quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (13): em Vancouver, fazendo o balanço da primeira metade da viagem


Across the Empire, 2014 (13): em Vancouver
Fazendo o balanço da primeira metade da viagem

Paulo Roberto de Almeida
Postado no blog Diplomatizzando 

            Acabamos de jantar salmão com ervas e azeite trufado, arroz integral com ervilhas, amêndoas fatiadas e torradas, comprados no Whole Foods de Vancouver SW, tudo acompanhado por um Valpolicella 2013, que compramos numa loja de vinhos ao lado do hotel, West End Liquor Store, tudo isso numa “modesta pensão” de chineses (ou pelo menos administrados por eles), que se chama English Bay Hotel, pela simples razão de que fica a 200 passos da English Bay (que seria uma praia se os habitantes locais tivessem a sorte de ter praias como as nossas). O salmão temperado e o arroz com ervilhas ficaram por conta de Carmen Lícia; eu só tive de abrir o vinho (e carregar as compras, claro). Mas estamos num apartamento de hotel de 4 peças, numa esquina simpática de um pedacinho de Vancouver (e quem quiser localize no Google maps: Denman Street, n. 1150), com o carro na garagem, e amplo espaço para espalharmos coisas e ideias.
            Como diria um radialista belga, cujo nome esqueci, mas cujo mote de programa eu nunca esqueci – desde os primeiros tempos em que me refugiei voluntariamente na Bélgica, fugindo de uma ditadura no Brasil e saindo de um socialismo real, na então Tchecoslováquia – “la culture c’est comme de la confiture: moins on a, plus on l’étend” (a cultura é como um resto de geleia: quanto menos se tem, mais a espalhamos).
            Pois viemos estendendo e aumentando nossa cultura desde Hartford, quase nas margens do Atlântico norte, até Vancouver, no Pacífico norte, um trajeto de 4.091 milhas até entrar no hotel, ou cerca de 6.545 km. Isso faz cerca de 340 milhas por dia, ou 545 kms em cada um dos doze dias que levamos para chegar até o outro lado dos EUA e agora no Canadá extremo-ocidental. Aliás, no meio do caminho entre Seattle e Vancouver, o carro sinalizou exatamente 33.333 milhas, ou 53,3 mil km no total. Em 18 meses de posse desse carro, fizemos o equivalente a 3 mil km por mês, ou 100 por dia. Como eu moro a duas quadras do trabalho, praticamente não existem percursos urbanos e o essencial foi feito mesmo nas estradas americanas.
Justamente, em toda a presente viagem, não tivemos nenhum problema de estrada, nenhum buraco, não fosse por um pedregulho arremessado por um caminhão de passagem, que deixou um impacto no para-brisa, e vai me obrigar a trocá-lo, uma vez de volta a Hartford. Quando digo nenhum problema, é nenhum problema mesmo, pois que viajamos tranquilamente, em toda segurança, com alguns pontos de lentidão por trabalhos de manutenção (mas muito bem sinalizados), e paradas sempre satisfatórias, tanto para comer, quanto para dormir (geralmente em Quality Inn, ou Holiday Inn). Banheiros limpos em todas as paradas, com raríssimas exceções, comida boa e barata (entre fast food e saladas), e sobretudo quase nenhum pedágio (salvo nos estados mais capitalistas da costa leste). Gasolina a preços razoáveis, mas os americanos gostariam que ela baixasse ainda mais, com o desenvolvimento de novas fontes de energia no próprio país. Tempo ótimo na quase totalidade do tempo: sol, mas bastante ameno.
            Vejamos agora os custos obrigatórios dessa viagem e uma comparação com o que seria gasto no Brasil. Não considero hotel ou comida, pois são gastos arbitrários, ou seja, dependem de escolhas: pode-se viajar em hotéis cinco estrelas, comendo em restaurantes sofisticados toda vez, ou pode-se fazer, como estamos fazendo mais por imposição do perfil americano de viagens do que por opção, ficar em hotéis três estrelas e fazer lanche durante os percursos, o que reduz bastante os valores efetivamente gastos.
            Pois bem: pelos meus registros, abasteci o carro com 130 galões de gasolina regular, a um custo médio de 3,64 dólares o galão, o que perfaz US$ 475,74 (ou, cerca de R$ 1.084,00, a um câmbio de 2,28). Se fossemos traduzir isso para o Brasil, a um preço de 3,15 reais por litro de gasolina, eu teria gasto R$ 1.500,00, ou praticamente 50% a mais. Imagino que estando os preços defasados, por decisão política do governo, poderia ser mais, mas mesmo nesse montante, estamos falando de um custo 50% maior para viajar no Brasil do que nos EUA (sem mencionar os problemas nas estradas, pedágios mais agressivos em certos lugares, bem como o exagero dos preços nos chamados serviços non tradables, que são justamente hotéis e restaurantes).
            Falando agora da viagem, o que poderia sintetizar: como sempre acontece, acabamos fazendo mais do que o planejado, e em menor espaço de tempo: pelo meu planejamento inicial estaríamos ainda, nesta terça-feira 9 de setembro, viajando de Portland a Tacoma, e isso fizemos no domingo, tendo depois feito Seattle em um dia, em lugar dos dois programados. Em conclusão, estamos adiantados três dias, pois só estaríamos chegando a Vancouver na sexta-feira, dia 12 de setembro. Vamos ficar os três dias programados nesta cidade, pois tem muita coisa para ver, e vamos também descansar um pouco, e cuidar dos trabalhos. Eu preciso revisar um capítulo inteiro de um livro em inglês, até o dia 15 próximo, para mandar ao meu amigo Ted Goertzel, que quer publicar um livro coletivo sobre o Brasil e pediu uma colaboração minha. Tenho também outros trabalhos na cabeça, em parte vinculados ao processo político-eleitoral em curso no Brasil.
            Agora é hora de começar a pensar na volta: daqui não há mais marcha para oeste, a não ser que fôssemos para o Alaska, de barco ou pelas estradas da Columbia Britânica, o que não é o caso. Agora não vou ter mais o sol pela frente nos finais de tarde, apenas numa pequena parte da manhã (e isso se sairmos cedo do hotel, o que quase nunca é o caso, pois sempre ficamos trabalhando até tarde, pois também viajamos até quase 22hs em grandes etapas). Preciso retirar meu Guia Michelin Canadá do carro, pois ele tem muitas páginas dedicadas a Vancouver.
       
     Chegando aqui, depois de deixar as malas no hotel, fomos percorrer a cidade, de carro, além de atravessar duas ou três pontes, fomos a Chinatown, jardim do Dr. Sun Yat-sen e o centro cultural chinês, onde visitamos uma exposição sobre os chineses que emigraram para cá, como simples operários manuais de construção de ferrovias, sendo que alguns lutaram nas fileiras canadenses nas duas guerras mundiais do século 20.  Tirei uma foto de um rato do zodíaco chinês, meu símbolo de rato de biblioteca. Voltando para o hotel, uma parada no supermercado, para as compras descritas no primeiro parágrafo. Ainda é cedo, ou seja, 23:15hs, o que me habilita ainda a ler toda a correspondência, responder o que for necessário, postar uma ou outra matéria de interesse no blog (esta postagem imediatamente), e depois ler o que me resta de informação sobre Vancouver, nos dois guias que temos conosco.
            Amanhã começam verdadeiramente as visitas, que antecipamos bastante agradáveis, tanto pela ordem britânica, simpatia canadense, limpeza suíça e povo muito alegre e colorido (com todo aquele pessoal pintado, grafitado, perfurado que anda por aí...). Abaixo, mais uma vez, os links das postagens anteriores...

Paulo Roberto de Almeida
Portland, 9 de setembro de 2014

0) Crossing the Empire (0): segunda viagem através dos EUA: 12,6 mil km em 30 dias: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/crossing-empire-segunda-viagem-atraves.html

1) Across the Empire (1) First day: boring roads, sempre mais do que o planejado...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/across-empire-1-first-day-boring-roads.html

2) Across the Empire (2) Second day: only the road, no more than the road...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/08/across-empire-2-second-day-only-road-no.html

3) Across the Empire (3): Des Moines, Omaha e o caminho dos pioneiros...: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-3-des-moines-omaha-e-o.html

4) Across the Empire (4): de North Platte, Nebraska, a Denver, Colorado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-4-de-north-platte.html

5) Across the Empire (5): em Denver, num jardim botânico de vidro (Chihuly): http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-5-em-denver-num-jardim.html).


7) Across the Empire (7): de Denver a Cody, leituras no velho Oeste: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-7-leituras-no-velho-oeste.html

8) Across the Empire (8): tinha um Yellowstone no caminho: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-8-tinha-um-yellowstone-no.html

9) Across the Empire (9): de Twin Falls a Portland, pelo Oregon Trail: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-9-de-twin-falls-portland.html

10) Across the Empire (10): em Portland, buscando cultura: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-10-em-portland-buscando.html

11) Across the Empire (11): de Portland, OR, a Tacoma, WA: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/across-empire-11-de-portland-or-tacoma.html

12) Across the Empire (12): de novo com Chihuly, desta vez em Seattle: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2014/09/across-empire-12-de-novo-com-chihuly.html

13) Across the Empire (13): em Vancouver, fazendo o balanço da metade do caminho: http://diplomatizzando.blogspot.ca/2014/09/across-empire-2014-13-em-vancouver.html

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