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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Quatro líderes e um mundo virado ao revés Israel , EUA, Rússia e China - Thomas L. Friedman (NYT, Estadão)

 Quatro líderes e um mundo virado ao revés

Israel EUA, Rússia e China

Thomas L. Friedman
The New York Times É colunista e ganhador de três prêmios Pulitzer
O Estado de S. Paulo, 6/10/2023

Desde o dia em que aprendí que, em 1947, Walter Lippmann popularizou o termo Guerra Fria para definir o conflito que emergia entre EUA e União Soviética, achei que seria legal poder batizar um período histórico. Agora que o pós-Guerra Fria acabou, o pós-pós-Guerra em que entramos tem de ganhar um nome. Então, aqui vai: é a era do "Isso não estava nos planos".

Eu sei, não é uma expressão fácil de articular - e não espero que cole. Mas ela é certeira. Eu tropecei nela na minha viagem recente à Ucrânia. Estava conversando com uma mãe ucraniana que me contava que sua vida social tinha se reduzido a jantares ocasionais com amigos, festas de aniversário "e funerais".

Depois de digitar a citação na minha coluna, acrescentei meu próprio comentário: "Isso não estava nos planos". Antes do ano passado, jovens ucranianos vinham desfrutando de acesso facilitado à União Européia, entrando em startups de tecnologia, pensando sobre fazer faculdade e decidindo se passavam férias na Itália ou na Espanha. Então, como um meteoro, a invasão russa virou as vidas deles de ponta cabeça da noite para o dia.

Aquela ucraniana não está só. Muitos planos de muita gente - e de muitos países - saíram completamente dos trilhos. Entramos na era do pós-pós-Guerra Fria, que tem pouco a prometer em comparação à prosperidade, à previsibilidade e às novas possibilidades do período pós-Guerra Fria, que abrangeu os 30 anos desde a queda do Muro de Berlim.

Há muitas razões para isso, mas nenhuma é mais importante do que o trabalho de quatro líderes cruciais com uma coisa em comum: acreditam que sua liderança é indispensável e estão dispostos a adotar medidas extremas para se manter no poder o máximo que puderem.

PODER. Estou falando de Vladimir Putin, Xi Jinping, Donald Trump e Binyamin Netanyahu. Esses quatro - cada um à sua maneira - criaram perturbações dentro e fora de seus países com base em seu interesse particular, em vez dos interesses de seus povos, e dificultaram a capacidade de suas nações funcionarem normalmente no presente e se planejarem sabiamente para o futuro.

Veja Putin. Ele começou a carreira como um tipo de reformador que estabilizou a Rússia pós-Yeltsin e coordenou um boom econômico graças aos preços do petróleo em elevação. Mas a renda com o petróleo começou a cair e, conforme descreve o acadêmico russo Leon Aron em seu próximo livro, Ridingthe Tiger: Vladimir Putirís Rússia and the Uses ofWar, Putin deu uma grande virada no começo de seu terceiro mandato como presidente, em 2012, após os maiores protestos contra seu governo irromperem em 100 cidades russas e sua economia empacar.

A solução de Putin? "Mudar a fundação da legitimidade de seu regime do progresso econômico para o patriotismo militarizado", disse Aron, colocando a culpa de todas as dificuldades no Ocidente e na expansão da Otan. No processo, o presidente russo transformou seu país em um forte sitiado, que, em sua mentalidade e propaganda, somente Putin é capaz de defender. Ele ter invadido a Ucrânia para restaurar a mítica Mãe-Pátria russa foi inevitável.

Os acontecimentos na China também têm se desdobrado de maneira bastante inesperada. Depois de se abrir e afrouxar controles internos constantemente desde 1978, tornando-se mais previsível, estável e próspera que em qualquer outro momento da história moderna, a China experimentou uma virada de quase 180 graus sob o presidente Xi: ele suprimiu o limite de mandatos - respeitado por seus antecessores para evitar a ascensão de um novo Mao Tsé-tung - e fez-se presidente indefinidamente.

Xi, aparentemente, acreditou que o Partido Comunista estava perdendo o controle e, portanto, reafirmou seu poder em todos os níveis sociais e empresariais ao mesmo tempo, o que eliminou qualquer rival.

Isso tomou a China um país mais fechado do que em qualquer momento desde os dias de Mao e desencadeou comentários de que o mundo pode já ter visto o auge da China em relação a potencial econômico, o que equivalería a um terremoto na economia global.

Certamente não estava nos meus planos acabar escrevendo, depois de quase uma vida inteira acompanhando conflitos de Israel com inimigos externos, que a maior ameaça à democracia judaica hoje é um inimigo interno - um golpe no Judiciário liderado por Netanyahu que está fragmentando a sociedade e as Forças Armadas de Israel.

O ex-diretor-geral do ministério israelense da Defesa Dan Harel afirmou, em um comício pró-democracia em Tel-Aviv, na semana passada: "Eu nunca vi nossa segurança nacional num estado tão ruim" e houve "dano às unidades da reserva de formações essenciais das Forças Armadas, o que reduziu prontidão e capacidade operacional".

E este problema não é pequeno para os EUA. Ao longo dos últimos 50 anos, o Estado de Israel tem sido tanto um aliado crucial quanto, de fato, uma base avançada na região em que Washington projetou poder sem usar tropas americanas.

Israel destruiu tentativas incipientes de Iraque e Síria se tornarem potências nucleares e é o maior contrapeso atualmente à expansão do poder do Irã sobre toda a região. Mas, se tivermos mais três anos desse governo extremista de Netanyahu, com sua pretensão de anexar a Cisjordânia e governar os palestinos que habitam o território com um sistema à la apartheid, o Estado judaico poderá se tornar uma grande fonte de instabilidade, não de estabilidade.

E por quê? Em um recente perfil de Bibi no Times, Ruth Margalit citou Ze'ev Elkin, um ex-ministro do gabinete de Netanyahu, do Likud, descrevendo o primeiro-ministro da seguinte forma: "Ele começou com uma visão de mundo que dizia: 'Eu sou o melhor líder para Israel neste momento', que gradualmente se transformou numa visão de mundo que diz: 'A pior coisa que pode acontecer para Israel é eu parar de liderar o país, e portanto minha sobrevivência justifica qualquer coisa'."

PILAR. Nem é preciso dizer, depois de testemunhar o esforço de Trump para reverter a eleição de 2020 inspirando uma turba a invadir o Capitólio e ver esse mesmo homem se tomar o principal pré-candidato republicano à presidência em 2024, que a nossa próxima eleição será uma das mais importantes de todos os tempos - para que não seja a última. Isso não estava nos planos.

O denominador comum que une esses quatro líderes é que todos eles quebraram as regras do jogo em seus países por uma razão bastante familiar: permanecer no poder. Putin também iniciou uma guerra no exterior com o mesmo objetivo. E seus sistemas locais - a elite russa, o Partido Comunista Chinês, o eleitorado israelense e o Partido Republicano - não foram capazes de refreá-los.

Mas também existem diferenças importantes entre eles. Netanyahu e Trump enfrentam resistência em suas democracias, onde os eleitores ainda podem expulsar ou impedir ambos - e nenhum deles começou uma guerra.

Xi é um autocrata, mas tem uma agenda para melhorar a vida de seu povo e planeja dominar grandes indústrias do século 21, da biotecnologia à inteligência artificial. Mas seu governo, cada vez mais linha-dura, poderá ser exatamente o que impedirá a China de chegar lá, principalmente porque esse punho de ferro ocasiona fuga de cérebros.

Putin não passa de um chefão mafioso disfarçado de presidente. Ele será lembrado por transformar a Rússia da potência científica, que colocou o primeiro satélite em órbita, em 1957, em um país incapaz de fabricar um carro, um relógio ou uma torradeira que qualquer pessoa fora do país compraria. Putin teve de recorrer à Coréia do Norte para mendigar ajuda para seu Exército arrasado na Ucrânia.

Trump, em última instância, é o mais perigoso - e por uma simples razão: quando o mundo fica tão caótico assim e países tão importantes contrariam os planos, o restante depende dos EUA para assumir a liderança, conter os problemas e opor-se aos causadores de problemas. Mas Trump prefere ignorar problemas e louvar os criadores de problemas. É isso que torna a perspectiva de outra presidência sua tão assustadora, insensata e inconcebível.

Porque os EUA ainda são o pilar do mundo. Nem sempre fazem isso sabiamente, mas se parar completamente de fazê-lo, cuidado. Dado o que já está acontecendo nesses três outros importantes países, se os EUA vacilarem, nascerá um mundo no qual ninguém será capaz de fazer nenhum plano. Haverá um nome fácil para esse período: "Era da Desordem".

TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Se os EUA vacilarem, nascerá um mundo incapaz de fazer planos. Será a 'Era da desordem'

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

O problema da Rússia é de natureza civilizatória - M. Podoliak, @HairFuror1901

 Não existe apenas um confronto geopolítico entre a Rússia e o Ocidente (o que resultou de Bretton Woods, Gatt, Otan, OCD, G7, UE), e sim uma confrontação de matureza civilizatória, como resumido nesta postagem de um intelectual russo.

From @Podolyak_M:

“It is a big mistake to try to look at this war as a problem of Ukraine and Eastern Europe. Putin's Russia today has become, without a doubt, the problem of humanity - and this problem did not arise yesterday. Throughout its history, Russia has been missing out on the events that shaped the modern world order, and therefore has fallen hopelessly behind the East and West. Russia did not take part in the Thirty Years' War, "slept through" the formation of the Peace of Westphalia, and therefore does not know the concept of "sovereignty." Russia did not end as an empire as a result of World War I. Russia has not undergone repentance and transformation after the collapse of the USSR for the crimes of the Reds - yesterday's communists and imperial nationalists have put on the masks of democrats. Putin's Russia cannot find its place in the modern world, and therefore invests in undermining the world order. Instead of ideas and meanings, it has the complexes of its elites. On this path, Russia in Putin's form is doomed to failure - and we are already seeing it, although the size and scope of the country stretches the process over time and hides the pathogenesis from external observers. The task of responsible countries in all parts of the world is to let Russia crash against the rock of Ukraine and let the world move on. This includes letting the future of Russia move on without Putin. This is not a matter of politics. This is a matter of universal civilization.”

Comentário de um leitor:

“The Russia Federation was offered the opportunity to join the EU when the Soviet Union fell apart.  In 2008 Putin irreversibly changed that possibility for Russians when he decided he wanted to be President-for-Life and Russians said: "OK, you think for us!"”

@HairFuror1901



sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Pensando com a minha falta de botões: a Rússia ainda pertence à família da ONU? - Paulo Roberto de Almeida

Pensando com a minha falta de botões: a Rússia ainda pertence à família da ONU?

Paulo Roberto de Almeida

Uma sugestão para Lula incluir no discurso da AGNU: que a Assembleia Geral adote medidas para expulsar a Rússia do CSNU por violar as suas resoluções, ao comerciar com a RPDC, um país submetido a sanções pelo próprio CSNU.

Aliás, quem estava no CS era a URSS, não a Rússia. Não é?

Quando foi da substituição da República da China (Taiwan) pela República Popular da China, em 1972, o caso teve de ser submetido à AGNU, e a RC foi completamente ignorada no CSNU.

Se der, a Rússia deveria até ser expulsa da ONU, por violar sistematicamente a sua Carta e muitas outras convenções humanitárias e protocolos sobre as leis de guerra. Putin é um criminoso de guerra e suas forças armadas vêm cometendo continuados crimes de guerra.

Nada mais lógico, portanto. 

Anotado, Mister Lula?

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata e acadêmico.

Brasília, 15/09/2023

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Putin busca desesperadamente mercenarios para morrer na Ucrânia

 Cuba descobre rede da Rússia para aliciar seus mercenários

O Estado de S. Paulo, 5/09/2023

HAVANA - O Ministério das Relações Exteriores de Cuba acusou nesta terça-feira, 5, a Rússia de recrutar mercenários do país para lutar na guerra da Ucrânia. Em nota, a chancelaria afirmou que Moscou criou uma rede de tráfico de pessoas para incorporar cubanos que vivem na Rússia e na ilha comunista para se juntar as tropas de Vladimir Putin que ocupam o leste ucraniano. A acusação contra Moscou, um histórico aliado da ditadura castrista, vem a público em meio as tensões entre o Exército russo e o Grupo Wagner, depois do golpe frustrado dos mercenários russos contra Putin, em junho, e a morte de seu líder, Ievgeni Prighozin, no mês passado. Ainda de acordo com o governo cubano, a rede russa de tráfico de pessoas foi neutralizada e os suspeitos serão investigados. “Os inimigos de Cuba promovem informações distorcidas que procuram manchar a imagem do país e apresentá-lo como cúmplice destas ações, que rejeitamos categoricamente”, diz a nota. " Cuba não faz parte da guerra na Ucrânia. Atua e atuará com energia contra qualquer pessoa, do território nacional, que participe em qualquer forma de tráfico de pessoas para fins de recrutamento ou mercenarismo de cidadãos cubanos para uso de armas contra qualquer país.” A ditadura cubana não aponta quem estaria por trás dessa rede ou quantas pessoas teriam sido vítimas do tráfico humano. Aliada próxima do Kremlin desde a revolução de 1959, a ilha tem voos diretos para Rússia e um regime recíproco de isenção de vistos por 90 dias. 

De acordo com a Associação para Operações Turísticas da Rússia, cerca de 11 mil cubanos visitaram a Rússia no ano passado. No grupo do Facebook chamado Cubanos em Moscou, que reunia 76 mil pessoas nesta terça-feira, era possível encontrar ofertas com contratos de um ano para o exército russo, informou o The Moscou Times. Anteriormente, em junho, o Cazaquistão, uma ex-república soviética, já havia denunciado um esquema de anúncios nas redes sociais que pretendia atrair combatentes para a guerra na Ucrânia. No ano passado, jornais independentes da Rússia relataram que imigrantes da Ásia Central receberam promessas de cidadania em troca do recrutamento. 

 O ex-presidente Dmitri Medvedev, que integra o Conselho de Segurança russo anunciou que mais 230 mil combatentes teriam se alistado ao exército desde o início do ano. A campanha é divulgada nas redes e em cartazes nas ruas que promovem as Forças Armadas e prometem condições atrativas para os novos militares. Além do salário e de benefícios sociais, os recrutas podem manter os empregos civis durante o tempo de serviço e tem os empréstimos bancários congelados. Ainda como parte do esforço para ampliar a força na Ucrânia e evitar problemas como o motim do grupo Wagner, o presidente russo Vladimir Putin ordenou que os paramilitares devem jurar lealdade à bandeira russa após a morte de Prigozhin. 

 Com a guerra prolongada, além de pessoal o Kremlin também parece buscar artilharia. Depois que a Casa Branca alertou para uma troca de cartas entre Vladimir Putin e Kim Jong-un, o jornal The New York reportou que eles planejam um encontro da Rússia para discutir a troca de armas. A expectativa é de que a reunião ocorra na semana que vem/Com New York Times e AFP

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Declínio para a Rússia é problema para o mundo - Oliver Stuenkel (O Estado de S. Paulo)

 Declínio para a Rússia é problema para o mundo 

Oliver Stuenkel
O Estado de S. Paulo, 28/08/2023

Uma das principais fontes de instabilidade internacional são deslocamentos de poder. Um exemplo clássico disso são nações que se encontram em franca ascensão: confiantes, suas lideranças políticas muitas vezes buscam uma atuação internacional mais assertiva, investem em seu poder militar e acabam desafiando potências já estabelecidas. A ascensão dos EUA há cem anos e a da China ao longo das últimas décadas são exemplos clássicos de como a emergência de uma grande potência pode fragilizar o status quo. O atual caso da Rússia, porém, mostra que o declínio de um ator relevante também pode representar um risco, criando vácuos de poder em suas fronteiras ou deixando suas lideranças políticas mais agressivas para compensar os fracassos no âmbito doméstico. O atual declínio russo independe do desfecho da invasão russa à Ucrânia ou do destino político do presidente Vladimir Putin. Os problemas da nação de maior extensão do planeta são mais fundamentais e se refletem nos chocantes dados demográficos: por exemplo, um homem russo com 15 anos de idade hoje tem a mesma expectativa de vida de um homem no Haiti, país em estado de anarquia e há décadas o mais pobre das Américas. Trata-se de uma expectativa de vida mais baixa que a do Iêmen e a do Zimbábue, que figuram entre os países mais pobres do planeta. Na média, um homem russo morre 18 anos antes de um homem japonês. À primeira vista, poderia se presumir que o dado se deve ao elevado número de fatalidades de soldados russos na invasão à Ucrânia. Porém, trata-se de dados oficiais do governo russo, coletados antes do início da guerra. Desde a invasão russa à Ucrânia, a situação demográfica piorou ainda mais: estima-se que 120 mil soldados russos morreram nas batalhas, e aproximadamente 900 mil russos emigraram, muitos deles jovens, representando em torno de 1% da força laboral do país. De acordo com o ministério das Comunicações do governo russo, 10% de todos os profissionais da área de TI emigraram desde o início da guerra, verdadeira catástrofe econômica considerando a importância estratégica do setor. Uma consequência da baixa expectativa de vida dos homens, da guerra e da fuga ao exílio é o desequilíbrio de gênero. Hoje, na Rússia, há 10 milhões de mulheres a mais do que homens. Não se trata de um problema recente: entre 1993 e 2009, por exemplo, a população russa encolheu em quase seis milhões (dados oficiais mostram um aumento recente, que se deve à anexação da península ucraniana da Crimeia). Tudo isso é ainda mais notável porque a Rússia não é um país pobre. É urbanizado, possui indústrias altamente sofisticadas — sobretudo no setor bélico —, a maior quantidade de armas nucleares do mundo, uma produção cultural admirada mundo afora e uma taxa de alfabetização de quase 100%. Além disso, goza de grandes reservas de petróleo e gás, e é o maior exportador mundial de trigo — beneficiando-se, inclusive, das mudanças climáticas, que aumentam a quantidade de terras férteis. Vários outros países ao redor do mundo, sobretudo no Leste Asiático e na Europa, sofrem com crises demográficas. Nenhum deles, porém, sofre com uma baixa tão grande da expectativa de vida ou uma fuga de elites qualificadas tão expressiva. Diferentemente da Rússia, a Europa atrai, a cada ano, milhões de migrantes jovens e motivados. A crise demográfica russa e a emigração de pessoas qualificadas — produto de problemas profundos no país — são elementos-chave para compreender a constante glorificação por Vladimir Putin do “russki mir” (mundo russo), a retórica nostálgica de um passado mistificado, a demonização do Ocidente e a política externa mais agressiva, envolvendo guerras contra vizinhos menores como a Georgia e, mais recentemente, a Ucrânia, que ajudam promover o nacionalismo e a sensação permanente de estar sob ameaça externa. Como ficou evidente no último 23 de agosto, quando o avião de Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner, caiu perto de Moscou, um conflito militar de grandes dimensões ajuda não apenas a desviar a atenção pública de outros problemas, como também para promover expurgos e eliminar opositores com mais facilidade — presumindo que, como acreditam numerosos analistas, o governo russo tenha ligação com a morte do mercenário. Por fim, um líder sabidamente preocupado com seu legado nos livros de história, como Putin, também sabe que, apesar de ter ajudado a estabilizar o país na virada do século, seu saldo desde então é, predominantemente, negativo, e difícil de ser revertido — a não ser que seja lembrado por ter liderado a expansão territorial da Rússia. Não por acaso, em conversa com um oligarca russo no início da invasão à Ucrânia, o chanceler russo Lavrov — que não havia sido informado com antecedência sobre a decisão do presidente, disse: “(Putin) tem três conselheiros: Ivã IV, Pedro o Grande e Catarina II” — todos lembrados por suas conquistas territoriais. 

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A Rússia a caminho de virar uma Argentina? Ainda não, mas perto - Foreign Policy

 Currency Crisis

Foreign Policy, August 14, 2023

A woman walks past a currency exchange office in Moscow.

A woman walks past a currency exchange office in Moscow on Aug. 14.Yuri Kadobnov/AFP via Getty Images

Russia’s Central Bank announced on Monday that it will convene an emergency meeting on Tuesday after the ruble fell to a 16-month low against the U.S. dollar—indicating that Western sanctions and international isolation over Russia’s war in Ukraine are taking a bite out of the country’s economy. According to new central bank data, the ruble is trading at a rate just above 101 to the U.S. dollar—a value loss of around 30 percent since the year began.

This marks the Kremlin’s weakest currency level since Russia invaded Ukraine more than 18 months ago. Now, only a handful of fiscally stricken nations—such as Turkey, Nigeria, and Argentina—are having a worse monetary year. “The whole world is laughing at us now,” said Vladimir Solovyov, a Russian TV presenter considered Moscow’s top media propagandist.

Russian President Vladimir Putin’s economic advisor, Maxim Oreshkin, wrote a column for a state media outlet blaming “loose monetary policy” for the weak currency and worsening inflation. The nation’s central bank furthered his argument, citing Russia’s shrinking trade balance; the country’s account surplus fell 85 percent year on year in the last seven months, shrinking to just $25.2 billion.

Much of that is due to Western sanctions, which have restricted trade revenue, increased costs of imports, and made migrant labor less attractive in Russia during a time when Moscow is battling its worst labor shortage in decades. Still, Russia’s GDP exceeded expectations by growing 4.9 percent in its second quarter, mostly due to consistent oil revenue deals and intense government spending on war production efforts.

To stop inflation from rising further, Russia’s Central Bank raisedinterest rates last month. And on Thursday, it halted foreign-currency purchases for the rest of the year. But economists maintain that inflation will reach as high as 6.5 percent by the end of 2023.

If the Kremlin does not shore up its currency soon and decrease inflation fears, the nation’s economic crisis could spill into the streets. “It is important for the Central Bank of Russia to understand that until now, unfortunately, the dollar exchange rate is not only an economic indicator, the exchange rate has a significant impact on the social rights of our citizens,” wrote Russian Sen. Andrey Klishas on Telegram.


terça-feira, 8 de agosto de 2023

Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio: Putin se enquadra nos atos descritos? Certamente...

 Vejamos se, por acaso, os invasores russos, a mando de Putin, estão perpetrando qualquer um desses exemplos de genocídio: alguns, todos, pelo menos um? Então Putin é um genocida e como tal deve ser acusado.



sábado, 5 de agosto de 2023

Índia e Rússia suspendem negociações sobre pagamentos em rúpias (CNN)

 Alguém aí espera comércio em moedas locais no BRICS nos próximos anos?


"Índia e Rússia suspendem negociações sobre pagamentos em rúpias
CNN, July 5, 2023
https://www.cnnbrasil.com.br/economia/india-e-russia-suspendem-negociacoes-sobre-pagamentos-em-rupias/?fbclid=IwAR15xS_XxYp8Xh7wjCMX_LzHTfnwlCZlmeYyZQD-cjfOvx7_k6-oXRct_bY 

Os dois lados iniciaram conversas sobre facilitar comércio em moedas locais, mas não houve avanço e nada foi fechado entre os países.

A Índia e a Rússia suspenderam os esforços para resolver o comércio bilateral em rúpias, depois que meses de negociações não conseguiram convencer Moscou a manter as rúpias em seus cofres, disseram dois funcionários do governo indiano e uma fonte com conhecimento direto do assunto.
Isso seria um grande revés para os importadores indianos de petróleo e carvão baratos da Rússia, que aguardavam um mecanismo permanente de pagamento em rúpias para ajudar a reduzir os custos de conversão de moeda.
Com um grande déficit comercial em favor da Rússia, Moscou acredita que terminará com um superávit anual de rúpias de mais de US$ 40 bilhões se tal mecanismo for trabalhado e sente que o acúmulo de rúpias é “indesejável”, disse um funcionário do governo indiano, que não quer ser identificado.
O Ministério das Finanças da Índia, o Banco Central da Reserva da Índia e as autoridades russas não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
A rupia não é totalmente conversível. A participação da Índia nas exportações globais de bens também é de apenas cerca de 2% e esses fatores reduzem a necessidade de outros países manterem rúpias.
A Índia começou a explorar um mecanismo de liquidação em rúpias com a Rússia logo após a invasão da Ucrânia em fevereiro do ano passado, mas não houve nenhum acordo relatado em rúpias.
A maior parte do comércio é em dólares, mas uma quantidade crescente está sendo realizada em outras moedas, como o dirham dos Emirados Árabes Unidos.

Os dois lados falaram sobre facilitar o comércio em moedas locais, mas as diretrizes não foram formalizadas.

A Rússia não se sente confortável em manter rúpias e quer ser paga em yuan chinês ou outras moedas, disse um segundo funcionário do governo indiano envolvido nas discussões.

“Não queremos mais forçar a liquidação de rúpias, esse mecanismo simplesmente não está funcionando. A Índia tentou tudo o que pôde para tentar fazer isso funcionar, mas não ajudou”, disse uma terceira fonte que está diretamente ciente dos desenvolvimentos. disse.

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro do ano passado, as importações da Índia da Rússia subiram para US$ 51,3 bilhões até 5 de abril, de US$ 10,6 bilhões no mesmo período do ano anterior, segundo outro funcionário do governo indiano.

O petróleo constituiu grande parte das importações da Índia, aumentando doze vezes no período. As exportações da Índia no mesmo período caíram ligeiramente para US$ 3,43 bilhões, de US$ 3,61 bilhões no ano anterior, disse o funcionário.

Outro funcionário disse que os dois países começaram a procurar alternativas depois que o mecanismo de liquidação em rúpias não funcionou, mas não deu detalhes.

As fontes disseram que o comércio com a Rússia continua, apesar das sanções e problemas de pagamento.
No momento, estamos fazendo alguns pagamentos em dirham e algumas outras moedas, mas a maioria ainda é em dólares. A liquidação está acontecendo de maneiras diferentes, países terceiros também estão sendo usados”, disse um dos funcionários do governo.

Os comerciantes indianos também estão liquidando alguns dos pagamentos comerciais fora da Rússia, disseram as autoridades.

“Terceiros estão sendo usados para liquidar o comércio com a Rússia. Não há proibição de transações com outros países via Swift. Portanto, os pagamentos estão sendo feitos a um terceiro país que o encaminha ou compensa para seu comércio com a Rússia”, disse outro funcionário.

Sobre se o dinheiro também estava sendo encaminhado via China, o funcionário disse: “Sim, incluindo a China”

A Ucrânia em guerra como marco relevante no horizonte do Brasil atual - Paulo Roberto de Almeida

A Ucrânia em guerra como marco relevante no horizonte do Brasil atual

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as causas e caminhos da política externa brasileira no contexto da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia.

  

Poucas pessoas bem-informadas sobre o estado do mundo atual recusarão a constatação de que a guerra de agressão deslanchada por Putin contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, e continuada desde então, constitui a ameaça mais relevante para a segurança e a paz na Europa e no mundo desde que Hitler empreendeu a conquista da Polônia em setembro de 1939, dando início ao mais devastador conflito global da contemporaneidade.

Eu escrevi Putin, e não Rússia, e Hitler, em lugar de Alemanha nazista, pois que ambos os ataques criminosos e ilegais, entre muitos outros atos criminosos que precederam tais ataques devastadores, são devidos exclusivamente à vontade pessoal de duas personalidades autoritárias, a rigor animadas por instintos tirânicos, e não aos desejos do povo alemão, em 1939, ou aos do povo russo em 2022.

Poucas pessoas bem-informadas sobre o estado do Brasil atual recusarão o fato de que agora estamos bem melhores, em termos de civilidade, de política “normal”, de comportamentos minimamente previsíveis dos agentes públicos, do que estávamos nos quatro anos anteriores. Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia afetou não só interesses econômicos e materiais do Brasil como um todo — inflação, comércio exterior, tensões internacionais —, mas também a própria política externa e a diplomacia brasileiras, a partir de 2023. 

Pretendo abordar essas duas questões — o estado incerto, na Europa e do mundo, na atual conjuntura, e os desafios daí decorrentes para o Brasil como um todo, em especial para as suas relações exteriores — numa abordagem de natureza conceitual, tanto quanto de ordem prática, dadas as múltiplas facetas do mundo pós-invasão da Ucrânia e do Brasil pós-terremoto bolsonarista. Não há como recusar o fato evidente e notório de que o mundo e o Brasil se ressentem de diversos elementos disruptivos desde a guerra putinesca de agressão à Ucrânia e desde as ameaças bolsonaristas às frageis bases do sistema democrático brasileiro durante os quatro anos do inédito desafio ao jogo mais ou menos tradicional da política doméstica.

Na raiz de ambas as questões — o estado do mundo e o do Brasil — existem tanto processos objetivos — as relações econômicas e políticas entre os respectivos atores — quanto elementos subjetivos, derivados das personalidades de Putin e de Lula, no tratamento dos problemas colocados em suas respectivas agendas pessoais e nacionais.

A complexidade dessas interações requer uma abordagem metódica e linear de cada um dos problemas, pois que o estado atual do mundo e do Brasil também é decorrente de decisões e escolhas feitas no passado, por cada um dos personagens.

(…)

(A continuar)

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4450, 5 agosto 2023, 2 p.

 

domingo, 23 de julho de 2023

Estados vilões buscam a inteligência das universidades ocidentais - Fiona Hamilton (Times)

É um fato: Estados vilões - aqui identificados explicitamente com a Rússia de Putin, a China de Xi Jinping e o Irã dos aiatolás - usam o conhecimento avançado obtido nos centros de produção mais sofisticados como alavancas contra os seus próprios povos e contra outras nações civilizadas. Goste-se ou não da afirmação, ela parece evidente.

You are targets for hostile states, students told

Fiona Hamilton 

Crime and Security Editor 

Times, July 27, 2023

Universities are "magnetic targets for espionage and manipulation", the head of M15 has warned, as he compared the global scientific race to the Cold War.

 Ken McCallum said hostile actors were stealing British research with "dispiriting regularity" and urged students to be extremely cautious to avoid passing secrets to China, Russia and Iran.

 McCallum said: "Today's contest for scientific and technological advantage is not a rerun of what we had in the Cold War but it is every bit as far reaching. Systemic competition means just that.

If your field of research is relevant to advanced materials or quantum computing or AI or biotech, to name but a few, your work will be of interest to people employed by states who do not share our values." 

McCallum issued the warning last month as he delivered the annual Bowman Lecture at the University of Glasgow, where he graduated with a degree in mathematics in 1996. He was speaking to students, staff and alumni. 

He has previously said that spies for hostile states are targeting politicians, military officials, think tanks, academics and other officials to gather valuable information but had not previously been so explicit in his language about the threat at universities. 

Last week a report by the parliamentary intelligence and security committee said universities had become a "rich feeding ground" for China to seek intellectual property and military technology, saying some had turned a "blind eye" to the risks while taking its money. 

The Times revealed last year that British universities had accepted £240 million for research collaborations with Chinese institutions, many with links to the military, leading to concerns the work could help Beijing to build superweapons. 

McCallum told Glasgow students:

"Hostile actors working for other states make it their business to take your hard work and use it for their gain... We see this happening with dispiriting regularity. Precisely because our great universities are so great and rightly prize openness, they are magnetic targets for espionage and manipulation." 

He added: "If you look at what [Vladimir] Putin's military and mercenaries are doing in Ukraine; at the Iranian regime's ongoing suppression of its own people; at the restrictions of freedoms in Hong Kong and human rights violations in Xinjiang, or China's escalatory activity around Taiwan - I don't think you want the fruits of your inspiration and perspiration to be turned to the advantage of the Russian, Iranian or Chinese governments."

 McCallum said students should not be fooled by attractive conference invitations, collaboration proposals, "donations with strings" or "jointly funded research that builds dependency". 

"These aren't hypotheticals," he said. "They're things MI5 sees in investigations week by week, and they happen in universities just like Glasgow." 

The National Protective Security Authority, which is part of MI5, will offer expert advice and training to universities, businesses and institutions to help them protect themselves.


quinta-feira, 29 de junho de 2023

Derrota de Putin na Ucrânia pode ter consequências inimagináveis - Thomas Friedman (NYT, OESP)

 Derrota de Putin na Ucrânia pode ter consequências inimagináveis 

Thomas Friedman, THE NEW YORK TIMES
O Estado de S. Paulo, 29/06/2023

Os acontecimentos recentes na Rússia se parecem com o trailer do próximo filme de James Bond: o ex-chefe, hacker e mercenário de Vladimir Putin, Ievgeni Prigozhin se rebela. Prigozhin, parecendo com um personagem saído diretamente de ‘Doctor No’, lidera um comboio de ex-detentos e mercenários em uma corrida excêntrica para tomar a capital russa, derrubando alguns helicópteros no caminho. Eles encontram tão pouca resistência que a internet está cheia de imagens de seus mercenários esperando pacientemente para comprar café pelo caminho, como se dissessem: ‘Ei, podem colocar uma tampa no café? Não quero sujar meu blindado.”

Ainda não está claro se o frio e calculista Putin dirigiu qualquer ameaça direta a seu velho amigo Prigozhin, mas o líder mercenário, sendo um velho laranja de Putin, claramente não estava assumindo riscos. E com razão. O sempre útil presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que abrigou Prigozhin, relatou que Putin compartilhou consigo o desejo de matar o mercenário e “esmagá-lo como um inseto.”

Como o sinistro Ernst Stavro Blofeld, o vilão dos filmes de James Bond que lidera o sindicato internacional do crime Spectre e sempre era visto acaraciando seu gatinho branco enquanto tramava algum ardil, Putin é quase sempre visto em sua longa mesa branca, com as visitas geralmente sentadas no lado oposto da peça, onde, é possível suspeitar, uma armadilha espera pronta para engolir qualquer um que saia da linha.

A minha reação inicial ao ver o drama se desenrolar na CNN foi questionar se tudo aquilo era real. Não sou fã de teorias da conspiração, mas 007 — Viva e Deixe Morrer não tem nada a ver com esse motim com um roteiro escrito em Moscou — um roteiro ainda em produção, enquanto um Putin analógico tenta alcançar com a TV estatal russa um Prighozin digital que o cerca com sua comunicação via Telegram.

Responder a pergunta que muitos me fazem — O que Putin fará agora — é impossível. Eu seria cauteloso, no entanto, em tirá-lo de cena tão rápido. Lembrem-se: Blofeld apareceu em seis filmes do James Bond até que o 007 finalmente o derrotasse.

Tudo que se pode fazer por enquanto, creio, é tentar calcular os diferentes equilíbrios de poder envolvidos nessa história e analisar quem, nos próximos meses, pode fazer o quê.

As fraquezas de Vladimir Putin
Permitam-me começar com o maior equilíbrio de poder em questão, que nunca pode ser deixado de lado. E o presidente Biden merece os aplausos por ele. Foi graças à ampla coalizão reunida pelo presidente dos Estados Unidos para enfrentar Putin na Ucrânia que expôs a face do vilarejo Potemkin do líder russo.

Gosto da argumentação de Alon Pinkas, ex-diplomata israelense sediado nos EUA, em um artigo publicado no Haaretz nesta semana. Segundo ele, Biden entendeu desde o começo que Putin é o epicentro de uma constelação antiamericana, antidemocrática e fascista que precisa ser derrotada. E com ela, não há negociação possível. O motim de Prigozhin fez na prática o que Biden tem feito desde a invasão da Ucrânia: expôs as fraquezas de Putin, ferundo sua já abalada aparência de invencibilidade e sua suposta condição de gênio estrategista.

Putin, há muito, governa com dois instrumentos: medo e dinheiro, cobertos com uma capa de nacionalismo. Ele comprou quem poderia comprar e prendeu ou matou quem não podia. Mas agora alguns observadores do que acontece na Rússia argumentam que o medo está se dissipando em Moscou. Com a aura de invencibilidade de Putin abalada, outros poderiam desafiá-lo. Veremos.

Se eu fosse Prigozhin ou um de seus aliados, ficaria longe de qualquer um que passasse na calçada em Belarus com um guarda-chuva em um dia de sol. Putin tem feito um trabalho bastante efetivo eliminando seus críticos e ninguém pode subestimar o temor profundo dos russos sobre qualquer retorno ao caos do período pós-soviético, no início dos anos 90. Muitos deles ainda são gratos a Putin pela ordem que ele restaurou no país.

Um plano que pode dar certo
Quando analisamos o equilíbrio de poder de Putin com o resto do mundo as coisas ficam complicadas. No Ocidente, temos de temer as fraquezas de Putin tanto quanto tememos suas forças.

Ainda não há um sinal de que o motim de Prigozhin ou a contraofensiva ucraniana tenham levado a qualquer colapso significativo das forças Rússias na Ucrânia. Apesar disso, ainda é cedo para qualquer conclusão.

Fontes do governo americano dizem que a estratégia de Putin é exaurir o Exército ucraniano até o ponto em que ele não tenha mais suas peças de artilharia howitzer de 155 milímetros nem seus sistemas antiaéreos cedidos por Washington. Essas peças são a principal arma das forças terrestres ucranianas. Sem elas, a Força Aérea Russa teria alguma supremacia até que os aliados ocidentais tenham seus recursos exauridos, ou até Donald Trump voltar à Casa Branca e Putin conseguir algum acordo sujo com ele que salve sua pele.

A estratégia não é maluca. A Ucrânia gasta tanto esse tipo de munição — cerca de 8 mil por dia — que o governo americano está tentando encontrar reposição para elas antes que novas entregas industriais dessas peças cheguem no ano que vem.

Além disso, a logística é importante numa guerra. Também é importante se você está no ataque ou na defesa. Atacar é mais difícil e os russos estão entrincheirados e com toda sua linha defensiva minada. É por isso que a contraofensiva ucraniana tem sido tão lenta.

Como me disse Ivan Krastev, especialista em Rússia e diretor do Centro de Estatégias Liberais na Bulgária: “No primeiro ano da guerra, quando a Rússia estava no ataque, todo dia sem uma vitória era uma derrota. No segundo ano, todo dia em que a Ucrânia não está vencendo é uma vitória para os russos.”

Nós não devemos subestimar a coragem dos ucranianos. Mas também não podemos superestimar a exaustão do país como uma sociedade.

E como a história ensina, o Exército da Rússia tem aprendido com seus erros. John Arquilla, professor da Escola Naval de Pós-Graduação na Califórnia e autor de Blitzkrieg: os novos desafios da guerra cibernética, “os russos sofrem, mas aprendem.”

Segundo o professor, o Exército de Putin ficou melhor em manter a hierarquia da tropa no front. Além disso, segundo Arquilla, eles aperfeiçoaram o uso de drones em combate. Ao mesmo tempo, os ucranianos mudaram sua estratégia inicial, de usar unidades móveis menores, armadas com armas inteligentes, para atacar um imóvel Exército russo, para um perfil mais pesado e maior, com tanques e blindados.

“Os ucranianos agora estão cada vez mais parecidos com o Exército russo que estavam derrotando no ano passado”, disse Arquilla. “O campo de batalha nos dirá se essa é a melhor estratégia.”

Os riscos de uma Rússia sem Putin
Isto posto, devemos nos preocupar tanto com a perspectiva de uma derrota de Putin quanto de qualquer vitória. E se ele for derrubado? Não estamos mais na época do fim da União Soviética. Não há ninguém bonzinho ou decente ali. Nenhum personagem inspirado em Yeltsin ou Gorbachev está à espreita para assumir o poder.

“A velha União Soviética tinha algumas instituições estatais que eram responsável por manter o funcionamento da burocracia, bem como alguma ordem de sucessão. Quando Putin entrou em cena, ele destruiu ou subverteu todas as estruturas sociais e políticas além do Kremlin”, me explicou Leon Aron, especialista em Rússia do American Enterprise Institute, cujo livro sobre a Rússia de Putin sai em outubro.

No entanto, a História da Rússia traz algumas reviravoltas surpreendentes, ele diz. “Apesar disso, numa perspectiva histórica, os sucessores de líderes reacionários no país costumam ser mais liberais: o czar Alexander II depois de Nicolas I, e na URSS, Kruschev depois de Stalin, e Gorbachev depois de Andropov. Então, se houver uma transição pós-Putin, há esperança.

Apesar disso, no curto prazo, Se Putin for derrubado, podemos acabar com alguém pior. Como você, leitor, se sentiria, se Prigozhin estivesse no Kremlin desde hoje cedo comandando o arsenal nuclear da Rússia?

Um outro cenário possível é a desordem ou uma guerra civil e a consequente implosão da Rússia nas mãos de diversos oligarcas e grupos armados. Por mais que eu deteste Putin, eu odeio o caos ainda mais, porque quando um Estado do tamanho da Rússia colapsa é muito difícil reconstruí-lo As armas nucleares e a criminalidade derivadas dessa catástrofe mudariam o mundo.

E isso não é uma defesa de Putin. É uma expressão de raiva pelo que ele fez a seu país, tornando-o uma bomba-relógio continental. Ele fez o mundo inteiro refém.

Se Putin vencer, o povo russo perderá. Mas se ele perder e for substituído pelo caos, o mundo inteiro sairá derrotado.


quarta-feira, 28 de junho de 2023

Definições simples: a de uma tirania, por exemplo - Paulo Roberto de Almeida

Definições simples: a de uma tirania, por exemplo

A diferença entre um governo normal e uma tirania é quando o chefe de governo ignora completamente os órgãos de Estado para mandar e desmandar a seu bel prazer, ou quando decide, por exemplo, massacrar o seu próprio povo, ou outros povos, sem nenhum objetivo concreto, a não ser por puro terror e desejo de vingança pessoal.
Putin é exatamente isso e só isso.
Lula ainda não percebeu?
O que mais seria preciso ocorrer, nessas categorias indignas de qualquer postura civilizada, para que ele e o seu assessor para assuntos internacionais se convençam de que eles estão justamente apoiando um criminoso de guerra, um violador do Direito Internacional, um monstro depravado e sedento de sangue?
O BRICS e o tal de Sul Global ainda não estão convencidos disso?

Onde está a consciência moral, ou simplesmente ética, desses mandatários? 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/06/2023

sábado, 20 de maio de 2023

O novo Celeste Império retoma o que lhe foi roubado pelo imperialismo czarista no passado: Vladivostok (Lianhe Zaobao)

 O porto e a cidade de Vladivostok pertenciam à China, até a dinastia Qing cedê-los ao Império czarista, em sua expansão em direção aó Pacífico. Harbin, a capital da província chinesa da Manchuria foi fundada por engenheiros russos, no mesmo movimento. Agora que a Rússia, destruída pela irresponsabilidade de Putin, se torna vassala da China, tudo vai retornar ao dominio do novo Celeste império sendo reconstruído por seu novo imperador.

Paulo Roberto de Almeida 

Fascinating development: With its military decimated and its economy in tatters, Russia quietly opens the port of Vladivostok to China - 163 years after the Qing ceded it to the Russian Empire. (Chris Horton, 何桂森)

https://t.co/nxgGwv31oI 

Amid the Russia-Ukraine war, Russia has opened the key port of Vladivostok to China, which will enhance the transportation of domestic goods in China’s northeast region. Many see this as an act of goodwill, while some believe that Russia could be turning into a vassal of China. Lianhe Zaobao correspondent Wong Siew Fong takes us through what the port opening means for China.

China-Russia relations have grown closer since the Russia-Ukraine war. According to China’s General Administration of Customs (GAC), Russia’s port of Vladivostok will be added to its list of transit ports for the domestic transportation of goods. This means that after 163 years, Russia is reopening this key port to China after it was ceded by the Great Qing to the Russian Empire in 1860. Not only that, the northeastern interior of China will gain access to the sea. 

An interviewed academic said this further proved that the scales have tipped in favour of China being the dominant partner in China-Russia relations amid Russia’s isolation due to the Russia-Ukraine war.

Cutting cost of domestic trade logistics

The GAC released a notice on further expanding the operation of its cross-border transportation of domestic goods in Jilin province on 4 May, but the news only garnered attention from the Chinese press on 15 May. According to the notice, with effect from 1 June, Russia’s Vladivostok will be operational as a Chinese transit port.

Located in northeast Eurasia, Vladivostok is the largest Russian port on the Pacific Ocean with an annual container throughput of nearly 1 million twenty-foot equivalent units (TEUs). The city is also the home port of the Russian Pacific Fleet.  

Once the new measures take effect, Jilin and Heilongjiang’s land transport distance to the sea will be significantly reduced, which will greatly enhance their manufacturing competitiveness. 

Under the name Haishenwai (海参崴), Vladivostok was previously part of China during the Qing dynasty. However, in November 1860, the territory east of the Ussuri River, including Vladivostok, was ceded to the Russian Empire under the Treaty of Peking. In the past 163 years, the neighbouring Chinese provinces of Heilongjiang and Jilin did not have access to the sea, and could only reach Dalian, Yingkou and other ports in Liaoning province through overland transportation.

Once the new measures take effect, Jilin and Heilongjiang’s land transport distance to the sea will be significantly reduced, which will greatly enhance their manufacturing competitiveness. 

Quoting a veteran Shanghai-based freight forwarder, Caixin reported that in the past, goods shipped from northeast China to domestic destinations had to be first loaded onto ships in Yingkou or Dalian before they could be transported to Xiamen, Guangzhou or other regions. However, the distance from Jilin and Heilongjiang to the ports in Liaoning is over 1,000 kilometres, which racks up huge transportation costs.

In comparison, as Heilongjiang’s Suifenhe and Jilin’s Hunchun are only about 200 kilometres away from Vladivostok, land transportation costs will be greatly reduced. Shipping goods from northern to southern China via the foreign port of Vladivostok will not only cut costs but also help China strengthen its industrial and supply chains with its neighbours. 

Russian Prime Minister Mikhail Mishustin signed a government order approving an intergovernmental agreement to supply natural gas to China via the Far East gas pipeline route, which ends in Vladivostok.

Low-key release of news

Some analyses point out that Vladivostok is located in Northeast Asia where China, North Korea, Japan and Russia meet, and is the transport node between the whole of Europe and Asia. The opening up of Russia’s far eastern region will strongly boost the economic development of China’s northeastern region.

Notably, Russia’s TASS news agency also reported last week that Russian Prime Minister Mikhail Mishustin signed a government order approving an intergovernmental agreement to supply natural gas to China via the Far East gas pipeline route, which ends in Vladivostok.

As Western countries entered the G7 and Quad summits season in May, the Chinese government’s special envoy for Eurasian affairs Li Hui kicked off his visit to Ukraine, Russia and other European countries this week. Amid Western wariness of China-Russia relations, both China and Russia have kept a low profile over the news of opening up the Vladivostok port to China.

Caixin reported on the news of Vladivostok’s opening to China over a week after the release of the document — there were no reports on this significant joint effort in other state Chinese media such as the People’s Daily and the Global Times in the past week.

After Caixin’s report came out, the GAC issued a statement in the form of a Q&A on its official WeChat account on the evening of 15 May, stating that the inclusion of Vladivostok as an overseas transit port for Jilin is a mutually beneficial cooperation model between the two countries, and the GAC will actively provide support for operations based on its follow-up evaluation.

China benefiting from war in Ukraine

Following the war in Ukraine, many analysts believe that Russia, which has been isolated by the international community, will increasingly depend on China and may even gradually become its vassal state. Public opinion in China also calls the opening of Vladivostok port to China a “bonus” of the Ukraine war.

…while China will become the stronger side in China-Russia relations, it is an oversimplification to interpret it as Russia becoming a vassal of China — China is also in need of Russia’s support. — James Dorsey, senior research fellow, Rajaratnam School of International Studies, Nanyang Technological University.

James Dorsey, senior research fellow at the Rajaratnam School of International Studies at Nanyang Technological University in Singapore, said that Russia’s opening of a key port like Vladivostok to China is clearly a gesture of goodwill. Following the war in Ukraine, the balance of China-Russia relations has shifted towards China, and Russia needs China more, and it is actively promoting economic cooperation between both countries.

However, Dorsey also said that while China will become the stronger side in China-Russia relations, it is an oversimplification to interpret it as Russia becoming a vassal of China — China is also in need of Russia’s support.

This article was first published in Lianhe Zaobao as “时隔163年 俄罗斯对中国开放符拉迪沃斯托克港”.

sábado, 29 de abril de 2023

Kremlin Instability - Nadin Brzezinski (Medium)

Pressões dos ultranacionalistas russos para o aumento da repressão aos dissidentes, e adoção de práticas stalinistas do passado totalitário, são os assuntos tratados nesta matéria, que também se detém sobre eventual doença do tirano de Moscou e do presidente atual da Turquia. Ou seja, mais instabilidade não apenas no Kremlin, mas na região como um todo.

Russian Editorial Cartoon via Telegram

This one crossed this morning from the Institute for the Study of War. They have also noticed the same thing I have. There are signals that instability in the Kremlin is increasing. I will quote them directly instead of the noise via Ukrainian channels because it’s significant. It also matches my observations:

Russian ultranationalists are continuing to advocate for the Kremlin to adopt Stalinist repression measures. Russian State Duma Parliamentarian Andrey Gurulyov — a prominent Russian ultranationalist figure within the ruling United Russia Party — stated that Russia needs to reintroduce the concept of the “enemy of the people.”[10] This concept designated all the late Soviet leader Joseph Stalin’s opposition figures as the enemies of society. Gurulyov frequently shares extreme opinions on Russian state television but the rhetoric among the ultranationalists is increasingly emphasizing the need for the targeting and elimination of Russia’s internal enemies. Former Russian officer Igor Girkin and Wagner Group financier Yevgeny Prigozhin often echo similar calls to prosecute Russian officials who are hoping to end the war via negotiations with the West. Such attitudes indicate that the ultranationalist communities are expecting Russian President Vladimir Putin to expand repression and fully commit to the war.

The Kremlin continues to avoid adopting overtly repressive measures likely out of concern for the stability of Putin’s regime. The Russian government withdrew a bill from the Russian State Duma that would have increased taxes from 13 to 30 percent for Russians who have fled the country.[11] Russian ultranationalists have repeatedly called on the Kremlin to nationalize property belonging to Russians who had “betrayed” the country by fleeing, but the Kremlin appears to remain hesitant to introduce such unpopular measures. Unnamed sources told Russian independent outlet Verska that the Russian presidential administration does not support the return of capital punishments in Russia — another issue that recently reemerged in Russian policy discussions.[12] The Kremlin could use the threat of the death penalty to scare Russians into supporting the war effort (or remaining passively resistant to it), but Putin likely remains hesitant to destroy his image as a diplomatic and tolerant tsar. ISW previously assessed that Putin relies on controlling the information space to safeguard his regime much more than the kind of massive oppression apparatus of the Soviet Union and that Putin has never rebuilt an internal repression apparatus equivalent to the KGB, Interior Ministry forces, and the Red Army.[13]

Realize we are all watching the same channels, I suspect. So we see the same demands for SMERSH and other repressive techniques. This also points to the next point. We seem to be shaping operations before the offensive begins. We have explosions inside Crimea and Russia, near the border regions.

One of our Z Channels is nice to tell us this…and no, there is no precise confirmation of this, except the explosions at this point, for example, on Rostov-on-Don, and Nikolaev on the Ukrainian side.

There is an unprecedented movement on the border in Belgorod and Kursk regions. Drones fly swarms in both directions. The equipment is here, they drag everything and everything. Both ours and the enemy. The Nazis pulled technical means to the border. Our air reconnaissance is being tinguished. We lost a few Maviks this week. But we also do not lag behind, today not without a catch — the Khokhla has minus two drones. Active movement and arrival of new equipment were noticed in Zolochev.

We are seeing those over other channels.

Now on a larger piece, apparently, Vladimir Putin was driven to the Kremlin overnight. There is a lot of speculation as to why. So here are two versions. I will add a third; the front is starting to heat up with shaping operations:

Putin’s cortege raced unscheduledly in the evening towards the Kremlin. The media are building versions of the president’s emergency visit to the workplace: from Erdogan’s disease to confiscation of assets in Poland.

There were rumors that President Recep Tayyip Erdoğan had a heart attack. This is now getting disputed. But what is true is that meetings were indeed canceled.

And a change at the top of the leadership in Turkey will prove democracy works. This is dangerous for Russia. While many have given up on Turkish democracy, perhaps this is too early.

Now, this brings me to General SVR. This is why I suspect they are putting out code for somebody. No, nobody survives pancreatic cancer this long. So if this is what ails Putin, he must donate his body to science.

But I digress.

Every time things go badly for the regime, his cancer issues…this week colon, last week pancreas…whatever, it’s oncology, get worse. His case gets nearly out of control, and boy doubles start to become a thing. The medicine starts to work…being a former medic, hardly a specialist; this smells of creative writing.

Are there doubles? Probably. It’s not unusual for authoritarian leaders to have some. But the story that he is dying from a fast-killing cancer is back again. At this point, I tend to interpret that part of the story as code to the regime's stability. This is one reason I read the channel.

And occasionally, they put out something that does turn out to be right. Should you rely on them, for Putin will die tomorrow? Nope. And if you do, the British Press adds nice embellishments to these stories. Assume there is no cancer. Hell, there is not a cold. What there is, well, paranoia. And as we start to get closer to the end of this, if the Ukrainian offensive goes well, here is why this started, according to MO:

Last drops for Putin. Six personal motives of the dictator that led to the war with Ukraine

Vladimir Putin decided to start a war a year before the invasion, in February-March 2021, Nyurstka found out after talking with sources in the Russian and Ukrainian authorities. Moreover, he was guided, among other things, by personal motives — resentment and the desire to take revenge. Sources told what exactly overwhelmed his “cup of patience”:

💧2004 Orange Revolution
Putin’s attitude towards Ukraine deteriorated along with relations with the West. A major blow to Putin was the 2004 Orange Revolution, which he sees as the work of the United States.
💧Dangerous Philosophy
In 2012, Putin began to spend a lot of time reading ultra-conservative books. His “mentor” was the White Guard philosopher Ivan Ilyin. Modern nationalists also began to influence Putin more.
💧Maidan and the flight of Yanukovych
“Putin said: guys, this is our last chance, there won’t be another chance like this, I take responsibility,” said a close acquaintance of the decision of the owner of the Kremlin to seize Crimea.
💧The impracticability of the Minsk agreements
Putin seriously hoped to outwit the Ukrainian authorities with the help of the Minsk agreements and personally participated in their writing. But he failed in the end to push through either Poroshenko or Zelensky.
💧The closure of Medvedchuk’s media assets
The fact that the Ukrainian authorities began to “nightmare” Putin’s godfather Medvedchuk was the last straw in Putin’s decision to prepare for a military operation.
💧Quarantine in the bunker
During a long isolation, Yuriy Kovalchuk gained a particularly strong influence on his friend, convincing the president that power in Kyiv could be changed quickly and painlessly.

Putin is a typical psychopath, and losing control of himself, says American neuroscientist, professor at the University of California James Fallon. “Putin’s facial expressions also speak of Putin’s failures,” the American professor notes. He became more like a wild animal in a cage. But that only made him more dangerous.”

Some we have heard before, which brings me back to Turkey. If Erdogan loses, this will not be received well by Moscow. It will be another Orange revolution of sorts. I see the influence of the ultranationalist right as well. It is evident in how Putin speaks.

This war is making the regime unstable. A defeat could bring the country to the conditions of the early 1990s. The vertical of power, which also relies on patronage networks, will suffer. It could also go away. The pressure towards disolución is increasing.