O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 2 de junho de 2024

WW debate sobre o ingresso do Brasil na OCDE: William Waack, Rubens Barbosa, Hussein Kalout, Welber Barral

 Assisti, há pouco, a íntegra do debate sobre o eventual ingresso do Brasil na OCDE, no programa WW, com a participação do embaixador Rubens Barbosa, do cientista político Hussein Kalout, e do consultor em comércio internacional Welber Barral.

 Os três foram excelentes. Uma frase porém faltou, a qualquer um, embora a primeira intervenção do embaixador Rubens Barbosa tenha tocado na “cronologia”. O Brasil já está atrasado há 30 anos, ou mais, nessa decisão de ingressar na OCDE. 

Deveria ter pedido esse ingresso sob Fernando Collor, quem iniciou a aproximação, e teria entrado quase facilmente sob FHC, logo depois do México (1994) e talvez até antes da Coreia do Sul, logo em seguida. 

Como alguns dos meus colegas e amigos sabem, em 1996, um ano depois de voltar de Paris, eu apresentei minha tese no Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco sobre o Brasil e a OCDE, “uma interação necessária”, como era o subtítulo.

Ela nem pedia adesão, apenas continuidade do processo de aproximação iniciada sob Collor,  sob a coordenação do embaixador Clodoaldo Hugheney e da qual participou meu amigo Sergio Florencio, na época já ministro. Na banca, o embaixador Jorio Dauster, conhecido nacionalista e desenvolvimentista, não parece ter apreciado o conteúdo da minha argumentação, e o próprio Clodoaldo Hugheney me perguntou se eu pretendia revisar a nossa política econômica externa “dos últimos 30 anos”, ou seja, os 30 anteriores. Eu respondi que era mais ou menos isso que eu propunha. 

A tese foi recusada, mais por razões políticas, e de atitude, do que pelo conteúdo, mas me disseram que eu poderia apresentá-la no ano seguinte, quando ela certamente seria aprovada, depois de alguns puxões de orelha em candidato tão impertinente.

 Tomei, porém, outro caminho: deixei a tese de lado e fui por outro caminho: estudei a formação da nossa diplomacia econômica no século XIX, pois os mortos, como se sabe, não se incomodam com mais nada. Essa nova tese foi publicada em três edições e hoje está livremente disponível na biblioteca digital da Funag: 

Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império. 3a. edição, revista; apresentação embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras; Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6 (obra completa; 964 p.); Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8 (link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907) e Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5 (link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908).Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/formacao-da-diplomacia-economica-no_9.html)

Hoje a tese sobre a OCDE está disponível na minha página na Academia.edu: 

Brasil e OCDE: uma interação necessária, Brasília, 15 julho 1996, 290 p. (texto + anexos: notas, bibliografia, complementos informativos e apêndices estatísticos). Tese apresentada ao XXXII Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco. Depositada no IRBr em 15 de julho de 1996, aceita para arguição oral em 19 de setembro, com fixação da defesa para o período de 24 de outubro a 6 de novembro; defendida em 29 de outubro 1996 de 1996. Reprovada pela Banca; Informado no blog Diplomatizzando (2/06/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/06/brasil-e-ocde-uma-interacao-necessaria.html 

disponibilizado em Academia.edu (2/06/2015); link: https://www.academia.edu/5659888/530_Brasil_e_OCDE_uma_interacao_necessaria_-_tese_CAE_1996_  

Abaixo o índice: 

Brasil e OCDE: uma interação necessária

 

Índice:

 

À guisa de prefácio...       5

 

I. Introdução: o Brasil e a OCDE no sistema econômico mundial  7

Esse obscuro objeto do desejo: a OCDE na agenda diplomática do Brasil   7

A interdependência econômica e a inserção internacional do Brasil   9

A história como instrumento de trabalho diplomático  13

A base do problema: definição de uma política oficial  15

 

II. A construção da interdependência: uma perspectiva de meio século 

     1. Do Plano Marshall à OCDE    17

O contexto econômico e político do pós-guerra: a OECE 17

A OECE e a reconstrução da Europa ocidental     21

A reconstituição da OECE e o estabelecimento da OCDE     24

 

     2. Os países em desenvolvimento na economia global 

Um Plano Marshall para a América Latina?  31

Comércio e pagamentos: OECE e América Latina    35

O comércio internacional e o problema do desenvolvimento   38

Intercâmbio desigual e busca da não-reciprocidade   40

 

     3. Do desenvolvimentismo à aceitação da interdependência    44

Ascensão e crise da ideologia desenvolvimentista     46

A UNCTAD e o declínio do desenvolvimentismo    50

Fragmentação e diversificação do Terceiro Mundo    54

A América Latina e o Brasil no contexto internacional    59

A macroestrutura institucional da interdependência mundial   62

 

III. A OCDE e o multilateralismo econômico    67

     1. O consenso liberal e a ortodoxia econômica: a agenda da OCDE  68

Estrutura e processo decisório na OCDE: flexibilidade e consenso   70

O mandato da OCDE e a interdependência: sinfonia inacabada  75

Templo da racionalidade econômica?: modesto poder de coerção   76

Desafios ao consenso liberal: protecionismo e unilateralismo  80

 

     2. A interdependência na prática: as relações externas da OCDE    90

Das origens ao fim da guerra fria: os alunos modelos    91

A OCDE como padrão de cooperação interestatal      93

Dormindo com o inimigo: as relações com os socialistas     94

Uma OCDE asiática?: nas origens da APEC      96

A “política externa” da OCDE: relações com países não-membros   98

             Os parceiros da transição ao capitalismo bem comportado  101

             O diálogo informal com asiáticos e latino-americanos    103

             Um dragão irrequieto: a China     106

             As economias emergentes   107

 

     3. Requisitos do contrato global: processos de adesão à OCDE   109

A marcha de adesões à OCDE: de moderato a fermo    110

Ainda a marcha da OCDE: de prestissimo a piano     113

Critérios de adesão e realismo pragmático: trade-offs  116

A marcha do capital: derrubando barreiras    117

Entrando no templo: México, República Tcheca e Hungria   122

 

IV. Brasil e OCDE: a dinâmica do relacionamento   127

     1. Histórico da política de aproximação      129

Pré-história do relacionamento: comércio compensado   130

A presença discreta da nova organização: a OCDE    131

A divisão Norte-Sul e o “clube dos países ricos”     132

Primeiros contatos estruturados: o Comitê do Aço   134

O “último dos desenvolvidos...”: a missão de 1991 à OCDE   138

 

     2. Participação nas atividades do diálogo informal  147

O Brasil como major economy     147

Prosseguimento da política de diálogo     151

O Brasil e o futuro da relação OCDE/economias dinâmicas    158

 

     3. Bases de uma mudança de status    168

O quadro geral da política econômica: culto à estabilidade  170

Liberando os fluxos de bens, de serviços e de capitais    175

Políticas estruturais e setoriais: novas disciplinas   183

 

     4. Impacto nas relações econômicas e na política externa  191

Relações econômicas internacionais: revisão de longo curso    192

Efeitos sobre o Estado e o funcionamento do aparelho social    201

Um novo paradigma na política externa?: a perspectiva global     206

 

V. Conclusões: a OCDE e a nova inserção internacional do Brasil  213

Uma balança do poder mundial: do G-7 ao G-10?     214

Idealpolitk e realismo na política externa     218

 

Anexos:

Apêndices:      223

1. OCDE: Estrutura, órgãos subsidiários e agências especializadas    225

2. Estrutura operacional de trabalho da OCDE       227

3. O Secretariado da OCDE e como ele se vê a si mesmo    232

4. Composição e participação nas atividades da OCDE     239

5. Centro de Desenvolvimento   240

6. Comitê do Aço da OCDE    241

7. As publicações da OCDE    242

8. Indicadores econômicos e sociais comparativos     246

 

Bibliografia     251

 

Nota final     261

 

Texto original da tese: 


 https://www.academia.edu/5659888/530_Brasil_e_OCDE_uma_interacao_necessaria_-_tese_CAE_1996_  



Segundo Bolivar, a América Latina não tem solução; só resta emigrar - Memórias de Rubens Ricupero

Introdução de Maurício David, meu anjo protetor em matéria de informação de boa qualidade: 

Citação do dia (na verdade feita em 1830, mas que nos faz pensar até hoje...) de Simón Bolivar, poucas semanas antes de morrer, de acordo com os comentários publicados pelo embaixador Rubens Ricupero em seu livro de Memórias, recém-publicado pela editora UNESP : 


“... lembrei que o historiador Mariano Picón Salas, embaixador da Venezuela no Brasil na época de Juscelino, achava que os latino-americanos tinham começado mal desde a independência. Contrastava o destino trágico de quase todos os próceres hispânicos – fuzilados, enforcados, mortos na prisão ou no exílio – com o dos Founding Fathers norte-americanos, pacificamente expirando em seus leitos, cercados da veneração da pátria.

Desde o princípio, a sensação de fracasso, de que tínhamos quei­mado a partida, vinha do primeiro e maior dos latino-americanos. 

 

Pouco mais de um mês antes de morrer em Santa Marta, Simón Bolívar concluía na carta que escreveu ao general venezuelano Juan José Flores, primeiro presidente do Equador:

[…] exerci o comando por vinte anos e deles não deduzi mais que poucas conclusões seguras: 1A América é ingovernável […]. 2Aquele que serve a uma revolução ara no mar. 3A única coisa que se pode fazer na América é emigrar. 4Este país cairá infalivelmente em mãos da multidão desenfreada, para depois passar a tiranetes […] de todas as cores e raças. 5Devorados por todos os crimes […], os europeus não se dignarão conquistar-nos. 6Se fosse possível que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, este seria o último período da América. (Barranquilla, 9.11.1830).

Não era a primeira vez que o Libertador expressava essa opi­nião. Na véspera de morrer, as circunstâncias lhe pesavam no âni­mo: politicamente derrotado, chocado pelos atentados contra sua vida, deprimido, minado pela tuberculose, tudo isso agravou-lhe o julgamento. Não obstante, o libelo se tornaria o padrão para com­parar o atraso latino com o progresso dos Estados Unidos, as tira­nias degradantes sucedendo-se umas às outras, os degolamentos e atrocidades das guerras civis, as torturas, os desaparecimentos, as ditaduras militares.

De vez em quando, vive-se a ilusão, mais ou menos fugaz, do sucesso. A Argentina teve sua brilhante “era das vacas e do trigo”, foi a 6maior economia do mundo; o México, a gloriosa Revolução de 1910, de Emiliano Zapata e Pancho Villa; o Uruguai chegou a ser a “Suíça da América do Sul”; o petróleo criou por um tempo a “Venezuela saudita”, o país de maior poder de compra do continente;

o Brasil conheceu, nos anos 1970, o “milagre brasileiro” e na primeira década do século XXI, o Cristo do Corcovado elevando-se aos céus como foguete foi a capa da revista The Economist. O último mito a desmoronar foi o do Chile, “país desenvolvido, uma espécie de Nova Zelândia descolada do resto da América Latina”.

Esse destino ciclotímico do continente não tem nada a ver com o sono eterno das civilizações mortas, ou, no outro extremo, com o dinamismo de chineses e de outras nações asiáticas, imperturbá­veis no êxito ininterrompido de crescimento ao longo de quatro ou cinco décadas seguidas. A imagem que melhor nos define é a de uma espécie de montanha russa na qual a euforia embriagante dos pináculos se alterna com vertiginosos mergulhos no vácuo. No máximo se diria que ultimamente as subidas duram cada vez menos, enquanto a travessia dos vales se parece mais à estagnação dos cemitérios.

É por isso que não faz muito sentido indagar qual foi o ponto de inflexão, o momento em que nos perdemos. Simplesmente porque não cessamos de nos perder e de nos reencontrar de tempos em tempos. Cada geração passa incessantemente por vários extravios, uns mais longos que outros.

Para os nascidos no Brasil em fins dos anos 1930, não faltaram sobressaltos e rupturas: o autogolpe do Estado Novo em 1937 segui­do de longa e repressiva tirania; o golpe militar contra a ditadura Vargas em 1945; o suicídio de Getúlio em 1954; a ameaça de golpe e contragolpe de 1955; a renúncia de Jânio em 1961; o golpe militar de 1964; o “golpe dentro do golpe” do AI-5 em 1968; a inesperada morte de Tancredo em 1985; o impeachment de Collor em 1992; o de Dilma em 2016, coincidente com a profunda crise moral da Lava Jato, a recessão econômica e o esboroamento da hegemonia de Lula e do PT. 

(citação do livro “Memórias”, do embaixador Rubens Ricupero, recém-lançado pela editora da UNESP)

 


Ciro Gomes, opção da direita? - Triângulo Ciro, Bolsonaro, Mangabeira: uma possibilidade em 2026? - Maurício David

Maurício David, meu grande abastecedor de notícias (E DE COMENTÁRIOS INTELIGENTES), fornece aqui material de imprensa (abaixo) e seu comentário pessoal (que retirei do início e coloquei ao final) extremamente VALIOSO sobre uma possível reviravolta na próxima campanha presidencial. Cabe acompanhar, e manter o Maurício David atento para novos desenvolvimentos nessa área que vai descrita aqui.

Paulo Roberto de Almeida


 Gomes, opção da direita?

Valor Econômico, 31/05/2024

O professor de Harvard e filosófo Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro no governo Lula, diz que imaginar um cenário em que o ex-presidente Jair Bolsonaro apoie em 2026 na eleição presidencial o ex-governador cearense Ciro Gomes (PDT) “não é nenhum absurdo”. “Bolsonaro já declarou publicamente que no passado chegou a votar em Ciro para presidente”, lembra. Mangabeira colaborou para as campanhas presidenciais de Ciro em 2018 e 2022.

Segundo Mangabeira, que encontrou-se com Bolsonaro no ano passado, o ex-presidente dificilmente irá reverter sua inelegibilidade e tem três opções: uma é apoiar alguém de seu círculo íntimo, o que seria interpretado “como uma recusa de avanço”, com baixa perspectiva de sucesso eleitoral.

A outra, que ele reputa como “mais factível”, seria apoiar alguém de seu agrupamento político, como os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ou de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). E por fim, o que ele chama de “melhor opção”: “Optar por alguém não só fora de seu círculo íntimo e de seu agrupamento político, “alguém que desse condições de interpretar para o país uma proposta produtivista e nacionalista e de ser apoiado pelo líder da direita”. E Ciro, segundo Mangabeira, “continua a ser um dos intérpretes mais críveis dessa alternativa”.

Ciro hoje se diz sem planos eleitorais e o professor está mais para livre pensador do que para articulador político. Mas Mangabeira tem um ponto: “Bolsonaro é o líder não de uma maioria, mas de uma grande minoria dentro do país, assim como Lula é o líder de outra facção quase majoritária”. Dentro dessa lógica, se partisse de Bolsonaro a iniciativa de quebrar a polarização, abriria-se um terreno para se construir uma maioria.

Para o ex-ministro de Lula, o atual presidente é vulnerável. “Em condições normais, Bolsonaro teria sido reeleito. Há muita chance de Lula ser derrotado”, comenta. O que teve de anormal em 2022, segundo o professor, foi produzido pelo próprio ex-presidente, que quebrou a cultura republicana.

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COMENTÁRIO DE MAURICIO DAVID:


Gosto muito do Mangabeira, com a mesma admiração  que o filósofo baiano Caetano Veloso a êle devota...O Mangabeira é quase gênio e, como todo quase-gênio, é um homem de temperamento difícil. Em 2001, quando eu estava ainda no Chile, o Mangabeira me convidou para assumir a secretaria-executiva de um Instituto que estava criando, o Instituto Desenvolvimento com Justiça (presidido conjuntamente por êle e pelo nosso querido Fernando Lyra, precocemente falecido). Aceitei de imediato. Logo após retornei ao Brasil para participar da campanha do Ciro à Presidência da República, nas eleições de 2002 (atuamos juntos, Mangabeira e eu, através do nosso Instituto Desenvolvimento com Justiça na Assessoria do Ciro). Para mim, foi uma ótima oportunidade de fazer uma caminhada que muito me enriqueceu (no bom sentido da palavra...) politicamente. 
Posso dizer muito francamente que lendo agora estas considerações do Mangabeira sobre o cenário político e as opções do Ciro, que divirjo das considerações atuais do ilustre professor da Law School de Harvard. Mas reconheço que são estimulantes à uma reflexão proveitosa, como sempre.

Certa vez o Mangabeira me pediu que organizasse em minha casa uma reunião com um grupo de intelectuais cariocas, pois ele queria ouvir a opinião de intelectuais do Rio sobre o Brasil e seu futuro. Puz-me na tarefa de organizar a reunião. Presentes a fina flor da intelectualidade carioca – sendo o nome de maior projeção o grande Antonio Barros de Castro, meu dileto amigo e magnífico interlocutor – deu-se um certo mal entendido. Todos os presentes estavam ansiosos por ouvir as idéias e proposições do ilustre intelectual baiano-cambridgiano. Este, por sua vez, me disse depois que o que esperava da reunião era de que os presentes expusessem a êle, Mangabeira, as suas idéias sobre a realidade brasileira e o que esperavam do governo Lula. Eis que de repente o Mangabeira se levanta e sem dizer uma palavra para o dono da casa que atendera a um seu pedido para organizar a reunião, e às dezenas de pessoas que honraram ao convite do próprio Mangabeira para ouvi-lo, sai da reunião tão mudo quanto entrara... Não foi a primeira vez que o vi comportar-se assim. Em outra ocasião, em uma reunião da campanha do Ciro realizada em um hotel-residência da avenida Vieira Souto onde se hospedava o Manga quando vinha ao Rio (depois eu soube que era o banco Opportunity e o seu dono – o famigerado Daniel Dantas – era quem pagava as despesas do Manga quando vinha ao Brasil...) também nesta oportunidade o nosso Manga se levantou subitamente e se retirou da reunião que mal havia começado, deixando estupefatos os convidados presentes (muitos de fora do Rio, inclusive, que haviam vindo expressamente para a reunião). Será que será assim que um professor de Harvard trata seus “alunos” ? Sei lá... Eu tive que sair correndo atrás do Mangabeira, que saíra caminhando por uma das transversais da Vieira Souto e começou a conversar comigo como se nada acontecera, levando-me com êle para uma loja especializada em pedras semi-preciosas pelas quais aparentemente ele tinha fascínio e uma coleção reputada nos Estados Unidos. Nada disto vai em detrimento do reconhecimento da sua mente privilegiada e da sua procura elogiável e infatigável por novos caminhos para o Brasil.

MD

 

P.S.1 : A possibilidade futura de uma aliança entre o Ciro e o Bolsonaro não me parece, à primeira vista, tão exdrúxula assim. Há que se tomar cuidado, no entanto, para que não seja uma jogada do bruxo petista para dividir a oposição... Espero que o Manga perceba os riscos da sua proposição...

P.S.2 : Remember Marina ! (a quem apoiei em duas campanhas presidenciais) e que foi canibalizada pelas artimanhas do Lula... Vide a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas... É importante que o Ciro – que segue firme na oposição ao Lula e que acaba de manifestar que vai desistir de qualquer tipo de candidatura no futuro – tenha em mente os riscos de, tal como a Marina e o Alckmin-  ser canibalizado pela voracidade dos petistas que, como diz o José Dirceu e a Gleisi Hoffman (ex-presidente e atual presidente do PT) tem um projeto de dezenas de anos de poder petista... E uma voracidade imensa por $$$...


Churchill quase colocou De Gaulle Inglaterra afora, às vésperas do Dia D - Alix Champlon

 SOCIÉTÉ

Cette lettre de Churchill qui aurait pu changer le cours de l’histoire

Alix Champlon - 2 juin 2024 

... et mettre fin à la carrière du général De Gaulle.

«Je ferai savoir au monde que la personnalité du général de Gaulle est le seul et principal obstacle entre les grandes démocraties de l'Ouest et le peuple de France». | Imperial War Museum via Wikimedia Commons  (Repéré sur The Guardian)

Tout début juin 1944. Winston Churchill fulmine. Dans quelques heures, la plus importante opération militaire amphibie de l'histoire doit être lancée en Normandie, pour libérer le continent.


Mais le premier ministre britannique, exaspéré par les exigences du général Charles de Gaulle, alors dirigeant du Comité français de libération nationale, fraichement arrivé d’Alger, prend la plume. Cette lettre, découverte juste avant les commémorations du 80e anniversaire du débarquement en France, parmi les documents conservés aux Archives nationales de Kew, met en lumière la relation houleuse des deux chefs de guerre. The Guardian revient sur son contenu.

 

«Je ferai savoir au monde...»

À l’origine de la fureur de Churchill, le refus De Gaulle de participer à l’enregistrement et la diffusion radiophonique d’un discours avant le débarquement, et le blocage de l'envoi d'officiers de liaison français pour accompagner les troupes alliées en France.


«J'ai essayé à maintes reprises, pendant quatre ans, d'établir une base raisonnable pour une camaraderie amicale avec vous. Mais votre action à ce stade me convainc que cet espoir n'a plus lieu d'être», introduit Churchill, pour dénoncer l’ordre donné aux «120 officiers de liaison français, qui ont été si soigneusement formés à accompagner les armées anglo-américaines en France» d'abandonner «l'effort de libération en cours».


MONDE


La cornemuse, l'arme inattendue du Débarquement


«Quelle que soit l'attitude qu'ils adopteront, elle ne diminue en rien le caractère odieux de votre action, et je me dois de vous dire qu'à la première occasion qui se présentera (…) je ferai savoir au monde que la personnalité du général de Gaulle est le seul et principal obstacle entre les grandes démocraties de l'Ouest et le peuple de France» menace-t-il.«Je ne vois aucune utilité à ce que vous restiez plus longtemps», conclut le premier ministre«Un avion sera à votre disposition demain soir, si la météo le permet».


Finalement, le général De Gaulle cèdera sur les demandes des Alliés. Du moins, en partie : il accepte de prononcer un discours sur le service francophone de la BBC, et permet à 20 officiers de liaison français, parmi les 120, de rejoindre les forces alliées pour prendre d'assaut les plages normandes. La lettre, annotée au crayon bleu d’un bandeau «NE PAS ENVOYER», ne partira pas. Elle reste malgré tout le témoignage d'une relation orageuse, que Charles de Gaulle entretiendra avec la Grande-Bretagne jusqu'à la fin de sa carrière, même après-guerre.


A Rússia nos anos 1990: a vodka como moeda corrente

 During 1990s Economic Crisis, Russian teachers were paid with Vodka bottles

Using vodka instead of cash made sense when actual currency was almost worthless. As USSR collapsed and hyperinflation soared, Russians referred to rubles as “Wooden” money

In 1998, authorities in one Siberian district gave 8000 school teachers 15 bottles apiece, in lieu of wages. According to a UPI report, vodka is favored as only thing that could be freely sold or exchanged for bread and other food

archaeohistories

Uma escolha reveladora quanto aos princípios: Lula fica do lado da Rússia- Paulo Roberto de Almeida

Uma escolha reveladora quanto aos princípios

Na guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, o governo Lula preferiu ficar do lado do agressor

Paulo Roberto de Almeida 

O fato de Lula-Amorim terem praticamente alinhado o Brasil ao campo das duas grandes autocracias que pretendem construir, com o apoio já declarado de Lula, uma “nova ordem global” (mal definida, mas claramente orientada contra o Ocidente), pode não trazer retaliações diretas dos principais países ocidentais, mas já delimita uma postura diplomática, que será levada em conta em outros campos da agenda mundial. 

A brutalidade, todos os dias revelada, da agressão russa contra a Ucrânia, vai pesar na percepção interna e externa da política externa do governo Lula como sendo um elemento a mais numa posição que não é de estrita neutralidade, como alegado, mas de apoio objetivo aos interesses russos.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 2/06/2024

Alinhamento do Brasil com China e Rússia ameaça relação com o Ocidente - Lourival Sant'Anna (OESP)

Alinhamento do Brasil com China e Rússia ameaça relação com o Ocidente 

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial

Por Lourival Sant'Anna

 Opinião - É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

O Estado de S. Paulo, 25/05/2024 


A simpatia do governo Lula pelo expansionismo militar russo tornou-se ainda mais explícita na reunião do chanceler chinês, Wang Yi, e do assessor especial brasileiro, Celso Amorim, em Pequim. As conclusões do encontro colocaram na órbita da China a política do Brasil para a Ucrânia.

Em comunicado conjunto divulgado depois do encontro, Brasil e China apelam para que todas as partes envolvidas se comprometam em não expandir o campo de batalha, não escalar os combates e não provocar a outra. Não houve condenação à invasão.

Essas condições equivalem a dizer que a Ucrânia não tem o direito de se defender. Já que ela é o país invadido, os combates terrestres se concentram, por definição, na Ucrânia, com os ucranianos tentando conter os avanços russos e recuperar território.

Desde a invasão em grande escala da Rússia, em fevereiro de 2022, a Ucrânia recuperou 54% do novo território ocupado. Outros 18% continuam ocupados, incluindo os 8% invadidos em 2014. A atitude do Ocidente de normalizar essa ocupação em 2014, a mesma que Brasil e China adotam até hoje, incentivou Vladimir Putin a ampliá-la.

Amorim, que esteve na Rússia há um mês, contou com otimismo a repórteres brasileiros em Pequim ter ouvido de um de seus interlocutores russos que eles querem uma “neutralização”, e “uma zona tampão com tamanho suficiente para que não haja armas que atinjam diretamente Moscou.”

O assessor especial brasileiro demonstra crer que a Rússia invadiu a Ucrânia para se defender de uma ameaça. Não há a menor base factual para essa leitura, promovida pela propaganda de Putin.

Ao contrário, o governo de Volodmir Zelenski fez de tudo para não dar pretextos à invasão russa. Mesmo quando mais de 100 mil soldados russos se concentravam na fronteira, e a Rússia promovia um bloqueio naval contra a costa ucraniana, em dezembro de 2021, Zelenski desautorizou providências típicas para a defesa de um país sob ataque iminente, como a convocação de reservistas ou a escavação de trincheiras.

Em várias etapas da agressão russa à Ucrânia, o Kremlin enviou sinais contraditórios sobre suas intenções de tentar congelar o front ou agarrar mais território. Esses sinais dependeram, em parte, da dinâmica no terreno e da disposição de EUA e Europa de seguir ajudando a Ucrânia, e em parte das táticas russas de guerra informacional.

Putin nunca demonstrou disposição real de negociar garantias de segurança em troca da devolução de território ucraniano. Aceitar, como fazem Brasil e China, uma solução que não contemple essa devolução é renunciar ao princípio da soberania.

Para a China, esse racional é conveniente. Primeiro, porque Xi Jinping tem deixado claro que pretende anexar Taiwan. A China assedia a ilha regularmente, por mar e ar, como fez nos últimos dias com 46 aviões de guerra. 

Em segundo lugar, as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia criaram uma dependência do país em relação à China, que aproveita para comprar seu petróleo e gás a preços abaixo do mercado, vender-lhe produtos industrializados e até instalar fábricas para substituir as mais de mil empresas ocidentais que se retiraram do país.

Por último, ao obrigar o Ocidente a ajudar a Ucrânia, a campanha russa drena recursos das democracias na América do Norte e na Europa, que rivalizam com a China na disputa por influência global.

O alinhamento do Brasil, um país grande e democrático, é valioso para a China, porque demonstra capacidade de atrair para seu campo não apenas ditaduras africanas e asiáticas dependentes de seu poder econômico, projeção política e militar e ideologia autoritária.

E o que o Brasil ganha com isso? Wang Yi declarou que China e Brasil “têm economias altamente complementares e interesses profundamente integrados, que é o ativo estratégico mais precioso”. A primeira parte é verdadeira: o Brasil é exportador de alimentos e a China, de manufaturados.

Mas a própria complementaridade torna desnecessário um alinhamento geopolítico para impulsionar o comércio: ele se movimenta por si, e não depende da proximidade entre os governos, como ficou claro quando Jair Bolsonaro, detrator da China, era presidente.

A segunda parte é problemática. Alinhar-se à China não corresponde aos interesses nacionais do Brasil.

Além de contrariar um princípio caro da política externa brasileira, o da soberania, a Rússia atraiu contra si uma união militar no Ocidente inédita desde a 2.ª Guerra Mundial. A complacência com a agressão russa aliena o Brasil do Ocidente e o coloca como um parceiro não confiável.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais


Russia se empenha em sabotar a conferência da paz na Ucrânia: China e Brasil se opõem à conferência

 At the Forum in Singapore, President Zelensky said that unfortunately, Beijing is talking the countries of "Global South" out of participating in the Peace Summit in Switzerland, suggesting instead a plan of de-facto "freezing the war" - which suits Russia.

We are currently observing a true diplomatic combat between Ukraine and Russia.

Russia puts in a great deal of effort to oppose the Swiss Peace Summit. Why is that?

‼️Diplomatic positions regarding the war in Ukraine and diplomatic participation are extremely important, as each participation and non-participation will be a clear demonstration of whose side the country is on.

The more countries and global leaders support Ukraine and our view of peace, the stronger Ukraine's position will be. And not just Ukraine's - of international law, democracy, respecting territorial integrity all over the world.

This will be a loud and clear demonstration of values.

That's why presence at the Swiss Peace Summit is so important.

That's why the presence of President Biden @POTUS is so important!

Friends, I ask you to share this as widely as possible to help this message reach anyone who needs to hear it.


#PeaceNeedsJoe

peaceneedsjoe.org

Lula e Celso Amorim inscreveram o Brasil no ‘eixo do mal’ - Fabiano Lana (Estadão)

Disputas de poder e o debate político-cultural brasileiro

Opinião

Lula e Celso Amorim inscreveram o Brasil no ‘eixo do mal’

O conselheiro internacional de Lula tem levado o presidente a um pântano moral no qual o petista pode ser afogar.

Por Fabiano Lana

O Estado de S. Paulo, 01/06/2024 


Como argumentos humanitários parecem não importar nesse caso específico, se há um ponto do atual governo que afasta os moderados, prejudica os índices de popularidade, e causa até mesmo certa repugnância é a posição do presidente Lula e de seu principal conselheiro internacional, Celso Amorim, com relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Por motivos que vão desde interesses comerciais a um antiamericanismo sectário, as posições do governo indicam que o compromisso com a democracia do petismo era apenas uma conveniência para vencer as eleições. Mas podem pagar caro por isso. 

A questão é mais ampla. Em momentos decisivos, o coração dos petistas bate mais forte para qualquer ditadura que se oponha aos Estados Unidos e, atualmente, mesmo à Europa. E pelo jeito pode ser uma teocracia misógina como o Irã (leiam “Faca”, de Salman Rushdie), um governo que tornou sua população miserável, como a Venezuela (leiam Mãe Pátria, de Paula Ramón), uma ditadura mofada e em forte crise como Cuba (o país passa por mais uma onda de desabastecimento), que, se gritam “fora USA”, contam com a simpatia aberta ou velada de nossos atuais governantes. A verdade, além disso, é que se for para fulanizar, as posições de Amorim estão as que causam mais estragos em um governo num período do país em que qualquer minoria faz a diferença para virar a balança eleitoral.

Não existem relações internacionais sem hipocrisia. Muitas vezes apenas governos vis possuem ou querem comprar a preços competitivos produtos de maneira a salvar uma economia como a brasileira – logo, negociar comercialmente será sempre preciso. Porém, o que há no caso da dupla Lula-Amorim é pior. Entre países que, apesar dos pesares e incoerências, são democráticos, buscam seguir certos princípios do iluminismo, respeitam as minorias e a livre expressão e, do outro lado, países dominados por grupos repressivos, que transgridem a soberania internacional, e subjugam seus povos, preferem a segunda opção. Em outras palavras, por influência de Amorim resolvemos, como país, optar pelo “eixo do mal”. 

Curioso que essa posição não traz grandes variações no tabuleiro mundial. Pela distância geográfica, pela falta de poderio bélico, entre outras razões, o governo Lula é visto como café com leite das relações internacionais. É interessante tê-lo no mesmo lado, mas não causará significativa diferença prática. Mesmo assim, em seu terceiro mandato, Lula preferiu priorizar sua ação internacional – após tantas derrotas no Congresso aparentemente terá de mudar o foco, a conferir. Entretanto, será que Lula e Amorim ainda sonham estar na frente das negociações que selarão tanto a paz na Rússia como em Gaza e ganhar o Nobel da Paz? Eles acreditam na própria megalomania delirante? Na realidade, mesmo internacionalmente, têm colhido é antipatia dos líderes ocidentais. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, é apenas o mais vocal deles. Nem na América latina conseguem se sobressair, tome-se os pitos que levaram de Gabriel Boric, do Chile, e Lacalle Pou, do Uruguai, sem falar do hostil argentino Javier Milei.

A invasão russa no território ucraniano é a primeira violação territorial neste nível na Europa desde que a Alemanha Nazista invadiu a Polônia em 1939, deflagrando a segunda guerra mundial. Existe claramente um lado agressor. Mas, para Amorim, são apenas visões divergentes em jogo. O conselheiro dá a entender que a Rússia teria certa razão por se sentir ameaçada pela OTAN. É um contorcionismo mental que esconde ranços e ideologias. Mas a realidade pode ser exatamente o contrário: se não fosse a OTAN, uma série de repúblicas que já fizeram parte da União Soviética e conseguiram se libertar, como a Estônia, a Letônia e a Lituânia, já teriam sido invadidas sem qualquer piedade. Inclusive, nesses três países bálticos, há museus da ocupação que não distinguem as invasões nazista e comunista no século passado, são vistas como algo igualmente ignóbeis, – incluindo aí o período em que houve uma ocupação conjunta de alemães e soviéticos durante o período em que vigorou o acordo de não agressão entre Stalin e Hitler – o Pacto Molotov–Ribbentrop. Na época, a bandeira vermelha da invasão continha os símbolos do nazismo e da foice e o martelo no mesmo pano. 

O papel do Brasil nessas crises ainda acaba por revelar uma outra grande incoerência: a contundência com que Lula condena as mortes de crianças inocentes na faixa de Gaza transforma-se em brandura se o salteador for russo. É tigrão para Israel e tchutchuca para Putin, se quisermos utilizar a expressão zombeteira da moda.

Amorim, que tenta se passar por um grande negociador, na verdade tem levado o seu chefe a um pântano do qual ele não conseguirá sair. É algo que poderá fazer grande diferença entre a pequena minoria decisiva que em 2026 vai votar no PT, nulo, ou na outra opção, ao analisar fatores como esses. Como falar na questão moral não sensibiliza o presidente e seu escudeiro, vale um argumento cínico: em um país tão dividido e por margem tão estreita, uma política internacional conduzida por Amorim pode ser uma das razões para uma derrota eleitoral. O mais sábio, para o presidente, seria cortar as asas de seu desastrado conselheiro.

Opinião por Fabiano Lana

Filósofo e consultor político

 https://www.estadao.com.br/politica/fabiano-lana/lula-e-celso-amorim-inscreveram-o-brasil-no-eixo-do-mal/


Três livros sobre a nova Guerra Fria, resenhados na Foreign Affairs

Cabe pelo menos conhecer... 

Itamaraty nega engajamento do país em conflito após ucraniano apontar alinhamento com Rússia - Eliane Oliveira (O Globo); O Antagonista

Sobre a afirmação do assessor presidencial dizendo que "respeita o sofrimento do povo ucraniano". Trata-se de uma zombaria e de uma ofensa

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de junho de 2024

A afirmação do assessor internacional é estranha, começando pelo fato dele dizer, em nome do Brasil, que "respeitamos o sofrimento do povo ucraniano."

Respeitar sofrimento é uma forma de diminuir a importância do verdadeiro morticínio a que vem sendo submetido aquele povo sob mísseis e bombardeios diários (e noturnos) sobre alvos civis, justamente para causar o maior número de mortos. São incontáveis, milhares os crimes de guerra, contra a paz e contra a humanidade perpetradas pelas forças russas na Ucrânia.

A afirmação seguinte é ainda mais desprovida de sentido e de qualquer conexão com a realidade, ao mencionar que é preciso "levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas". Uma frase velha, equivocada e deliberadamente enganosa, como se houvesse, antes e agora qualquer ameaça à segurança da Rússia vinda da Ucrânia ou mesmo da OTAN, que não tem a Ucrânia entre seus membros. A Rússia NUNCA pretendeu diálogo: invadiu sem sequer um ultimatum, que costuma ser uma prévia a uma declaração de guerra, segundo as leis da guerra, que a Rússia nunca respeitou e desrespeita continuamente. 

O Brasil está sim alinhado com a Rússia e não é apenas por razões comerciais ou econômicas, como afirmou Zelensky (o que não deveria ter feito), mas que não deixa de ser uma verdade, mas apenas meia verdade, e talvez 1/4 de verdade. Independentemente de qualquer comércio, antes e depois da guerra de agressão – e cabe ressaltar que Lula aumentou em mais de 200% a importação de combustíveis russos para o Brasil, o que não deixa de ser uma forma de alimentar a máquina de guerra de Putin –, vamos convir que Lula e o lulopetismo já estavam predispostos a apoiar Putin EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA, dada a aproximação e a verdadeira aliança politica-ideológica com o regime russo, no seu empreendimento de se opor ao "hegemonismo americano" no mundo e de construir uma "nova ordem global", como Lula, o próprio Putin e Xi Jin Ping já proclamaram várias vezes.

Considero a postura de Lula, do PT, do governo brasileiro e do Itamaraty (por submisso) indigna das tradições diplomáticas brasileiras, de respeito (sim) e de defesa ativa do Direito Internacional, da solução pacífica das controvérsias (como reza a Constituição) e de real neutralidade nos conflitos interimperiais. Mas não é disso que se trata e sim de uma agressão ilegal e criminosa contra um país soberano, com o qual mantemos relações diplomáticas, mas que não mereceu até aqui qualquer sombra de apoio na sua luta dificílima contra uma superpotência agressora e criminosa.

Lula e a sua diplomacia petista envergonham o Brasil e os brasileiros, a mim particularmente.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 2 de junho de 2024


Ministério nega engajamento do país em conflito após ucraniano apontar alinhamento com Rússia
ELIANE OLIVEIRA
BRASÍLIA
O Globo, 1/06/2024

Em resposta às declarações do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que acusou o Brasil de se aliar à Rússia por razões comerciais, o Itamaraty negou ontem que o governo brasileiro tenha tomado partido na guerra entre os dois países. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, não há e jamais houve engajamento brasileiro no conflito.

Por sua vez, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse que o Brasil "respeita o sofrimento dos ucranianos".

- Respeitamos o sofrimento do povo ucraniano. Queremos contribuir para uma paz alcançável. Isso só será possível se levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas, preferencialmente com apoio de países que gozem de confiança de ambos - declarou.

Em entrevista a um grupo de jornais latino-americanos na quinta-feira, da qual O GLOBO fez parte, Zelensky insinuou que o Brasil se aliou à Rússia por razões comerciais.

- A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam - disse.


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Zelensky critica Lula por "priorizar aliança" com Putin
Redação O Antagonista, 31/05/2024

Em entrevista a jornalistas latino-americanos, Zelensky ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a criticar Lula (PT) por "priorizar a aliança com um agressor", referindo-se à Rússia, do ditador Vladimir Putin.

Em entrevista a jornalistas latino-americanos em Kiev, publicada por O Globo, o chefe de Estado ucraniano expressou desejos de cooperação com países da região como Argentina, Chile, Colômbia, Peru e El Salvador, mas ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil.

"O Brasil deve estar do nosso lado e dar um ultimato ao agressor [a Rússia] por que temos de voltar a repetir estas coisas? Pela memória histórica, por temas econômicos? A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam. Pesam mais as crianças, a família, a vida, só depois está o comércio com a Federação Russa", afirmou.

"Acho que uma aliança do Brasil com os países da América Latina é muito mais potente do que apenas com a Rússia. E seria justo que nos dessem esse apoio. Não tive uma declaração conjunta com o presidente Lula, ou entre Ucrânia e Brasil por que é assim, se nós somos os atacados?", questionou.

A visita de Amorim, do Itamaraty paralelo, a Pequim

Segundo o jornal, a recente declaração conjunta de Brasil e China, dada durante a visita de Celso Amorim a Pequim, na qual os dois países defenderam que Moscou participe da conferência que será realizada em junho, na Suíça, sobre a invasão russa à Ucrânia, apenas reforçou a convicção de Zelensky e dos diplomatas ucranianos de que Lula está do lado de Putin.

"Não entendo. Por que não confirmar [a participação dos presidentes no encontro]? A última sinalização é de que Brasil e China estariam dispostos a participar se a Rússia participar. Mas a Rússia nos atacou. Por acaso o Brasil está mais próximo da Rússia do que da Ucrânia? A Rússia é hoje um país terrorista", disse Zelensky.

"Estamos esperando os líderes de todos os países do mundo que querem terminar com esta guerra, mas não nas condições e com os ultimatos russos", acrescentou o presidente ucraniano, que acusa a Rússia de ter bloqueado todas as tentativas de negociações realizadas.

As consequências da queda da Ucrânia

Para Zelensky, falta ao governo Lula "prever as consequências de uma [eventual] queda da Ucrânia".

"Isso faria com que existisse uma alta probabilidade de que países pequenos possam ser suprimidos por países grandes", afirmou.

sábado, 1 de junho de 2024

REVISTA ANTÍTESES. Dossiê “Brasil e América Latina na Segunda Guerra Mundial”

REVISTA ANTÍTESES. 

Dossiê “Brasil e América Latina na Segunda Guerra Mundial” 

Vol. 17, n. 34, jul.-dez. 2024 - Submissões abertas até 31 de agosto de 2024


Neste dossiê são estimuladas contribuições que abordem o envolvimento do Brasil e da América Latina na Segunda Guerra Mundial, nas mais variadas dimensões: militares, relações exteriores, culturais, políticas, econômicas, cotidianas, gênero, memórias etc. Além do período da guerra em si (1939-1945), serão aceitos para avaliação artigos que façam referências à preparação para o conflito e ao pós-guerra imediato.

Artigos podem ser enviados em inglês, francês, espanhol e português

Maiores informações acesse: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/antiteses