Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso:
dois séculos de política econômica no Brasil
2.
ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha
(...)
Gustavo
H.B. Franco
Este período foi um dos mais complicados
para os responsáveis pelas políticas econômicas, posto que durante a primeira
década foram observadas transformações “estruturais” na economia brasileira,
“destacadamente a súbita disseminação do trabalho assalariado no campo e o
reordenamento da inserção do país na economia internacional”. (pg. 29)
O capítulo 02 tem como objetivo discorrer
sobre as transformações estruturais mais importantes, as quais afetaram
diretamente o desenvolvimento da política econômica, e em seguida, relatar
quais foram as providências econômicas tomadas durante os anos 1890. (pg. 29)
“O crescente envolvimento do Brasil com a
economia internacional constitui um traço fundamental da história econômica do
país nos últimos anos do século XIX”. A participação do Brasil no comércio
mundial é modesta, cerca de 1% no ano de 1913, por outro lado, a participação
no âmbito de investimento internacional consistia em aproximadamente 30% de
toda a América Latina. (pg. 30)
O país, após a crise que se deu nos anos
de 1891-1892, encontrou dificuldades cambiais sérias, houve uma baixa na
capacidade de importação, o preço do café entrou em crise. “O déficit em conta
corrente cresceria substancialmente, atingindo £2.295 mil em 1895 e £5.014 mil
em 1896 e inaugurando um período crítico no tocante às contas externas”. É
perfeitamente explicável que o câmbio tenha flutuado durante os anos 1890 dado
que os preços do café encontravam variações significativas. (pg. 32)
As décadas finais do século XIX foram de
extrema importância para a reforma da economia brasileira, anos nos quais
ocorreram momentos cruciais, segundo o autor Furtado “o fato de maior
relevância ocorrido na economia brasileira no último quartel do século XIX foi,
sem lugar à dúvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado”.
(pg. 33)
O trabalho assalariado teve grande
importância na economia, posto que as despesas com salários tinham épocas
determinadas, as quais tem relação direta com a colheita das safras. Esse fato
gerava alguns problemas monetários para a liquidez dos bancos, uma vez que
apenas havia movimentação nesses momentos explicitados. (pg. 33)
“No início da década de 1880, o problema
das novas demandas de moeda advindas do trabalho livre era constantemente
mencionado, e argumentava-se nesse sentido que as demandas sazonais de crédito
associadas às safras (de café, açúcar etc.) podiam agora se tornar muito mais
fortes, e podiam ter sérias consequências no tocante à liquidez, caso não
fossem implementados esquemas destinados a prover acomodação para essa elevação
once and for all da procura de
moeda”. (pg. 34)
A crise monetária nos bancos foi agravada
com a expansão dos trabalhos assalariados, ainda mais nos anos próximos a
abolição da escravatura. Em 1883, o Ministro da Fazenda propôs a retomada de
uma lei de 1875, a qual discorria sobre a emissão provisória por parte do
Tesouro, para auxiliar os bancos no fornecimento de moedas. (pg. 35)
As crises recorrentes em razão destes
problemas, apenas com propostas de resoluções paliativas, levaram a busca de
soluções mais permanentes, o que levou o Senado, em 1887, propor um projeto de
reforma monetária, apenas entrando em vigor no final de 1888. (pg. 36)
Notou-se que a reforma monetária não
estava gerando resultados, então foi proposta a retomada da ideia do
padrão-ouro como articulação da política econômica, juntamente com o
estabelecimento de auxílios à lavoura (forma de compensar os antigos donos de
escravos com a concessão de créditos). (pg. 36-37)
A crise monetária após 1888 não regrediu,
as tentativas de reformas monetárias não estavam tendo efeitos, a ausência de
oferta de moedas que já assustava em 1887 tomou proporções inimagináveis em
1889. (pg. 38)
Com a crise do câmbio em 1891, as
finanças públicas e os bancos ficaram frágeis. O novo ministro da Fazenda,
Rodrigues Alves, estabeleceu novos planos para tentar evitar a ruína do sistema
bancário, sem, entretanto, encontrar apoio do Congresso. (pg. 40)
Esta opção não teria sido a melhor, o que
levou a demissão deste ministro, e o seu sucessor, Serzedelo Correia, entendeu
por bem retomar a ideia de Ruy Barbosa, antigo ministro da Fazenda, “por um
grande estabelecimento bancário líder – destinado a sanear a praça dos
“excessos da especulação” –, formado a partir de grandes bancos existentes em
má situação” e também incentivar o apoio da “solidificação de empresas
industriais tidas como viáveis, ainda que constituídas no âmago do
Encilhamento”. (pg. 41)
A crise se estendeu, entre altos e
baixos, empréstimos internacionais, diminuição nos preços do café, flutuação de
câmbio, entre outras. Enfim, “um plano de refinanciamento de pagamentos é
finalmente acordado entre o governo brasileiro e a Casa Rothschild, através do
qual seria emitido o chamado funding loan”. (pg. 43)
A conclusão deste capítulo seria pelo
êxito da política monetária conservadora, por causa do controle deste da
política econômica, desde que Prudente de Morais assumiu a administração até a
metade da década subsequente. “Os resultados deste interlúdio teriam uma
duradoura influência sobre a política econômica durante os anos posteriores”.
(pg. 44)
(continua...)
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