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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Posse no Itamaraty: resumo da imprensa

Posse do novo Chanceler em 2/01/2019

Araújo critica globalismo na política externa brasileira
02/01/19 - 21h07
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O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira, 2, ao assumir o cargo, que pretende implementar uma política comercial “adequada aos dias de hoje” e não presa ao “globalismo para agradar outras nações”.
“Os acordos comerciais que o Brasil acertou no passado ou que ainda está discutindo partem de um princípio de submissão. Devemos negociar (com outros países) a partir de uma posição de força”, afirmou. “O Itamaraty voltou porque o Brasil voltou.”
Na fala, Araújo fez mais um aceno à política externa americana, ao dizer que vai dar o apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). O pleito é um dos principais de Donald Trump, que enviou seu secretário de Estado, Mike Pompeo, à posse de Jair Bolsonaro. No mesmo sentido, o chanceler disse que vai apoiar na ONU as agendas do Brasil e não das ONGs.
Elogios a Israel e Estados Unidos
Araújo elogiou no discurso de posse do seu cargo as políticas externas dos Estados Unidos, de Israel, e de países europeus, como a Itália, a Hungria e a Polônia.
Ao defender uma diplomacia brasileira preocupada com questões nacionais e contra o globalismo, Araújo disse que admira o “exemplo de Israel, que nunca deixou de ser nação mesmo quando não tinha solo”. Daí adiante, citou os Estados Unidos, do presidente Donald Trump, e os países latino-americanos que, segundo ele, se “livraram do Foro de São Paulo”. O novo chanceler disse também admirar a “luta do povo venezuelano contra a tirania de (Nicolás) Maduro”.
Araújo disse admirar ainda as chancelarias italiana, húngara e polonesa. Os três países têm em comum o fato de ter tido uma guinada à extrema-direita nos últimos anos. “Nós admiramos aqueles (países) que se afirmam”, comentou.
Mesmo sem citar nominalmente chanceleres anteriores a ele, Araújo disse que se arrisca a dizer que a “diplomacia brasileira estava fora de si mesma”. “O Itamaraty não pode achar que pode ser melhor que o Brasil. Estou certo de fazer o Itamaraty mais fiel a si mesmo e ao Brasil”, afirmou.
Araújo fez uma série de menções em seu discurso. Falou de Renato Russo, Raul Seixas, da emissora americana CNN e citou, em grego, o versículo bíblico “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, do Evangelho de São João. Além disso, ele leu, em tupi, a Ave Maria.
Na avaliação dele, as pessoas que apoiam o globalismo estão “tentando afastar o homem de Deus e é contra isso que nos insurgimos”. Araújo disse também que a luta pessoal dele é “pela família e pela vida”, consonante com os princípios do presidente Jair Bolsonaro.

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Ernesto Araújo diz que parceria com EUA é 'por uma ordem internacional diferente'

O diplomata Ernesto Araújo, escolhido por Bolsonaro para o ministério das Relações Exteriores
Eduardo Rodrigues Brasília 02/01/2019 10h53

Após encontro com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse há pouco que os chefes das diplomacias nos dois países conversaram sobre como trabalhar juntos por uma "ordem internacional diferente". Segundo ele, o Brasil se alinhará com países grandes e pequenos que comunguem dos mesmos ideais brasileiros. "Tive uma excelente conversa com Mike Pompeo sobre termos... –

Pompeo avaliou que as expectativas do povo brasileiro com o governo de Jair Bolsonaro são altas e disse que pode perceber isso ao ver milhares de pessoas acompanharem a posse presidencial ontem na Praça dos Três Poderes. "Estamos comprometidos para trabalhar ao lado do governo brasileiro na área econômica, mas também na área de segurança", disse Pompeo. Enquanto Araújo apontou que os dois governos irão trabalhar juntos "pelo bem e por uma ordem internacional diferente", Pompeo foi mais incisivo ao afirmar que a parceria se dará "contra os governos autoritários do mundo". Questionado sobre a mudança de alinhamento ideológico da diplomacia brasileira e se não haveria um "exagero" n... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/01/02/ernesto-araujo-ve-parceira-com-os-eua-por-uma-ordem-internacional-diferente.htm?cmpid=copiaecola


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Ernesto Araújo fala em “ordem internacional diferente”

Segundo o chanceler, o Brasil se alinhará com países grandes e pequenos que comunguem dos mesmos ideais brasileiros

Após encontro com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse há pouco que os chefes das diplomacias nos dois países conversaram sobre como trabalhar juntos por uma “ordem internacional diferente”. Segundo ele, o Brasil se alinhará com países grandes e pequenos que comunguem dos mesmos ideais brasileiros.
“Tive uma excelente conversa com Mike Pompeo sobre termos uma parceria mais intensa e elevada com os EUA. Temos várias ideias concretas que começamos a discutir sobre a parceira com o governo americano e vamos discutir nos próximos meses”, afirmou o chanceler brasileiro. “Estamos no começo de uma nova etapa nas relações com os EUA, que será muito produtiva. Iremos gerar empregos e oportunidades de negócios e novas iniciativas em todas as áreas”, completou.
Pompeo avaliou que as expectativas do povo brasileiro com o governo de Jair Bolsonaro são altas e disse que pode perceber isso ao ver milhares de pessoas acompanharem a posse presidencial ontem na Praça dos Três Poderes. “Estamos comprometidos para trabalhar ao lado do governo brasileiro na área econômica, mas também na área de segurança”, disse Pompeo.

Enquanto Araújo apontou que os dois governos irão trabalhar juntos “pelo bem e por uma ordem internacional diferente”, Pompeo foi mais incisivo ao afirmar que a parceria se dará “contra os governos autoritários do mundo”.
Questionado sobre a mudança de alinhamento ideológico da diplomacia brasileira e se não haveria um “exagero” na aproximação de alguns países em detrimento de outros, Araújo respondeu que é possível aliar diplomacia e interesses econômicos.
“O Brasil está se realinhando consigo mesmo, com seus valores e com o povo brasileiro. Nos aproximaremos de grandes e pequenos países que comungam dos nossos ideais. O Brasil tem que se colocar como um país grande, e um país grande não precisa renunciar aos seus valores para criar oportunidades comerciais”, considerou.
Para Pompeo, as nações tendem a trabalhar melhor juntas quanto compartilham valores, e o povo americano compartilha com o povo brasileiro os mesmos valores de democracia e liberdade. “Vi uma transição de governo pacífica ontem, e isso não acontece em todos os lugares do mundo. As pessoas em Cuba, Venezuela e Nicarágua não têm essa oportunidade”, afirmou, após dizer que deseja que a democracia retorne à Venezuela.
Perguntado sobre a afirmação de Donald Trump de que era “difícil” fazer negócios com o Brasil, Pompeu respondeu que o presidente norte americano considera importante que as relações econômicas sejam conduzidas de maneira transparente. “Transações comerciais devem se basear na economia e não serem direcionadas por razões políticas”, explicou.
A imprensa internacional ainda perguntou se o governo americano teria alguma preocupação com a possível redução da proteção aos direitos humanos no Brasil, dado o discurso de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral. Pompeo deixou Araújo responder primeiro, e o chanceler brasileiro garantiu que não há razão para temer uma diminuição da proteção aos direitos humanos no Brasil.
“Isso é um resquício da campanha eleitoral. O compromisso do governo brasileiro com os direitos humanos é absoluto. Inclusive queremos aumentar a proteção a alguns direitos que não estão sendo defendidos”, enfatizou.
O secretário americano então acrescentou que os EUA são consistentes em defender os direitos humanos em todo o mundo. “A conversa na manhã de hoje mostrou que Brasil está comprometido com os direitos humanos”, concluiu.

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Análise: com Araújo, Bolsonaro faz uma de suas apostas mais arriscadas

Novo chanceler assume com discurso religioso e de alinhamento com Estados Unidos e Israel. Movimento quebra tradição do Itamaraty

A chegada de Ernesto Araújo, com 51 anos, ao posto máximo da diplomacia brasileira representa uma das maiores apostas do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Pelas declarações e gestos feitos desde sua indicação, o novo chanceler tem a intenção de protagonizar uma das maiores guinadas da política externa do país.
No encontro que teve na manhã desta quarta-feira (2/1) com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, Araújo avançou na retórica da formulação de uma “ordem internacional diferente”. Nesse caminho, o Brasil se alinharia a “países grandes e pequenos que comunguem dos mesmos ideais brasileiros”.
Os rumos apontados pelo ministro das Relações Exteriores, pelo dito antes da posse, representam o rompimento com a tradição da diplomacia praticada desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Desde a década de 1950, quando o Itamaraty formulou a Política Externa Independente (PEI), prevalece a orientação de pluralismo nas relações internacionais.
No início da ditadura, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco tentou adotar a “teoria dos círculos concêntricos”, idealizada pelo general Golbery do Couto e Silva, que privilegiava a aproximação com o bloco ocidental, encabeçado pelos Estados Unidos.
Em pouco tempo, a estratégia de Castelo Branco fracassou diante da realidade. O pragmatismo das relações comerciais das empresas brasileiras com países de todos os blocos prevaleceu frente aos interesses políticos dos militares.
No caso de Araújo, pesam as desconfianças por se tratar de um diplomata inexperiente no circuito internacional. Também soam exóticas suas declarações de cunho religioso, com a de que a “divina providência” teria unido o filósofo Olavo de Carvalho ao presidente Jair Bolsonaro. Pelo observado até agora, o viés religioso tem tudo para se transformar em um dos pontos de tensão dentro do Itamaraty.
O homem escolhido por Bolsonaro para comandar a política externa também promete “combater” o que chama de “marxismo cultural”, expressão com a qual define as concepções aplicadas pelos governos do PSDB, do PT e do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.
Também surgem como novidades intrigantes a aproximação ostensiva com os primeiros-ministros de Israel, Benjamin Netanyahu, e da Hungria, Viktor Orban, expoentes da direita internacional. Esse é uma opção que afasta o Brasil de países com quem o setor privado nacional mantém sólidas e lucrativas transações comerciais, principalmente no mundo árabe.
Araújo terá tempo para provar se é uma aposta acertada de Bolsonaro. Para isso, terá de se mostrar capaz de quebrar a tradição de pluralidade do Itamaraty e, mais importante, demonstrar que essa guinada é boa para o país.
Sob outro ângulo, a ascensão de Araújo provoca certa curiosidade sobre como será a atuação dos diplomatas e dos oficiais de chancelaria às novas orientações. Na época da ditadura, quando foram postos à prova de servir a um governo autoritário, muitos reagiram contra abusos e foram até punidos. Outros se adaptaram.
Agora, trata-se de uma democracia. Mas o choque cultural, com tom religioso, parece mais violento do que no golpe de 1964.
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Discurso ideológico de Bolsonaro contra o "socialismo" do Brasil

Presidente do Brasil reafirmou que quer "se libertar do socialismo", defender "a tradição judaico-cristã", conservar valores e "combater a ideologia de género".
António Rodrigues
antoniorodrigues@newsplex.pt

Michelle Bolsonaro quebrou o protocolo e discursou antes do presidente, em linguagem gestual, mas o seu vestido fazia lembrar o de Melania Trump na tomada de posse do presidente dos Estados Unidos e o discurso de Jair Bolsonaro assemelhava-se ao do seu ídolo Trump, afirmando-se não ideológico, mas sendo absolutamente ideológico: “É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como presidente do Brasil. E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, se libertar da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”. Até não faltou, tal como com Trump, uma polémica à volta da quantidade de pessoas presentes. As informações que circulavam em Brasília davam conta de um número entre 250 mil e 500 mil pessoas, afinal, os números oficiais do Gabinete de Segurança Internacional falam em 115 mil pessoas. Mais do que Dilma Rousseff, mas inferior a Lula da Silva.
Quem estava à espera de um acalmar de ânimos, um discurso mais moderado e inclusivo agora que a campanha acabou e se torna mesmo presidente do Brasil, ouviu um Bolsonaro a falar mais para as massas que o elegeram: “Vamos unir o povo, valorizar a família, respeitar as religiões e nossa tradição judaico-cristã, combater a ideologia de género, conservando nossos valores. O Brasil voltará a ser um país livre das amarras ideológicas.”
Como escreve Juan Arias, na edição brasileira do “El País”, “é como afirmar que aqueles que defendem, em seu direito democrático, os valores que não são os da extrema direita, não cabem mais no Brasil”. Por isso, o novo presidente, “em vez de unir o país em uma esperança comum de convivência, ele o arrasta e incita a continuar não apenas dividido, mas a abrir uma guerra ideológica mais perigosa do que a que tenta combater”.
Desde Washington, Donald Trump foi rápido a reagir no Twitter, saudando Bolsonaro pelo seu “grande discurso de posse”, acrescentando um “os EUA estão contigo!” Mensagem que o presidente brasileiro se apressou a agradecer: “Juntos, com a proteção de Deus, traremos mais prosperidade e progresso a nossos povos”.
O novo ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, garantiu esta quarta-feira que o Brasil e os EUA iniciam uma nova etapa nas relações, como aliás deixou claro na reunião com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, com quem se reuniu em Brasília.
“Estamos no começo de uma nova fase que será muito produtiva, tenho certeza, na relação entre Brasil e Estados Unidos”, afirmou Araújo. “Aproveitando muito trabalho que já foi feito, mas criando uma dimensão muito mais intensa na nossa relação”. Nas suas primeiras declarações como chefe da diplomacia brasileira, Araújo sublinhou que ele e Pompeo trocaram ideias sobre “como trabalhar juntos pelo bem, por uma ordem internacional diferente, que corresponda aos valores dos nossos povos”.
Se Trump não esteve presente na tomada de posse, para tristeza do novo chefe de Estado, a lista de presenças e de ausências na cerimónia da tomada de posse em Brasília, também serve de perceção sobre o futuro das relações entre este novo Brasil e o mundo. Sebastiãn Piñera, o presidente chileno de direita lá estava, mas faltava Mauricio Macri, outro homem da direita com quem Bolsonaro gostava de realinhar uma nova aliança latino-americana, só que o presidente argentino torce o nariz ao esvaziamento do Mercosul que o seu homólogo brasileiro pretende. Também estava Evo Morales, o presidente boliviano que, apesar de ser de esquerda, precisa de negociar a venda de gás boliviano com o novo mandatário.
Por falar em negócios, o alinhamento do Brasil com Israel, a possibilidade de Bolsonaro também mudar a embaixada para Jerusalém, seguindo o exemplo dos EUA, fez com que Benjamin Netanyahu passasse cinco dias no país em contactos de alto nível. O primeiro-ministro israelita até deu uma entrevista à Record, a televisão oficial do governo Bolsonaro, onde falou nos dois países como irmãos. Um alinhamento que pode custar caro a Bolsonaro e levantar muitos problemas: 32 milhões de brasileiros têm ascendência árabe, fruto de uma aliança tácita com o Médio Oriente desde a viagem do imperador Dom Pedro ao Líbano em 1870. Mas, mais importante, numa altura em que a diplomacia se tornou muito mais económica que política, o mundo árabe e o Irão são grandes compradores de produtos pecuários em geral e de carne de frango em particular. Ao contrário de Israel, que pretende vender mais do que comprar.
Para já, o clima de desconfiança ou de esperar para ver reina em termos internacionais. Segundo “O Estado de São Paulo”, estiveram presentes 46 delegações na tomada de posse, um número substancialmente inferior que as 130 na tomada de posse de Dilma Rousseff, 110 com Lula e 120 com Fernando Henrique Cardoso.

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Araújo cita Anchieta, Renato Russo e Ave Maria em tupi ao assumir Itamaraty
Novo chanceler faz discurso contra a ordem global e promete 'libertar a política externa brasileira', que está 'presa fora de si mesma'
Eliane Oliveira e André Duchiade
02/01/2019 - 18:57 / Atualizado em 02/01/2019 - 23:19

BRASÍLIA E RIO DE JANEIRO - Com citações em latim, grego e tupi, e menções a Renato Russo, Raul Seixas, Dom Sebastião, que combateu os muçulmanos e não voltou, e ao padre José de Anchieta — cuja Ave Maria em tupi recitou —, o novo chanceler, Ernesto Araújo, tomou posse ontem prometendo “libertar a política externa brasileira e o Itamaraty”.

— O Brasil está preso fora de si mesmo e a política externa está presa fora do Brasil — diagnosticou Araújo, que afirmou que trabalhará “pela pátria” e “não pela ordem global”. — Queríamos ser um bom aluno na escola do globalismo e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior — afirmou, citando o termo usado pela direita americana para se referir, de modo pejorativo, às instituições globais, acusadas de intervir indevidamente na soberania dos países.

No seu primeiro discurso público desde a indicação ao cargo, Araújo seguiu a tônica de seus artigos e tuítes e fez uma fala com ares românticos e grandiosos, intercalando a exaltação da redescoberta de tradições supostamente esquecidas e críticas à globalização. O chanceler também se referiu indiretamente a seus críticos, e disse que irá provar que a condução efetiva da política exterior é compatível com a carga ideológica do seu discurso.
— Um dos instrumentos do globalismo é afirmar que para fazer comércio e negócio não se pode ter ideias e espalhar valores. Com um sentido de harmonia e missão, formularemos programas para desenvolver cada relação de maneira dinâmica.
No começo de seu discurso, Araújo citou, em grego, o evangelista João — “Conheceis a verdade e a verdade vos libertará”. Escritores, como Clarice Lispector, Cecília Meireles e José de Alencar, e músicos, como Renato Russo e Raul Seixas, também foram mencionados.
Ele também apresentou três conceitos gregos que conduziram a sua exposição: o conhecimento (“gnosis”), a verdade (“aleteia”) e a liberdade (eleutheria). O chanceler afirmou que o conceito de liberdade está desacreditado no Brasil, mas que, sob Bolsonaro,  adquire nova relevância. O presidente, afirmou, libertou o Brasil e revelou a verdade sobre o país.
Para Aráujo, Olavo de Carvalho "é o grande responsável pela transformação que o Brasil está vivendo". Ele comparou o guru da direita a Dom Quixote, que, "caído a beira do caminho, começou a conversar com os passantes sobre as próprias façanhas".

Críticas ao Itamaraty

O chanceler citou meios de comunicação estrangeiros, sugerindo a seus críticos:
— Vamos ler menos Foreign Affairs e mais Clarice Lispector. Menos New York Times e mais José de Alencar. Menos CNN e mais Raul Seixas.
Ele defendeu a aliança do Brasil com países que cultivam o nacionalismo. Citou Israel, Itália, Polônia e Hungria — todos governados hoje por ultraconservadores — como nações “amadas”, assim como vizinhos latino-americanos que “se libertaram do Foro de São Paulo”. Também afirmou que combaterá o que chamou de ódio a Deus e à pátria.
— O problema do mundo hoje não é a xenofobia, mas a “oikofobia”, a rejeição ao próprio lar, ao próprio passado — disse, explicando que o termo significa “ódio ao lar”.

Araújo fez várias críticas ao Itamaraty. Segundo ele, se o Brasil está ruim, o Itamaraty não pode achar que é melhor e não fazer parte do país.
— Não tenham medo de ser Brasil. Nossa política externa vem se atrofiando, com medo de ser criticada.
Araújo disse que o Ministério das Relações Exteriores, mais do que outras instituições brasileiras, salvaguarda tradições e valores sociais, mas que este papel de protetor perdeu-se em eras mais recentes. O ministro afirmou que a recuperação deste legado é sua missão.
— Fazemos parte de uma aventura magnífica. O Itamaraty voltou porque o Brasil voltou.
As referências a medidas concretas só vieram na parte final da fala. O modelo de negociação do Itamaraty baseia-se na década de 1990 e está desatualizado, não sendo “direcionado às potencialidades concretas”, afirmou:
— Investiremos em negociações multilaterais sobretudo para a OMC, onde o Brasil entrará com peso — disse. — Hoje negociamos em uma posição de fraqueza, quando deveríamos negociar em uma posição de força.

Guinada inédita

O ministro disse que irá “arejar o fluxo da carreira”, promovendo diplomatas mais novos para posições de comando do ministério, e não se esquivou do risco de ser acusado de militarista, afirmando diversas vezes que está em uma luta.
— Não escutem o globalismo quando diz que paz é não lutar. Cautela, prudência, pragmatismo não nos ensinam para onde ir.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília Thiago Galvão, o discurso trouxe três aspectos importantes. Um deles foi a mensagem de que Araújo é um intelectual que gostaria de resgatar a tradição de chanceleres que pensam a política externa. O segundo é uma retomada do ocidentalismo forte, que marcou períodos como o início do regime militar. O terceiro aspecto é uma associação do Itamaraty com o sagrado, em uma releitura do que existe nos Estados Unidos.
De acordo com o professor de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel, Araújo possivelmente representa a maior guinada da história da política externa brasileira.
— Ele traz um vocabulário totalmente novo para a política externa. E a grande pergunta é como ideias que estão muito fora do mainstream serão implementadas, porque ele tem falado muito de grandes conceitos, mas muitos são bastante abstratos — afirmou.
4 COMENTÁRIOS
Eliana Teixeira 
02/01/19 - 22:42
Foi o samba do diplomata louco!!!
Luciana Guerra Malta 
02/01/19 - 22:27
É inacreditável que o chanceler de um país diga que "A cautela, prudência, pragmatismo não nos ensinam para onde ir". Tudo que contraria qualquer cânone da diplomacia. Parece realmente alguém que não se encontra em seu juízo perfeito.
Daniel Filippi 
02/01/19 - 20:59
O Brasil tornou-se um exemplo fantástico para compreender a história do século XXI, sofreremos nós. Mas, a realidade é que estamos contemplando a possibilidade da pós-verdade no Estado, cada um molda o mundo como lhe interessa, tudo é possível e nada é razoável.
Jenny Raschle 
02/01/19 - 19:24
Este senhor tem uma mente irracionalmente doentia, pretende um projeto pessoal a partir de uma doutrinacao doentia , distante de uma politica de inserçao do pais harmonica e construtiva .
  

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