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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 27 de outubro de 2024

Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira - Paulo Roberto de Almeida

 Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para a próxima edição de Intelectuais na Diplomacia Brasileira, duas obras essenciais sobre a contribuição diplomática e cultural dos intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira.

Desde quando foi publicado o livro organizado pelo saudoso embaixador Alberto da Costa e Silva, O Itamaraty na Cultura Brasileira (Brasília: Instituto Rio Branco, 2001; sumário ao final da postagem), fiquei fascinado pela amplitude da informação e análise das obras de alguns grandes nomes que enalteceram a diplomacia brasileira. Muitos deles, ou a maioria, se tornaram conhecidos não tanto pelos telegramas e ofícios preparados no exercício de suas funções oficiais, mas em lides paralelas, de caráter literário, cultural ou científico, atividades voluntárias (ou seja, não comandadas pela profissão que escolheram ou à qual se devotaram) que marcaram suas vidas na cultura brasileira como um todo, não apenas do lado da política externa ou da diplomacia.

Eu havia tomado conhecimento da preparação dessa obra antes mesmo de sua publicação, pois que, lotado na embaixada em Washington, recebi, em 2000, o historiador Carlos Guilherme Mota, que estava preparando o seu capítulo sobre o grande historiador diplomático Manuel de Oliveira Lima: tive o prazer de acompanhá-lo na visita à Biblioteca Oliveira Lima – na Catholic University of America, sempre frequentada por mim, desde os primeiros dias de estada na capital americana –, assim como ao cemitério Mount Olivet, no qual há uma tumba não identificada, cuja lápide contém apenas estas palavras: “Aqui jaz um amigo dos livros” (devo ter fotos que fiz em visita anterior, em alguma pasta de computador).

Desde a publicação da luxuosa primeira edição, eu aspirava por uma edição mais popular, facilitando o acesso a um público mais vasto do conteúdo da magnífica obra, prefaciada pelo chanceler Celso Lafer – mas sua encomenda e preparação tinham sido iniciadas sob a gestão do chanceler Luiz Felipe Lampreia –, o que foi felizmente efetuado logo no ano seguinte, pela Editora Francisco Alves, a mais antiga, longeva e educativa editora brasileira. Desde essa época, eu imaginava que a obra poderia ser complementada pela inclusão de novos nomes à lista – sobremodo restrita; apenas 18 nomes, um capítulo duplo e dois capítulos para o grande Vinicius de Moraes, merecedor –, alguns deles já sugeridos na própria introdução de Costa e Silva, como Euclides da Cunha, por exemplo (depois objeto de uma belíssima biografia por meu colega e amigo, o historiador Luiz Cláudio Villafañe Gomes Santos), outros em cogitação por ele mesmo, e por mim, já encantado com o empreendimento. A edição da Francisco Alves, em formato brochura (e, portanto, mais acessível), tinha até um capítulo a mais, uma complementação feita pelo diplomata José Roberto de Andrade Filho, de notas sobre a evolução da carreira diplomática, intitulado “Diplomacia no tempo”, ademais de uma quarta capa assinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, sem cargos na Secretaria de Estado durante largos anos, só pude iniciar meu projeto quando assumi, em agosto de 2016, o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, passando a desenvolver, até o final de 2018, um programa basicamente cultural e intelectual, bem mais do que diplomático-funcional.

Nasceu então o projeto que me ocuparia pelos dois anos seguintes, e que teve de aguardar mais quatro ou cinco, até que as condições ideais se apresentassem para uma boa edição voltada para o público em geral. Numa primeira fase, cogitou-se de uma terceira edição à obra original de 2001, embora sem a belíssima iconografia daquela, inclusive por razões orçamentárias. A ideia era a de reproduzir os textos dedicados aos dezoito autores constantes da edição organizada pelo embaixador Costa Silva, complementando-a por mais alguns nomes que tinha falecido nos anos subsequentes ao infeliz e precoce desaparecimento de José Guilherme Merquior (1991). Depois de um cuidadoso exame dos “candidatos” à inclusão nessa projetada 3a. edição, trabalho conduzido em consulta ao próprio Costa e Silva – a quem ofereci a coordenação desse volume complementar – e em conjunto com meus colegas do IPRI, Rogerio de Souza Farias, Antonio de Moraes Mesplé e Marco Tulio Scarpelli Cabral, nos fixamos inicialmente nos seguintes nomes: Wladimir Murtinho (entregue a seu grande amigo Rubens Ricupero); Vasco Mariz (para quem a autora convidada foi Mary Del Priore, sugerida pelo próprio Costa e Silva); Sergio Corrêa da Costa (assumido por quem o admirava, o próprio Antônio de Moraes Mesplé); Lauro Escorel (sendo Rogerio de Souza Farias o voluntário para a pesquisa); Meira Penna (a cargo de seu amigo e admirador Ricardo Velez Rodriguez), e Roberto Campos, sob minha própria responsabilidade, uma vez que eu já estava organizando O Homem que Pensou o Brasil (Appris, 2017), para comemorar o centenário de seu nascimento.

O projeto teve idas e vindas nos dois anos que antecederam o novo governo que sairia das eleições presidenciais de 2018, ao sabor das disponibilidades orçamentárias da Funag e da própria preparação dos originais pelos autores convidados. Eu mesmo pretendia que a nova edição tivesse uma repetição, no caso um novo capítulo dedicado a José Guilherme Merquior, por considerar que a bela contribuição do editor José Mario Pereira mais seguia a trajetória diplomática e editorial do grande intelectual eclético do que propriamente fazia a análise de sua contribuição à cultura brasileira. Num determinado momento, já avançado o projeto, e com a entrega de diversas contribuições naqueles primeiros nomes, consideramos que uma terceira edição incorreria em diversos obstáculos práticos e propriamente editoriais, com o que se cogitou de fazer uma obra independente, a partir de cuja opção se decidiu incorporar novos nomes, não exatamente de diplomatas profissionais, mas de personagens da vida política e cultural brasileira que tinham colaborado com a diplomacia, a um título ou outro. Estavam nessa categoria, por exemplo, Rui Barbosa, Afonso Arinos de Melo Franco, San Tiago Dantas, assim como a cientista Bertha Lutz, a única mulher finalmente incorporada ao time de novos representantes da diplomacia cultural. Também foi incluído o nome do filósofo e ensaísta Sergio Paulo Rouanet, falecido posteriormente à preparação dos novos originais.

O processo editorial enfrentou escolhos de tipos diversos, até que finalmente se obteve o apoio da diretora da Editora da Unifesp, Mirhiane Mendes Abreu, assim como a aceitação da nova edição por parte de Carlos Leal, o editor da Francisco Alves, já responsável pela 2a edição do livro original que inspirou esta obra, assim como de várias outras obras de cunho diplomático. Transcrevo a seguir o sumário da edição de 2001 – livro cujo conteúdo disponibilizei num arquivo reformatado na plataforma Academia.edu – e o sumário da obra que, finalmente, será publicado proximamente. Aproveito para, mais uma vez, desculpar-me junto aos primeiros colaboradores pelo longo tempo decorrido desde os idos de 2017, assim como para agradecer aos novos colaboradores – sobretudo ao chanceler Celso Lafer, em sua qualidade de duplo prefaciador – de uma obra que merece continuidade pela incorporação de novos nomes, diplomatas profissionais ou de “ocasião”, que abrilhantaram, diplomaticamente e culturalmente, o universo brasileiro da diplomacia de alto nível intelectual.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4771, 27 outubro 2024, 4 p.

 

Sumários de dois livros num mesmo universo

 

O Itamaraty na Cultura Brasileira

Organizador: Alberto da Costa e Silva

1ª edição, Brasília: Instituto Rio Branco, 2001 (edicão de luxo, ilustrada)

 

O Itamaraty na cultura brasileira - Celso Lafer

Diplomacia e cultura - Aberto da Costa e Silva (organizador)

Varnhagen, história e diplomacia – Arno Wehling

Brazílio Itiberê da Cunha. Músico e diplomata  - Celso Tarso Pereira

Joaquim Nabuco - Evaldo Cabral de Mello

Luiz Guimarães Júnior e Luiz Guimarães Filho – Sergio Marzagão Gesteira

Aluízio Azevedo: A literatura como destino – Massaud Moisés

Domício da Gama – Alberto Venâncio Filho

Oliveira Lima e nossa formação – Carlos Guilherme Mota

Gilberto Amado: além do brilho – André Seffrin

A vida breve de Ronald de Carvalho - Alexei Bueno

Ribeiro Couto, o poeta do exílio - Afonso Arinos, filho

Viagem a Beira de Bopp - Antonio Carlos Secchin

Guimarães Rosa, viajante - Felipe Fortuna

Antônio Houaiss, cultura brasileira e língua portuguesa –- Leodegario Azevedo

Vinícius de Moraes: o poeta da proximidade - Miguel Sanches Neto

Vinícius, poeta e diplomata, na música popular - Ricardo Cravo Albin

João Cabral, um mestre sem herdeiros - Ivan Junqueira

O fenômeno Merquior - José Mário Pereira

 

2ª edição: Editora Francisco Alves, edicão brochura; Rio de Janeiro, 2002

Acréscimo do capítulo final: “Diplomacia no tempo: notas sobre a evolução da carreira diplomática”, por José Roberto de Andrade Filho

 

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Intelectuais na diplomacia brasileira: A cultura a serviço da nação

Organizador: Paulo Roberto de Almeida

Próxima publicação: São Paulo: Editora da Unifesp; Rio de Janeiro: Francisco Alves

 

Prefácio - Celso Lafer

Apresentação: intelectuais brasileiros a serviço da diplomacia - Paulo Roberto de Almeida

Bertha Lutz: feminista, educadora, cientista - Sarah Venites

Afonso Arinos de Melo Franco e a política externa independente - Paulo Roberto de Almeida

San Tiago Dantas e a oxigenação da política externa - Marcílio Marques Moreira

Roberto Campos: um humanista da economia na diplomacia - Paulo Roberto de Almeida

Meira Penna: um liberal crítico do Estado patrimonial brasileiro - Ricardo Vélez-Rodríguez

Lauro Escorel: um crítico engajado - Rogério de Souza Farias

Sergio Corrêa da Costa: diplomata, historiador e ensaísta - Antonio de Moraes Mesplé

Wladimir Murtinho: Brasília e a diplomacia da cultura brasileira - Rubens Ricupero

Vasco Mariz: meu tipo inesquecível - Mary Del Priore

José Guilherme Merquior, o diplomata e as relações internacionais - Gelson Fonseca Jr.

A coruja e o sambódromo: sobre o pensamento de Sergio Paulo Rouanet - João Almino

 

Apêndices:

1. O Itamaraty na cultura brasileira (2001), sumário da obra

2. Introdução de Alberto da Costa e Silva à edição de 2001

3. Alberto da Costa e Silva (1931-2023): Homenagem ao diplomata, poeta, historiador e ensaísta - Celso Lafer

 

Sobre os intelectuais na diplomacia

Sobre os autores

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 4771. “Dois livros sobre intelectuais na diplomacia brasileira”, Brasília, 27 outubro 2024, 3 p. Nota contendo os sumários do livro publicado em 2001, O Itamaraty na Cultura Brasileira, e do livro preparado para próxima edição, Intelectuais na Diplomacia Brasileira, duas obras essenciais sobre o tema dos grandes intelectuais que moldaram o perfil intelectual do Itamaraty e da própria sociedade brasileira. Postado no blog Diplomatizzando, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/10/dois-livros-sobre-intelectuais-na.html

 

Ibn al-Haytham’s scientific method - ShaikhMohammad Razaullah Ansari (Unesco Courier)

 

Ibn al-Haytham’s scientific method

During the International Year of Light 2015, Ibn al-Haytham was celebrated at UNESCO as a pioneer of modern optics. He was a forerunner to Galileo as a physicist, almost five centuries earlier, according to Prof. S.M. Razaullah Ansari (India). Also known as Alhazen, this brilliant Arab scholar from the 10th – 11th century, made significant contributions to the principles of optics, astronomy and mathematics, and developed his own methodology: experimentation as another mode of proving the basic hypothesis or premise.

by Shaikh Mohammad Razaullah Ansari

Abū Ali al-Ḥasan Ibn al-Haytham al-Baṣrī (965-1040), known in European Middle Ages by the name of Alhazen, was called among Arab scholars as ‘Second Ptolemy’ (Baṭlamyūs Thānī). He was actually a scholar of many disciplines: Mathematics, physics, mechanics, astronomy, philosophy and medicine. He was one of the senior most member of the Muslim scholars’ trio during 10th -11th centuries, the other two were al-Bīrūnī (973-1048) and Ibn Sīnā (980–1037).

From Basra, Ibn al- Haytham shifted to Cairo, where the Fatimid Caliph al-Ḥākim had invited him. The Caliph was a great patron of scientist-scholars, he got built an observatory for the astronomer Ibn Yūnus (d.1009)  and he founded a library Dār al–ʻIlm, whose fame almost equaled that of its precursor at Baghdad, Bayt al- Ḥikma(the House of Wisdom), established by the Abbasid Caliph al-Mā’mūn (reigned 813 – 833).

Ibn al-Haytham was a prolific writer. According to his own testimony, he wrote 25 works on mathematical sciences, 44 works on (Aristotelian) physics and metaphysics, also on meteorology and psychology. Moreover, his autobiographical sketch indicates clearly that he studied very thoroughly Aristotle’s (natural) philosophy, logic and metaphysics of which he gave a concise account.

His most famous book in Arabic was on optics, Kitāb fī al-Manāẓir, in Latin Opticae Thesaurus, which was translated anonymously in the 12th /13th century. It deals, in seven volumes, with experimental and mathematical study of the properties of light. Ibn al-Haytham’s Discourse on Light and tracts On the Light of Stars, On the Light of the Moon and On the Halo and the Rainbow are the main sources from which his working method can be deduced.

In the sequel, I exemplify the main features of Ibn al-Haytham’s method as the design of experiment in order to test a hypothesis, and not using it just for observation or discovery as used by his predecessors.

Scientific method: what does it mean?

The two well known characteristics of the modern scientific method are the theory building and experimentation.While the former is actually a sort of mathematical modeling of observational facts, the latter is not only just observation of a phenomena experimentally, but also includes in it the experimental proof of a hypothesis

regrading the phenomena in question. In other words, an experiment is designed to test the hypothesis on which the mathematical theory is actually based.

Recall here that Einstein in his General Relativity (or Theory of Gravitation) predicted that light bends by a large mass of matter by its gravitation like any matter. This hypothesis or deduction of his theory was tested in 1919, 1922, 1947 and 1952 during total eclipses of the Sun. The light of stars located behind the Sun is bent by the mass of the Sun, and could be observed clearly.

In all textbooks of the western world, the Italian physicist Galileo Galilee ( 1564–1642) is presented as the father of this scientific method. The historian of science, A.C. Crombie states in Augustine to Galileo (paperback Mercury Books, 1964) : “ Galilee combined ... his experimental method with the mathematical abstraction [expressed as mathematical equation] of observed regularities ... from which the observation could be deduced”.

The two medieval European scholars who were actually the main predecessors of Galilee are Robert Grosseteste (d.1253), and Roger Bacon (d.1294).

Robert Grosseteste was the teacher of Roger Bacon, whose sources for optics were Euclid, Ibn Sina’s Al- Qānūn, and al–Kindī’s Optics: Libre de aspectibus, the Arabic text of which is not extant. The Latin translation by the Spanish Gerard of Cremona was carried out in the 12th c. Robert propounded his theory of falsification of causes , i.e. experimental proof of testing rival hypotheses or mathematical models.

Roger Bacon’s main scientific work was in optics, with the title Opus Maius , and in the sixth chapter of which Roger exemplified the Scientia Experimentalis, i.e., his theory of science and scientific method. His sources were al–Kindi (d. ca.873) , Ibn Sīnā, Ibn al–Haytham , Ibn Rushd (d. 1198). According to Crombie (Robert Grossteste, and the Origins of Experimental Science, Clarendon Press, Oxford, 1953), “ Ibn al-Haytham’s few optical writings were translated anonymously [already] at the end of the 12th / beginning of the 13th century”.

According to the famous German scholar, Anneliese Maier (1905–1971), who analyzed the thoughts of 14th c. natural philosophers and scholastic science, in his book The    Predecessors of Galilei in Fourteenth Century(Rome, 1949), “the scientific revolution should not to be interpreted as a linear historical process [emphasis mine] initiated by Galileo’s innovation in mechanics and the increased use of experimentation thereafter”. In the 17th century scholars adopted many ideas from their scholastic predecessors.

Testing Hypothesis Experimentally

The following hypotheses were tested by Ibn al-Haytham, for which he devised special experiments for various types of lights: Sunlight, twilight/morning light, reflected light from polished surfaces and from opaque bodies, refracted/transmitted light.  

Rule 1. Rectilinear propagation of light irrespective of their source of emission.

Rule 2. “Every point of a luminous object ...radiates light along every straight line ... spherically,... I mean in all direction”. A result of this rule proves that the Sun, and even an artificial light source, radiates light from all its part.

On the basis of his experimental results, Ibn al-Haytham classified light sources into three types: luminous, reflecting and transmitting sources. Consequently, he applied his classification to the moon. In his tract: On the Light of the Moon, he investigated the nature of the moonlight and concluded that “ the experiment ... serve to prove that the mode of transmission from the moon is of the same kind as the already known mode of emission from self-luminous objects”.

In his Discourse on Light, Ibn al-Haytham presented his theory of light and particularly the definition of a physical ray. Besides he presented a dynamic concept of refraction of light, that is light is a movement of sort, with its reduced velocity in a denser medium. Further he went one more step and stated “that the path assumed by a refracted ray ... is always the one which is the easier and quicker”. Thus Ibn al-Haytham anticipated the so-called Fermat’s principle of Least Time (the path taken between two points by a ray of light is the path that can be traversed in the least time). Moreover, he discussed also the relation between light and heat.

Using his own designed instruments for investigating reflection and refraction, Ibn al-Haytham found eight rules of refraction.

Mathematisation of Physical Problems

Recall that Ibn al-Haytham substituted beams of light by straight lines and light sources by surfaces from the points of which straight lines originates in all direction (Rule 2 mentioned above). Despite the fact, that this sort of abstraction was known to his Greek predecessors, yet his major achievement lies actually in investigating the functional relationship between his mathematical abstraction and experiment.

Precisely speaking his methodology was the systematic use of experimentation for individual physical phenomena and at the same time the use of mathematical (or functional) representation of the physical phenomenon in question. For instance, in his theory of refraction, the property of transparency of the medium – today defined by refractive index) is related to with the angle of deviation of the refracted ray. In this sense Ibn al-Haytham was surely a forerunner to Galileo as a physicist, almost five centuries earlier.

Views on Authorities

It is by now quite known that the substitution of geocentric system of planets by heliocentric system of the world, as propounded by Copernicus (d.1543) and following him Galileo’s Book: Dialogue Concerning the Two Chief World Systems, the belief in authorities was undermined and questioned. The final blow to this overthrow came by Rene Descartes (d.1650), with his famous book: Discourse de la Methode (Leiden 1637), in which he addressed those scholars “ who profit solely by their natural pure intellect [and refuse to] have faith merely in ancient books, i.e., without contrasting authority  with experience and experiment”.

It is astonishing, that Ibn al-Haytham advocated exactly the same research methodology. In his tract, Doubts on Ptolemy, he wrote:

“Truth is sought for its own sake ... It is not the person who studies the books of his predecessors and gives a free rein to his natural disposition to regard them favourably, who is the seeker after truth. But rather the person who is thinking about them [and] is filled with doubts .. .who follows proof and demonstration rather than the assertion of a man whose natural disposition is characterised by all kind of defects and shortcoming.... A person who studies scientific books with a view to knowing the truth, ought to turn himself into a hostile critic of everything that he studies ... if he takes this course, the truth will be revealed to him and the flaws ... in the writings of his predecessors will stand out clearly”.

To sum up, it may be recalled that Ibn al-Haytham had to concentrate on the refinement and sophistication of antique methods of empirical observations, thereby developing his own methodology: experimentation as another mode of proving the basic hypothesis or premise.

The Irony of Islamic Middle ages

I would like to conclude on a despairing note by pointing to the irony of Islamic Middle ages in which even a practical science of optics remained in oblivion, despite thoroughly researched by Ibn al-Haytham. Strangely enough only one commentary on Ibn al-Haytham’s Optics was written in three centuries.

On the other hand, during the so-called ‘dark ages’ in Europe, Ibn al-Haytham’s optical Opus was immortalised by the English poet Geoffrey Chaucer (1320-1400) in “The Squire's Tale” (Canterbury Tales):

“They spoke of Alhazen and Vitello,

And Aristotle, who wrote, in their lives,  

On strange mirrors and optical instruments”.

Here Alocean refers to Ibn al-Haytham’s (Alhazen/Alhacen is the latinised form of Al-Ḥasan), and Vitello, to the Polonis scholar Witelo (13th c.) whose book on optics is based substantially on Ibn al-Haytham’s Optics. It was attached to the Risner’s edition of Opticae Thesaurus. Witelo’s treatise contributed a good deal in transmitting the essentials of optical researches of Middle Ages down to Kepler and Descartes in the seventeenth century. Consequently the optics and its bye-product, the scientific method, indicate a continuity of development of sort during the sixteenth and seventeenth centuries Europe, which centuries are wrongly considered as a revolutionary period or a break from the past, thanks to the genius of al-Ḥasan Ibn al-Haytham.

Learn more about light in the Courier 

Read also Over the Moon, by Hatim Salih.

The Unesco Courier,  July-August 2009


ABOUT THE AUTHORS

Emeritus Professor of Physics at the Aligarh Muslim University, Aligarh (India), S.M. Razaullah Ansari has also chaired the International Commission for Science and Technology in the Islamic World.

Ansari’s major work is the critical edition of Zîj-i Muhammad Shâhî, the astronomical-mathematical tables in Persian got compiled by Rajah Sawai Jai Singh (18th c.), famous for his observatories with masonry instruments.

Another major project on which he has been working is the Descriptive Catalogue of Scientific Manuscripts in Arabic and Persian, extant in the libraries of erstwhile Indian Subcontinent. For that reason, he has been a Consultant during 2006-07 to the International Project: Islamic Scientific Manuscripts Initiative, sponsored by Max Planck Institut für Wissenschafts-Geschichte (Berlin) and Dept. of Islamic Studies of McGill University (Montreal).

S.M. Razaullah Ansari participated at The Islamic Golden Age of Science for actual knowledge-based society: The Ibn Al-Haytham example Conference held at UNESCO, on 14 September 2015.


sábado, 26 de outubro de 2024

Primeira Missão Diplomática à China - Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco (edição chinesa)



Primeira Missão Diplomática à China - Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco (edição chinesa)

Foi lançado na China esta semana o livro sobre a “Primeira Cincum-navegação brasileira e Primeira Missão Diplomática à China”, fatos ocorridos entre 1879 e 1882. Escrito por Marli Cristina Scomazzon e Jeff Franco a edição em português saiu em 2021 pela Dois por Quatro Editora.
O livro já tinha tido uma pequena edição em mandarim publicada em 2022, sob os auspícios da Embaixada brasileira em Cantão e um mecenas chinês e atraiu a atenção da Editora Blossom Press que resolveu apostar no livro e agora o coloca nas bancas na China. Em mandarim o título “Travessia”.
A Blossom Press foi fundada em 1982, é uma editora abrangente que visa promover a cultura chinesa e fornecer diversos conteúdos aos jovens na China e em todo o mundo. As principais funções da Blossom Press incluem a publicação de livros temáticos da cultura tradicional chinesa em vários idiomas; conduzir a cooperação internacional estabelecendo mais de 10 departamentos editoriais no exterior de livros com temas chineses com seus homólogos nos EUA, Rússia, Espanha e outros países.
A tradução é de Wei Ling ex-tradutora e editora da Rádio Internacional da China, membro do Comitê de Peritos do Exame de Certificação da China de Qualificação (Nível) Profissional para Tradutores e Intérpretes em português.

Pequeno Diretório de Autodestruição: Cuba e Venezuela

 Se vcs querem saber de dois exemplos concretos, de 2 paises que foram completamente destruídos pelo socialismo, não precisa ir muito longe: basta olhar para Cuba (70 anos) e para a Venezuela (22 anos); nada a ver com bloqueio ou sanções do imperialismo americano. 

A auto-destruição é própria; daí a emigração maciça, à exaustão. 

Os paises demorarão anos para se recompor, sobretudo no capital humano.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O Brics que interessa ao Brasil (OESP)

 O Brics que interessa ao Brasil

O Estado de S. Paulo | Notas & Informações
25 de outubro de 2024

NOTAS E INFORMAÇÕES
Cúpula mostra que há dois Brics: um dedicado a hostilizar o Ocidente e outro interessado em favorecer os emergentes onde quer que seja. Brasil, felizmente, parece ter escolhido o segundo.

 
Cúpula do Brics na Rússia expôs as duas facetas em tensão de um grupo em franca expansão. De um lado, sua faceta original de uma coalizão de economias emergentes buscando seu lugar ao sol; de outro, a nova faceta de um clube geopolítico de viés autocrático e antiocidental liderado por China e Rússia.


O tamanho impressiona. Ao quarteto Brasil, Rússia, China e Índia idealizado há 25 anos e logo acrescido pela África do Sul, juntaram-se em 2023 Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes (a Arábia Saudita ainda não confirmou a adesão). Agora, uma dúzia de países adquiriu o status de associada e outros 30 estão na fila. Hoje o grupo representa 45% da população do mundo e 35% do PIB, superando os 30% do G-7. Mas a expansão não implica automaticamente potência e pode até, a depender de seus desdobramentos, implicar debilidade.


A ampliação pode, em tese, sinalizar a emergência de uma nova ordem multipolar impulsionada por um movimento de países emergentes não alinhados, ou o alinhamento desses países em um polo hostil ao Ocidente. Mas superestimar essas possibilidades no curto prazo seria subestimar as incoerências do próprio grupo. No próprio Ocidente, há quem tenda à complacência com um grupo que é mais simbólico que prático e há quem se alarme com a ameaça de uma ordem pós-ocidental. Em ambos os casos, as novas configurações do grupo já não permitiram chamá-lo de um "bloco" ("bric" significa literalmente "tijolo" em inglês), mas ele seria mais como uma sopa de letrinhas (BRICSIEAUEE
) ou uma massa de manobra sino-russa. São destinos possíveis, mas ao Brasil não interessa nenhum deles, sobretudo o último.


Como disse Asli Aydintasbas, pesquisadora do think tank americano Brookings Institution, o Brics "não é um bloco coeso, mas é uma mensagem coesa, sobre o desejo de apresentar uma alternativa à ordem global". Ao Brasil interessa preservar o anseio legítimo dessa mensagem por uma governança global reformada, mais inclusiva e com mais soberania política e financeira, e, na medida do possível, conferir-lhe efetividade buscando justamente a coesão que falta ao bloco. Não é um caminho fácil diante da pressão sino-russa. Mas o País não está sozinho. A Índia, em especial, também busca uma política de não alinhamento, e as realidades internas e externas ao bloco oferecem limites às ambições de Pequim e Moscou.


Egito, Emirados Árabes e Arábia Saudita, por exemplo, são parceiros de segurança dos EUA no Oriente Médio. A superação da unipolaridade do dólar até seria, idealmente, desejável, mas isso exigiria instituições confiáveis e alinhamentos multilaterais baseados num Judiciário independente, transparência e accountability. No caso da alternativa plausível, o yuan chinês, Pequim precisaria abandonar seus controles de capital e seu modelo de vigilância estatal, mas essas cartas não estão na mesa.


O Brasil assume a presidência do Brics e deveria aproveitar a oportunidade para afirmar sua posição de equidistância e independência. A retomada do processo de adesão à OCDE, o grupo de democracias ricas, traria ganhos nesse sentido. Mas nesse caso os rancores juvenis do presidente Lula falam mais alto. No entanto, seu infeliz acidente doméstico foi um golpe de sorte que poupou a ele e ao País muitos constrangimentos na Rússia de Vladimir Putin. Em um lampejo de racionalidade o governo vetou a adesão da Venezuela e mostrou interesse na integração da Turquia, que também favoreceria a ala dos não alinhados. O interesse da China na adesão do Brasil à Rota da Seda também pode dar alavancagem ao País para promover seus interesses no Brics. Concretamente, o Brasil, na presidência, poderia trabalhar para que o grupo ao menos estabeleça critérios de adesão coerentes e transparentes.


Lula já disse que o Brics é "contra ninguém". Seu histórico de ações exige que se tomem essas palavras com cautela. Mas a atuação do Brasil na última cúpula oferece alguma esperança de que as engrenagens profissionais do Itamaraty estão operando a favor de uma atuação racional em busca dos interesses do Brasil e pelo bem do próprio Brics.



Brics e anti-Brics - Guilherme Casarões e Paulo Roberto de Almeida

 Primeiro a postagem de Guilherme Casarões:

“ No Jornal Nacional de ontem, falei dos desafios brasileiros diante de um BRICS ampliado e mais assertivo. A reunião de Kazan, na Rússia, mostra que Putin não está isolado. Ele recebeu 36 autoridades estrangeiras e fez um discurso de confrontação ao Ocidente. Nada menos que 13 países foram admitidos como parceiros do bloco.

Quando os BRICS foram criados, em meados dos anos 2000, o grupo era uma espécie de "clube de potências emergentes". O peso econômico e diplomático de Brasil, Rússia, Índia e China (e, mais tarde, África do Sul) era o que mantinha o bloco coeso. O objetivo comum era reformar o multateralismo financeiro e político, trazendo-lhes mais protagonismo global.

O mundo mudou e o bloco também. Ainda que a democracia nunca tenha sido característica central dos BRICS, hoje seus membros são majoritariamente autoritários. Por outro lado, o bloco está bem mais representativo do chamado "Sul Global". Não surpreende que muitos vejam os BRICS como uma aliança anti-ocidental.

Ao Brasil, que consegue manter um equilíbrio estratégico entre visões de mundo ocidentais e, digamos, pós-ocidentais, cabe trazer ao debate dos BRICS temas urgentes da política mundial, como emergência climática e reforma da governança global.

Esse é um dos grandes desafios da política externa brasileira: pensar os BRICS como um espaço propositivo, de cooperação, para não só garantir a relevância do bloco, mas também sua própria relevância dentro do bloco.

Só precisa combinar com os russos...”


Agora, o meu comentário:

“Permito-me dizer que foram admitidos 13,5 novos membros, pois que a oposição puramente “vingativa” do Brasil à Venezuela, foi contrariada pelo acolhimento extremamente simpático de Putin a Maduro, o que significa que ela já está meio dentro.

Espaço propositivo de reforma ainda precisa ser provado, pois o que apareceu até aqui foram contra-propostas, contra a ordem global que trouxe prosperidade ao mundo, por exemplo. O que trouxeram os Brics até aqui? Guerras e ameaças de guerras, e promessa de desmantelamento do que foi criado ao cabo da maior guerra da humanidade até aqui. Por acaso seus dois membros mais importantes querem trazer mais alguma? Para destruir e matar? Foi o que fez a maior potência bélica da Eurasia, chantageando o mundo com uma guerra nuclear. 

O maior desafio ao Brasil vinda da equivocada diplomacia lulopetista não é o de demonstrar a relevância do Brics ao mundo, mas sim o de superar a irrelevância do Brics para o desenvolvimento democrático do Brasil e do mundo.

Sorry, mas esse culto do estatismo e do autoritarismo não combina com padrões tradicionais da diplomacia brasileira. Os propósitos do Brics russo-chinês NÃO TÊM NADA A VER com o espirito e os objetivos do BRIC original de Jim O’Neill, que deve estar horrorizado com a sua configuração atual e seus objetivos contra-natureza. Apenas amigos de ditaduras podem apreciar a composição atual dessa força maligna para o progresso democrático da humanidade.

Não, Putin não está isolado. Por incrível que pareça, não só dezenas de dirigentes que desprezam o Direito Internacional, e ATÉ O SG-ONU, acharam por bem prestigiar um ditador criminoso de guerra e procurado por crimes contra a humanidade pelo TPI. Isso deveria nos fazer questionar certos retrocessos morais da humanidade, inclusive do próprio Brasil. Um momento lamentável da diplomacia lulo-petista, que projeta seu lado sombrio sobre a diplomacia profissional.

Certas coisas precisam ser ditas, para que não se pense que a diplomacia profissional só tem gente submissa a certos absurdos que vêm de cima.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 25/10/2024“



quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Crise econômica da Bolívia, que acontece em câmera lenta, está acelerando - The Economist

 Mais um pais do Mercosul em crise, desta vez a Bolivia: o Brasil virá em seu socorro? PRA

Crise econômica da Bolívia, que acontece em câmera lenta, está acelerando

Dólares e gasolina são escassos, e o crescimento é fraco

La Paz (Bolívia)

The Economist, 22/10/2024

Caminhonetes carregando tambores de combustível vazios estão alinhadas do lado de fora de um posto de gasolina ao lado de um campo de soja em Santa Cruz, na Bolívia. O atendente diz que a fila não se move há dias: não há diesel. Tem sido assim, intermitentemente, por dois meses. "E a semeadura de verão está prestes a começar", suspira ele.

A política boliviana é confusa —em junho houve uma tentativa de golpe por um general rebelde. A economia também é caótica. Em fevereiro de 2023, com poucos dólares, o banco central parou de publicar relatórios semanais sobre suas reservas. Desde então, o governo tem juntado dólares mês a mês.

Enquanto isso, a diferença entre as taxas de câmbio oficial e do mercado ilegal se alarga. Produtos importados estão cada vez mais escassos e os preços estão subindo. É uma crise cambial em câmera lenta. Os bolivianos estão se preparando para uma desvalorização.

O Movimento ao Socialismo (MAS) governou a Bolívia por todos os anos, exceto um, desde 2006. Parte desse período viu notável estabilidade e crescimento. Uma taxa de câmbio fixa, energia e alimentos subsidiados e um forte investimento público são os pilares do modelo econômico do MAS. O estado pagou por tudo isso usando dólares ganhos com a exportação de gás natural para o Brasil e a Argentina.

Então o modelo perdeu força. Os preços caíram quando o boom das commodities terminou. A produção caiu quando a empresa estatal de gás parou de perfurar poços. As reservas internacionais, que eram de US$ 15 bilhões (R$ 85,3 bilhões) em 2014, caíram para cerca de US$ 2 bilhões (R$ 11,3 bilhões), com apenas US$ 153 milhões (R$ 870 milhões). O estado agora luta para pagar pelas importações de combustível.

E assim, uma economia construída sobre dólares e combustível baratos não pode mais contar com nenhum dos dois. O resultado é uma "agonia prolongada", diz José Luis Exeni, analista político. Importadores estão esgotando estoques e aumentando preços. Supermercados têm prateleiras vazias e funcionários ociosos. Exportadores, lutando para obter insumos, estão produzindo menos.

Outdoors mostrando Luis Arce, o presidente, pilotando um avião, com slogans exaltando a estabilidade macroeconômica, foram retirados. O FMI prevê um crescimento do PIB de 1,6% este ano, o mais baixo em duas décadas (excluindo o primeiro ano da pandemia). Dois anos atrás, o MAS se gabava de que a inflação da Bolívia era a mais baixa da região. Agora está entre as mais altas.

Em resposta, o governo está sendo puxado em duas direções ao mesmo tempo. Em reuniões com o setor privado, fala-se em liberalizar as exportações agrícolas e mudar a lei para atrair investimentos em petróleo e gás. Enquanto isso, os sindicatos querem que o governo force os exportadores a repatriarem mais dos dólares que ganham. Giovanni Ortuño, presidente de um lobby empresarial boliviano, diz que Arce lhes assegurou que o governo não seguirá esse caminho. Mas em público, ele não descarta essa possibilidade.

Coagir exportadores não resolveria os problemas econômicos críticos. Isso requer alterar a taxa de câmbio e o subsídio ao combustível; o preço da gasolina está fixado em cerca de US$ 0,50 por litro desde 2004. Também pode significar um empréstimo do FMI e uma liberalização econômica mais ampla. Mas o MAS considera tais reformas contrárias aos seus princípios. "Eles não são pragmáticos. Eles são altamente dogmáticos", avalia a economista Beatriz Muriel.

A política já era instável antes do golpe em junho. Evo Morales, ex-presidente, está lutando para ser o candidato do MAS na eleição presidencial do próximo ano. O governo de Arce está imobilizado, porque não pode contar com legisladores leais a Morales. Aproximadamente US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) em empréstimos de bancos de desenvolvimento, equivalentes a cerca de 2% do PIB, aguardam aprovação do Congresso.

Arce parece estar tentando continuar até a eleição do próximo ano sem realizar mudanças dolorosas, porém necessárias. Mas os eleitores da classe trabalhadora —o núcleo do eleitorado do MAS— começaram a protestar. "Escassez e aumentos de preços; queda do poder de compra e aumento da pobreza; deterioração do humor social. A questão é quando e como isso se transformará em conflito nas ruas", diz Gabriel Espinoza, ex-diretor do banco central da Bolívia.


Historical Evolution of China - A discussion with Yasheng Huang, led by Lily Ottinger and Jordan Schneider (China Talk)

Historical Evolution of China A discussion with Yasheng Huang Led by Lily Ottinger and Jordan Schneider China Talk In three parts: 1. Autocracy and Stagnation: How Imperial Exams Shaped China's Destiny 2. Imperial Legacy: 1949 to Xi's Rise 3. Imperial Legacy Part 2: 1949 to Xi's Death Conclusion of the First Part: For those concerned with economic growth, development, technology, and science, China should celebrate diversity rather than suppress it. The evidence from China’s own history supports this conclusion. Read the complete Discussion in this file of my Academia.edu: https://www.academia.edu/124962688/Historical_Evolution_of_China_Yasheng_Huang_Lily_Ottinger_Jordan_Schneider_China_Talk_

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Essas janelas russa andam muito abertas sob Putin - Newsweek (2023)

Full List of Russians to Fall Out of Windows Since Putin Invaded Ukraine 

Newsweek, Feb 16, 2023 at 11:32 AM EST (depois disso varios outros se deixaram atrair pelas janelas) 

 

Marina Yankina, a Russian defense official, was found dead on Wednesday morning after falling from a window in St. Petersburg, according to local media reports. The death of the 58-year-old, who headed the Financial Support Department of the Russian Defense Ministry in St. Petersburg's Western Military District, is the latest in a series of mysterious deaths involving prominent Russian figures since President Vladimir Putin's forces invaded Ukraine last February. Here is a full list of all the Russian officials who have died after falling out of windows since the war began.

Merquior no Mexico, org. Mauricio Lyrio e Luiz Feldman

 Um livro essencial para focalizar a ação especificamente diplomática, mas sempre intelectual, do mais brilhante dos diplomatas brasileiros, nesta obra de textos feitos durante e a proposito de sua estada como embaixador no México, coletânea excepcional organizada por meus colegas Mauricio Lyrio e Luiz Feldman.

 

O Império do Brasil, escravagista, analfabeto e estagnado, livro de José Roberto Novaes de Almeida

Lançamento, nesta terça-feira 22/10/2024, deste livro do ex-diretor da área internacional do BC e professor de História Econômica Geral e do Brasil na UnB, José Roberto Novaes de Almeida, sobre o triste itinerário do Brasil no século XIX, diagnóstico já evidente em seu subtitulo, um quadro de atraso letárgico. Vou ler e fazer uma resenha.

O Brics e o movimento anti-Ocidente - Rubens Barbosa (OESP)

Opinião: 

O Brics e o movimento anti-Ocidente 

O Brasil deveria aproveitar a presidência do bloco em 2025 e enunciar sua posição de equidistância dos antagonismos em formação, na defesa de seus interesses 

 Rubens Barbosa 

O Estado de S. Paulo, 22/10/2024

A reunião do Brics, que se realiza as partir de hoje em Kazan, na Rússia, marca uma nova etapa na trajetória do grupo. Criado em 2006, por iniciativa da Rússia, o bloco foi constituído por Brasil, China, Índia e Rússia, e pouco depois incorporou a África do Sul. Em setembro de 2023, por influência da China, passaram a fazer parte também Emirados Árabes, Egito, Irã, Arábia Saudita, Etiópia. A participação do Brics na economia global é uma consequência de seu peso econômico (32,1% do PIB global contra os 29,9% do G-7, metade da população mundial e 25% do comércio internacional). 

A China tornou-se a segunda potência global, a Índia e o Brasil estão entre as dez maiores economias do mundo, a Rússia é uma potência nuclear e a África do Sul, a maior economia da África. A gradual ampliação dos países participantes no Brics era previsível a partir do momento em que a China convenceu o Brasil e a Índia a aceitar a inclusão de novos membros. Por iniciativa da China, em Kazan, será criada a categoria de parceiros do Brics para os novos membros, com a possível fixação de alguns critérios, como a representação geográfica, a oposição a sanções econômicas unilaterais, o apoio a reforma da ONU, especialmente a do Conselho de Segurança. Apesar das dificuldades criadas com a guerra da Rússia com a Ucrânia e da crescente tensão entre a China e os EUA, o interesse dos países em se juntar ao Brics, estimulado por Pequim, cresceu fortemente nos últimos meses, e 35 países (inclusive o Afeganistão, do Taleban) estão pleiteando a participação no grupo. 

Na reunião presidencial da Rússia, mais dez países deverão ser aceitos pelo Brics, entre eles são mencionados Cuba, Venezuela, Bolívia, Bielorrússia. A decisão de dobrar o número de participantes de todos os continentes, sob a liderança da China, com a inclusão de países autoritários e de viés anti-EUA, está tornando o Brics o embrião de um movimento antiocidental. Com o predomínio da China, o movimento tende a se ampliar com a grande maioria dos países com uma postura antiamericana e com viés pró-Rússia. A China e a Rússia veem o grupo como um ponto de confrontação com o Ocidente, como a inclusão do Irã evidencia. A contraposição ao Ocidente (conjunto de países sem delimitação geográfica, integrado pelos EUA, Europa, Japão, Austrália e outros países em todos os continentes) não é ideológica ou militar, mas de princípios, valores, na economia, nas finanças e nos avanços tecnológicos. A tendência de divisão do mundo entre Ocidente e o movimento antiocidental está aí para ficar. As implicações geopolíticas são evidentes e poderosas. 

A guerra da Rússia na Ucrânia representou um problema para o Brics, como originalmente concebido, pois um país-membro passou a ser visto como um inimigo ocidental, o que inevitavelmente contaminou a percepção política sobre o grupo. Embora sem uma agenda comum, os países-membros do Brics passaram a ampliar suas relações, tornaram-se mais conhecidos e passaram a coordenar suas ações nos organismos multilaterais, como a ONU, em temas de interesse comum. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento foi o primeiro sinal de uma nova governança global, e a plataforma de desafio à hegemonia do dólar nas trocas comerciais, com a utilização do renminbi ou moedas locais, é outro indício da contestação em marcha, com previsível reação norte-americana, evidenciada pela ameaça de Donald Trump de taxar em 100% os produtos de países que aderirem. Apesar de existir o potencial para influir ao longo dos anos na governança global, as limitações internas e externas do grupo dificultam a ideia de se tornar uma efetiva alternativa à ordem ocidental. Quais os interesses do Brasil? 

Como o Brasil se situa no contexto do novo Brics? 

O Brics é para o Brasil um espaço privilegiado de articulação político-diplomática, bem como plataforma de cooperação em áreas que incluem virtualmente todos os principais temas da agenda internacional. O Brasil procura usar o Brics como alavanca para uma nova governança global, em que a multipolaridade prevaleceria sobre a unipolaridade, sem necessariamente confrontar o Ocidente. A reforma das instituições multilaterais permanece sendo objetivo central para o Brasil, ao lado do desenvolvimento de uma plataforma para a promoção do uso de moedas locais como meio de pagamentos e a expansão e o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento. 

Apesar de não concordar com a ideia de o Brics ser um vetor de disputa estratégica ou confrontação geopolítica e um agrupamento que pretende competir com o G-7 ou substituir as atuais organizações multilaterais, o Brasil, a exemplo da Índia, deveria permanecer no bloco, mesmo com o risco de ficar isolado no âmbito dos novos países-membros, com previsível perda de influência, até mesmo na definição da agenda do grupo. Em 2025, o Brasil assume a presidência do Brics ampliado, com a proposta de fortalecimento da cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável. O Brasil deveria aproveitar essa oportunidade e enunciar claramente sua posição de equidistância dos antagonismos em formação entre dois blocos na defesa de seus interesses econômicos, financeiros e comerciais. 

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS 

https://www.estadao.com.br/opiniao/rubens-barbosa/o-brics-e-o-movimento-anti-ocidente/

De la belle époque à la mauvaise époque? - Paulo Roberto de Almeida

De la belle époque à la mauvaise époque?

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a volta dos imponderáveis históricos que marcaram a trajetória do mundo na primeira metade do século XX, vindo da belle époque pacífica para décadas de conflagrações mundiais, o que parece evidente na atual fratura geopolítica.

 

O que ficou conhecido, na historiografia contemporânea, como belle époque foram as três ou quatro décadas que precederam o início da Grande Guerra, em 1914, grosso modo a combinação de progressos econômicos e sociais com relativa paz, na Europa, assim como a época áurea da dominação europeia sobre o resto do mundo, ou quase todo ele. Depois das guerras napoleônicas e do Congresso de Viena, ocorreram diversas revoluções na Europa – notadamente a de 1830, na França, e diversas outras em 1848 – e algumas poucas guerras: a primeira guerra da Crimeia (1853-55), já opondo o expansionismo do Império russo ao então decadente Império otomano, ajudado. no caso, pelo Reino Unido e pela França, e algumas guerras de unificação nacional: a do Império Alemão contra a França de Napoleão III (1870) e as dos nacionalistas italianos contra o Império austríaco, pela sua unificação, assim como contra os territórios papais na própria Itália (a partir dos anos 1860).

Depois disso foram três ou quatro décadas de relativa paz, com os imensos progressos materiais da segunda revolução industrial – a da química, do motor à explosão, da eletricidade e das comunicações telegráficas e logo telefônicas, precedendo o rádio e as primeiras aeronaves – e com a constituição das primeiras multinacionais da área industrial e de comunicações. A Grande Guerra, resultado das alianças bélicas supostamente defensivas, e dos erros de cálculos de dirigentes mais vinculados a concepções medievais do que aos valores e princípios da burguesia industrial e financeira, veio destruir tudo isso e mudar irremediavelmente a face do mundo, abrindo espaço para dois processos que se estenderiam pelo resto do século XX: a preeminência econômica dos Estados Unidos, sobre todos os demais poderes existentes, inclusive os velhos colonialismos europeus sobre metade do mundo, e a contestação bolchevique da economia de mercado capitalista e das democracias burguesas nos seguintes 70 anos após 1918.

No meio de todas essas rupturas tecnológicas, políticas e geopolíticas (desaparecimento dos impérios centrais e aparecimento de outros), progressos sociais também foram feitos, fruto das lutas operárias e sindicais e dos avanços da medicina e do saneamento urbano básico, o que diminuiu a mortalidade e aumentou a natalidade em várias partes do mundo. Atualmente continuamos a ter imensos progressos materiais, em meio à quarta ou quinta revoluções industriais, e alguns progressos sociais, notadamente a redução da miséria abjeta e redução da pobreza extrema nos cantos mais recuados e populosos do planeta, graças à disseminação dos progressos da ciência e dos avanços da tecnologia.

Mas, de forma cada vez mais clara, passamos a ouvir, a ler, assistir a declarações preocupantes sobre uma possível nova conflagração global, de forma como não tivemos desde a primeira metade do século XX, com a particularidade ainda mais horrífica de que as ameaças agora envolvem o uso de armas nucleares, que não existiam até 1945, quando foram usadas pela primeira e única vez na fase final da guerra no teatro do Pacífico.

A Grande Guerra resultou de cálculos errados feitos por dirigentes arrogantes, dotados do espírito medieval das guerras de conquista e dominação com as "tecnologias" dos exércitos montados a cavalo, quando ela foi a primeira guerra industrial da era moderna. A Segunda Guerra Mundial foi inteiramente mecanizada, muito pouco em trincheiras, como na Grande Guerra, e mais com base em blindados, encouraçados e aviação, com base em petróleo. A guerra moderna já é baseada em tecnologia de ponta, baseada na eletrônica avançada, em indústrias sofisticadas e comunicações sem fio, satelitárias. Isso já é de uso corrente, mas o que assusta mesmo é o que sobrou da Segunda Guerra Mundial, o domínio das armas nucleares, agora com vetores de longo alcance, praticamente em escala planetária.

Estamos falando da eliminação da vida humana, material e natural, sobre vastas porções do planeta, reduzindo os agentes bélicos a escombros contaminados e o resto do planeta enviado de volta a uma pobreza ancestral. A época atual poderia ter sido bela novamente, com os progressos da tecnologia, a redução da pobreza em imensas porções da terra e dos avanços da democracia e dos direitos humanos em quase todas as partes do planeta, a partir de um itinerário pacífico da terceira onda de globalização, nos anos 1990. Mas, a partir dos anos 2000, ela parece ter se convertido numa "mauvaise époque", uma época feia pelo aumento dos poderes autoritários, pelo reforço dos espíritos expansionistas, agressivos em relação aos progressos visíveis da democracia depois da implosão da União Soviética e da conversão da China comunista às virtudes da economia de mercados livres.

Depois da divisão bipolar do planeta durante a Guerra Fria, de 1947 a 1991, temos aparentemente uma nova fratura entre as grandes potências, a preeminência da ordem ocidental construída nos estertores da Segunda Guerra sendo atualmente contestada pelo novo poderio econômico e militar de potências adversárias dessa ordem, sobretudo sua recusa da democracia e dos direitos humanos, no conceito ocidental do termo, que acreditávamos que poderia ser universal. A divisão parece ter se convertido numa segunda Guerra Fria, que ameaça converter em guerra quente – talvez uma conflagração direta – pela agressividade das duas potências autocráticas, claramente opostas à ordem ocidental. Não pretendo ser um analista das relações internacionais no plano geopolítico, mas sou um observador atento do itinerário da política externa e da diplomacia do Brasil no último meio século e o que vejo me deixa extremamente preocupado, ao constatar que o atual governo, o de Lula 3, parece já ter escolhido o seu campo, o dos "promotores" da "nova ordem global multipolar" (sic), o que está em clara ruptura com os padrões tradicionais da diplomacia brasileira, de afirmada autonomia em relação às políticas das grandes potências e de neutralidade em face dos conflitos interimperiais.

Não parece mais ser o caso atualmente, e isso pode ser prejudicial ao Brasil, não apenas no domínio dos seus objetivos e interesses nacionais, de crescimento econômico e desenvolvimento social, mas também no campo dos valores e princípios democráticos e humanistas que sempre esposamos. Estamos numa "época feia" para o Brasil também?

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4766, 22 outubro 2024, 3 p.


 


segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Certas quedas são extremamente bem-vindas... - Lula ausente da reunião do Brics - Igor Gielow (FSP)

Certas quedas são extremamente bem-vindas... Ausência de Lula na cúpula do BRICS evita possíveis tensões diplomáticas com os EUA Igor Gielow Folha de S. Paulo, 21/10/2024 - 09h36 A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, Rússia, pode ter evitado um cenário diplomático delicado para o Brasil, de acordo com especialistas em relações internacionais. Leonardo Trevisan, professor da ESPM, destacou que um encontro presencial entre Lula e o presidente russo Vladimir Putin poderia ter gerado tensões com os Estados Unidos, considerando o atual contexto de conflitos globais. Em análise publicada no Estadão, Trevisan afirmou que, diante das crescentes tensões entre o Ocidente e a Rússia, uma imagem de Lula ao lado de Putin poderia ser interpretada de forma negativa pelos Estados Unidos. “O aperto de mãos com Putin seria visto como um sinal de alinhamento em um momento de confronto entre o Ocidente e a Rússia”, explicou Trevisan. Segundo o especialista, isso poderia resultar em pressões diplomáticas adicionais para o Brasil, especialmente em sua relação com Washington e outros aliados ocidentais. A cúpula do BRICS, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, discute uma série de temas, incluindo a desdolarização das economias do bloco. Essa pauta já provocou reações nos Estados Unidos, particularmente de Donald Trump, ex-presidente e atual candidato à presidência pelo Partido Republicano. Trump tem sido categórico em suas declarações sobre o tema, afirmando que, se retornar ao poder, buscará punir países que optarem por seguir esse caminho. Além disso, Trevisan comentou que outro aspecto sensível seria a possibilidade de um encontro entre Lula e o presidente do Irã. Para o professor, tal reunião poderia ser vista como um distanciamento do Brasil em relação a aliados tradicionais no Oriente Médio, como Israel. Embora o Brasil tenha mantido uma postura crítica em relação a Israel em diferentes ocasiões, uma reunião com o Irã, neste momento, poderia ser interpretada como uma mudança significativa na política externa brasileira. “Isso ultrapassaria um limite que o governo brasileiro tem evitado até agora”, destacou o especialista. Outra questão em debate na cúpula é a proposta de China e Índia de incluir a Nicarágua e a Venezuela no BRICS, uma ideia que, segundo Trevisan, não é vista com bons olhos pelo Brasil. Ele apontou que o governo brasileiro considera que essas inclusões não trariam benefícios estratégicos. “O Brasil não tem interesse em fortalecer suas relações com a Nicarágua, e a reaproximação com a Venezuela ainda é um processo delicado”, afirmou. Em meio a esses contextos, o Brasil será representado na cúpula pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Fontes diplomáticas indicaram que a ausência de Lula foi justificada como “força maior”, em razão de um acidente doméstico sofrido pelo presidente no fim de semana. O ministro Vieira, de acordo com essas fontes, terá plenos poderes para negociar e representar o Brasil em todas as discussões. A presença de Vieira na cúpula reflete a importância dada pelo governo brasileiro ao BRICS, ao mesmo tempo que busca evitar a associação direta de Lula com Putin, em um momento em que as relações entre Rússia e países ocidentais estão especialmente tensas. A participação do Brasil no BRICS é vista como uma oportunidade para fortalecer laços econômicos e políticos com outras potências emergentes, mas também exige cuidados na condução das relações internacionais, especialmente com os Estados Unidos. A estratégia de Lula parece ter sido calculada para manter o equilíbrio entre diferentes interesses geopolíticos. O Brasil, como membro do BRICS, está engajado nas discussões do bloco, que busca reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais. Contudo, o país também mantém relações importantes com os Estados Unidos e a União Europeia, e um alinhamento explícito com a Rússia e a China poderia comprometer esses laços. A ausência de Lula, portanto, pode ser vista como uma medida preventiva para evitar confrontos diplomáticos que poderiam surgir em meio ao cenário internacional volátil. Embora o Brasil busque ampliar sua influência no BRICS, o governo parece estar ciente dos riscos de ser associado de forma muito próxima aos interesses de Rússia e China, especialmente em um momento em que os Estados Unidos demonstram grande sensibilidade em relação à postura de seus aliados em temas globais. Com isso, o papel do Brasil na cúpula do BRICS ficará nas mãos do ministro Vieira, que terá a tarefa de conduzir as negociações sem comprometer a posição de neutralidade que o país tem procurado manter. A decisão de Lula de não participar pessoalmente do encontro em Kazan pode ter sido um movimento estratégico para proteger a diplomacia brasileira de um embaraço internacional.

Ucrânia não será tema dos Brics, diz chanceler brasileiro - Agência Brasil

Esta notícia é surpreendente, vinda de uma agência oficial: "Ucrânia não será tema dos Brics, diz chanceler brasileiro - Agência Brasil - EBC, 21/10/2024 Segundo a diplomacia brasileira, um dos destaques da cúpula deste ano é a definição dos critérios para que novos membros ingressem no bloco..." Surpreendente porque, na reunião anterior, na África do Sul, essa definição de critérios para admissão de novos candidatos já estava na pauta, mas foi atropelada intempestivamente por seis novos convites feitos a membros cuidadosamente escolhidos basicamente por China e Rússia. Um deles seria a Argentina peronista, indicada pelo Brasil lulista, mas ela recebeu a recusa explícita do novo dirigente anarcocapitalista do país. A Arábia Saudita até agora não se decidiu Surpreendente também porque, na reunião anterior, o assessor presidencial para assuntos da diplomacia lulopetista, contradisse o Itamaraty – que queria justamente discutir os critérios de novos convites – ao dizer que "primeiro a gente admite, e depois discute os critérios". Lula, irritado por ter sido chamado de "agente da CIA" pelos venezuelanos, já disse que não quer a Venezuela no bloco, o que introduzir um pouco de pimenta nessa reunião. Agora vem essa informação de que o assunto Ucrânia não será discutido na cúpula. Isso seria para não irritar o anfitrião, que está indo mal na sua guerra de agressão contra o vizinho país? O discurso do Lula não interessa muito. O mais aguardado será o do presidente do Irã, um moderado cercado por por uma tribo inteira de radicais, religiosos e militares. Pena que as reuniões não serão ao vivo .

domingo, 20 de outubro de 2024

Uma declaração de invejável atualidade - Paulo Roberto de Almeida

Uma declaração de invejável atualidade Paulo Roberto de Almeida Parece, de fato, extremamente atual: "É necessário opormo-nos a todas as ideias tendentes à criação de sistemas que possam desfechar na hegemonia de uma nação sobre outras, tanto quanto no domínio dos fortes sobre os fracos. O mundo não mais tolera impérios cesaristas erigidos e suportados pela força e tendo a pretensão de submeter as outras soberanias. Passou o tempo em que a classificação das nações se fazia de acordo com a extensão e a qualidade do seu poderio militar... A força das armas cede caminho à da razão. A violência recua ante as prerrogativas da justiça. O egoísmo nacionalista se desvanece em face do impulso pela política de cooperação, fraternidade e paz." Parece atual, mas não é. A frase foi pronunciada por Afrânio de Melo Franco, pai de Afonso Arinos, ele chanceler do governo provisório de Getúlio Vargas, em 1934, em alocução feita no aniversário do armistício de 1918, em 11 de novembro de 1934, quando ele já tinha deixado a chancelaria brasileira, em cerimônia internacional promovida pela Columbia University, sob os auspícios da Fundação Carnegie para a Paz, para a qual tinha sido convidado em sua condição pessoal de grande estadista. Afonso Arinos de Melo Franco, filho de Afrânio, que também presidiu uma Comissão Constitucional prévia à Constituinte de 1987-88 – o pai tinha feita a sua, também no Itamaraty do Rio, em 1934 –, foi igualmente chanceler duas vezes nos anos 1960, a primeira no governo presidencial de Jânio Quadros, a segunda num dos gabinetes do governo parlamentarista de João Goulart. A despeito do otimismo de Afrânio, o despotismo dos fortes, antes Hitler, agora Putin, continua a prevalecer. Fonte: Afonso Arinos, Um Estadista da República, vol. III – Fase Internacional, 1955, p. 1518.

sábado, 19 de outubro de 2024

Uma dúvida que não é só diplomática - Paulo Roberto de Almeida

Uma dúvida que não é só diplomática Paulo Roberto de Almeida A política, desde Platão e Aristóteles, se destina, entre outras coisas, a facilitar a convivência pacífica entre pessoas, súditos ou cidadãos de uma mesma comunidade, de cidades-Estados, de nações organizadas em monarquias, repúblicas, fazendo com que partidos, movimentos, governos, Estados possam interagir entre si da melhor maneira possível, isto é, pacificamente, civilmente, construtivamente, para o bem de todos. Já é estranho, portanto, que existam partidos, movimentos, governos e Estados que desejem a eliminação completa, o desaparecimento de seus contrapartes, outros partidos, movimentos, governos ou Estados, como objetivo prioritário. Este é o caso, por exemplo, de movimentos como o Hamas, de partidos como o Hezbollah, de governos e Estados como a teocracia fundamentalista do Irã, cujos objetivos principais, senão exclusivos, são a eliminação de todo um Estado, no caso Israel. Mais estranho ainda é que um governo supostamente democrático, de um Estado dotado de tradições, princípios e valores comprometidos com a ordem democrática, a convivência pacífica entre as nações (como está em nossa Constituição), que se pauta, em suas diretrizes diplomáticas, pelo estrito respeito do Direito Internacional, consubstanciada na Carta das Nações Unidas, é estranho, portanto, que um governo reppresentando o Brasil da CF-1988 e de toda a história diplomática de convivência pacífica com todos os demais Estados da comunidade internacional, desde mais de 200 anos, aceite conviver, no mesmo grupo, bloco, foro ou movimento convergente de interesses com outros partidos, movimentos ou Estados que tenham, entre seus objetivos constitutivos, suas diretrizes nacionais a ELIMINAÇÃO de outros Estados, partidos, governos, movimentos, etnias ou povos, como é o caso do Brics, que abriga o Irã, e como é o caso do atual governo brasileiro, que aceita conviver normalmente com partidos e movimentos terroristas como são o Hamas, o Hezbollah e outros do mesmo grupo, sendo que alguns desses terroristas são Estados perfeitamente constituídos. Brasília, 19/10/2024

Sentimento de desgosto e de repulsa - Paulo Roberto de Almeida

Nota posterior (22/10/2024): Lula não foi a Kazan, por um acidente médico. Sua ida teria sido desastrosa para a diplomacia brasileira, para a postura do Brasil no mundo, identificado que estaria sendo com os poderes revisionistas da ordem global. Em 1939-41, tínhamos Oswaldo Aranha, um grande diplomata, para evitar a caminhada para o desastre (como a Argentina). Agora o que temos? (PRA) Como diplomata, estou perfeitamente horrorizado - e suponho que meus colegas também estejam - de ver Lula apertando alegremente a mão de um violador da Carta da ONU, saudando um assassino de civis, conversando simpaticamente com um sequestrador de crianças, um criminoso de guerra confirmado. Acredito que cada um dos meus colegas diplomatas profissionais deva se sentir terrivelmente enojado ao contemplar os efluvios de amizade do presidente brasileiro com um terrorista em escala global. Triste para a diplomacia! Como sempre, assino embaixo do que escrevo. Paulo Roberto de Almeida Brasília, 19/10/2024

Milei quer que todos os diplomatas defendam suas posições malucas - Brenda Struminger (InfoBae)

Extraordinário Milei. 

Bolsonaro não chegou a tanto, mas o atual assessor internacional de Lula, assim que assumiu como chanceler de Lula, em 2003, pediu que os diplomatas “vestissem a camisa” do governo. 

Muitos o fizeram. 

Essa gente confunde o serviço do Estado, ou da nação, com o seu próprio e medíocre governo. PRA

 

 Milei le exigió a todo el cuerpo diplomático que se alinee con la política exterior del Gobierno o renuncie 

En un documento oficial inédito, el Presidente se dirige a todos los funcionarios del Ministerio y a los representantes en el exterior, a través de la canciller Mondino, para conminarlos a que “den un paso al costado” si no están de acuerdo con la doctrina libertaria. Recientemente había echado al vicecanciller y al representante ante la ONU 

Brenda Struminger 

InfoBae, 19/10/2024 

 Luego de remover a Ricardo Lagorio de la representación argentina ante la ONU y a Leopoldo Sahores del cargo de vicecanciller de Diana Mondino, Javier Milei le envió un duro e inédito mensaje a todo el cuerpo diplomático, donde les exige a aquellos que no estén de acuerdo la política exterior del Gobierno que renuncien a sus cargos. Lo hizo a través de una nota dirigida, uno por uno, a todos los representantes y funcionarios de la Cancillería. La nota salió directamente de la Casa Rosada, con los nombres de más de 400 miembros de la Cancillería, con copia a la ministra de Relaciones Exteriores. El Presidente le pide expresamente que les haga llegar la exigencia “a la totalidad de los funcionarios y personal de su jurisdicción, así como el personal diplomático y civil del Servicio Exterior de la Nación”. La funcionaria había estado ayer en la Casa Rosada, reunida con el asesor del jefe de Estado, Santiago Caputo. En el texto es dedicadamente elogiada por el Presidente, que le agradece su labor a pesar de que durante la mayor parte de este año Mondino fue duramente cuestionada por la cúpula del Gobierno. Al punto de que la secretaria Karina Milei envió a una funcionaria propia, Úrsula Basset, para que interviniera la cartera. Milei hizo lo propio al nombrar como secretario de Culto a un hombre propio, Nahuel Sotelo, que se puso al frente de la cruzada con los funcionarios y diplomáticos de línea. En la nota, donde están citados cientos de funcionarios y diplomáticos con sus nombres y apellidos y los lugares que ocupan, Milei cita un fragmento de su discurso ante la Asamblea General ONU, hace dos semanas, donde cuestionó la Agenda 2030, llamada ahora “Pacto por el Futuro”. “No es otra cosa que un programa de gobierno supranacional de corte socialista que pretende resolver los problemas de la modernidad con soluciones que atentan contra la soberanía de los estados-nación, y violentan el derecho a la vida, a la libertad y a la propiedad de las personas”, dice. En ese momento, Lagorio, que había actuado en contra de los lineamientos libertarios, aún estaba en el cargo. Días después fue reemplazado, una señal en la línea del comunicado enviado hoy al resto de los diplomáticos. En su explicación, Milei agrega que esta nueva doctrina implica, por definición, “que ningún funcionario de esta administración ni quienes representan a la Argentina en el exterior deben acompañar ninguna iniciativa (que vaya en contra) de valores que son pilares de esta nueva administración”. Y al final, conmina al cuerpo diplomático, con claridad, a renunciar en caso de que no estén alineados con los lineamientos de la política exterior libertaria: “Quienes no se encuentren en condiciones de asumir los desafíos que depara el rumbo adoptado en defensa de las ideas de la libertad, deberán dar un paso al costado”. Hace tiempo que en la Casa Rosada mastican bronca contra los funcionarios y diplomáticos de línea, al punto de que un importante funcionario había dicho, off the record, hace dos semanas, que consideraba que “son todos comunistas”. Ya entonces cerca de Milei manifestaban intenciones de deshacerse de aquellos que no estuvieran alineados con sus ideas, pero sopesaban maneras de avanzar. Además de los despidos, la carta enviada por el sistema GEDE a todas las casillas de correo de los mencionados diplomáticos es otro paso en ese sentido. La carta fue discutida ayer a media tarde en la mencionada reunión en el despacho de Santiago Caputo en Balcarce 50, con Mondino, Sotelo, el asesor en comunicación Juan Carreira -mano derecha del poderoso asesor, mejor conocido en redes como “Juan Doe”- y Caspar Sprungli, que acaba de reemplazar a Federico Bartfeld como jefe de Gabinete del ministerio. Aunque en realidad, había sido gestada para discutir los pasos a seguir tras el reemplazo de Sahores. La Cancillería es un hervidero desde hace meses. Tras el desembarco de Basset y de Sotelo, el vicecanciller Sahores fue sido echado para ubicar en el cargo a un miembro de PRO, Eduardo Bustamante, que trabajó en las filas de Patricia Bullrich durante el macrismo. Y poco antes había ocurrido lo propio con Lagorio, que fue obligado a renunciar a su rol en Nueva York frente a Naciones Unidas. Pero más allá de las internas, también está latente la fuerte disputa por el impuesto a las Ganancias, que se prolonga largamente entre las autoridades de la cartera y los funcionarios y diplomáticos, y llegó a la Justicia. Ahora el Gobierno está a la expectativa de una resolución dirima la la disputa. Mientras tanto, hay un incipiente conflicto por una medida de recorte de gastos en concepto de traslados, que es fuertemente resistida en las distintas líneas del ministerio y, sobre todo, en las embajadas. Mientras crece el malestar, en en la Casa Rosada y en los cargos jerárquicos redoblan la apuesta. Y esta noche, el secretario de Culto se encargó de contar en sus redes sociales que acababa de colgar la resolución de Milei en la puerta de su oficina.