo Gulag do criminoso de guerra Putin: civis ucranianos detidos nas regiões ocupadas obrigados a construir trincheiras defensivas com uniformes militares russos, o que os torna virtuais vítimas da contraofensiva.

A New Gulag is emerging

https://t.co/sEyAohC8xy

ZAPORIZHZHIA, Ukraine (AP) — The Ukrainian civilians woke long before dawn in the bitter cold, lined up for the single toilet and were loaded at gunpoint into the livestock trailer. They spent the next 12 hours or more digging trenches on the front lines for Russian soldiers.

Many were forced to wear overlarge Russian military uniforms that could make them a target, and a former city administrator trudged around in boots five sizes too big. By the end of the day, their hands curled into icy claws.

Nearby, in the occupied region of Zaporizhzhia, other Ukrainian civilians dug mass graves into the frozen ground for fellow prisoners who had not survived. One man who refused to dig was shot on the spot — yet another body for the grave.

Thousands of Ukrainian civilians are being detained across Russia and the Ukrainian territories it occupies, in centers ranging from brand-new wings in Russian prisons to clammy basements. Most have no status under Russian law.

And Russia is planning to hold possibly thousands more. A Russian government document obtained by The Associated Press dating to January outlined plans to create 25 new prison colonies and six other detention centers in occupied Ukraine by 2026.

In addition, Russian President Vladimir Putin signed a decree in May allowing Russia to send people from territories with martial law, which includes all of occupied Ukraine, to those without, such as Russia. This makes it easier to deport Ukrainians who resist Russian occupation deep into Russia indefinitely, which has happened in multiple cases documented by the AP.

Many civilians are picked up for alleged transgressions as minor as speaking Ukrainian or simply being a young man in an occupied region, and are often held without charge. Others are charged as terrorists, combatants, or people who “resist the special military operation.” Hundreds are used for slave labor by Russia’s military, for digging trenches and other fortifications, as well as mass graves.


Top Ten from The Globalist about the war in Ukraine - series of articles

 Global Conflict

Understanding the Ukraine Conflict: The Globalist’s Top Ten

The Globalist, July 11, 2023

As Putin’s war in Ukraine rages on with no end in sight, we present our top ten features exploring the conflict, it’s causes and effects.

https://theglobalist.us4.list-manage.com/track/click?u=fe900a29e67b9f5bd30ac3091&id=92530fbc64&e=23ed0dfe5f

Globalist’s Top Ten

As Putin’s and Russia’s war in Ukraine rages on, we present our top ten features exploring the conflict, it’s causes and its effects.

July 11, 2023

By The Globalist

1. End of the Ukraine War?

Reflections on the possible benefits of Prigozhin’s March to Justice – and an important precedent from modern Chinese history.

By J.D. Bindenagel

2. Putin’s Perverted Genocidal “Logic”

The international community should pay much closer attention to the completely perverted reasoning behind Putin calling for a “de-Nazification” of Ukraine.

By Gunnar Heinsohn

3. War In Ukraine: Putin Can’t Win — But the US Can Lose

The destruction of the Kakhovka dam demonstrates that Russia is resorting to increasingly desperate measures. The question is how the West will respond.

By Alexei Bayer

4. Bringing Russian Oligarchs to Justice

Why we need to worry that the current zeal of Western authorities to go after the Russian oligarchs will decline over time.

By Frank Vogl

5. How the War in Ukraine Affects Africa

Poor countries bear a disproportionate brunt of Putin’s war. But the fundamental reshaping of energy policies also offers seeds of hope for Africa.

By Ayesha Kajee

6. The New Cold War Era

How Vladimir Putin’s actions in Ukraine are altering many previously long-held assumptions. Being criminal – and monstrous — is what Russia’s presumed “greatness” has been reduced to.

By Andrés Ortega

7. Erdogan’s Balancing Act Between Russia and Ukraine

Turkey’s strongman leader has expressed support for the besieged country. He has also joined Putin’s assault on the Western media.

By Aykan Erdemir

8. The World and Russia After Putin

Even if Russia were to still “win” the war, it will lose the peace. Regime change in Russia is not on the official agenda of the Western Alliance, but it seems a likely result.

By Stephan Richter and Uwe Bott

9. Russia-Ukraine: A Last Chance for Peace

Ukraine could offer to suspend its NATO candidacy for some time, but only in return for Russia’s withdrawal from Donbas.

By Colin Cleary

10. The Evasive Mr. Scholz

On Ukraine and Russia, Germany’s Chancellor Olaf Scholz is not acting thoughtfully and with a cool head. Rather, he is damaging Germany’s reputation – and his own party.

By Thomas Hanke


Reforma fiscal: mais uma década perdida? - Paulo Roberto de Almeida

As bases estruturais de uma escolha pelo baixo crescimento via aumento da carga fiscal

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre uma possível década perdida em função de uma reforma fiscal que aumente a extração tributária.

 

Minha opinião de leigo, mas observador da marcha da carruagem econômica, sobre as amarras que estão sendo construídas neste momento pela reforma tributária e pelo Arcabouço Fiscal.

O Brasil de Lula 3, com a ajuda interessada do estamento político, está montando um modelo de baixo crescimento, pois que baseado em mecanismos perversos de aumento inevitável da carga fiscal, já atualmente elevada para os padrões de um país de renda média e de baixa produtividade geral da economia. 

Todos estão aparentemente satisfeitos com a “simplificação contábil”, até o aumento da carga fiscal aparecer lá nas voltas de 2024. Vai ser difícil evitar o aumento da dívida e das exações fiscais, por estados e municípios, na forma de taxas adicionais. Os municípios de baixa densidade eleitoral vão sofrer, pois ficarão órfãos dos tais deputados com “emendas orçamentárias” na casa dos milhões (com um bom percentual para a corrupção ou o péssimo “investimento”).

 Junto com a continuidade do protecionismo, por “desinserção” deliberada da economia global, o modelo de não crescimento que está sendo construído agora vai levar o Brasil a patinar na mediocridade econômica por mais alguns anos, se não forem décadas.

Trata-se de uma opinião subjetiva esta minha, mas baseada em uma observação muito atenta da marcha da economia brasileira nos últimos quarenta anos, ou seja, desde a “década perdida” dos anos 1980. Podemos estar construindo uma economia estruturalmente de baixo crescimento e deliberadamente organizada à margem da economia global. Os instintos estatizantes e mercantilistas das elites econômicas e políticas nos levam a isto. 

Sorry pelo pessimismo realista, que no meu caso é apenas o reflexo de meu ceticismo sadio: preferia que o Brasil seguisse o caminho da abertura econômica com liberalização comercial e desestatização acelerada, ou seja inserção na economia global, mas é o contrário que vejo sendo construído.

Azar o nosso, mas não foi por falta de aviso.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4433, 13 julho 2023, 1 p.


terça-feira, 11 de julho de 2023

Defesa Nacional: desafios externos e internos - Rubens Barbosa (OESP)

 DEFESA NACIONAL: DESAFIOS EXTERNOS E INTERNOS


Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 11/07/2023


O cenário internacional vem passando por profundas transformações que terão impacto nos esforços brasileiros para alcançar objetivos relacionados ao seu desenvolvimento econômico e social e, também, à preservação de sua soberania e projeção externa. 

A geopolítica voltou a ocupar o centro das atenções das grandes potências. Os principais atores com capacidade militar e vontade para usá-la, como a OTAN, liderada pelos EUA, a Rússia e a China, encontram-se claramente em rota de colisão. Os EUA deixam cada vez mais claro a intenção de conter os avanços da China no cenário internacional, apesar de atitudes táticas de estabilizar as relações bilaterais e reduzir as tensões. A perspectiva de um conflito entre esses atores não deve ser descartada. A confrontação entre os EUA e a OTAN com a Rússia, por meio da guerra na Ucrânia dividiu o mundo. O Brasil, nas duas crises, definiu sua posição como de autonomia estratégica, de equidistância ativa entre os dois lados. Deve ser lembrado que os países ocidentais estão adotando uma posição muito proativa em questões de clima, inclusive no contexto da Defesa, como evidenciado por declaração da OTAN em sua última reunião na Espanha em 2022. O Brasil tem sido alvo da atenção desses países e reiteradamente criticado pela política ambiental e pela devastação da Amazônia.

Por outro lado, cabe apontar que uma nova era de operações bélicas com o uso de alta tecnologia já começou tornando obsoletos os sistemas de armas usados nos conflitos e os sistemas de defesa para a proteção das fronteiras. Se o Brasil não dispuser de capacidade tecnológica para utilizar meios robóticos e de inteligência artificial estará em grande desvantagem em seu poder de dissuasão, caso tenha de enfrentar qualquer ameaça para a defesa de seus interesses, seu território, sua extensão marítima ou seu espaço aéreo.

Em qualquer desses cenários, o Brasil necessitará de uma capacidade militar crível e muito superior à que hoje possui, para dissuadir possíveis ameaças e para aumentar sua projeção externa. As três áreas ressaltadas na END (cibernética, energia nuclear e espaço) deveriam merecer estímulos, como ocorre nos EUA e na OTAN, para que a produção nacional supere as vulnerabilidades cada vez maiores de nossos materiais bélicos e responda aos novos desafios da inteligência artificial. Nenhum país de grande porte, como o Brasil, pode prescindir de uma capacidade industrial, tecnológica e de inovação própria para manter FFAA modernas e capazes de enfrentar qualquer tipo de ameaças. O Brasil possui uma base industrial de defesa muito pequena e incapaz de atender às necessidades de suas FFAA. Quase todos os meios existentes, e/ou os seus principais componentes e tecnologias críticas, são fornecidos por países da OTAN. É necessário atentar para a qualidade dos investimentos em Defesa já que mais do que 3/4 dos gastos são com bens e serviços de origem estrangeira. É fundamental criar condições para aumentar o conteúdo nacional dos sistemas de Defesa de forma a potencializar a reindustrialização e a geração de empregos. Esta dependência de meios e tecnologias dos países da OTAN se constitui em enorme vulnerabilidade, especialmente no momento que estamos atravessando. Nesse contexto, parece claro que o Brasil necessita começar imediatamente um grande e continuado esforço para desenvolver, da forma mais autônoma possível, sua capacidade militar. É necessário estabelecer uma agenda positiva para a Defesa de curto, médio e longo prazo, que inclua a Defesa como uma das vertentes da reindustrialização do país. A agenda de curto prazo deveria incluir, entre outros aspectos, o fortalecimento da Base Industrial da Defesa por meio de sua crescente nacionalização, da atuação do BNDES e Banco do Brasil para o financiamento do comprador de produtos da BID e outorga de performance bonds e para a criação de empresas críticas de defesa.

Os acontecimentos político-militares recentes e as desconfianças criadas no mais alto nível do atual governo, é importante ressaltar, estão sendo contrabalançados pelo fato de   que, apesar das tentativas da presidência anterior e do envolvimento de militares da ativa em ações político-partidárias, as FFAA, como instituição, nos últimos quatro anos, reafirmaram seu profissionalismo e evitaram qualquer interferência que colocasse em risco a democracia.

Dentro desse contexto, torna-se urgente discutir dois temas: uma grande estratégia para o Brasil, uma estratégia de segurança nacional de médio e longo prazo, a exemplo dos documentos recentes da Alemanha, EUA e Reino Unido. Nesse contexto, deverão ser levadas em conta as atuais vulnerabilidades das FFAA e estimulada, no âmbito das políticas de reindustrialização, o fortalecimento da indústria de defesa. E, com base na nova atitude profissional das FFAA, examinar, de forma transparente, a normalização do relacionamento entre civis e militares com a definição de regras e práticas de um efetivo controle do executivo, legislativo e judiciário sobre os militares, como em muitos países.

Com a palavra a sociedade civil e o Congresso Nacional.

Rubens Barbosa, presidente do Centro de Estudos de Defesa e Segurança Nacional (CEDESEN)

 

segunda-feira, 10 de julho de 2023

Sobre a verdadeira natureza do atual Estado russo - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre a verdadeira natureza do atual Estado russo

Paulo Roberto de Almeida

Lula ainda não parece ter compreendido que o Estado russo de Putin é uma cleptocracia governada no mais puro estilo mafioso (como era, aliás, a República de Weimar governada, entre 1933 e 1945, pelos criminosos do partido nazista chefiados por Hitler). Ele tem certeza de pretender colocar a diplomacia brasileira, via Brics, ao lado desses gangsters? 

Como se sentem os diplomatas brasileiros profissionais? 

Lourival Sant'Anna deveria dedicar uma de suas colunas a essa questão. Recomendo primeiro ler o livro de Karen Dawisha: Putin’s Kleptocracy: Who Owns Russia?


O significado maior da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia - Paulo Roberto de Almeida

O significado maior da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as implicações da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia para a Rússia, a China e o Brasil.

 

Nem Putin, nem Xi Jinping, contavam com um conflito prolongado no caso da Ucrânia, com uma terrível sangria humana (eles só pensam, claro, nos soldados russos) e consequências desastrosas no comércio e outras interações com o Ocidente. 

Devem estar preocupados com o custo econômico e diplomático. Até quando as duas autocracias vão sustentar o embate com a Otan (no campo militar) e com parte do Ocidente (no campo econômico)?

Para Putin, o custo maior é simplesmente o seu poder pessoal, e o custo imposto à Rússia no plano econômico. No caso de Xi, deve estar pensando no custo bem maior de uma aventura militar no estreito de Taiwan. Terá de refazer o se planejamento para o término (se houver) de seu terceiro mandato no novo Celeste Império.

E o que faz o famoso e diáfano “Sul Global”? Faz cara de paisagem? Sinal de que não existe de fato como suposta entidade diplomática.

Essa guerra de agressão, que se pensava rápida e terminativa, já deixou sua marca nos livros de História e nos manuais militares (a serem escritos).

O Brasil de Lula 3 tampouco sairá engrandecido de uma postura considerada como objetivamente pró-Putin no terreno diplomático de suas relações com o que se poderia chamar de “Ocidente global”.

Os atuais dirigentes brasileiros já pensaram seriamente no impacto maior dessa guerra, a todos os títulos desastrosa para contendores e “espectadores”?

Não se trata de uma proxy war como outras no contexto dessa “segunda Guerra Fria”, agora sim, oficialmente declarada…

Os processos militares, econômicos, diplomáticos e geopolíticos ainda estão em desenvolvimento…

 

Paulo Roberto de Almeida

Uberaba, 4432, 10 julho 2023, 1 p.


domingo, 9 de julho de 2023

Bric-Brics e agora Brics+: onde está o interesse nacional brasileiro? - Paulo Roberto de Almeida e Oliver Stuenkel


O BRIC-BRICS SEMPRE FOI RUIM PARA O BRASIL: O BRICS+ SERÁ PIOR

Paulo Roberto de Almeida

 O BRIC (2006-2009) foi uma decisão equivocada, estrategicamente destruidora da autonomia em política externa, objetivo perseguido pela diplomacia brasileira desde sempre, adotada por um governo, o de Lula 1, claramente antiamericano e antiocidental, praticante de uma diplomacia partidária, sectária, enviesada e contrária aos interesses nacionais maiores do Brasil; já o ingresso da África do Sul (em 2011) representou uma imposição chinesa, que tende a se reproduzir agora na ampliação do BRICS, que só interessa à China e à Rússia. 

A decisão errada adotada entre 2006-2009, depois ampliada em 2011, agora ameaça de vez a pretensa autonomia da política externa do Brasil. O “bebê” acalentado de forma excessivamente otimista ao inicio, agora se transformou num “jovem” problemático, que serve a outros interesses que não os do Brasil. 

Não sei como Oliver Stuenkel ainda não percebeu isso. Meu livro sobre A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira (Kindle Amazon, 2022) aprofunda esse debate. 

Paulo Roberto de Almeida

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AMPLIAR O BRICS É RUIM PARA O BRASIL!

Oliver Stuenkel

Analista político e professor de relações internacionais da FGV em São Paulo

 O Estado de S. Paulo, 3/07/2023

No próximo dia 22 de agosto, os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul se reunirão em Joanesburgo para a 15ª cúpula do Brics. Por vários motivos, será o encontro mais importante da história do bloco, que se transformou em um grupo geopolítico em 2009, ano de sua primeira cúpula.

Em primeiro lugar, o anfitrião precisa lidar com uma situação diplomática delicada: como signatária do Tribunal Penal Internacional (TPI), a África do Sul tem a obrigação de prender o presidente russo se ele comparecer à reunião, pois o TPI emitiu, em março, mandado de prisão contra Vladimir Putin pela deportação ilegal de crianças ucranianas para a Rússia.

Nos últimos meses, o governo sul-africano até considerou transferir a cúpula para a China – que não é signatária do TPI. Afinal, como o ex-presidente sul-africano Thabo Mbeki apontou recentemente: “Não podemos dizer ao presidente Putin, ‘por favor, venha para a África do Sul’ e depois prendê-lo. Ao mesmo tempo, não podemos dizer ‘venha para a África do Sul’ e não o prender – porque estamos violando nossa própria lei”.

Porém, ao que tudo indica, é justamente isso que o governo sul-africano fará, atitude que não apenas representaria um triunfo diplomático para Putin, mas também fortaleceria o grupo Brics: afinal, o país se mostraria disposto a violar sua própria legislação para preservar a tradição diplomática das cúpulas do Brics, às quais até hoje nenhum presidente deixou de comparecer.

Em segundo lugar, em Joanesburgo o grupo estará diante da decisão mais importante de sua história: criar ou não um processo formal para admitir novos integrantes. Em 2010, a China conseguiu convencer o Brasil, a Rússia e a Índia a agregar a África do Sul, argumentando que incluir um país africano dava ao Brics mais legitimidade para falar em nome do mundo em desenvolvimento.

Parte da motivação, porém, provavelmente foi o desejo chinês de tornar supérfluo o IBAS – grupo criado em 2003 composto por Índia, Brasil e África do Sul – pois a consolidação de um agrupamento de três grandes democracias no Sul Global não era do interesse de Pequim. De fato, em 2013, o IBAS, uma das principais inovações da política externa do primeiro mandato Lula, perdeu relevância.

Desde 2017, a China promove sua visão de um Brics ampliado, e perto de 20 países – entre eles o Egito, o Irã, a Argentina e a Arábia Saudita – sinalizaram o interesse em aderir. Como a China, cujo PIB é maior do que de todos os outros integrantes somados, sempre será vista como líder do grupo, a expansão faz sentido para Pequim, e um Brics com dez ou vinte integrantes pode ajudar a formalizar a enorme influência econômica e política que a China já exerce globalmente. Para a Rússia, a expansão também faz sentido para se proteger do crescente isolamento diplomático.

Para a Índia e o Brasil, porém, ampliar o grupo teria um custo estratégico significativo: um Brics diluído dificilmente traria o mesmo prestígio, status e exclusividade que oferece hoje. É em parte graças ao Brics que o Brasil ainda é visto como uma potência em ascensão, apesar de estar em estagnação há uma década. Enquanto Nova Deli e Brasília têm a capacidade de vetar decisões em um agrupamento de cinco países, é bem mais difícil exercer a mesma influência em uma aliança de dez ou vinte, onde o maior objetivo dos novos integrantes é fortalecer laços econômicos com a China.

Além disso, é importante lembrar que vários dos países que buscam aderir ao grupo adotam uma estratégia explicitamente anti-ocidental, contrária à estratégia brasileira e indiana de articular uma postura de não-alinhamento no contexto das crescentes tensões entre os EUA e a China. Um Brics que inclua a Venezuela, o Irã e a Síria dificultaria garantir que as declarações finais das cúpulas tenham um tom moderado.

A participação brasileira do grupo Brics, do jeito que está, produz vantagens concretas para o Brasil, trazendo prestígio diplomático e facilitando o diálogo com quatro atores-chave no sistema internacional com os quais o País não tinha relação estreita há apenas duas décadas. Aceitar um Brics ampliado equivaleria a abrir mão desses benefícios.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...