Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Politica Externa: a diplomacia petista em seus piores momentos - Editorial Estadao
Brasil dos companheiros: a mentira virou verdade - Arnaldo Jabor
A mentira virou verdade
Arnaldo Jabor
O Globo, 16/09/2014
Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado
Mentira virou verdade? Nossas “verdades” institucionais foram construídas por 500 anos de mentiras. Portanto, virou uma razão de Estado para o governo do PT a proteção à mentira brasileira inventada pela secular escrotidão portuguesa. Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Por isso, o Governo acha que é necessário proteger as mentiras para que a falsa “verdade” do país permaneça. E não é só a mentira que indigna. É a arrogância com que mentem. E a mentira vai se acumulando como estrume durante um ano e acaba convencendo muitos ingênuos de que “sempre foi assim” ou de que “erraram com boa intenção”.
Não só roubaram cerca de R$ 2 bilhões desviados de aparelhos do Estado, de chantagem com empresários, de fundos de pensão, de contratos falsos, mas roubaram também nossos mais generosos sentimentos. A verdadeira esquerda se modificou, avançou, autocriticou-se enquanto eles não arredaram os pés dos velhos dogmas da era stalinista e renegaram todo trabalho de uma esquerda mais social-democrata, como aliás fazem desde que não votaram nos “tucanos” da época e o Hitler subiu ao poder.
“Nunca antes”, nunca antes um partido tomou o poder no Brasil e montou um esquema secreto de “desapropriação” do Estado, para fundar um “outro Estado”. Nunca antes se roubou em nome de um projeto político alastrante em todos os escaninhos do Estado, aparelhado por mais de 30 mil militantes.
O ladrão tradicional sabia-se ladrão. O ladrão tradicional roubou sempre em causa própria e se escondia pelos cantos para não ser flagrado.
Os ladrões desse governo roubam de testa erguida, como se estivessem fazendo uma “ação revolucionária”, se orgulham de fingir de democratas para apodrecer a democracia por dentro.
A verdade está sempre no avesso do que dizem.
São hábeis em criar um labirinto de “falsas verdades”, formando uma rede de desmentidos, protelações e enigmas que vão desqualificando as investigações de coisas como a CPI da Petrobras e todos os crimes de seus aliados. Regozijam-se porque seus eleitores são ignorantes e pobres e não sabem nem o que é “dossiê” — pensam que é um tipo de doce. A verdade do Brasil é coloquial, feita de pequenos ladrões, sujos arreglos políticos, emperramentos técnicos. Hoje, sabemos que somos parte da estupidez secular do país. Assumir nossa doença talvez seja o início da sabedoria.
A verdade é que os petistas nunca acreditaram na “democracia burguesa”; como disse um intelectual emérito da USP — “democracia é papo para enrolar o povo”.
O PT que se agarra ao poder degrada a linguagem. Falam de um lugar que é o auge de um baixo voluntarismo aventureiro, de uma ideia de socialismo decaída em populismo. A esquerda petista não tem memória. Dá frio na espinha vê-la tender para os mesmos erros de 64 e 68.
Na cabeça dessa gente ignorante e dogmática nada é real; só a ideologia existe.
Todos os erros eram previsíveis por comentaristas e foram cumpridos à risca pelos governos petistas.
Milhares de petistas ocupam o Estado aparelhado e querem que a Dilma ganhe para permanecerem nas “boquinhas”.
As agências reguladoras estão sendo assassinadas.
Dilma berra que o Banco Central não tem de ter autonomia.
A era Meirelles-Palocci foi queimada, velho desejo dos camaradas.
Qualquer privatização essencial foi esquecida. A reforma da Previdência “não é necessária” — dizem eles — não havendo nenhum “rombo” no orçamento (!). Os gastos públicos aumentaram pois, como afirmam, “as despesas de custeio não diminuirão para não prejudicar o funcionamento da máquina pública”.
Se reeleita, voltará a obsessão do “Controle” sobre a mídia e a cultura. E, como não poderá se reeleger, o bolivarianismo vai florir e o passarinho do Chávez vai cantar em seus ouvidos. Nossa maior doença — o Estado canceroso — foi e será ignorada. Tudo que construíram, com sua militância, foi um novo “patrimonialismo de Estado”, com a desculpa de que “em vez de burgueses mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos”.
O perigo que corremos é sua reeleição, porque o país de analfabetos é boçal, espera um salvador da pátria. No fundo, brasileiros preferem uma boa promessa de voluntarismo e populismo, na base do “pau no burro” ou “bota para quebrar”. Estamos prontos para ditadores e demagogos; para administradores e reformadores racionais, não.
Enquanto o óbvio se exibe, a covardia de muitos intelectuais é grande. Há o medo de serem chamados de reacionários ou caretas. Continuam ativos os três tipos exemplares de “radicais”: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os burros e os loucos. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam; e os terceiros zurram.
A “presidenta” vive a missão impossível de ser “socialista e dirigir um país... ah... capitalista. A conclusão é que Dilma perdeu o controle da zona geral que Lula sabia “desorganizar” com esmero e competência. Dilma não é competente nem para desorganizar. Não é apenas o fim de dois maus governos; é o despertar de um caos institucional que será mais grave do que pensávamos. Estamos diante de um momento histórico gravíssimo, com os dois tumores gêmeos de nossa doença: a direita do atraso e a esquerda do atraso. É uma herança que vai amaldiçoar o futuro. Como escreveu Bobbio, se há uma coisa que une esquerda e direita é o ódio à democracia.
O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha. Sempre houve no país foi uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Com a História em marcha a ré, estranhamente, andamos para a frente. Como?
O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Chegaremos a uma vida social mais civilizada quando as ilusões chegarem ao ponto zero.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/a-mentira-virou-verdade-13944296#ixzz3ErjxGa7V
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Brasil dos companheiros: Jabor registra em cartorio a listas dos desastres anunciados...
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo, 30/09/2014
O que acontecerá com o Brasil se a Dilma for eleita?
Aqui vai a lista:
A catástrofe anunciada vai chegar pelo desejo teimoso de governar um país capitalista com métodos "socialistas". Os "meios" errados nos levarão a "fins" errados. Como não haverá outra "reeleição", o PT no governo vai adotar medidas bolivarianas tropicais, na "linha justa" da Venezuela, Argentina e outros.
Dilma já diz que vai controlar a mídia, economicamente, como faz a Cristina na Argentina. Quando o programa do PT diz: "Combater o monopólio dos meios eletrônicos de informação, cultura e entretenimento", leia-se, como um velho petista deixou escapar: "Eliminar o esterco da cultura internacional e a 'irresponsabilidade' da mídia conservadora". Poderão, enfim, pôr em prática a velha frase de Stalin: "As ideias são mais poderosas do que as armas. Nós não permitimos que nossos inimigos tenham armas, porque deveríamos permitir que tenham ideias?".
As agências reguladoras serão mais esvaziadas do que já foram, para o governo PT ter mais controle sobre a vida do País. Também para "controlar", serão criados os "conselhos" de consulta direta à população, disfarce de "sovietes" como na Rússia de Stalin.
O inútil Mercosul continuará dominado pela ideologia bolivariana e "cristiniana". Continuaremos a evitar acordos bilaterais, a não ser com países irrelevantes (do "terceiro mundo") como tarefa para o emasculado Itamaraty, hoje controlado pelo assessor internacional de Dilma, Marco Aurélio Garcia. Ou seja, continuaremos a ser um "anão diplomático" irrelevante, como muito acertadamente nos apelidou o Ministério do Exterior de Israel.
Continuaremos a "defender" o Estado Islâmico e outros terroristas do "terceiro mundo", porque afinal eles são contra os Estados Unidos, "inimigo principal" dos bolcheviques que amavam o Bush e tratam o grande Obama como um "neguinho pernóstico".
Os governos estaduais de oposição serão boicotados sistematicamente, receberão poucas verbas, como aconteceu em S. Paulo.
Junto ao "patrimonialismo de Estado", os velhos caciques do "patrimonialismo privado" ficarão babando de felicidade, como Sarney, Renan "et caterva" voltarão de mãos dadas com Dilma e sua turminha de brizolistas e bolcheviques.
Os gastos públicos jamais serão cortados, e aumentarão muito, como já formulou a presidenta.
O Banco Central vai virar um tamborete usado pela Dilma, como ela também já declarou: "Como deixar independente o BC?".
A Inflação vai continuar crescendo, pois eles não ligam para a "inflação neoliberal".
Quanto aos crimes de corrupção e até a morte de Celso Daniel serão ignorados, pois, como afirma o PT, são "meias-verdades e mentiras, sobre supostos crimes sem comprovação...".
Em vez de necessárias privatizações ou "concessões", a tendência é de reestatização do que puderem. A sociedade e os empresários que constroem o País continuarão a ser olhados como suspeitos.
Manipularão as contas públicas com o descaro de "revolucionários" - em 2015, as contas vão explodir. Mas ela vai nomear outro "pau-mandado" como o Mantega. Aguardem.
Nenhuma reforma será feita no Estado infestado de petistas, que criarão normas e macetes para continuar nas boquinhas para sempre.
A reforma da Previdência não existirá, pois, segundo o PT, "ela não é necessária, pois exageram muito sobre sua crise", não havendo nenhum "rombo" no orçamento. Só de 52 bilhões.
A Lei de Responsabilidade Fiscal será desmoralizada por medidas atenuantes - prefeitos e governadores têm direito de gastar mais do que arrecadam, porque a corrupção não pode ficar à mercê de regras da época "neoliberal". Da reforma política e tributária ninguém cogita.
Nossa maior doença - o Estado canceroso - será ignorada e terá uma recaída talvez fatal; mas, se voltar a inflação, tudo bem, pois, segundo eles, isso não é um grande problema na política de "desenvolvimento".
Certas leis "chatas" serão ignoradas, como a lei que proíbe reforma agrária em terras invadidas ilegalmente, que já foi esquecida de propósito.
Aliás, a evidente tolerância com os ataques do MST (o Stedile já declarou que se Dilma não vencer, "vamos fazer uma guerra") mostra que, além de financiá-los, este governo quer mantê-los unidos e fiéis, como uma espécie de "guarda pretoriana", como a guarda revolucionária dos "aiatolás" do Irã.
A arrogância e cobiça do PT aumentarão. As 30 mil boquinhas de "militantes" dentro do Estado vão crescer, pois consideram a vitória uma "tomada de poder". Se Dilma for eleita, teremos um governo de vingança contra a oposição, que ousou contestá-la. Haverá o triunfo "existencial" dos comunas livres para agir e, como eles não sabem fazer nada, tudo farão para avacalhar o sistema capitalista no País, em nome de uma revolução imaginária. As bestas ficarão inteligentes, os incompetentes ficarão mais autoconfiantes na fabricação de desastres. Os corruptos da Petrobrás, do próprio TCU, das inúmeras ONGs falsas vão comemorar. Ninguém será punido - Joaquim Barbosa foi uma nuvem passageira.
Nesta eleição, não se trata apenas de substituir um nome por outro. Não é Fla x Flu. Não. O grave é que tramam uma mutação dentro do Estado democrático. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica.
E, claro, eles têm seus exércitos de eleitores: os homens e as mulheres pobres do País que não puderam estudar, que não leem jornais, que não sabem nada. Parafraseando alguém (Stalin ou Hitler?) - "que sorte para os ditadores (ou populistas) que os homens não pensem".
Toda sua propaganda até agora se acomodou à compreensão dos menos inteligentes: "Quanto maior a mentira, maior é a chance de ela ser acreditada" - esta é do velho nazista.
O programa do PT é um plano de guerra. Essa gente não larga o osso. Eles odeiam a democracia e se consideram os "sujeitos", os agentes heroicos da História. Nós somos, como eles falam, a "massa atrasada".
É isso aí. Tenho vontade de registrar este texto em cartório, para depois mostrar aos eleitores da Dilma. Se ela for eleita.
Estado da nacao: um estrategista analisa a realidade da republica companheira - Afonso Farias
Afonso Farias
Correio Braziliense, 29 Setembro 2014
A nação transformou-se em monopólio de negociadores governamentais de plantão. Ocupam cargos para construir suas riquezas materiais e organizar estruturas e sistemas (aparentemente do bem) para se perpetuarem estrategicamente nas posições ocupadas.
Sobre a educação, depois de analisada por organismos internacionais e constatado que o Brasil está mal, foi a vez de o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontar os desmandos da gestão nacional do setor. As notas do Ideb caíram no ensino médio de 16 redes públicas estaduais entre 2011 e 2013.
O país não atingiu as metas previstas para 2013 nos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e no ensino médio. A meta de 2013 só foi atingida nos primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 5º ano).
Um fato chama a atenção: as escolas particulares não alcançaram as metas em nenhuma das três fases de ensino. Nos anos iniciais do ensino fundamental, as instituições privadas foram as únicas a não alcançar a meta do Ideb. A situação se repete nos anos finais. Tecnicamente, a educação é pouco eficiente.
Relativamente à economia, nos três primeiros trimestres de 2014, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou recuo de 0,6%. O Banco Central, como tem feito costumeiramente, revisou para baixo a expectativa de crescimento deste ano, passando a previsão do PIB de 0,70% para 0,52%.
Com esse percentual, 2015 tem previsão de crescimento em torno de 1%. Crescendo menos que os demais Brics, o Brasil perdeu a confiança do investidor estrangeiro. Hoje, verificando 44 economias que tiveram o desempenho dos três primeiros trimestres analisado pela revista Economist, apenas Japão e Ucrânia estão numa situação pior que a do Brasil.
Com o menor percentual de investimento entre os componentes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Árica do Sul), 18% do PIB, o Brasil está comprometendo seu futuro econômico e afastando os investidores. Tecnicamente, o país está em recessão.
Sobre a violência, no que toca aos homicídios, morrem mais de 56 mil pessoas por ano no Brasil. Isso é quase que a totalidade de americanos mortos na sangrenta Guerra do Vietnã (58 mil), durante mais de 10 anos de conflito.
Sobre suicídios, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou um relatório recente, sobre a América Latina, no qual apenas cinco países tiveram aumento percentual no número de suicídios entre 2000 e 2012: Guatemala (20,6%), México (16,6%), Chile (14,3%), Brasil (10,4%) e Equador (3,4%).
Torna-se relevante perceber que, no Brasil, o número de mulheres que tiraram a própria vida cresceu mais (17,80%) do que o número de homens (8,20%) no período de 12 anos. A OMS afirmou que há aproximadamente 800 mil suicídios/ano no planeta — a cada 40 segundos, suicida-se uma pessoa. Tecnicamente, matam-se e suicidam-se mais pessoas neste país.
Assim, apenas pela abordagem desses três pontos (educação, economia e violência), é notório que a correção urge e que as estruturas governamentais e institucionais passem realmente a funcionar. Ações retóricas, promessas vazias, mudar para nada acontecer e o politicamente correto afundaram as instâncias públicas nacionais e estão corroendo o tecido social.
O petróleo sempre foi objeto de lucro, de esperança e de sucesso nesta terra. Nunca na história deste país, ele foi notado e carimbado como problema. Agora, depois de sucessivas denúncias e, mais recentemente, da delação, a Petrobras emaranhou-se e afunda-se nos pântanos de uma administração completamente enviesada pela politicagem e fraudulentos procedimentos.
Por fim, os dois grandes problemas nacionais residem na ética tropeçante e na ineficiência da gestão. Ultimamente, as notícias, floridas pelas campanhas eleitorais, explodem desvios, má-gestão e pífios resultados dos governos. A ineficiência só aumenta e as mentiras de autoridades seguem o incremento. Qual é a proa? Onde está a bússola? Socorro! Furtaram o compasso.
» AFONSO FARIAS Especializado em política e estratégia, mestre em administração e doutor em desenvolvimento sustentável, é professor do Programa de Pós-Graduação da Universidade da Força Aérea
Nossa diplomacia nanica - Jolivaldo Freitas (O Correio, Bahia)
Nossa diplomacia nanica
Jolivaldo Freitas
Cuba: minha primeira experiencia com o Facebook
Mas é que Cuba foi o objeto de minha primeira postagem no FaceBook, em 2010, quando eu ainda resistia a esta ferramenta, e na verdade fiquei ausente por mais três anos depois dessa experiência isolada e pioneira.
Quando decidir testar o novo instrumento, resolvi fazer um comentário sobre o anúncio pelo governo ditatorial em torno das mudanças econômicas na ilha, que pareciam prenunciar uma revolução capitalista no regime castrista, em direção de um sistema de tipo chinês, ou pelo menos vietnamita.
Nada disso aconteceu, como se sabe, mas aproveito para postar aqui o texto que fiz em setembro de 2010, em plena campanha eleitoral no Brasil.
Quatro anos depois, Cuba não mudou muito, ou quase nada, e o Brasil, se mudou alguma coisa, foi para pior, talvez no caminho de Cuba (aliás, ainda não se discutia a sustentação financeira da ditatura pelos companheiros totalitários do partido hegemônico brasileiro.
Em todo caso, rever antigos textos é sempre inspirador...
Paulo Roberto de Almeida
O desenvolvimento do capitalismo em Cuba
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Livro: uma leitura exemplar, Escorel sobre Maquiavel, e uma reflexao propria...
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RBPI: numero especial sobre a China
China rising – strategies and tactics of China’s growing presence in the world
editada por Henrique Altemani de Oliveira, Professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e por Antônio Carlos Lessa, professor da Universidade de Brasília e editor da RBPI.
Editorial
China rising – strategies and tactics of China’s growing presence in the world: a special issue of RBPI, by Henrique Altemani de Oliveira & Antônio Carlos Lessa
Articles
Mao’s steps in Monroe’s backyard: towards a United States-China hegemonic struggle in Latin America?, by Jose León-Manríquez & Luis F. Alvarez;
Swords into ploughshares? China’s Soft Power strategy in Southeast Asia and its challenges, by Tony Tai-Ting Liu & Tung-Chieh Tsai;
China’s rising Soft Power: the role of rhetoric in constructing China-Africa relations, by Lucy Jane Corkin;
Japan and India: soft balancing as a reaction to China’s rise?, by Wellington Amorim & Antonio Henrique Lucena da Silva;
The international implications of the Chinese model of development in the Global South: Asian Consensus as a network power, by Javier Vadell, Leonardo Ramos, Pedro Neves;
Brazil, China, US: a triangular relation?, by José Augusto Guilhon-Albuquerque;
China’s proposing behavior in Global Governance: the cases of the WTO Doha Round negotiation and G-20 process, by Hongsong Liu;
South-South relations and the English School of International Relations: Chinese and Brazilian ideas and involvement in Sub-Saharan Africa, by Joseph Marques & Anthony Spanakos;
Between system maker and privileges taker: the role of China in the Greater Mekong Sub-region, by Truong-Minh Vu;
Chinese energy policy progress and challenges in the transition to low carbon development, 2006–2013, by Larissa Basso & Eduardo Viola;
The tale of a Trojan horse or the quest for market access? China and the World Trade Organization, by Sven Van Kerckhoven & Adriaan Luyten;
Peaceful rise and the limits of Chinese exceptionalism, by Raquel Vaz-Pinto;
Macau in China’s relations with the lusophone world, by Carmen Amado Mendes;
Muddle or march: China and the 21st century Concert of Powers, by Weizhun Mao;
Chinese engagement for Global Governance: aiming for a better room at the table?, by Henrique Altemani de Oliveira & Alexandre César Cunha Leite.
Esta edição pode ser adquirida na Loja do IBRI
Hong Kong: um pais dois sistemas (e como...)
Duas tragedias da humanidade: Ebola e Holocausto - Der Spiegel
INTERVIEW WITH EBOLA DISCOVERER PETER PIOT
'It Is What People Call a Perfect Storm'
Almost four decades ago, Peter Piot was part of the team that discovered the Ebola virus. In a SPIEGEL interview, he describes how the disease was isolated and explains why the current outbreak is different than any that have come before.
Photo Gallery: A Growing Epidemic
A VOICE FOR THE DEAD
Recovering the Lost History of Sobibór
Henchman with the Nazi SS sought to cover up the mass murder that occurred at the Sobibór concentration camp in eastern Poland. Archeologists recently uncovered the site's hidden gas chambers and important artifacts that shed light on the victims.
Eleitores nao podem ser presos: oba, pessoal! Vamos aproveitar...
Poliica externa companheira: o mundo como palanque - Mac Margolis
Mac Margolis
O Estado de S. Paulo, 28/09/2014
Mac Margolis é colaborador da Bloomberg View e colunista do 'Estado'
Este mundo é um palanque. Que o diga a presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Com a corrida presidencial nas últimas semanas e a promessa de um final suado, a líder brasileira fez o que faz todo mandatário que se preze em momentos difíceis: viajou.
Claro, já constava na agenda presidencial a sua participação da 69.ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Afinal, o Brasil é o país que dá início à solenidade anual da ONU, que reúne chefes de Estado e de governo de 193 nações. Restou para a brasileira - ou seus marqueteiros - o lampejo de amarrar a pompa à circunstância e converter a cúpula global em comício.
Seu discurso não encantou. Como oradora, a presidente é uma excelente tecnocrata. Ela, corretamente, chamou atenção para o desequilíbrio nas instituições de governança multilateral, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas, para o qual o Brasil reivindica um assento permanente. Exatamente como fez no ano passado, quando Brasília já era voto vencido.
Criticou as grandes potências pela sua queda por soluções militares para os conflitos no Oriente Médio, deixando para a imaginação como seria uma negociação de paz com os encapuzados do Estado Islâmico (EI).
Convocou os pares internacionais para engrossar a luta contra o aquecimento global. Perdeu a oportunidade de explicar porque o Brasil, campeão em derrubada de florestas, não se juntou aos 150 países, 35 empresas, 16 grupos indígenas e 45 grupos da sociedade civil que assinaram o compromisso de reduzir o desmatamento pela metade até 2020, na última Cúpula do Clima.
Na toada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, criticou os países ricos ("os louros de olhos azuis", como preferiu seu mentor), pelo colapso mundial após a quebra do banco Lehman Bros., crise pela qual o Brasil teria navegado com louvor.
Pulou a parte da pane na economia nacional, que recentemente embicou em recessão técnica, com inflação em alta e confiança do investidor, cadente.
Tocou apenas de raspão no tema da espionagem das agências americanas, que fez dela uma vítima e dominou seu discurso na mesma sala, no ano passado, e quase deflagrou uma crise diplomática entre Brasília e Washington. Mas esse foi o ultraje de ontem.
Hoje, com o segundo mandato em jogo, Dilma tem outro público a convencer. Por isso, enxergou no colegiado das nações um estúdio itinerante de propaganda eleitoral e seu discurso, um 'Café com a Presidenta' pelo teleprompter alheio.
Combate à desigualdade, aula magna de administração econômica, cerco implacável contra a corrupção e apoio total aos direitos dos homoafetivos: o Brasil do governo Dilma representa tudo isso e mais, afirmou.
Como a presidente brasileira, seus pares latino-americanos também escolheram o pódio internacional como atalho para as urnas.
O presidente boliviano, Evo Morales, que concorre à reeleição em outubro, jogou para a sua base andina ao propor um "tribunal do povo" para julgar os "crimes" do presidente americano, Barack Obama.
A presidente argentina, Cristina Kirchner, que sonha em fazer seu sucessor no ano que vem, aproveitou sua vez ao microfone para bater nos credores "abutres", aqueles que ao recusar os termos do acordo geral da dívida teriam levado seu país à oitava moratória externa desde 1820. "Terroristas não são apenas aqueles que jogam bombas", disse a presidente.
Cristina pegou a casa ainda cheia e atenta. Já Nicolas Maduro, da Venezuela, teve de se contentar com alguns gatos pingados. Maduro, enfim, não é Chávez, o orador dublê de bufão que encantava suas plateias com impropérios e blagues.
Dilma teve recepção melhor, em parte pelo peso do Brasil, em parte pelo horário, pois discursou logo antes de Barack Obama.
Do Brasil, emergente titular das Américas, sétima economia do mundo, sócio-fundador do grupo Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul), o mundo talvez imaginasse um discurso à altura. Pena que tenha ouvido mais um programa do horário eleitoral, com tradução simultânea.
Mandarins da republiqueta dos privilegiados continua a afundar a Republica
Folha de S. Paulo, 26/09/2014
O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), estendeu o auxílio-moradia às Justiças do Trabalho, Militar, e a magistrados de nove Estados que ainda não recebem o benefício. Há quinze dias, o ministro havia autorizado o pagamento do benefício à magistratura federal, em medida liminar, o que abriu brecha para beneficiar todo o Judiciário.
Após a decisão, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) entrou com ação pleiteando o direito para a Justiça Militar e para nove Estados que ainda não pagam o benefício. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) fez o mesmo movimento, em nome dos juízes do trabalho. Ao analisar as duas ações, Fux apontou que o pedido era o mesmo formulado pela magistratura federal. "Onde houver o mesmo fundamento, deve ser assegurado o mesmo direito", afirmou o ministro, nas liminares.
Ele destacou que a decisão não depende de regulamentação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Na primeira liminar, Fux sugeriu que o conselho regulamentasse a questão. Os magistrados passam a ter direito desde a data da primeira liminar concedida - 15 de agosto e em mesmo valor. Na ocasião, foi estabelecido pagamento no valor a que têm direito os ministros do Supremo, que é de R$ 4.377,73.
Além dos ministros do Supremo, já têm direito hoje ao auxílio-moradia os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), os conselheiros do CNJ e membros do Ministério Público, desde que não possuam residência oficial ou imóvel funcional no local de trabalho. Com as três liminares de Fux, ficam abarcados os magistrados federais, do Trabalho, da Justiça Militar e dos Estados que ainda não pagavam o benefício: Acre, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Sul e São Paulo. Os demais tribunais estaduais já efetuam o pagamento do benefício. De acordo com o CNJ, o País possui no total 16,3 mil magistrados, mas deverão receber o benefício apenas os que não possuírem residência oficial no local de trabalho.
ONU condena fundos abutre: oh, que tragedia!; os especuladores vao arrancar os cabelos...
Todos os abutres, e os especuladores, desempenham um papel positivo, no sentido de conter as políticas erradas dos governos. Se especuladores pudessem especular com contas equilibradas, câmbio formado pelo mercado (e não como resultado da manipulação dos governos) e situações monetárias conformes à realidade das forças econômicas, não distorcidas pelos governos.
Abutres cumprem um papel profilático na natureza; o mesmo acontece com os dos mercados financeiros. Eles limpam os campos de governos apodrecidos, como era a Argentina, aliás...
Paulo Roberto de Almeida
ONU adota resolução que condena fundos abutres
Agência Brasil, 29/09/2014
O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) adotou hoje (26), em Genebra, uma resolução que condena os chamados fundos abutres - como são chamados os fundos especulativos que compraram títulos da Argentina. O texto aprovado por 33 votos a favor, 5 contra (incluindo o voto dos Estados Unidos) e 9 abstenções.
O texto "condena as atividades dos fundos abutres pelos efeitos negativos diretos que exercem sobre a capacidade dos governos de cumprir suas obrigações em matéria de direitos humanos - sobretudo os direitos econômicos, sociais e culturais e o direito ao desenvolvimento - e o pagamento da dívida a esses fundos em condições predatórias".
O chanceler argentino, Héctor Timerman, disse, em coletiva de imprensa, que "a Argentina está muito orgulhosa de ter conseguido uma extraordinária vitória a favor dos direitos humanos". Ele acrescentou que os fundos abutres não vão parar até que sejam impedidos de continuar. "Os bilhões que os fundos abutres levam do Sul, traduzem-se em fechamento de escolas, em hospitais sem medicamentos, em famílias revirando o lixo para comer", acrescentou.
Brasil, Chile, Cuba, Rússia, Venezuela, Peru, Uruguai, Paraguai, El Salvador e Bolívia acompanharam a Argentina na apresentação da resolução. Os Estados Unidos justificaram o voto negativo com o argumento de que a discussão deveria ser técnica. "Se esse debate não for feito adequadamente, isso pode criar incertezas e elevar o custos dos empréstimos, levando inclusive ao corte de financiamento aos países em desenvolvimento".
A resolução também convoca os países a "participar nas negociações encaminhadas para estabelecer um marco jurídico multilateral para os processos de reestruturação da dívida soberana", previstas na Resolução 68/304 da Assembléia Geral da ONU.
A resolução, proposta por Argentina e G77+China, foi adotada pela Assembléia Geral da ONU no dia 9 de setembro com o objetivo de "elaborar e adotar, por meio de um processo de negociações intergovernamentais, um marco legal multilateral que permita reestruturações da dívida soberana". Segundo o texto, o marco legal será votado antes do fim do ano.
Buenos Aires mantém uma disputa legal com fundos especulativos, que classifica de "abutres", porque compraram os títulos da dívida desde 2001 e agora exigem 100% de seu valor, apesar de 93% dos credores da dívida argentina terem aderido à renegociação.
Os fundos conseguiram nos tribunais dos Estados Unidos o bloqueio dos pagamentos de 93% dos credores que aderiram à reestruturação em 2005 e 2010, o que levou a Argentina à moratória parcial em junho.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Exposicao ao ridiculo e caso de internacao, ainda o Estado Islamico dos Companheiros - Percival Puggina
Por Percival Puggina
O Globo, 23 de setembro de 2014
A presidente Dilma Rousseff condenou os ataques aéreos na Síria pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, iniciados na noite de segunda-feira para desmantelar a organização terrorista Estado Islâmico (EI) e combater células da rede al-Qaeda. Para Dilma, o Brasil repudia agressões militares, porque elas podem colher resultados imediatos, mas trazem consequências deletérias para países e regiões no médio e longo prazos. A presidente citou Iraque, Líbia e Faixa de Gaza como exemplos recentes da falta de eficácia deste tipo de política.
O Globo transcreve a fala presidencial:
Lamento enormemente isso (ataques aéreos na Síria contra o EI). O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU. Eu não acho que nós podemos deixar de considerar uma questão. Nos últimos tempos, todos os últimos conflitos que se armaram tiveram uma consequência. Perda de vidas humanas dos dois lados, agressões sem sustentação aparentemente podem dar ganhos imediatos, mas depois causam prejuízos e turbulências. É o caso do Iraque, está lá provadinho. Na Líbia, a consequência no Sahel. A mesma coisa na Faixa de Gaza.
Se a presidente dissesse isso conversando com seus próprios botões, durante um chá da tarde com a família em Porto Alegre, já seria um disparate. Afirmá-lo perante a comunidade internacional reunida em Nova Iorque, durante um evento de grande repercussão como a Cúpula de Mudança Climática da ONU, é um caso de internação.
Mais grave ainda se torna o quadro clínico quando se sabe que a presidente não esboçou o menor muxoxo, nem fez tisc, tisc, tisc perante o genocídio que o Estado Islâmico vem praticando nas regiões ocupadas.
Nossa lamentável presidente não lamentou a degola de qualquer dos jornalistas executados friamente pela jihad em curso.
Nossa credibilíssima presidente, que diz crer na diplomacia contra esse tipo de terrorismo religioso, está envergonhando o Itamaraty.
Ela dá continuidade, aliás, às posições políticas que vêm dos dois governos de Lula, quando as relações internacionais do Brasil foram conduzidas como se o país fosse um diretório de estudantes controlado pela esquerda.
É preciso fazer saber ao mundo que, especialmente em questões internacionais, nosso governo representa o que há de mais retrógrado no seu partido. E não o Brasil.
Tais não são as opiniões da nação brasileira. Fale por si e pelo PT, presidente.
Não nos exponha ao ridículo dessa maneira.
Delinquencia diplomatica e direito 'a irresponsabilidade - Demetrio Magnoli
Nada mais coerente, segundo um outro jornalista crítico, Augusto Nunes.
Só poderia dar nisso: quem tem um Estado Islâmico dos Companheiros dentro das fronteiras, sempre vai buscar os semelhantes no plano internacional...
Paulo Roberto de Almeida
Nosso homem no califado
Demétrio Magnoli
Folha de S.Paulo, 27/09/2014
Você pensa que Dilma Rousseff foi a Nova York gravar filmes de propaganda eleitoral no palco iluminado da Assembleia Geral das Nações Unidas? Talvez fosse esta a intenção exclusiva, mas a viagem presidencial deixou um inesperado rastro de destruição. Em dois dias, o governo provou a tese de que o Brasil não pode almejar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Entre as 2.511 palavras de um discurso provinciano, obviamente revisado por João Santana, não apareceu o termo "terrorismo". Contudo a peça desviou-se do roteiro principal para, mirando a guerra em curso contra o Estado Islâmico (Isis), diagnosticar a inutilidade do "uso da força" e a natureza contraproducente da "intervenção militar". Na entrevista à imprensa internacional, a posição brasileira foi pintada com tintas mais nítidas, o que resultou numa obra quase surrealista.
Dilma condenou diretamente os bombardeios na Síria, divergindo da maioria dos países do Oriente Médio, que participam da operação ou a respaldam politicamente. O tom da condenação ficou vários decibéis acima do utilizado pela Rússia e pelo Irã, que se limitaram a registrar protocolarmente a violação de uma insubstancial "soberania síria". O próprio regime sírio, interessado no enfraquecimento militar do Isis, preferiu mesclar esse registro inevitável com uma declaração de apoio ao "combate contra o terror". É só o conforto gerado pela irrelevância diplomática e pela distância geográfica que propiciou à presidente a chance de exercer o curioso direito à irresponsabilidade.
O Brasil tem razões para introduzir temas que não se inscrevem no discurso de Washington sobre a versão 2.0 da "guerra ao terror", recordando os desvios abomináveis da versão original, de George W. Bush. Há pouco, o conservador britânico Boris Johnson, ex-prefeito de Londres, sugeriu casualmente descartar a presunção de inocência de qualquer um que viaje à Síria ou ao Iraque sem notificação prévia, transferindo ao "suspeito" o ônus de provar que não participa da rede do terror. Os ecos de Guantánamo e da autorização da tortura devem servir para guarnecer a vulnerável fortaleza das liberdades civis. Dilma, porém, não pronunciou nenhuma palavra sobre os princípios da lei nas democracias, escolhendo a estrada da delinquência diplomática.
Na entrevista, Dilma jogou num saco abrangente coisas tão distintas quanto a invasão do Iraque, em 2003, a operação aérea na Líbia, em 2011, a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza, em julho, e os bombardeios contra o Isis, para repudiar "o morticínio e a agressão dos dois lados", referindo-se à coalizão liderada pelos EUA (um lado) e ao Isis (outro lado). No jargão diplomático, "dois lados" é a senha para o conflito entre Estados ou, no mínimo, entre forças combatentes legítimas. Por essa via, incidentalmente, e salvo algum desmentido futuro, o Brasil tornou-se o primeiro e único país do mundo a reconhecer o Estado Islâmico. Diante disso, o que é aquele célebre 7 a 1?
"Dois lados." Nessa linha, nossa presidente ofereceu sua alternativa à operação de guerra: "o diálogo, o acordo e a intermediação da ONU". Como, simultaneamente, pela voz de seu secretário-geral, a ONU solidarizava-se com os bombardeios, Dilma colocou o Brasil em rota de colisão com as Nações Unidas.
A ideia de "diálogo" com o Isis, formulada quando os terroristas decepavam mais uma cabeça, talvez agrade ao antiamericanismo primitivo que hipnotiza as correntes mais anacrônicas da esquerda brasileira, mas não protegerá os curdos, as minorias religiosas e as mulheres ao alcance da fúria jihadista. Entretanto o governo brasileiro obrigou-se moralmente a levá-la adiante –e, parece-me, temos em Marco Aurélio Garcia a figura ideal para cumprir a missão de plenipotenciário de paz em Mossul (Iraque) ou Raqqa (Síria), as sedes do califado.
Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana, é especialista em política internacional. Escreveu, entre outros livros, 'Gota de Sangue - História do Pensamento Racial' (ed. Contexto) e 'O Leviatã Desafiado' (ed. Record). Escreve aos sábados.
Argentina: noticias (frescas) de los hermanos, desafiando a sentenca da corte de NY - Bob van Joris (Bloomberg)
State’s ‘Dignity’
Dialogo com terroristas? Disparate e irresponsabilidade - Rubens Ricupero
Misturar diplomacia com demagogia nunca dá certo. Pior é quando presidente em busca de reeleição submete a Assembleia Geral da ONU ao espetáculo da propaganda de baixo nível do nosso horário eleitoral obrigatório. Os diplomatas estrangeiros não podem fazer como o espectador no Brasil, que simplesmente desliga a TV ou passa a outro programa. Foram obrigados a aguentar impávidos os disparates que lhes impingiu o discurso brasileiro de inauguração da assembleia.
Disparate, diz o dicionário, é expressão destituída de razão e senso, algo de despropositado e fora da realidade. A definição se ajusta como luva à declaração de que o Brasil condena os bombardeios americanos aos degoladores do Estado Islâmico porque favorecemos o diálogo e os meios pacíficos.
Alguém deveria ter explicado à presidente que diálogo é excelente maneira de resolver conflitos desde que o outro lado concorde em ouvir e responder. Quando a resposta é a faca na carótida, não existe diálogo possível. Alguém imagina que as vítimas de Auschwitz poderiam ter dialogado com a Gestapo e os SS? Ou que os cambojanos e ruandeses massacrados deveriam ter mantido conversação polida com genocidas?
Por que será diferente com fanáticos e psicopatas que trucidam prisioneiros inermes e torturam todos os que não aderem ao Califado? Duas semanas atrás, a ofensiva do EI estava às portas de Bagdá e da capital do Curdistão. Se não tivessem sido detidos pelos ataques aéreos americanos, milhares de refugiados teriam tombado nas mãos dos piores assassinos que o mundo conheceu desde o Khmer Vermelho.
O que o Brasil propôs de prático e efetivo para evitar tal desenlace, além de banalidades piedosas e ineficazes como aconselhar o diálogo com degoladores? Se não sabemos ou podemos tomar iniciativa para neutralizar os terroristas, deveríamos ter ao menos a decência de ficar calados. Condenar os bombardeios, único recurso existente naquela hora para afastar a ameaça, equivale a condenar ao massacre civis desprotegidos.
Há um nome para esse tipo de atitude confortável e hipócrita: irresponsabilidade. Nada mais fácil do que o principismo de invocar o diálogo em situação na qual esse método obviamente se encontra fora da realidade. É o mesmo que lavar as mãos em relação à consequência trágica mais que provável de um conselho despropositado. A diplomacia não deve buscar o aplauso fácil. Tem de responder pelos resultados previsíveis do que propõe.
Isso na melhor das hipóteses, se o conselho foi dado com sinceridade e boa fé, embora desprovidas de discernimento. Se, ao contrário, a motivação é o antiamericanismo barato com o objetivo de angariar votos, é muito mais grave. Nesse caso, combina-se a irresponsabilidade com a provocação gratuita, sem contribuir em nada para minorar o sofrimento das vítimas ou fazer avançar a pacificação do conflito.
Em qualquer das situações, não é a receita para tornar o Brasil candidato irrecusável a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, posição que se alcança apenas por meio de diplomacia responsável, a serviço da moderação e do equilíbrio.