Eles também revelam quão inconscientes ou ingênuos podem ser certos homens públicos, a menos que seja má-fé deliberada.
Em outros termos, o Brasil reconhece a presença das Farc, reconhece que a Colômbia representa o principal ponto de tensão na região, não faz nada para ajudar o vizinho país a resolver o seu problema, e ainda reclama quando o próprio país adota as soluções que acha mais adequadas para resolver essa ameaça terrorista, inclusive fazendo acordos de cooperação militar com o único país que se declarou disposto a ajudá-la (ainda que por interesse próprio, não importa, mas empenhou recursos, armas, homens, de qualquer maneira, o que o Brasil nunca fez).
Inacreditável, por outro lado, a alegação de que o Brasil pretenderia ser um "mediador" do conflito, o que seria aceitável nas mentes distorcidas dos militantes pró-cubanos e pró-Farc, mas não na cabeça de alguém que se pretende ministro da Defesa do Brasil. Mediar entre um Estado legalmente constituído, com um governo constitucionalmente eleito, e um grupo terrorista, que faz tráfico de drogas, pratica sequestros para sobreviver economicamente e cuja única função atualmente é aterrorisar as populações das regiões onde atua? Em que mundo vivem os dirigentes brasileiros? Num mundo da fantasia?
O Wikileaks ainda vai destruir várias reputações, desmantelar diversas hipocrisias, pegar muita gente mentindo em público e desmoralizar algumas carreiras políticas. Nisso, ele é bem vindo...
Finalmente, mais abaixo, os comentários de alguém, certamente muito odiado nesses meios que tentam "mediar" o conflito entre a Colômbia e as respeitáveis Farc...
Paulo Roberto de Almeida
Brasil sabia da presença das Farc na Venezuela, segundo Wikileaks
Nelson Jobim, ministro da Defesa, também teria comentado a respeito da situação do Equador
Agencia Efe, 30 de novembro de 2010
O Brasil sabia da "presença" das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na Venezuela e considerava a Colômbia como a "principal fonte de instabilidade" na região, mostraram nesta terça-feira, 30, os novos documentos revelados pelo Wikileaks.
Esta informação aparece em documentos enviados em novembro de 2009 da embaixada dos EUA em Brasília, que mostram conversas de uma funcionária americana, Lisa Kibuske, com o ministro da Defesa, Nelson Jobim.
"Falando de temas de segurança regional", diz uma das mensagens, "Jobim reconheceu na prática a presença da guerrilha das Farc na Venezuela e ofereceu sugestões para criar confiança na fronteira entre Colômbia e Equador".
No entanto, Jobim diz que reconhece publicamente a presença das Farc na Venezuela impediria o trabalho de mediação de seu Governo. "Perguntado sobre a presença das Farc na Venezuela, disse que se reconhecesse sua presença poderia arruinar a capacidade do Brasil como país mediador", explica a nota.
Posteriormente, em outra mensagem, Jobim situa a "Colômbia no centro da potencial instabilidade da região" e considera a tentativa do então presidente Álvaro Uribe de optar por um terceiro mandato na Colômbia como "terrível".
Mais adiante, o ministro brasileiro volta a mostrar suas preocupações a respeito de Uribe, a quem "insiste em qualificar como a primeira fonte de tensões" na região andina.
Na conversa entre Lisa e Nelson Jobim, o ministro da Defesa também mostra "inquietação" sobre o acordo de defesa entre EUA e Colômbia, que permitirá que militares americanos utilizem bases no país andino, ao apontar que um dos memorandos que acompanha o acordo deixa em "evidência a falta de compreensão da América Latina" por parte de Washington.
No entanto, a funcionária finaliza com um balanço positivo seu encontro com Jobim, de quem destaca sua "proximidade ao presidente Lula em questões de segurança". "Apesar da tendência do Governo do Brasil de culpar a Colômbia pelas tensões atuais, seus esforços por manter a paz são sinceros e deveriam ser apoiados", afirma na nota.
Trata-se dos primeiros documentos nos quais a Colômbia é citada desde que o Wikileaks começou a publicação em massa no domingo de mais de 250 mil documentos diplomáticos americanos, muitos deles com revelações embaraçosas para Washington e seus aliados.
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O antiamericanismo bocó somado ao personalismo jeca-tatu…
Reinaldo Azevedo, 30.11.2010
O problema dos telegramas vazados pelo site WikiLeaks é que muitos tentam ver como política oficial — ou escolhas de governo — o que está na esfera das considerações, das análises, dos chutes, da fofoca. Já falo mais a respeito. Vamos a um caso em particular.
Em conversa com ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel (20067-2009), Nelson Jobim, ministro da Defesa, teria definido Samuel Pinheiro Guimarães, então segundo homem no Itamaraty e hoje chefe da Sealopra (lembram-se dela?), como antiamericano; teria dito mesmo que ele “odeia os EUA” e “trabalha para criar problemas na relação”. Clifford enviou a mensagem a seu governo, e agora ela está no mundo…
Jobim já ligou para Guimarães para assegurar que não disse nada daquilo; que conversou, sim, com o embaixador, mas ele interpretou mal o sentido de suas palavras etc e tal. Lula defende o ministro da Defesa. Vamos pensar.
Digamos que Jobim tenha dito o que lhe atribuem: mentira não é, certo? A hostilidade de Guimarães aos EUA e à política americana não precisa de conversa privada ou de fofoca para se manifestar. Está na cara. É pública. Mais: ao longo de oito anos, nas questões relevantes, o Itamaraty sempre procurou contrastar com os americanos: se eles queriam uma coisa, Celso Amorim demonstrava querer o contrário.
Nem Amorim nem Guimarães mandam em coisa nenhuma. Ambos refletiam as opiniões de Lula — é dele a política externa, certo? Tanto é assim que as relações do Brasil com os EUA pioraram com a eleição de Barack Obama. Já durante a campanha eleitoral do atual presidente americano, notava-se o incômodo de Lula. Ainda que pareça estúpido e mesquinho, o Babalorixá de Banânia achava que o outro era a única figura a lhe fazer sombra no mundo…
Some-se esse aspecto megalômano, delirante, à cultura antiamericana de onde deriva Guimarães, e encontraremos o Brasil a defender o programa nuclear do Irã e a se abster numa votação em que aquele país é condenado por violar os direitos humanos. Foi a soma do antiamericanismo bocó com o personalismo jeca-tatu.
"Falando de temas de segurança regional", diz uma das mensagens, "Jobim reconheceu na prática a presença da guerrilha das Farc na Venezuela e ofereceu sugestões para criar confiança na fronteira entre Colômbia e Equador".
No entanto, Jobim diz que reconhece publicamente a presença das Farc na Venezuela impediria o trabalho de mediação de seu Governo. "Perguntado sobre a presença das Farc na Venezuela, disse que se reconhecesse sua presença poderia arruinar a capacidade do Brasil como país mediador", explica a nota.
Posteriormente, em outra mensagem, Jobim situa a "Colômbia no centro da potencial instabilidade da região" e considera a tentativa do então presidente Álvaro Uribe de optar por um terceiro mandato na Colômbia como "terrível".
Mais adiante, o ministro brasileiro volta a mostrar suas preocupações a respeito de Uribe, a quem "insiste em qualificar como a primeira fonte de tensões" na região andina.
Na conversa entre Lisa e Nelson Jobim, o ministro da Defesa também mostra "inquietação" sobre o acordo de defesa entre EUA e Colômbia, que permitirá que militares americanos utilizem bases no país andino, ao apontar que um dos memorandos que acompanha o acordo deixa em "evidência a falta de compreensão da América Latina" por parte de Washington.
No entanto, a funcionária finaliza com um balanço positivo seu encontro com Jobim, de quem destaca sua "proximidade ao presidente Lula em questões de segurança". "Apesar da tendência do Governo do Brasil de culpar a Colômbia pelas tensões atuais, seus esforços por manter a paz são sinceros e deveriam ser apoiados", afirma na nota.
Trata-se dos primeiros documentos nos quais a Colômbia é citada desde que o Wikileaks começou a publicação em massa no domingo de mais de 250 mil documentos diplomáticos americanos, muitos deles com revelações embaraçosas para Washington e seus aliados.
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O antiamericanismo bocó somado ao personalismo jeca-tatu…
Reinaldo Azevedo, 30.11.2010
O problema dos telegramas vazados pelo site WikiLeaks é que muitos tentam ver como política oficial — ou escolhas de governo — o que está na esfera das considerações, das análises, dos chutes, da fofoca. Já falo mais a respeito. Vamos a um caso em particular.
Em conversa com ex-embaixador americano no Brasil Clifford Sobel (20067-2009), Nelson Jobim, ministro da Defesa, teria definido Samuel Pinheiro Guimarães, então segundo homem no Itamaraty e hoje chefe da Sealopra (lembram-se dela?), como antiamericano; teria dito mesmo que ele “odeia os EUA” e “trabalha para criar problemas na relação”. Clifford enviou a mensagem a seu governo, e agora ela está no mundo…
Jobim já ligou para Guimarães para assegurar que não disse nada daquilo; que conversou, sim, com o embaixador, mas ele interpretou mal o sentido de suas palavras etc e tal. Lula defende o ministro da Defesa. Vamos pensar.
Digamos que Jobim tenha dito o que lhe atribuem: mentira não é, certo? A hostilidade de Guimarães aos EUA e à política americana não precisa de conversa privada ou de fofoca para se manifestar. Está na cara. É pública. Mais: ao longo de oito anos, nas questões relevantes, o Itamaraty sempre procurou contrastar com os americanos: se eles queriam uma coisa, Celso Amorim demonstrava querer o contrário.
Nem Amorim nem Guimarães mandam em coisa nenhuma. Ambos refletiam as opiniões de Lula — é dele a política externa, certo? Tanto é assim que as relações do Brasil com os EUA pioraram com a eleição de Barack Obama. Já durante a campanha eleitoral do atual presidente americano, notava-se o incômodo de Lula. Ainda que pareça estúpido e mesquinho, o Babalorixá de Banânia achava que o outro era a única figura a lhe fazer sombra no mundo…
Some-se esse aspecto megalômano, delirante, à cultura antiamericana de onde deriva Guimarães, e encontraremos o Brasil a defender o programa nuclear do Irã e a se abster numa votação em que aquele país é condenado por violar os direitos humanos. Foi a soma do antiamericanismo bocó com o personalismo jeca-tatu.