quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Colapso do governo Bolsonaro? - José Augusto Guilhon de Albuquerque

A ROTA DO COLAPSO TEM RETORNO?

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE A INSTABILIDADE DO GOVERNO
Em meu último comentário, de 15 de agosto, tentei mostrar que a instabilidade do presidencialismo brasileiro, no atual período democrático, levou ao colapso metade dos oito presidentes em poucos anos de mandato. Um breve estudo das variáveis associadas ao exacerbamento da instabilidade intrínseca ao regime de governo mostrou que, todas as vezes em que a ocorrência de um lapso grave da presidência se somou à perda da maioria governativa, à formação de uma maioria de veto capaz de impor um processo de impeachment, ao encastelamento do Presidente e a uma comunicação dirigida exclusivamente ao seus crentes mais fiéis, o colapso foi inevitável.
Levando em conta apenas esses fatores, o prognóstico de um mandato sem acidentes de viagem seria muito pessimista, sobretudo considerando-se que o atual presidente abriu mão, em alguns meses, da credibilidade que os demais levaram alguns anos para perder. Daí o título “Colapso à vista?”, que deu a entender, a alguns leitores, que eu poderia estar prescrevendo um impeachment. Não! digamos que o título mais adequado deveria ter sido: “Colapso no horizonte?” 
Isto, até a semana passada, com a internacionalização da crise da tempestade de fuligem que, para muitos brasileiros alcançados por sua trajetória, evocou o fim do mundo. Teria invocado o fim de um mandato? 
No comentário anterior, não haveria espaço para acrescentar uma dimensão essencial do processo político: a ação presidencial, isto é, o modo como o Presidente – juntamente com seu inner sanctum – opera sua relação com as instituições e os diferentes setores da sociedade, em outras palavras, seu modus operandi.
Ora, o atual presidente vem mostrando, de modo sistemático, que não possui as habilidades necessárias para entender problemas políticos, diagnostica-los, avaliar alternativas para sua solução, adotar uma política a respeito, e implementa-la. Diante de um problema, de qualquer natureza, o atual presidente elege um culpado, individual ou genérico, e o ataca com insultos e acusações por mais remotamente ligadas que sejam ao problema.
O presidente age como se os problemas servissem para incitar sua base fundamentalista a manter uma polarização radical contra os infiéis. E, apenas nesse sentido, vem dando certo. 
Mas agora ele foi longe demais. Diante do problema criado por seu ministro do meio ambiente, que tratou com descaso os governos da Alemanha e da Noruega sobre a questão do Fundo Amazônia, o presidente entrou no modo de Cruzada e partiu para o ataque, recrudesceu quando os dados do Instituto de Pesquisas Nucleares não lhe agradaram e, diante da fuligem apocalítica que assustou os brasileiros e o mundo todo, atacou governos, instituições, supostos terroristas e incendiários.
Foi longe demais, porque levou o País a um isolamento político inimaginável, destruiu décadas de esforços para manter um perfil alto nas questão climáticas e ambientais e, no espaço de algumas horas, jogou no colo dos piores inimigos de nossa principal fonte de comércio exterior, a agropecuária, argumentos feitos de encomenda para fundamentar suas táticas protecionistas.
O panelaço na noite de seu pronunciamento em rede nacional, uma forma de manifestação geralmente restrita aos bairros de classe média alta, atesta que seu apoio no voto de direita e centro direita está-se desgastando. Aos olhos do agronegócio, o que parecia trunfo, é visto agora com receio, porque a recuperação de sua credibilidade externa sofreu um golpe quase letal. E cada vez que o presidente e seu ministro do meio ambiente abrem a boca, mais se repetem as doses de arrogância e hostilidade contra nossos parceiros comerciais e políticos, e mais inimigos se mobilizam contra o País.
Até quando as ruas e o legislativo assistirão em silêncio a essa tragédia?

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