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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Por uma Fronda Empresarial - Entrevista com Paulo Roberto de Almeida (eu mesmo...)

E sem pagar direitos autorais.
No final do ano passado, o jornalista encarregado da revista da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES), solicitou-me uma entrevista sobre temas da atualidade econômica brasileira. Indiquei minha preferência por uma entrevista por escrito, ou seja, e-mail, pois sei que essas gravações e transcrições nem sempre são confiáveis.
Não obstante o cuidado e o envio de uma versão editada, com pedido de fotos, tenho certeza de que ainda assim a matéria saiu com algumas imperfeições de edição, trechos suprimidos e cortes sem sentido.
Por exemplo, numa pergunta sobre os padrões de crescimento do Brasil, cortaram toda a primeira parte da frase, que diz isto: " Esse padrão de crescimento inclusivo foi obtido, na verdade, à custa do aumento constante da carga tributária, por um lado, e favorecido pela bonança do crescimento da economia mundial no período 2002-2008 e, durante todo esses anos e até hoje, pela excepcional demanda da China e de alguns outros emergentes pelos nossos produtos de exportação (na verdade, sobretudo primários, que alcançaram picos de valorização jamais vistos nas últimas décadas dos mercados mundiais)".
Em todo caso, dou aqui a indicação para a versão publicada e transcrevo no seguimento o meu arquivo, que acredito estar mais completo e mais correto sobre o que eu pretendia dizer (e disse, mas nem todos os empresários sergipanos poderão ler na íntegra essa entrevista).
Minha proposta de fronda empresarial me parece ser a única maneira de o Brasil romper não apenas o marasmo econômico atual, mas também a vergonha de seu sistema político, mas não tenho nenhuma ilusão de que tal processo venha a ocorrer no Brasil any time soon, ou ever...
Fica a proposta e sobretudo minhas ideias sobre a conjuntura de relativo declínio econômico, para não mencionar outros motivos de frustração com a nossa situação de erosão moral da atualidade.
Paulo Roberto de Almeida


1086. “O Brasil enfrenta a possibilidade real de estacionar no baixo crescimento”, entrevista concedida à revista FIES em Notícias (Aracaju: SE, Federação das Indústrias do Estado de Sergipe; ano 9, n. 56. Novembro-dezembro 2012, p. 6-11; link: http://www3.fies.org.br/fies/revista_fies_em_noticias.html; revista em pdf: http://www3.fies.org.br/fies/textos/Informativo_FIES/Informativo_FIES_n_56.pdf). Relação de Originais n. 2450.

 
Política econômica e política externa do Brasil
Entrevista para a revista da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira,
Professor de Economia Política no
Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
Respostas a questões colocadas por:
Luís Paulo Dias Miranda (luis.paulo@fies.org.br)
Núcleo de Informações Econômicas – NIE, FIES
Publicado, com fotos do entrevistado e sob a chamada de capa de título
“O Brasil enfrenta a possibilidade real de estacionar no baixo crescimento”,
na revista FIES em Notícias (Aracaju: SE, Federação das Indústrias do Estado de Sergipe; ano 9, n. 56. Novembro-dezembro 2012, p. 6-11; link: http://www3.fies.org.br/fies/revista_fies_em_noticias.html; revista em pdf: http://www3.fies.org.br/fies/textos/Informativo_FIES/Informativo_FIES_n_56.pdf). Relação de Publicados n. 1086.

1) Qual análise o senhor faz sobre a atual Política Externa brasileira?

PRA: A política externa brasileira atual apresenta uma combinação de duas grandes vertentes fundamentais: de um lado, as posturas políticas do partido no poder, o PT; de outro, as posições tradicionais da diplomacia profissional brasileira. Em determinados temas – como nos casos das negociações comerciais multilaterais, as questões de paz e segurança no sistema global, as relações bilaterais, em geral – predominam as posições historicamente conhecidas da diplomacia brasileira; em outros, em contrapartida, se destacam mais claramente as posições políticas do PT, como nos exemplos a seguir: relações Sul-Sul; apoio a regimes progressistas, ou de esquerda, da região e de outros continentes; visão mais política do que comercial do processo de integração; aliança com grandes parceiros não hegemônicos; menor ênfase nos direitos humanos e na democracia.
A atual política externa herdou alguns traços, mas não todos, da diplomacia presidencial extremamente ativa do presidente Lula, que se lançou em diversas iniciativas no plano externo, trazendo aumento da presença brasileira no exterior, certo prestígio para si próprio e para o Brasil, embora com alguns sucessos e vários fracassos nesses empreendimentos. Dos três grandes temas prioritários de sua presidência, nenhum deles logrou sucesso ou resultados concretos, não necessariamente por deficiências do instrumento diplomático, mas talvez por inconsistência dos objetivos proclamados em relação aos meios efetivamente disponíveis. Foram eles: a conquista de uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU, um tema que não parece perto de encontrar qualquer tipo de solução, em vista dos bloqueios existentes para uma reforma da Carta e a aceitação, por todos os parceiros – mas em especial os cinco membros permanentes – de uma modalidade de ampliação desse órgão central no processo decisório multilateral; a conclusão bem sucedida da rodada Doha de negociações comerciais multilaterais da OMC, que tampouco parece encaminhar-se para um acordo factível, tendo em vista a distância entre as pretensões dos diversos protagonistas, seja como demandantes de maior abertura comercial nos mercados visados, seja como desmantelamento de protecionismos setoriais ainda muito fortes; finalmente, o reforço e a ampliação do Mercosul, tema que, na verdade, caminhou no sentido inverso, o do aumento das salvaguardas e restrições comerciais dentro do bloco, especialmente a partir da Argentina, e uma diluição das normas comerciais mais importantes do bloco para acomodar o ingresso de novos parceiros (Venezuela, Equador e Bolívia) que não se mostram dispostos a adotar a política comercial comum.
Independente dessas frustrações relativas, o Brasil logrou constituir novos foros de interesse do partido no poder, como o IBAS (com África do Sul e Índia) e o Brics (com os mesmos, mais China e Rússia), além da constituição de grupos regionais exclusivos (como a Unasul), supostamente feitos para evitar a presença dos Estados Unidos nas deliberações regionais.

2) Haveria riscos e lacunas no nosso atual modelo de desenvolvimento capazes de impactar negativamente um maior dinamismo futuro da economia?

PRA: Se algum “modelo” existe na atual política econômica brasileira – o que é altamente duvidoso – ele é uma combinação de velhas receitas estatizantes, dirigistas e protecionistas, que parecem remeter o Brasil de volta a etapas históricas ultrapassadas de seu itinerário de desenvolvimento, como nos anos 1960 a 1980, quando o Estado representava uma parte considerável do PIB, comandava muitas empresas estatais, várias monopólicos (como continua a ser, de fato, a Petrobras) e intervinha, de modo muito pronunciado, nos planos empresariais de companhias privadas. O Estado continua a comandar parte substancial do mercado de créditos, pratica várias formas de subsídios e incentivos para setores considerados estratégicos e pretende insular a indústria das pressões competitivas externas, introduzindo diversas medidas protecionistas que estão fadadas ao fracasso ou vão, justamente, comprometer a competitividade futura de diversos setores da economia brasileira.
O Brasil possui dois enormes problemas estruturais, para poder empreender um processo de crescimento sustentado de sua economia: ganhos de produtividade, por um lado, o que é dificultado pela ausência de investimentos em infraestrutura, um ambiente regulatório hostil aos negócios privados, e uma oferta insuficiente, e notoriamente deficiente, de capital humano, fruto de décadas de negligência com o sistema educacional, em todos os níveis, mas especialmente no básico e no técnico-profissional; alavancas de competitividade, por outro lado, o que seria dado por uma tributação menos extorsiva e altamente burocratizada, pela existência de enormes barreiras à entrada de novos competidores, pelo protecionismo renitente e diversos outros fatores macro e microeconômicos que dificultam a vida das empresas.
Ou seja, não existe um modelo de desenvolvimento que se empenhe na resolução desses problemas estruturais e o governo parece ter abandonado completamente a ideia de reformas ambiciosas (nos planos da educação, do emprego, da estrutura fiscal, da privatização e do próprio Estado), em troca de pequenas medidas setoriais e improvisadas, que tornam o ambiente de negócios ainda mais imprevisível e sujeito aos humores dos governantes. As medidas nunca são universais ou horizontais, apenas setoriais, limitadas, temporárias, sem qualquer visão de longo prazo.
Um modelo de desenvolvimento credível deveria partir de pelo menos cinco premissas indispensáveis: 1) um ambiente macroeconômico estável e favorável aos negócios (com contas públicas ajustadas, juros baixos, inflação moderada, câmbio de mercado, confiança na estabilidade das regras, maior poupança e investimento); 2) uma microeconomia competitiva, aberta aos negócios, sem todos esses carteis que se traduzem em altos preços para empresas e consumidores; 3) governança de qualidade, com justiça célere, legislação moderna, com menor arbítrio do Estado na seleção de setores favorecido; 4) alta qualidade dos recursos humanos, não o atual sistema que envergonha o Brasil nos exames mundiais de avaliação do desempenho dos estudantes; 5) abertura ao comércio internacional e aos investimentos diretos estrangeiros, não as reações protecionistas e a paranoia do domínio estrangeiro que prevalece ainda nos espíritos e nas decisões dos governantes.

3) Na última década, o Brasil cresceu com um padrão de crescimento inclusivo que foi muito importante para o desenvolvimento de um robusto mercado consumidor. No entanto, precisaremos fazer escolhas para continuarmos com esse padrão. Na sua visão qual será o principal desafio?

PRA: Esse padrão de crescimento inclusivo foi obtido, na verdade, à custa do aumento constante da carga tributária, por um lado, e favorecido pela bonança do crescimento da economia mundial no período 2002-2008 e, durante todo esses anos e até hoje, pela excepcional demanda da China e de alguns outros emergentes pelos nossos produtos de exportação (na verdade, sobretudo primários, que alcançaram picos de valorização jamais vistos nas últimas décadas dos mercados mundiais). Em outros termos, o Brasil distribuiu, por um lado, o estoque de riqueza acumulado em outros setores da sociedade – com cargas fiscais proporcionalmente mais altas sobre a classe média e os empresários – e os ganhos advindos de uma demanda externa sobre os quais o governo e o Brasil não foram em nada responsáveis. Numa segunda fase, ocorreu também um extraordinário impulso dado pelo governo – e estímulos concomitantes dados ao setor financeiro privado – ao crédito ao consumidor, uma alavanca que é notoriamente insuficiente na ausência de impulsos correspondentes do lado da oferta, ou seja, do investimento produtivo. Com uma proporção de consumo-poupança claramente negativa – na faixa de 83-17% –, o Brasil carece de maiores estímulos à poupança e ao investimento privados, que só podem vir se o governo, o Estado, deixar de ser um despoupador líquido, que absorve quase dois quintos da riqueza produzida pela sociedade, para investir uma fração mínima dessa carga fiscal claramente extorsiva.
A primeira tarefa da classe empresarial seria a de conter a voracidade tributária do Estado, seu caráter nitidamente predatório sobre a riqueza social, e contribuir para a discussão de um novo pacto social que não seja demagogicamente distributivista, como ocorre hoje, mas que seja orientado para o investimento – basicamente privado – e para a criação de empregos, não para a montagem de programas assistencialistas, que até podem custar pouco no plano das despesas, mas que representam enorme impacto no mercado de trabalho e no plano da psicologia social. O Brasil está criando um Estado assistencialista claramente negativo do ponto de vista de suas perspectivas futuras de crescimento sustentável e de desenvolvimento social, pois esse Estado passará a absorver frações crescentes da riqueza social, tornando a atividade empresarial ainda mais difícil do que já é atualmente nas condições de tributação extorsiva e de um governo que faz caridade com o chapéu alheio, ou seja, o do setor privado.

4) Com a reeleição de Obama seria viável ao Brasil assinar um contrato de livre comércio com os EUA?

PRA: Isso não depende de Obama, ainda que ele possa propor algo do gênero ao governo brasileiro; a competência constitucional para negociar acordos comerciais, no sistema americano, pertence ao Congresso, que delega poderes para tal ao Executivo, mas sob condições estritas de reciprocidade e de ganhos reais de acesso a mercados. Nas condições atuais – que não tem exatamente a ver com a crise econômica, mas sim com atitudes políticas e postura de abertura – eu não vejo nenhuma disposição real, de uma parte ou de outra, para o início de tal tipo de negociações, notoriamente delicadas e difíceis em se tratando de dois grandes países cujas economias são bem mais baseadas nos respectivos mercados internos do que no comércio exterior. Mais recentemente, o que se tem observado, sobretudo no Brasil, são posturas bem mais protecionistas do que de abertura comercial, o que torna qualquer exercício nessa área altamente aleatório.
Não se deve esquecer, tampouco, que foi exatamente a atual maioria governante no Brasil, o governo do PT, que se esforçou para implodir a Alca, o projeto americano de uma área hemisférica de livre comércio, sob a alegação ridícula de que se tratava bem mais de um projeto de “anexação” (dixit Lula) do que de integração comercial. Como consequência dessa sabotagem deliberada, os EUA assinaram diversos acordos bilaterais de livre comércio com parceiros deste hemisfério (Chile, Colômbia, Peru, toda a América central e todo o Caribe) e com diversos outros países em outros continentes, ficando de fora, justamente, os membros do Mercosul e os ditos “bolivarianos”. Ou seja, não foram os EUA que não quiseram fazer livre comércio, foi o Brasil que se recusou a sequer considerar a hipótese. Não creio que a disposição tenha mudado significativamente nos últimos tempos.
Em resumo, enquanto os países da vasta bacia do Pacífico asiático (incluindo aqui alguns parceiros latino-americanos dessa costa) se dispõem a constituir uma ampla rede de integração produtiva, de livre fluxo de comércio, investimentos, tecnologia nessa grande região – que deve desbancar a preeminência que teve o Atlântico norte nos últimos cinco séculos – vários latino-americanos, entre eles o Brasil e a Argentina, se retraem em comportamentos protecionistas incompatíveis com o processo de globalização e com os requerimentos de uma economia moderna.

5) Esta em processo de construção um gigantesco bloco comercial na Ásia. O Brasil e o Mercosul poderiam se encaixar nesse bloco?

PRA: Dificilmente, a julgar pelo que se assiste como posturas comerciais e de políticas industriais não só do Mercosul, mas do Brasil e sobretudo da Argentina. A medidas adotadas recentemente vão exatamente na direção contrária do que seria indicado e até mesmo necessário para a plena inserção do Brasil nos fluxos dinâmicos da economia mundial, isoladamente ou no contexto do Mercosul. Alguns países latino-americanos, a exemplo do Chile, do Peru, da Colômbia ou do México, já se preparam para participar dessa nova onda, ao firmar uma “Aliança do Pacífico” que tem como objetivos, justamente, não apenas liberalizar o comércio reciprocamente, mas também negociar conjuntamente sua inclusão nessa vasta rede de negócios, de geometria variável, que mobiliza quase todos os parceiros da bacia do Pacífico, e mesmo da Oceania e do Índico. Existem diferentes esquemas de negociações de zonas de comércio preferencial, de acordos de livre comércio, de simples esquemas de facilitação de negócios ou até de constituição de joint-ventures setoriais, destinados a explorar as sinergias que poderão unir economias tão grandes quanto a dos EUA, do China, do Japão e da Índia, outras médias, como Indonésia e Austrália, com outras menores, como os sócios da Asean, a Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura, Hong Kong, e outras ainda.
Pelas medidas adotadas no período recente, bem como pela disposição “mental” dos atuais dirigentes brasileiros, vejo como praticamente inviável qualquer ideia ou projeto de associação mais estreita do Brasil e do Mercosul a esse mundo dinâmico em construção. O insulamento industrial, o protecionismo comercial, o dirigismo e o extremo intervencionismo estatal, tal como vemos praticados atualmente no Brasil e na Argentina, são totalmente contrários aos requerimentos de um esforço desse tipo, como o que se vê na região da Ásia Pacífico.

6) Durante a década de 1970, testemunhamos um dirigismo estatal na economia e a década seguinte foi considera a "década perdida". Comparativamente, como o senhor avalia aquele período e o atual?

PRA: Se formos examinar as políticas adotadas antes e agora, bem como os discursos efetuados pelos dirigentes, em cada época, é forçoso constatar uma grande identidade de visão e de propósitos, entre os militares intervencionistas e estatizantes daquela época, ou seja, dos anos 1970, e os atuais dirigentes identificados, basicamente, com as mesmas doutrinas econômicas e as mesmas disposições de governança a partir do Estado, para o Estado, com o Estado. Talvez devamos apenas torcer para que o desregramento fiscal, os controles de capitais, as manipulações cambiais, não nos precipitem no mesmo ambiente inflacionário e de crise fiscal como assistimos na década seguinte, os anos 1980, quando o Brasil retrocedeu absoluta e relativamente.
A sociedade não parece mais aceitar descontroles inflacionários, mas ela vem aceitando, talvez de forma inconsciente, um novo crescimento do ativismo estatal, a mesma tutela sobre os negócios privados, a mesma tolerância com o crescimento desmesurado da máquina pública – com o agravante do aparelhamento do Estado por um partido de claras tendências autoritárias – e um fechamento do país à competição internacional. Tais tendências são claramente preocupantes, e deveriam ser objeto de clara rejeição dos empresários e de seus representantes políticos (na verdade, em grande medida, também comprometidos com esse agigantamento do ogro famélico em que se converteu atualmente o Estado brasileiro). Se a classe empresarial não tomar consciência dessas tendências negativas da atual conjuntura econômica e política brasileira, o país pode estar sendo condenado, não, talvez, a novos desastres como os do passado, mas a uma trajetória de crescimento medíocre, claramente insuficiente para nos elevar a novos padrões de prosperidade coletiva e de bem-estar social.
O que, na verdade, eu preconizo é uma fronda empresarial, que nos retire da atual situação de morosidade no crescimento e de mediocridade na governança, para um regime aberto, competitivo, comprometido com reformas e liberdade dos mercados. O Estado brasileiro, que no passado já foi um indutor do desenvolvimento, tornou-se hoje, claramente, um obstrutor do processo de crescimento sustentado. Os empresários precisariam dar um basta na atual situação e construir uma plataforma de reformas estruturais, de abertura econômica e de liberalização comercial, como condição para a retomada de nossa trajetória histórica de crescimento e de desenvolvimento.

Brasília, 5 de Dezembro de 2012

FMI-Argentina: me engana que eu NAO gosto...

Estadísticas tramposas
El FMI censura al Gobierno de Cristina Fernández por falsear datos económicos relevantes
EL PAÍS, 6 Febrero 2013

El Gobierno de Cristina Fernández ha reaccionado mal al ser acusado por el Fondo Monetario Internacional de falsificar estadísticas de precios. Oficialmente la inflación alcanzó en Argentina el 10,8% en 2012, menos de la mitad del 25% que estiman los expertos. Tras la acusación, el Gobierno optó por negarlo. Después minimizó la falsedad, generalizándola a todos los países, incluido EE UU. Al final se decantó sin mayores explicaciones por el control de precios alimentarios, presentado como un mero acuerdo con las cadenas de supermercados.

El engaño viene de lejos. Lo denunció hace ya un lustro un economista ahora convertido en influyente ministro. También lo delataron los propios funcionarios encargados de elaborar los datos. Trece de ellos fueron despedidos. Y en consonancia, el kirchnerismo prohibió, bajo multa de 100.000 euros, que las consultoras publicaran sus estimaciones independientes. Si la realidad molesta, basta con borrarla.

Hasta ahora el asunto no causaba mayores problemas. Pero la caída del crecimiento económico, del 7% al 2%, provocó en 2012 que la inflación erosionase el poder adquisitivo y se convirtiese de nuevo en motivo de protesta. Un factor que viene a confluir con el malestar del campo, la polémica de las nacionalizaciones sin indemnización y el autoritarismo contra los principales medios de comunicación.

El motivo alegado para falsear los datos era reducir la cuantía de los pagos a los inversores que compraron deuda pública referenciada a la inflación oficial. Y una razón subyacente: enmascarar un factor de malestar social. O sea, un doble abuso.

Un Gobierno que maquilla sus datos acaba conduciendo a los ciudadanos al abismo; y a su país, a la condición de paria internacional. El FMI ha tratado de evitarlo. El año pasado ya le sacó la tarjeta amarilla y ahora, tras un aplazamiento, saca la roja: acaba de emitir una “declaración de censura” contra el Gobierno argentino. Es la primera vez que toma una medida tan grave en sus 69 años de historia.

Esta sanción verbal podría llegar a convertirse en la expulsión del país infractor del organismo multinacional si, antes del próximo 29 de septiembre, el Gobierno de Cristina Fernández no arregla el desaguisado. El lamento victimista y las medidas de intervencionismo artificial —y por tanto, insostenibles— con que ha reaccionado no auguran nada bueno.

Fascismo corporativo pensa que pode ameacar cidadaos livres

Uma história exemplar de como a burocracia estatal se sente poderosa a ponto de tentar intimidar um simples cidadão, no caso um jornalista polêmico, mas ainda assim em seu direito de pessoa livre, habilitada a considerar de forma crítica os atos e omissões de órgãos públicos, que numa democracia são, e devem ser, subordinados a controles externos e internos, aos quais seus responsáveis devem prestar contas.
Aparentemente, os diretores dessa estatal perdulária e ineficiente se consideram acima de quaisquer críticas e/ou de quaisquer escrutínios. Eles temtam intimidar jornalistas, já que estão se lixando para os simples usuários de seus aeroportos sujos e mal cuidados, caros e ineficientes, desconfortáveis e totalmente inadequadosàs necessidades dos cidadãos usuários.
Frequentar, passar, usar, ter de circular por um aeroporto brasileiro é um sacrifício, quando não um desgosto, ou até um desespero, para quem tem necessidades especiais.
A Infraero torrou milhões de reais em obras inúteis, apenas para rechear os bolsos e as contas de empresários amigos ou corruptos. Os escândalos são notórios e persistentes.
O simples fato de existir um órgão inútil como esse já é um atraso e um desperdício de recursos que saem dos nossos bolsos.
Portanto, minha solidariedade com o jornalista em questão. E se por acaso o assunto for levado à justiça, que a Infraero seja vencida e tenha de pagar as custas do processo (que aliás vai sair dos nossos bolsos, mais uma vez). Bando de salafrários...
Paulo Roberto de Almeida

Diretoria da Infraero me envia um e-mail em tom meio ameaçador, parece, e me pôs uma pulga atrás da orelha. Estou com ainda mais medo de andar de avião!
Reinaldo Azevedo, 5/02/2013

Em seu discurso num evento em Cuba, aquela ilha governada por dois assassinos psico-sociopatas, Luiz Inácio Apedeuta da Silva afirmou que a imprensa brasileira não gostava de ver pobre andar de avião. Comentando o caso, escrevi o seguinte no dia 1º deste mês:

Luiz Inácio Apedeuta da Silva foi a Havana participar de um troço chamado “Conferência pelo Equilíbrio Mundial”. Atacou aquela velha senhora, a Dona Zelite, especialmente a imprensa, que perseguiria democratas e humanistas como Cristina Kirchner, Evo Morales, Hugo Chávez… No Brasil, disse ele, a “mídia” não gosta de ver pobre andando de avião. Vai ver é por isso que o fanfarrão tentou reinstaurar a censura no Brasil: para que passássemos a elogiar aeroportos fedorentos, caindo aos pedaços, entregues a uma gestão ineficiente, lotada de larápios. Vai ver ele e Dilma retardaram em quase dez anos a privatização do setor para dar uma lição aos jornalistas: “Vocês vão ter de aguentar o povo!”. Como é mesmo? “País rico é país sem conforto”.

Recebi há pouco da Infraero, em meu e-mail pessoal (bem informada a turma por lá), a seguinte mensagem (em vermelho). Não sei se entendi direito, mas parece haver um certo tom de ameaça, quem sabe de inconformismo com a liberdade de imprensa, que, de resto, não é de “hoje”. Reproduzo na íntegra a mensagem, que adverte que serei notificado judicialmente. Leiam. Volto em seguida.

Sr. Reinaldo Azevedo,

No dia 1º de fevereiro, às 7h35, o senhor postou em seu blog, no pleno exercício do direito suportado pela liberdade de imprensa hoje existente no país, que o senhor e todos nós prezamos, uma matéria na qual constam opiniões suas sobre diversos assuntos que, a despeito de não concordarmos com todos, reconhecemos que são apenas opiniões.

Entretanto, na mesma matéria o senhor se reporta a  “uma gestão ineficiente lotada de larápios”, ao se referir a nossa administração na Infraero, empresa estatal que administra os maiores aeroportos do país.

O ineficiente, apesar de termos condições de mostrar que o senhor esta enganado, é uma mera opinião, não merecendo maiores considerações de nossa parte.

No entanto, “uma gestão lotada de larápios” não constitui mera opinião, mas uma afirmação. Isso mesmo: uma afirmação que atinge a honra e a dignidade de pessoas. Com efeito, a liberdade de imprensa ou qualquer outra espécie de liberdade não dá ao senhor, nem a qualquer outro profissional, o direito de vilipendiar a honra alheia.

O senhor será notificado judicialmente para que informe em que fatos concretos se baseou para fazer essa afirmação.

Somos uma diretoria composta de oito funcionários públicos de carreira, concursados, com media de 25 anos de trabalho dedicados ao serviço publico federal, sem nenhum questionamento de suas atuações.

Logo, o senhor deve ter conhecimento de algum fato concreto que nós não conhecemos.

E gostaríamos muito de saber. Até para tomar as medidas judiciais cabíveis, já que não temos absolutamente nada a esconder em nossa gestão, muito menos atitudes criminosas que pudessem nos conferir a alcunha de “larápios”, como o senhor nos denominou.

Esperamos que o senhor não se esquive de responder ou não se baseie em informações antigas para fazê-lo. Essa ou aquela forma revelará ser o senhor uma pessoa leviana, inconsequente e irresponsável, qualidades que, temos certeza, seus leitores não gostariam de saber que o senhor as tem. E que, acreditamos, o senhor não as tem.

A sua afirmação, se refere ao presente e é sobre ela que o interpelaremos judicialmente. Apenas para nos situarmos no tempo, a gestão desta Diretoria Executiva se iniciou em marco de 2011.

Atenciosamente.

Diretoria Executiva da Infraero
Antonio Gustavo Matos do Vale
Francisco José de Siqueira
Geraldo Moreira Neves
Jaime Henrique Caldas Parreira
João Márcio Jordão
Jose Antonio Eirado Neto
Jose Irenaldo Leite de Ataide
Mauro Roberto Pacheco de Lima”


Voltei
Refere-se ao presente uma ova! Se vocês cuidarem dos aeroportos da mesma maneira como leem um texto, estamos feitos. Sim, é verdade. Alguns aeroportos continuam fedorentos. O estacionamento do Aeroporto de Cumbica, por exemplo, que leva o nome do grande governador Franco Montoro, é um lixo. Mas basta ler meu texto para constatar que me refiro ao período em que Lula tentou instaurar a censura no Brasil. Se os senhores não sabem a que período me refiro, a ação judicial prometida terá a chance de esclarecer. Se querem gastar o dinheiro do contribuinte com isso, não tenho como impedi-los.

Vocês me pedem uma lista de problemas? Huuummm, deixem-me ver:
No colunista Cláudio Humberto, em 15 de dezembro de 2008:
“A Controladoria-Geral da União apura irregularidades no contrato da Infraero com a empresa Neo Net, que prevê a construção de um shopping na área do aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP). A Infraero pretendia triplicar a área licitada apenas por meio de um aditivo. Mas a Lei das Licitações só permite acréscimo de 25% aos contratos. A CGU confirma a investigação e a Infraero se recusou a comentar.”

Não consta que a Infraero tenha tentando processar a Controladoria Geral da União.

Na Agência Estado no dia 15 de março de 2008:
A fiscalização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos aeroportos no mês de janeiro, batizada de Operação Hora Certa, encontrou centenas de irregularidades praticadas não apenas pelas companhias como também pela Infraero. E como as empresas, a estatal responsável pela administração dos aeroportos também poderá ser multada.
Segundo fontes do setor, algumas irregularidades cometidas pela Infraero geraram autos de infração. Caso as defesas a serem apresentadas pela Infraero no processo administrativo não sejam aceitas, a estatal será multada – pela primeira vez desde a criação do órgão regulador.

Não consta que a Infraero tenha tentando processar a Anac.

Na Agência Estado no dia 28 de dezembro de 2011:
O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou o espólio do ex-senador e ex-presidente da Empresa de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) Carlos Wilson, morto em abril de 2009, a devolver aos cofres públicos, juntamente com o ex-diretor comercial da estatal, Fernando Brendaglia de Almeida, R$ 19,5 milhões por gestão “temerária e ruinosa”. O dano total, pelos cálculos do tribunal, foi de R$ 26,8 milhões, mas quando se trata de pessoa morta a lei prevê que o ressarcimento não ultrapasse o valor da herança.

Não consta que a Infraero tenha tentando processar o TCU.

No site do Ministério Público Federal de São Paulo no dia 16 de dezembro de 2009:
O Ministério Público Federal em São Paulo ingressou com ação civil pública de improbidade administrativa contra cinco funcionários da Infraero e os responsáveis legais pelo consórcio formado pelas construtoras OAS, Camargo Corrêa e Galvão, e pela Planorcon Projetos, por inúmeras irregularidades nas licitações, nas obras de reforma e ampliação do aeroporto de Congonhas, realizadas entre 2004 e 2007, e, inclusive, pela demora da Infraero em licitar a reforma da pista principal do aeroporto, o que gerou a necessidade de contratação emergencial do consórcio, com dispensa de licitação.
O MPF investiga as irregularidades nas obras desde 2004, quando, inclusive, ajuizou ação com o objetivo de paralisar a reforma, devido a vícios descobertos na licitação, que teria sido conduzida para favorecer o consórcio vencedor. Além do direcionamento, a ação de improbidade aponta sobrepreço e superfaturamento, detectados pelo Tribunal de Contas da União, na ordem de R$ 45 milhões, correspondentes a cerca de 30% do valor total do contrato original.

Não consta que a Infraero tenha tentando processar o Ministério Público.

Volto
Senhores Antonio Gustavo Matos do Vale, Francisco José de Siqueira, Geraldo Moreira Neves, Jaime Henrique Caldas Parreira, João Márcio Jordão, Jose Antonio Eirado Neto, Jose Irenaldo Leite de Ataide e Mauro Roberto Pacheco de Lima, não me deixem assustado! Vou ter de andar de avião nos próximos dias! Não me façam subir naquela estrovenga supondo que vocês leem manuais de instrução de equipamentos, relatórios de falhas e recomendações de segurança com a mesma percuciência com que leram o meu texto.

Resta evidente que não fiz acusação “a esta diretoria”. Se há larápios por aí, não cabe a mim procurar, não é mesmo? Vocês é que têm o dever funcional de fazê-lo. Tamara que não haja!  Eu me referi a fatos e notícias apontando graves irregularidades na Infraero ao longo do tempo. Isso fica evidente no meu texto. Alguns seguem acima. Mas vocês mesmos poderão fazer uma pesquisa mais detalhada.

De resto, falando em termos estritamente teóricos, ainda que houvesse larápios entre vocês, não haveria como vocês mesmos identificá-los porque me enviam uma carta em grupo, como ordem unida. Se eu soubesse de alguma coisa,  seria inútil revelar, creio…  Suponho que cada um aí só tope assinar uma carta na companhia de homens honestos, certo?

Eu me referi, senhores — ajudando-os, então, a ler o manual de instrução de um texto —, a irregularidades havidas na Infraero ao longo da história nem tão distante. E suponho que a empresa seja a primeira interessada em se declarar livre daquela herança.

Encerrado
Senhores Antonio Gustavo Matos do Vale, Francisco José de Siqueira, Geraldo Moreira Neves, Jaime Henrique Caldas Parreira, João Márcio Jordão, Jose Antonio Eirado Neto, Jose Irenaldo Leite de Ataide e Mauro Roberto Pacheco de Lima, resta evidente, a qualquer leitor interessado apenas em ler o texto, que não os chamei de larápios. Se souber de alguma coisa que mereça essa designação, chamo, sim, e aí a gente rola lá na frente do juiz. Mas não foi o caso. Acho bom consultar antes o advogado da empresa. Embora a Infraero seja pública, essas coisas custam dinheiro. Desculpo-me por parecer abusado, referindo-me, assim, a cada um pessoalmente. É que vocês enviaram a mensagem no meu e-mail pessoal, e aí acabei tomando certas liberdades…

Eu lhes pergunto, sinceramente, se os senhores não ficaram bravos porque me referi à precariedade dos aeroportos. Uma dica: por que perder tempo comigo? Eu os convido a dar um passeio pelo estacionamento de Cumbica, por exemplo. Garanto que vocês terão algumas ideias luminosas para, quando menos, sinalizar aquele pardieiro de maneira decente. E as placas, então, zelosos servidores? O vivente tem de adivinhar que “ESTAC.TP” quer dizer “Estacionamento de Terminal de Passageiros”, que é diferente do “ESTAC.TECA”, que é o “Estacionamento do Terminal de Cargas”. Pobre de quem se confundir e entrar no “ESTAC.TECA”…  Terá de dar a volta ao mundo até encontrar o “ESTAC.TP”.

Quanto às coisas que são “apenas opiniões”, digo: conformem-se. O que distingue a democracia das ditaduras é o fato de que um regime comporta “apenas opiniões”, e o outro, “apenas uma opinião”. Eu não tentei ser sutil agora.

Releiam o meu texto com o cérebro, não com o fígado, e ocupem o tempo do Departamento Jurídico da Infraero com questões mais relevantes do que, como é mesmo? “apenas opiniões”. De resto, doutores, abandonem esse tom sutil da ameaça. Venho do tempo em que era preciso enfrentar brucutus nada sutis. Eu os convido, ademais, a se envergonhar dos nossos aeroportos, como se envergonham muitos brasileiros. Garanto que, zelosos como vocês são, será melhor para o Brasil.
*
PS – Agora aos leitores: peço que vocês se dediquem a fazer comentários de incentivo aos senhores Antonio Gustavo Matos do Vale, Francisco José de Siqueira, Geraldo Moreira Neves, Jaime Henrique Caldas Parreira, João Márcio Jordão, Jose Antonio Eirado Neto, Jose Irenaldo Leite de Ataide e Mauro Roberto Pacheco de Lima. Eu aposto que eles são capazes de melhorar os nossos aeroportos!

Dinamarca: estudos brasileiros na universidade de Aarhus - Prof. Vinicius Mariano

Estudos Brasileiros na Dinamarca
O Café História entrevistou o Prof. Dr. Vinicius Mariano do Carvalho, coordenador do programa de estudos brasileiros da Universidade de Aarhus, da Dinamarca. O programa existe há vinte anos e acaba de lançar uma revista acadêmica totalmente dedicado ao tema: Brasiliana.
Graduado em letras, mas com uma formação  acadêmica interdisciplinar, o professor Vinícius Mariano conta nesta entrevista exclusiva como surgiu o projeto da revista Brasiliana, além de refletir sobre o tema “estudos brasileiros” e as transformações em relação ao Brasil que ele enxerga no âmbito acadêmico dinamarquês e do exterior. Além da revista, a Universidade de Aarhus oferece ainda um programa de estudos brasileiros que cada vez mais vem atraindo mais e mais alunos, que aprendem não apenas a língua portuguesa, mas também elementos da cultura e da história do Brasill. Confira e comente!
Café História: Professor, muito obrigado por conversar conosco. Foi com muito interesse e animação que recebemos a notícia do lançamento da “Brasiliana”. Como surgiu a ideia de uma revista de estudos brasileiros em uma universidade dinamarquesa?
Prof.Vinicius Mariano: Primeiramente, eu que tenho que agradecer pelo interesse em conhecer mais sobre nosso programa de Estudos Brasileiros na universidade de Aarhus e sobre nossa Revista, a Brasiliana. A revista nasceu de uma demanda não apenas dinamarquesa, mas eu diria que muito maior. Uma demanda por um meio específico para se discutir o Brasil e com o Brasil. Professores, acadêmicos e pesquisadores de uma comunidade que está se tornando maior a cada dia, a dos brasilianistas, normalmente utilizaram fóruns acadêmicos mais amplos, como as revistas sobre América Latina, Mundo Lusófono, Mundo Ibérico,etc., porém poucas são as revistas que se dedicam exclusivamente ao Brasil no ambiente das ciências sociais e humanas. Essa foi a motivação primeira para a criação da Brasiliana. A segunda motivação é de caráter estratégico local. Dentro de um plano de inserir nosso programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Aarhrus em um contexto mais internacional e de certa maneira situá-lo mais ativamente no debate sobre e com o Brasil, Brasiliana foi o resultado natural desta estratégia.
Café História: Recentemente, entrevistamos o historiador Jurandir Malerba, professor de história na PUCRS e que atualmente está em Berlim terminando seu curso na novíssima cátedra Sérgio Buarque de Holanda de Estudos Brasileiros, na Universidade Livre de Berlim. Mais recentemente, foi lançada a "Brasiliana", revista de estudos brasileiros que o senhor coordena na Universidade de Aarhus, Dinamarca. Que o Brasil nos últimos anos veem ganhando destaque internacional em termos políticos e econômicos é razoavelmente (re)conhecido. Mas parece que há também um destaque do Brasil no meio acadêmico. Ao que parece, os pesquisadores e estudantes estrangeiros querem saber mais sobre a cultura e a história de nosso país. O senhor concorda? Se sim, como avalia este momento?
Prof.Vinicius Mariano: Sim, podemos dizer que têm havido uma maior busca por estudos sobre o Brasil, e também a presença de pesquisadores brasileiros no exterior tem sido muito importante para mostrar o que se produz de ciência no Brasil. Eu repito o que para mim é muito importante: acho que quando se trata de academia, precisamos sempre pensar de forma dialogal. Uma questão é o aumento da procura por conhecimento sobre o Brasil no exterior, outra coisa é o aumento da inserção do pensamento produzido no Brasil em todo o mundo. Quanto mais conseguirmos equilibrar esta balança, melhor será. Precisamos de estudar o Brasil, mas também com o Brasil. Neste ponto, o intercâmbio de pesquisadores e estudantes é fundamental. Se as condições são mais favoráveis hoje que há dez anos, então aproveitemos estas oportunidades.
Café História: Criar uma revista acadêmica exige muita dedicação, seja no Brasil ou no estrangeiro. Qual foi o maior desafio que o senhor encontrou na construção e execução deste projeto?
Prof.Vinicius Mariano: Primeiramente é preciso dizer que a revista me traz muito mais prazer que trabalho. Acho que é um grande privilégio poder, de certa maneira, provocar algum debate acadêmico e receber tantas respostas em forma de artigos de excelente qualidade, rigor científico e criatividade analítica. Além disso, a possibilidade de, virtualmente, estar envolvido nosurgmiento de uma comunidade de leitores, autores, editores é imprescidível no desenvolvimento do pensamento humanístico. Estas alegrias fazem com que qualquer desafio se torne pequeno e superável.É claro que, sendo um projeto que começa a dar seus passos agora, há muitos acertos a serem feitos. A Revista não conta com patrocínio e é de fato a colaboração que a faz mover-se. Penso que muitos colegas que estão colaborando com a realização deste projeto também podem ver o potencial da Revista e investem seu tempo e dedicação para que logremos fazer da revista um canal sério e que dê frutos.
Café História: Professor, no editorial de estreia da “Brasiliana”, o senhor sublinha que as universidades estrangeiras passaram a usar mais o termo “Brazilian Studies” do que o tradicional (e genérico) “Latin American Studies” para se referir ao campo de pesquisas acadêmicas sobre Brasil. E, neste sentido, diz que a “Brasiliana” tenta já neste primeiro número definir o que significa esta categoria: “Brazilian Studies”. Em resumo, na sua opinião, como o senhor definiria os “Brazilian Studies”?
Prof.Vinicius Mariano: Academicamente venho defendendo a idéia de que, ainda que prático e necessário em algum momento, é preciso cuidado com a generalização do termo América Latina. Quais são os critérios para esta categorização? Linguísticos? Coloniais? Ademais, o que se vê normalmente é uma associação entre os termos América Latina e América de língua espanhola. Obviamente que há um número bastante consideravel de países no continente americano que falam espanhol, porém parece-me que esta associação é um pouco confusa. Neste sentido, venho defendendo que é preciso diferenciar Estudos Brasileiros de Estudos Latinoamericanos. A grande maioria dos departamentos nas universidades que oferecem algo sobre Brasil, incluem o estudo do país no quadro dos estudos latinoamericanos. Outra vez, compreendo que é necessário pensar de maneira prática e seria de certa forma inviável que universidades criassem um departamento de estudos brasileiros, um de estudos cubanos, um de estudos mexicanos, um de estudos nicaragueneses, etc. Mas observo, e não apenas eu, mas muitos outros brasilianistas e latinoamericanistas, que os estudos brasileiros vêm ganhando certa projeção e, mesmo ainda dentro de departamentos de estudos latino americanos ou hispano americanos, solidifica-se mais e mais como uma área de estudos. Não arisco a levantar hipóteses sobre as razões para esta projeção, mas creio que é nossa tarefa como acadêmicos estarmos abertos e atentos para discutir uma possível ontologia e epistemologia dos estudos brasileiros. Você me pergunta como eu definiria estudos brasileiros. Deixarei sua pergunta sem uma resposta final, uma vez que é exatamente este debate que pretendemos que a Brasiliana venha articular e trazer. O que eu diria é que, a meus olhos, estes “estudos brasileiros” não devem pensar o Brasil apenas como um objeto, mas também como um sujeito da reflexão social e humanística, uma reflexão sobre si mesmo e sobre o mundo.
Café História: O corpo editorial da revista é bastante global. Há professores do Brasil, da Dinamarca, da Inglaterra e dos Estados Unidos. Isso reforça o perfil interdisciplinar da publicação? E, mais, como tem sido o feedback deste trabalho?
Prof.Vinicius Mariano: Como eu disse acima, a idéia é que Brasiliana se torne um fórum internacional para debater sobre e com o Brasil. Acredito que apenas uma pluralidade de vozes, interepretações e análises poderão de fato contribuir para a construção de um pensar amplo em torno do Brasil. Isso porque, em nosso ponto de vista, o Brasil também é plural, seja em suas potencialidades e em seus problemas, o que nos obriga a também pensar de maneira plural. As respostas têm sido muito positivas. Somos surpreendidos com a visibilidade que a revista alcançou em pouco tempo de existência. Obviamente há críticas acerca do caráter amplo de abrangência da revista, porém esta é a perspectiva que lançamos e que insistiremos em seguir.
Café História: Como os pesquisadores brasileiros podem colaborar com a revista? Ela aceita trabalhos em fluxos contínuos? Quem pode enviar artigos ou resenhas?
Prof.Vinicius Mariano: A revista têm 4 sessões. A primeira, chamada dossiê, é uma sessão mais temática, para a qual lançamos duas chamadas para artigos anualmente. Os temas para esta sessão são definidos pelo Conselho Editorial e estamos neste principio privilegiando uma discussão em torno do significado do conceito Estudos Brasileiros. Posteriormente estes temas ampliar-se-ão a tópicos emergentes no debate acadêmico e social do e sobre o Brasil. As demais sessões, Geral, Resenhas e “Varia”, têm um fluxo contínuo de recepção de textos. Na sessão Geral recebemos textos que discutam academicamente temas relevantes sobre o Brasil nos campos das Ciências Sociais e Humanas. O espaço é amplo e não excludente, conquanto o texto reflita sobre e com o Brasil. Resenhas de publicações, exposições, concertos ou performances recentes sobre o Brasil ou com artistas brasileiros são sempre bem vindas. A sessão “Varia” é mais livre, traz entrevistas relevantes que podem provocar outros textos e debates, reportagens ou ensaios que não passam pelo processo de “peer review”. Para esta sessão preferimos falar em “aceitamos sugestões” do que “recebemos artigos”, já que neste caso os Editores têm uma agenda a seguir.Todo pesquisador que queira submeter um artigo científico que reflita algum aspecto do Brasil, nas áreas das ciências sociais e humanas, encontrará Brasiliana de portas abertas. A revista publica em português, inlgês, espanhol e dinamarquês.
Café História: Professor, o senhor pode nos falar um pouco sobre a sua trajetória acadêmica e objetos de pesquisa? Como começou a sua relação com a Dinamarca?
Prof.Vinicius Mariano: Minha trajetória acadêmica também é plural, dentro das ciências humanas. Venho das letras, da filosofia, da literatura, da música, da teologia; gosto da história, da antropologia, da sociologia, da política, da geografia, da linguística. Enfim, das humanidades. Passei, tanto como estudante quanto professor, por universidades no Brasil e na Alemanha antes de vir para a Dinamarca, onde cheguei quase casualmente em 2008, no programa de Leitorado do MRE-CAPES, vindo depois a tornar-me professor de Estudos Brasileiros da própria universidade de Aarhus.
Café História: A revista é apenas uma de suas ocupações na Universidade de Aarhus. O senhor também está à frente do Programa de Estudos Brasileiros desta universidade. Como funciona esse programa? Ele funciona há muito tempo? Que cursos e que formação oferece atualmente?
Prof.Vinicius Mariano: Sim, atualmente coordeno os Estudos Brasileiros na Universidade de Aarhus. Este programa, que já tem quase 20 anos, vem passando por reformulações com o objetivo de fazê-lo mais dinâmico e capaz de dar respostas à demandas contemporâneas, bem como formar profissionais que sejam mediadores entre o Brasil e a Dinamarca. A principio o programa teve um caráter mais filológico, com muita ênfase no aprendizado da língua portuguesa na sua variante brasileira, porém, como eu disse, estamos já há alguns anos promovendo modificações no programa, de modo dar um conhecimento mais abrangente sobre o Brasil. Temos um programa de Bacharelado e de Mestrado em Estudos Brasileiros e também temos estudantes de Doutorado em nosso programa. Aqui o aluno aprende a língua portuguesa, obviamente, e também literatura, cultura e história do Brasil, além de ter cursos sobre cultura organizacional, estudos de problemas brasileiros, etc.Oferecemos também com frequencia mensal uma série de palestras chamadas “Lectures on Brazilian Studies”, nas quais buscamos trazer pesquisadores brasileiros ou de outras partes do mundo para apresentarem suas pesquisas sobre o Brasil. Uma vez por ano temos um grande evento chamado “Brazilian Days”, normalmente na última semana de setembro, quando tratamos de um tema específico da cultura brasileira com palestras, concertos, exibições de filmes, workshops, etc. Durante o “Brazilian Days” também realizamos reuniões internas buscando aprimorar as relações e colaborações com universidades brasileiras. Nossos alunos, em sua maioria esmagadora, passam um semestre de seus estudos em alguma de nossa universidades parceiras no Brasil, para que conheçam mais da realidade brasileira e convivam com estudantes brasileiros. Realizamos excursões de estudos ao Brasil e buscamos provomer a difusão da cultura do Brasil dentro da universidade em geral. É bastante trabalho!
Café História: Que estudantes procuram este programa de estudos brasileiros? O que motiva tais alunos a se interessarem pelo Brasil? Que nível de conhecimento do país eles geralmente possuem ao entrar e, mais tarde, ao sair do curso?
Prof.Vinicius Mariano: Nosso público é bastante variado no que diz respeito à suas motivações. Tenho alunos que vieram para o curso porque gostam do futebol do Brasil, outros por causa da música, outros porque gostariam de saber como negociar com o Brasil, outros porque são apaixonados por um ou por uma brasileira! Enfim, as motivações são diversas, o que se torna um grande desafio para nós. Buscamos satisfazer-lhes em suas aspirações, mas dar-lhes também uma perspectiva mais abrangente sobre o país e motivá-los para que busquem, por eles mesmos, maneiras de inserirem-se na cultura brasileira. Nos últimos 4 anos o crescimento pela procura do curso foi vertiginoso. Saimos de 9 estudantes para 51 em nível de bacharelado. Comemorarmos isso, mas também sentimos a responsabilidade em dar-lhes uma formação apropriada e motivadora.
Café História: Professor, muito obrigado por esta excelente conversa. Foi um prazer para administração do Café História abordar um projeto tão estimulante. Fique à vontade para passar qualquer recado aos quase 50 mil participantes de nossa rede.
Prof.Vinicius Mariano: Mais uma vez, eu que agradeço a oportunidade e interesse. Parabenizo a todos que participam deste web site, promovendo um diálogo necessário e frutífero e espero que os leitores se sintam motivados a participar da Brasiliana, seja como autores ou leitores, e nos ajudem a construir estes estudos brasileiros.
Confira fotos de algumas atividades do programa de estudos brasileiros da Universidade de Aarhus:
http://cafehistoria.ning.com/entrevista/viniciusmariano?xg_source=msg_mes_network

Gestao companheira retrocede Petrossauro ao pre-cambriano...

As pessoas pensam que os dinossauros só viveram no mesozoico, antes da era dos mamíferos, que é o cenozoico, a nossa era, ou mais ou menos (acho que alguns humanos ainda não chegaram lá). Isso pode ser verdade estritamente para aqueles animais, alguns herbívoros, outros carnívoros, em todo caso, grandes e desajeitados, tanto que terminaram desaparecendo num desses aquecimentos globais do passado (brrrrr!).
Mas se formos considerar um tipo particular de grande sauro, a Petrossauro, os tempos recuam, em lugar de avançar. Os companheiros conseguiram fazer essa companhia recuar praticamente ao pré-cambriano, antes mesmo, portanto, do arqueozoico, que é quando começam a surgir os pequenos anfíbios que depois dariam origem a esses monstros da nossa imaginação.
Poucos sabem, mas a nossa valente Petrossauro já teve um valor de mercado de mais de 300 bilhões de dólares. Os companheiros, diligentes como são, conseguiram reduzir esse valor a pouco mais de 130 bilhões, graças à uma gestão troglodita dessa companhia infeliz, que deveria ter sido privatizada há muito tempo, como foi a Vale.
Sim, poucos sabem, também, que essa companhia aumentou mais de 20 vezes seu valor de mercado e hoje paga mais impostos ao governo do que jamais o fez em dividendos juntando meio século de gestão estatal. Sim, mais uma vez, muita gente acha que a Vale "nasceu" estatal, quando na verdade ela era uma empresa estrangeira, a Itabira Iron Ore Company, do Percival Farquhar, nacionalizada com raiva pelo ditador Getúlio Vargas em 1942 (que achava que cabia ao Estado vender minério de ferro...).
A Petrobras vai demorar bastante tempo para chegar ao paleozoico e depois avançar para outras eras geológicas de gestão racional. Os companheiros aparentemente gostam de um Jurassic Park (mas se ela chegasse lá, já estaria mais ou menos conforme sua natureza, mas nem isso.)
Paulo Roberto de Almeida

Uso político da Petrobras pode atrasar pré-sal, dizem analistas
Danielle Nogueira
O Globo, 5/02/2013

Projetos seriam comprometidos por queda no caixa da empresa
O uso da Petrobras como instrumento de política macroeconômica poderá afetar o cronograma da produção do pré-sal. Analistas avaliam que, ao controlar os preços dos combustíveis para conter o avanço da inflação e ao tornar as regras de conteúdo nacional mais rígidas para desenvolver a indústria brasileira, o governo pode dar um tiro no pé e atrasar projetos na mais promissora fronteira petrolífera. No Plano de Negócios 2012-2016 estão previstos investimentos de US$ 67,7 bilhões no pré-sal, 58,7% do montante reservado para a área de Exploração e Produção no período.

- O governo vem segurando os preços dos combustíveis para controlar a inflação e forçando a barra em alguns projetos para ampliar o conteúdo nacional, levando a Petrobras a ter que comprar mais caro aqui no Brasil ou adiar projetos porque os fornecedores não conseguem entregar as encomendas a tempo. Se a empresa continuar a ser conduzida assim, vai ter dificuldades no pré-sal. Isso não vai inviabilizar projetos, mas vai atrasar o desenvolvimento dessas áreas - diz Walter de Vitto, analista de petróleo e gás da consultoria Tendências.

Semana passada a estatal anunciou reajute de 6,6% da gasolina e de 5,4% do diesel, insuficientes para anular a defasagem em relação ao preço praticado no mercado externo. Como a Petrobras compra gasolina lá fora, para atender a crescente demanda nacional, por um preço mais alto do que o cobrado aqui no Brasil, ela acaba tendo prejuízo nessa operação. Esse é um dos fatores que afeta o caixa da companhia. Em 2012, a geração de caixa da empresa atingiu R$ 53,4 bilhões, 14% abaixo do registrado no ano anterior.

Como precisa fazer investimentos elevados, a Petrobras tem dois caminhos: ou vende ativos ou se endivida mais para financiar os projetos mais relevantes. A empresa tem tentado se desfazer de alguns projetos, sem sucesso, restando-lhe a outra opção. Em 2012, a dívida líquida foi de R$ 147,8 bilhões, um salto de 43% na comparação com 2011.

Atraso também em obras de refinarias
A relação endividamento sobre patrimônio líquido subiu de 24% para 30%, aproximando-se do limite de 35% para que ela mantenha seu grau de investimento. A perda do investment grade significaria alta no custo do crédito, o que exigiria ainda mais recursos da companhia para a realização dos projetos. Ainda assim, especialistas dizem que esta parece ser a melhor alternativa :

- Uma emissão de ações destruiria o valor da empresa na Bolsa. Seria demais pedir para investidores, depois do que perderam, colocarem mais dinheiro na empresa - afirma Fernando Goes, analista da Clear Corretora, para quem a Petrobras seria a emissão de dívida ao setor privado.

Na opinião dele, a emissão de ações seria uma opção arriscada para a Petrobras, após a megacapitalização da companhia, em 2010, de R$ 120,2 bilhões, considerada "traumática" pelo mercado.

Para o economista Edmar de Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, num possível cenário de problemas de caixa, a Petrobras deveria priorizar o pré-sal e outros projetos em desenvolvimento de produção, que podem ampliar a receita da empresa mais rapidamente. Neste caso, projetos como a Refinaria do Nordeste (PE), que já está atrasada, poderia sofrer novos adiamentos.

No atual plano de negócios da empresa, divulgado ano passado, a refinaria foi adiada em um ano, para 2014. Outras duas refinarias, uma no Maranhão e uma no Ceará, sequer aparecem no plano. No planejamento anterior, elas eram previstas para 2016 e 2017. As obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ), estão igualmente atrasadas, entre outras razões, por problemas no modelo de contratação. Prevista para 2012, a operação foi postergada para 2014.

"Um pais se faz com homens e livros"; Livros??!! Onde estao???

Pode ser que a frase de Monteiro Lobato, cunhada (creio) em meados da década dos 20, pretendesse apenas vender livros de sua recém criada Companhia Editora Nacional. Pode ser que ele fosse sincero.
Em todo caso, é um fato que pessoas que leem conseguem ter melhor desempenho didático do que aquelas que não leem. Ainda assim, professores, que deveriam supostamente concentrar sua atenção no lado didático da atividade, leem muito pouco, como indica esta pesquisa. Pode ser também que seja por falta de dinheiro, ou seja, salário reduzido, mas o que não se compreende é por que o MEC não tem um programa de distribuição de livros para os professores primários.
Incompreensível, de fato...
Paulo Roberto de Almeida 

Menos da metade dos professores de escolas públicas leem no tempo livre
Agência Brasil, 5/02/2013
 
A pesquisa foi realizada pelo QEdu: Aprendizado em Foco, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann
Um cabo de vassoura que era capaz de falar e sentir era o protagonista do primeiro livro lido pela então adolescente Denise Pazito. Hoje, professora e pedagoga no Espírito Santo, ela fala da experiência em seu blog. "O livro foi indicado pela escola. Provavelmente, eu estava no 4° ou 5° ano. Ele se chamava Memórias de um Cabo de Vassoura e o seu autor era Orígenes Lessa. Professora inspirada a minha. Acertou na mosca. Uma história encantadora. Me encantou pelo mundo das letras."

Mas assim como são capazes de encantar, os professores têm em suas mãos o poder de desencantar, não por intenção, às vezes por desconhecimento. Uma pesquisa feita pelo QEdu: Aprendizado em Foco, uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann., organização sem fins lucrativos voltada para educação, mostra que menos da metade dos professores das escolas públicas brasileiras tem o hábito de ler no tempo livre.

Baseado nas respostas dadas aos questionários socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e divulgados em agosto do ano passado, o levantamento do QEdu mostra que dos 225.348 professores que responderam à questão, 101.933 (45%) leem sempre ou quase sempre, 46.748 (21%) o fazem eventualmente e 76.667 (34%), nunca ou quase nunca.

No caso de Denise, a leitura levou essa prática para as salas de aula, no entanto, muitos brasileiros terminam o ensino básico sem ler um livro inteiro. Para além da falta do hábito de leitura, a questão pode estar ligada a infraestrutura.

"O número de professores que não leem é chocante, mas isso pode estar ligado ao acesso. É preciso lembrar que faltam bibliotecas e que um livro é caro. Um professor de educação básica ganha em média 40% menos que um profissional de ensino superior. Acho que faltam políticas de incentivo. Não acredito que seja apenas desinteresse", diz a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.

Um levantamento divulgado em janeiro pelo movimento mostra que o Brasil precisa construir 128 mil bibliotecas escolares em sete anos para cumprir uma lei federal que vigora desde 2010. Segundo a pesquisa, faltam 128 mil bibliotecas no país. Para sanar esse déficit até 2020, deveriam ser erguidos 39 espaços por dia, em unidades de ensino públicas e particulares. Atualmente, a deficiência é maior nas escolas públicas (113.269), o que obrigaria a construção de 34 unidades por dia até 2020.

Para Priscila, uma possível solução seriam os livros digitais. O Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional (ProInfo Integrado) do Ministério da Educação distribui equipamentos tecnológicos nas escolas e oferece conteúdos e recursos multimídia.

Além disso, o governo facilita o acesso aos conteúdos por meio da distribuição de tablets, tanto para professores quanto para estudantes. No ano passado, o MEC transferiu R$ 117 milhões para 24 estados e o Distrito Federal para a compra de 382.317 tablets, destinados inicialmente a professores do ensino médio.

Sobre o acesso digital, os dados do levantamento do QEdu mostram que 68% dos professores (148.910) que responderam à pergunta usam computador em sala de aula. O estado com a maior porcentagem é Mato Grosso do Sul: 95% dos professores disseram que usam o equipamento. O Maranhão é o estado com a menor porcentagem (50,5%) de professores fazem o uso do computador. É lá também onde se constatou a maior porcentagem de escolas onde não há computadores: 38,3%. Estão no Sudeste, no entanto, as maiores porcentagens dos professores que acreditam não ser necessário o uso de computador nas salas: Minas Gerais (16%), Rio de Janeiro (15,4%) e São Paulo (15%).
O responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que o país ainda tem problemas estruturais que dificultam o acesso a tecnologias. "Existem muitos desafios no país ligados a problemas de infraestrutura. Não apenas de acesso às máquinas, mas de acesso à internet, à qualidade dos sinais", disse.
Ao recepcionar o professor norte-americano, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ressaltou a importância dos meios digitais: "O conteúdo ao qual o filho dos mais ricos tem acesso pode ser dado aos menos servidos de educação. Queremos tornar a educação não algo escasso, mas um direito humano que todas as pessoas possam ter", disse.

Candidato brasileiro à OMC: entrevista coletiva

Entrevista coletiva do candidato brasileiro a DG-OMC, após apresentação ao Conselho Geral 

http://www.youtube.com/watch?v=yCET5gNv1Ok 

Publicado em 04/02/2013
O candidato brasileiro à Direção-Geral da Organização Mundial do Comércio, Embaixador Roberto Azevêdo, concedeu entrevista coletiva à imprensa, após sua apresentação ao Conselho-Geral da OMC. Genebra, 31 de janeiro de 2013.

Crédito: OMC (original e versões em francês e espanhol em http://gaia.world-television.com/wto/2013/dgsel_webcast_e.htm)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

As perigosas vaquinhas da Nova Zelandia e o oportunissimo protecionismo brasileiro

Vejam como os neozelandeses são perversos e traidores: com todo aquele território na imensa Oceania, eles devem ter rebanhos e mais rebanhos de vacas leiteiras, milhões delas. E como o país é muito rico, e pode desperdiçar dinheiro, eles vem torrando seu dinheiro despejando milhares de toneladas de leite em pós dessas vaquinhas especialmente produtivas, de úberes fartos (e baratos), no nosso pobre Brasil, onde como se sabe, os pobres criadores e fabricantes de leite em pó são competitivos e muito produtivos, mas por um motivo qualquer não conseguem competir com o leite em pó neozelandês, trazido do outro lado do mundo e pagando tarifas que são as nossas. Ainda assim, isso não é suficiente para proteger-nos da concorrência desleal e perversa dessas vaquinhas oceânicas.
Tem razão o ministro da Agricultura: uma medida introduzida em 2001, depois de alguns anos, se supõe, de investigação cuidadosa, como são feitos esses nossos processos antidumping, não foi capaz, até 2013, de dissuadir esses desleais neozelandeses.
Por isso, a Camex, esse valoroso órgão defensor dos interesses nacionais, já decidiu que as vaquinhas neozelandesas continuarão fazendo dumping de seus úberes fartos até 2018, pelo menos, se até lá não resolverem, ainda assim, aumentar as tarifas para algo mais proibitivo.
Oportuníssima essa medida, como vocês podem perceber. Bem no momento em que, depois de 12 anos, as vaquinhas iriam finalmente se livrar de nossa defesa comercial, vem a Camex e, pimba!, dá uma resposta oportuna a essas oportunistas...
Tudo pelo leite nacional, verde e amarelo...
En passant: os fabricantes nacionais também querem barrar o leite em pós dos hermanos uruguaios e argentinos, que também possuem vaquinhas poderosas e desleais. Em recente reuniao do setor, foram acertadas quotas intra-Mercosul, para as importacoes do nefando leite em pó da Argentina e do Uruguai. Ou seja, burocratas governamentais, pressionados pelos valentes produtores nacionais, passam o tempo discutindo restricoes ao comércio, em lugar de liberalizar os fluxos como seria o normal.
Assim vai o Mercosul.
Paulo Roberto de Almeida

Prorrogado antidumping sobre leite em pó da Nova Zelândia e União Europeia
Fonte: Mapa
Foi aprovada a prorrogação de direitos antidumping por cinco anos sobre a importação de leite em pó da Nova Zelândia e da União Europeia.
A proposta foi determinada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), nesta terça-feira (5/2).
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, que participou da reunião, destacou a importância da ação para o setor. “Estou satisfeito pela medida oportuna tomada pelo Governo contra uma prática no comércio internacional que prejudica os produtores de leite no Brasil”, destacou o ministro. 
  A medida aplica-se às importações do produto proveniente da Nova Zelândia, com alíquota de 3,9%, e da União Europeia (14,8%). Em fevereiro de 2001, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) estabeleceu a aplicação de alíquotas sobre o leite em pó produzido na Nova Zelândia e UE, por cinco anos, após análise de investigação de dumping.  
O prazo do antidumping havia sido prorrogado anteriormente em fevereiro de 2007.

O governo e sua obsessao pelo trem de alta velocidade

Para um governo que anda, ou se arrasta, em muito baixa velocidade, essa obsessao pelo TAV é realmente incompreensível. No limite chega a ser criminosa, ao comprometer tanto dinheiro público com algo que vai servir a muito poucas pessoas, considerando-se ainda as imensas carências das cidades em metros e outros transportes públicos.
Deve ser alguma mania não explicada... (mania de gastar dinheiro à toa...).
Paulo Roberto de Almeida

Governo pode assumir infraestrutura do trem-bala, diz EPL

Presidente da Empresa Brasileira de Planejamento e Logística defendeu o TAV como uma estrutura moderna necessária para comportar a movimentação futura de pessoas

05 de fevereiro de 2013 | 13h 38

Wladimir D'Andrade, da Agência Estado
SÃO PAULO - O projeto do trem-bala poderá ser bancado pelo governo com ou sem a iniciativa privada. A declaração foi feita pelo presidente da Empresa Brasileira de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo. Ele explicou que a ideia é que o governo garanta a infraestrutura do empreendimento, que será licitada em um segundo momento, para o operador do trem-bala a ser escolhido no primeiro leilão.
"Não podemos deixar que o operador perceba um risco de não haver interessado na construção da infraestrutura", disse Bernardo, logo após participar de evento na capital paulista. Por isso, afirmou o presidente da EPL, o governo federal vai assumir as obras caso investidores privados não se mostrem interessados na segunda etapa de leilões do Trem de Alta Velocidade (TAV).
O presidente da EPL defendeu o trem-bala como uma estrutura moderna necessária para comportar a movimentação futura de pessoas no eixo Campinas-São Paulo-Rio de Janeiro. Segundo ele, sem o TAV seria necessário construir novas rodovias e aeroportos para atender a demanda dos próximos 20 a 40 anos. "Teríamos que construir mais duas ou três rodovias Dutra, assim como mais dois ou três aeroportos de Congonhas e Santos Dumont para dar conta (da demanda)", disse. "Isso não é sustentável."
Editais
Ele afirmou que os editais dos nove lotes de rodovias que o governo pretende conceder à iniciativa privada devem ser publicados entre o final de abril e o início de maio. Entre esse nove lotes estarão as BRs 040 e 116, que tiveram seus leilões adiados na semana passada.
A previsão inicial do governo é de que o leilão seja realizado 30 dias depois da divulgação. Mas, segundo Figueiredo, os investidores pedem mais tempo. "O mercado pede 60 dias. Nós vamos nos avaliar com eles", disse.
De acordo com ele, editais dos 10 mil quilômetros de ferrovias serão publicados até o final do primeiro semestre. Figueiredo disse que a malha ferroviária a ser construída nos próximos anos prevê, além do transporte de carga, a possibilidade de circulação de trens de média velocidade para o transporte de passageiro.

Regionalizacao do crescimento brasileiro - Xico Graziano

Rumo ao interior
Xico Graziano (www.xicograziano.com.br)
de S. Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2013

O Brasil está interiorizando seu desenvolvimento. Basta averiguar um traço espacial da economia brasileira em 2012: o PIB da Região Centro-Oeste apresentou crescimento de 3,3%. Apesar de modesto, esse valor foi sete vezes maior do que o verificado na Região Sudeste, que subiu apenas 0,5%. Rumo ao interior.

É muito interessante perceber tal fenômeno, apontado pela consultoria Tendências. Onde impera o setor industrial - em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, parte também no Espírito Santo - anda capengando o País. Já onde domina a agropecuária - nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, e até no Distrito Federal - instala-se um círculo virtuoso de prosperidade. Embora sofrendo as deficiências da infraestrutura logística e, de certa forma, amargando o descaso do governo, os agronegócios têm animado a economia brasileira.

Esse dinamismo observado nas regiões mais longínquas, distantes da orla atlântica, pode configurar, com o passar do tempo, uma nova fase do desenvolvimento nacional. Com a expansão da fronteira agrícola instalam-se as agroindústrias e distribuidoras de insumos, trilham-se estradas e ferrovias para transportar a safra, cresce a população atrás do emprego. Novas oportunidades de negócios surgem, chega o comércio, geram-se renda e riqueza onde somente havia poeira, ou mata virgem. Cidades florescem.

Já ocorreram antes, em outras condições históricas, tais deslocamentos espaciais da economia. Nas origens, a produção do açúcar nordestino progressivamente ocupou parte da Zona da Mata, uma faixa de terra litorânea, estreita, desde o Rio Grande do Norte até o sul da Bahia. Solos férteis e firmes, conhecidos como "massapê", cobertos com Mata Atlântica, suportaram os dois primeiros séculos da Colônia.

Grande movimento se deu também por causa da descoberta do ouro nas Minas Gerais. Começou assim a ocupação de vasta área, então quase desabitada, que viria a acolher um quinto da população brasileira. Fruto dessa alteração espacial no dinamismo da economia e da sociedade, a capital do País se deslocaria, em 1763, de Salvador para o Rio de Janeiro. Rodava o mundo da fortuna.

Com a descoberta da riqueza do café, a bebida que revolucionou a economia brasileira, a próspera viagem da economia adentrou o Vale do Paraíba, atingiu São Paulo e mirou as terras roxas de Campinas, para depois alcançar Ribeirão Preto. Os cafezais tomaram um descanso com a crise de 1930, mas depois ganharam fôlego e voltaram, soberbos, para desbravar o norte do Paraná. Linda saga do "ouro verde".

Andanças secundárias deixaram sua marca na ocupação histórica do vasto território. Pode-se relatar a colonização do Vale Amazônico na busca da coleta florestal, do cacau, da pesca e, um século depois, da borracha natural; o estabelecimento da atividade pecuária nos friorentos pampas gaúchos; ou, ainda, a ousadia portuguesa dos arrozais no Maranhão colonial. Momentos de expansão do sonho da prosperidade.

É curioso perceber que a extensa área do Centro-Oeste permaneceu relativamente afastada desses ciclos da economia nacional. Sua localização, muito distante da costa, criava dificuldades de acesso. Goiás, que experimentou certo dinamismo com a mineração, somente viria a ser, em termos, redescoberto com a fundação de Goiânia (1933), a nova capital do Estado que substituiria a histórica Vila Boa (atual Cidade de Goiás). Em 1988 dele se desmembraria o Estado do Tocantins.

Mato Grosso contou com a ajuda da navegação fluvial para ser inicialmente desbravado. Subindo ao longo do Rio Paraguai, ou descendo pelo Rio Tietê, os colonizadores e bandeirantes atingiram o povoado de Albuquerque. A capital da extensa província se deslocaria para Cuiabá (1835), mas nenhuma força econômica verdadeiramente a impulsionava. A valorização da pecuária motivou a separação, em 1977, do jovem Estado de Mato Grosso do Sul.

Fora as longas distâncias, outra característica básica domina a Região Centro-Oeste: nela se situa grande parte do Cerrado brasileiro, bioma assentado em 23,9% do território nacional. Com vegetação típica, árvores pequenas, cascorentas e retorcidas, decorrentes da estação extremamente seca que impera entre maio e setembro, os solos do Cerrado apresentam baixa fertilidade e acidez elevada. Até os anos 1950 nenhum agrônomo imaginava que poderiam tornar-se produtivos.

Aconteceu, porém, uma espécie de milagre da tecnologia agrícola. Utilizando calcário e fertilizantes, aquelas chapadas do Cerrado, consideradas imprestáveis, foram se transformando em exemplos mundiais de agricultura, ostentando produtividades maiores do que as antigas regiões da terra roxa. Mais ainda: o temor da erosão, maldito na agricultura tradicional, acabou vencido pelo plantio direto, sistema que não exige aração nem gradeação do terreno todo para se efetuar a semeadura. Uma revolução tecnológica.

Resultado: em menos de 30 anos uma verdadeira corrida para o oeste desbravou o Cerrado. Protagonizado por lavradores gaúchos, paranaenses e paulistas, esse "eldorado" tupiniquim abriu as portas do progresso na região - e sem devastação, pois a área cultivável do Cerrado ocupa apenas metade do total. Hoje o Centro-Oeste já responde por 41% da safra nacional de grãos, liderado por Mato Grosso, que sozinho produz 25%. Fora o rebanho bovino, de elevada qualidade genética. Incrível.

Daqui a, talvez, duas décadas, estará consolidada uma nova geografia econômica no Brasil. A facilidade na comunicação, se for complementada por fortes investimentos na logística, terá vencido, definitivamente, a distância que manteve amordaçado o potencial produtivo do Centro-Oeste. Longe do litoral, perto do futuro.

* Xico Graziano é agrônomo e foi secretário de Agricultura e secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br.

Desindustrializacao em marcha: agora e' um fato...

Calma, calma: nao é no Brasil: é na França.
Não sei onde está pior...
Paulo Roberto de Almeida

En France, les fermetures d'usine s'accélèrent
Le Monde.fr avec AFP | 05.02.2013

La France a perdu plus d'un millier d'usines depuis 2009, indique le quotidien économique Les Echos, qui cite une enquête d'une société de veille éc
Le quotidien écrit que "le délitement du tissu industriel français s'est de nouveau accéléré en 2012, avec une augmentation du rythme des fermetures de site de 42 %, selon les estimations du cabinet Trendeo". "L'an dernier, 266 usines de plus de 10 salariés ont encore mis la clé sous la porte", ajoutent Les Echos.
"Cette accélération des fermetures d'usine a de lourdes conséquences sur l'emploi", estime le jounal, qui poursuit : "Après avoir remonté la pente en 2010 et 2011, l'industrie manufacturière a perdu près de 24 000 postes au cours de l'année 2012 et plus de 120 000 depuis janvier 2009."
Selon le quotidien économique, "les secteurs de l'automobile, de la pharmacie, du meuble ou de l'imprimerie" sont en "première ligne" de cette dégradation.
En revanche, soulignent Les Echos, "dans cet environnement difficile, la construction aéronautique et le luxe continuent d'afficher leur singularité, avec plus de 2 400 créations de poste". "L'industrie bénéficie aussi des investissements dans les énergies vertes, avec plus de de 9 000 annonces de création en l'espace d'un an", écrit encore le journal, qui conclut toutefois que cette "montée en puissance... restera insuffisante pour redonner du souffle à l'industrie française".

Brasil: desindustrializacao em marcha (e num governo de trabalhadores industriais)

Já não se fazem mais proletários como antigamente. A flor (se o termo se aplica) da aristocracia operária (o termo se aplica, certamente), que são os operários industriais metalúrgicos, que ocuparam o poder desde 2003, pelo seu líder máximo (mínimo, também, tendo em vista esses resultados), vão passar à história do nunca antes neste país como os homens (e algumas mulheres, pois ninguém aqui é machista) que estão enterrando a indústria brasileira.
Logo a indústria, o símbolo por excelência do stalinismo industrial (para ricos, claro), que a nomenklatura da classe operária representa: tinha de ser a fina flor do proletariado industrial que começaria a enterrar a gloriosa indústria criada por Getúlio Vargas e aprofundada por todos esses ditadores militares que os companheiros admiram tanto (pelo stalinismo industrial para ricos, justamente).
Quem diria, que no regime da classe operária no paraíso da política (com direito a vinhos, charutos, carros oficiais e mulheres em altos escalões), começaria para valer o processo de desindutrialização do Brasil? Quem diria???!!! (valem todos os sinais, para chamar a atenção, para a matéria abaixo de um instituto do patronato industrial, os miniStalins industriais tão amados pelos companheiros.
Ah essa burguesia do capital alheio...
Ah esses companheiros traidores da classe operária...
Ah esses trapaceiros do socialismo verdadeiro...
Paulo Roberto de Almeida

A Indústria em Dezembro de 2012: A Confirmação da Crise
Carta IEDI n. 557, 1/02/2013

Sumário
A produção industrial em dezembro de 2012 ficou estagnada frente a novembro, fazendo com que a taxa de variação no ano se encerrasse em -2,7%. Com exceção de 1992 e 2009, anos de retração do PIB brasileiro, 2012 assinalou o pior resultado registrado na série histórica da produção industrial medida pelo IBGE, iniciada em 1992. Ou seja, desconsiderando aqueles dois anos de recessão da economia brasileira, a indústria não amargava, nos últimos vinte anos, uma queda de sua produção da dimensão e da natureza (retração generalizada) como a vista no ano passado.

Os números de 2012 confirmam a profunda crise, explicitada pela perda de parcelas do mercado interno para os produtos importados (estudo do Banco Central mostra que, em 2011, 100% da expansão dos mercados internos de bens manufaturados foi capturada pelo bem importado – e muito provavelmente isso não mudou em 2012) e pelo encolhimento das exportações nacionais de bens tipicamente produzidos pela indústria manufatureira (segundo estudo do IEDI, tais exportações recuaram 2,6% em 2012). Além disso, a retração de aproximadamente 4,0% dos investimentos na economia brasileira em 2012 contribuiu decididamente para o desempenho negativo da produção, já que todo investimento é “carregado” de produtos da indústria.

Tais efeitos pressionaram a indústria em geral, de modo que todas as categorias de uso registraram redução da produção em 2012 em relação a 2011: bens de consumo semi-duráveis e não duráveis caiu -0,3%, bens intermediários -1,7%, bens de consumo duráveis -3,4%, e bens de capital amargaram a grande retração de -11,8%.

A queda na produção das duas últimas categorias no ano de 2012 esteve relacionada principalmente à menor fabricação de produtos relacionados a veículos (como motocicletas e automóveis ou bens de capital para transporte - caminhões, caminhão-trator para reboques e semi-reboques, veículos para transporte de mercadorias e chassis com motor para caminhões e ônibus) e a equipamentos de escritório e eletro-eletrônicos (como bens de capital de uso misto - computadores e monitores de vídeo, telefones celulares).

Em termos de segmentos, o índice acumulado de 2012 assinalou uma retração da produção em 17 dos 27 ramos, 50 dos 76 subsetores e 59,5% dos 755 produtos investigados. Novamente, a atividade de veículos automotores, com recuo de 13,5%, exerceu a maior influência negativa na formação do índice geral, com retração na produção de aproximadamente 80% dos produtos pesquisados no setor, com destaque para a menor fabricação de caminhões, caminhão-trator para reboques e semi-reboques, chassis com motor para caminhões e ônibus, motores diesel para caminhões e ônibus, autopeças e veículos para transporte de mercadorias.

Outras quedas importantes se deram em material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-13,5%), máquinas e equipamentos (-3,6%), alimentos (-2,1%), máquinas para escritório e equipamentos de informática (-13,5%). Já as atividades que registraram maior crescimento na produção foram refino de petróleo e produção de álcool (4,1%), outros produtos químicos (3,4%) e outros equipamentos de transporte (8,5%).

O cenário de crise se comprovou também em indicadores de outras periodicidades. Em comparação a dezembro de 2012, a indústria em geral retraiu 3,6%, com redução na produção de todas as categorias de uso, em que se pese o fato que de dezembro de 2012 ter tido 2 dias úteis a menos do que o mesmo mês de 2011. Apesar da expectativa anterior de que o quarto trimestre de 2012 fosse melhor, no último trimestre do ano passado, a produção encolheu 0,3% frente ao terceiro (com ajuste sazonal). Isso significa que a indústria não somente teve um dos piores anos de sua história recente, como encerrou 2012 sem mostrar uma reação mais consistente de sua produção – mesmo diante das medidas do governo para estimular a atividade industrial, sem as quais o desempenho do setor seria ainda mais adverso.

Dezembro registrou ligeira alta no índice de utilização de capacidade com ajuste sazonal da indústria de transformação, divulgado pela FGV, assinalando 84,1%. Tecnicamente, a utilização de capacidade manteve-se perto de uma média de 84%, com uma tendência acanhada de alta ao longo de 2012, tendo evoluído de um patamar inicial de 83,7% em dezembro de 2011.

Ou seja, a partir de todos os elementos apresentados, pode-se concluir que o final de 2012 não projeta uma trajetória de crescimento mais robusto da indústria brasileira em 2013. E, vale dizer, a crise internacional não pode servir de desculpa para a queda da produção industrial brasileira, haja vista os recentes resultados positivos da indústria em países asiáticos como Rússia, Malásia e Tailândia.

Avaliamos que o Brasil não irá repetir o resultado de produção industrial do ano passado. O corrente ano será mais positivo para a indústria. Primeiro, em razão dos ajustes de estoques que já foram realizados em diferentes segmentos industriais, com exceção de bens de capital. Em segundo lugar, diante da perspectiva da retomada dos investimentos da economia brasileira, tal como indica o forte aumento das consultas de novos financiamentos junto ao BNDES. Por fim, espera-se que as medidas de política econômica e industrial lançadas em 2012 comecem a apresentar melhores resultados – ainda que a confiança do empresariado não tenha afirmado por completo.

Isso não significa dizer que a indústria viverá um ano de bonança, pois a pressão do produto estrangeiro no mercado interno e em mercados de exportação brasileiros deverá ser mantida, muito embora comecem a aparecer os primeiros resultados das medidas de redução de custos adotadas pelo governo em 2012. Um crescimento modesto – como 2,5% – nos parece ser o mais indicativo das tendências atuais. Mas, sobretudo, o que deve ser sublinhado é que 2013 ainda está em aberto para a indústria nacional.

Argentina 'a beira de um ataque de precos (ou ao borde da hiperinflacao)

Não existe mais a menor dúvida: quando os supremos dirigentes políticos de um país -- sobretudo na América Latina, especialmente no Brasil ou na Argentina -- decidem congelar preços (num suposto acordo de cavalheiros com os distribuidores), é porque o país já está no descontrole inflacionário.
A Argentina, infelizmente, já ultrapassou a fase da aceleração da inflação para o descontrole inflacionário. O desespero passa a pautar as ações dos dirigentes, depois a raiva, finalmente a cólera, e então, já não há mais nada a fazer: o povo já não confia mais na capacidade das lideranças de manter a economia num estado normal, e cada agente econômico, cada ator social, cada fabricante, cada intermediário, cada profissional liberal passa a atuar com base em seus próprios critérios "econômicos", com base em sua percepção do processo e, então, é a descida aos infernos, a corrida desenfreada para a frente, para fixar os seus preços, as greves se multiplicam, a moeda nacional desaparece das transações e os cidadãos se refugiam nos substitutos, que no caso da Argentina só pode ser o dólar (mas o Real também pode servir, secundariamente).
Creio que a Argentina se encontra no limiar desse processo. Além disso, só existe o caos e a desorganização completa da vida econômica, com imensas perdas para o país e os cidadãos.
Cristina K pode ser escorraçada mais cedo do que se pensa.
Paulo Roberto de Almeida

Argentina decide congelamento de preços
Ariel Palácios
O Estado de S.Paulo, 4/02/2013

O secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, anunciou nesta segunda-feira, 4, o fechamento de um acordo com a Associação de Supermercados Unidos (ASU), que reúne as principais redes de supermercados do país, para congelar os preços dos produtos durante dois meses. As empresas – entre as quais Carrefour, Disco, Jumbo, Walmart, Coto, La Anônima e Vea – retrocederão os preços àqueles que estavam vigentes no dia 1º de fevereiro, e os manterão até 1 de abril. O presidente da ASU, Juan Vasco Martinez, afirmou que o compromisso dos empresários foi o de manter os preços congelados de “todos os produtos dos supermercados” durante os dois meses.

Paradoxalmente, o acordo foi fechado quando o governo da presidente Cristina Kirchner voltou a negar a existência da escalada inflacionária. Há poucos dias o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) anunciou que a inflação de 2012 foi de apenas 10,8%. No entanto, economistas independentes sustentaram que a inflação real superou amplamente a oficial, já que o ano passado teria sido encerrado com uma taxa de 25,6%.

“A inflação mínima de 2013 oscilará entre 25% a 30%. Pensar em um porcentual mais baixo é impossível”, afirmou o economista-chefe da consultoria Management & Fit, Matías Carugatti.

A Argentina conta com um longo histórico de congelamento de preços, desde os tempos do primeiro governo do general e presidente Juan Domingo Perón nos anos 40 e 50 e novamente na década de 70. Em 1985, a implementação do Plano Austral, da equipe econômica do presidente Raúl Alfonsín, implicou em um novo congelamento.

Passaram-se duas décadas sem tentativas de congelamentos até que o presidente Nestor Kirchner tentou em 2005 e 2006 aplicar essa modalidade a supermercados e outros setores da economia. No entanto, o sistema foi à pique. O resultado desse fracasso foi uma guinada na política de combate à inflação por parte do governo Kirchner, que optou – na impossibilidade de conter a alta de preços – por maquiar o índice.

Os analistas destacam que o acordo de congelamento é um aceno aos líderes sindicais argentinos, que estão em plena negociação salarial tripartite com empresários e o governo Kirchner.