domingo, 22 de janeiro de 2012

Brasil: campeao de desigualdade no G20 (BBC)

Algumas coisas merecem muita atenção: do governo, da imprensa, dos comentaristas e colunistas habituais, etc. 
Como por exemplo, a questão da Sexta Potência Econômica Mundial.
Parece que nossas vidas foram inteiramente transformadas por essa informação transcendente...
Eu até me senti mais rico, vejam vocês.
E tudo graças ao governo, claro, que produziu as riquezas que fizeram o Brasil se situar na sexta posição do campeonato mundial de PIBs.
Se não fosse o governo, nós ainda estaríamos lá atrás, amargando pobreza, miséria, desigualdades, etc.
Por exemplo: ninguém fala de nosso último lugar, ou quase, em matéria de educação. Ninguém parece se preocupar com essa vergonha (só eu, claro, e mais meia dúzia de fieis leitores).
E quanto à desigualdade, objeto da matéria abaixo?
Aposto que não vão falar nada, vão ficar quietinhos, esperando a notícia passar...
Mas, se falarem em PIB, preparem as trombetas da glória: nada a ver com câmbio, efeito-China, etc. Não, tudo por obra e graça do governo, sem o qual nossas vidas seriam um inferno de atraso...
Mas, voltando à história da desigualdade, que tal esta matéria abaixo?
Nada que eu lamente muito, pois desigualdade sempre houve, e não é por causa dela que os brasileiros em geral são pobres. Eles são pobres porque nossa produtividade é reduzida, não por causa da desigualdade.
Mas, claro, a desigualdade reflete ou é o resultado, justamente, da baixa qualidade da educação e dos baixíssimos níveis de produtividade humana do trabalho. Padrões baixos, em educação e produtividade representam pobreza e miséria, e desigualdade associada.
Por isso o Brasil não é um país de pessoas ricas, a despeito de ter muita riqueza acumulado pelo grande número de pessoas. A China também. A diferença é que a China cresce rápido, e possui padrões satisfatórios de educação, e está produzindo ciência e tecnologia. Ela vai ficar rica mais rapidamente do que nós, e nos ultrapassar em renda per capita dentro de alguns anos. Sorte dos chineses. Azar nosso.
Mas, a China também tem um dos maiores crescimentos do mundo em termos de desigualdade.
Isso é um grande problema?
Depende. Se todos estiverem ficando mais ricos, isso pode ser atenuado. Mas se a desigualdade se dá em meio à estagnação ou baixo crescimento, aí a coisa pode ficar complicada.
Os chineses precisam crescer. Nós também. Eles vêm conseguindo, rapidamente. Nós muito lentamente.
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil é segundo país mais desigual do G20, aponta estudo

BBC – 19/01/2012

De acordo com pesquisa, país está à frente apenas da África do Sul

O Brasil é o segundo país com maior desigualdade do G20, de acordo com um estudo realizado nos países que compõem o grupo.
De acordo com a pesquisa Deixados para trás pelo G20?, realizada pela Oxfam – entidade de combate à pobreza e a injustiça social presente em 92 países -, apenas a África do Sul fica atrás do Brasil em termos de desigualdade.
Como base de comparação, a pesquisa também examina a participação na renda nacional dos 10% mais pobres da população de outro subgrupo de 12 países, de acordo com dados do Banco Mundial. Neste quesito, o Brasil apresenta o pior desempenho de todos, com a África do Sul logo acima.
A pesquisa afirma que os países mais desiguais do G20 são economias emergentes. Além de Brasil e África do Sul, México, Rússia, Argentina, China e Turquia têm os piores resultados.
Já as nações com maior igualdade, segundo a Oxfam, são economias desenvolvidas com uma renda maior, como França (país com melhor resultado geral), Alemanha, Canadá, Itália e Austrália.
Avanços
Mesmo estando nas últimas colocações, o Brasil é mencionado pela pesquisa como um dos países onde o combate à pobreza foi mais eficaz nos últimos anos.
O estudo cita dados que apontam a saída de 12 milhões de brasileiros da pobreza absoluta entre 1999 e 2009, além da queda da desigualdade medida pelo coeficiente de Gini, baixando de 0,52 para 0,47 no mesmo período (o coeficiente vai de zero, que significa o mínimo de desigualdade, a um, que é o máximo).
A pesquisa prevê que, se o Brasil crescer de acordo com as previsões do FMI (3,6% em 2012 e acima de 4% nos anos subsequentes) e mantiver a tendência de redução da desigualdade e de crescimento populacional, o número de pessoas pobres cairá em quase dois terços até 2020, com 5 milhões de pessoas a menos na linha da pobreza.
No entanto, a Oxfam diz que, se houver um aumento da desigualdade nos próximos anos, nem mesmo um forte crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderá retirar um número significativo de brasileiros da pobreza.
“Mesmo que o Brasil tenha avanços no combate da pobreza, ele é ainda um dos países mais desiguais do mundo, com uma agenda bem forte pendente nesta área”, disse à BBC Brasil o chefe do escritório da Oxfam no Brasil, Simon Ticehurst.
Para ele, é importante que o governo dê continuidade às políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e que o Estado intervenha para melhorar o sistema de distribuição.
“Os mercados podem criar empregos, mas não vão fazer uma redistribuição (de renda)”, afirma.
Outras questões
Ticehurst diz que, para reduzir a desigualdade, o Brasil também precisa atacar as questões da sustentabilidade e da resistência a choques externos.
“As pessoas mais pobres são as mais impactadas pela volatilidade do preço dos alimentos, do preço da energia, dos impactos da mudança climática. O modelo de desenvolvimento do Brasil precisa levar isso mais em conta.”
Para o representante da Oxfam, a reforma agrária e o estímulo à agricultura familiar também é importante para reduzir a desigualdade.
“Da parcela mais pobre da população brasileira, cerca de 47% vive no campo. Além disso, 75% dos alimentos que os brasileiros consomem são produzidos por pequenos produtores, que moram na pobreza“, afirma TiceHurst.
“É preciso fechar esse circuito para que os produtores que alimentam o país tenham condições menos vulneráveis e precárias.”
Segundo o estudo da Oxfam, a maioria dos países do G20 apresenta uma tendência “preocupante” no sentido do aumento na desigualdade.
A entidade afirma que algumas dessas nações foram “constrangidas” pelas reduções significativas da desigualdade registradas nos países de baixa renda nos últimos 15 anos.
“A experiência do Brasil, da Coreia do Sul e de vários países de renda baixa e média-baixa mostra que reduzir a desigualdade está ao alcance dos dirigentes do G20″, afirma o texto.
“Não existe escassez de potenciais alavancas para políticas (de redução da desigualdade). Em vez disso, talvez exista uma escassez de vontade política”, diz o estudo.

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