Mini-reflexão
sobre a política externa brasileira atual
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: comentário; finalidade: salvaguardar a dignidade da
diplomacia brasileira]
A mediocridade da atual diplomacia brasileira
se reflete inteiramente nas falas destrambelhadas do titular presidencial,
antagonizando gratuitamente países relevantes — França, Alemanha, por exemplo —
para uma implementação bem-sucedida do acordo Mercosul-UE.
Eu até colocaria o sucesso preliminar da chapa
liderada por Cristina Kirchner nas primárias argentinas como resultando
parcialmente das desastradas intervenções de JB na política interna do país
vizinho.
O que faz o chanceler que não consegue educar
diplomaticamente um indivíduo que não tem a menor noção do que seja uma
política externa compatível com padrões mínimos de relações internacionais?
A servidão voluntária a uma grande potência —
os EUA de Trump —, que exibe igualmente uma postura diplomática absolutamente
disfuncional em termos dos mesmos padrões, também diminui terrivelmente a
dignidade de nossa diplomacia. O próximo envio de um aliado das mesmas causas
como representante diplomático brasileiro junto à capital dessa grande potência
nos confirmará como adesista voluntário, sem qualquer dignidade, de objetivos
que não convergem com nossos interesses nacionais. Nunca antes nos tínhamos
colocado numa posição de tamanha subordinação a uma outra potência, uma escolha
pior que a de Portugal em 1807, isso porque é feita numa total inconsciência de
quais sejam os interesses nacionais permanentes.
Lamento pelo Itamaraty e pelos diplomatas
profissionais o fato de termos descido tão baixo na escala do reconhecimento
internacional em relação à atual agenda de trabalho da diplomacia brasileira,
relegando o Brasil a um quase “pária diplomático”, pelas falas e ações dos
atuais responsáveis pela nossa política externa.
O Itamaraty sobreviverá a tempos tão sombrios,
mas não sem a sua autoestima severamente diminuída por causas desses
destemperos verbais de quem — no plural — não tem as condições mínimas para bem
representar o país no plano externo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de agosto de 2019
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