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quarta-feira, 14 de junho de 2023

Seleção atualizada de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana, 2022-2023 - Paulo Roberto de Almeida

 Seleção atualizada de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana, 2022-23  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, atualizada em 14/06/2023.

  

4087. “Uma nota pessoal sobre mais uma postura vergonhosa de nossa diplomacia”, Brasília, 22 fevereiro 2022, 2 p. Comentários a nota do Itamaraty e a declaração feita no CSNU a propósito da invasão da Ucrânia pela Rússia, com referência à nacionalização dos hidrocarburos na Bolívia em 2006. Postado no blog Diplomatizzando(link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/02/uma-nota-pessoal-sobre-mais-uma-postura.html).

4098. “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, Brasília, 7 março 2022, 5 p. Breve ensaio para o blog científico International Law Agendas, do ramo brasileiro da International Law Association (ILA; http://ila-brasil.org.br/blog/), para edição especial sobre “A política externa brasileira frente ao desafio da invasão russa na Ucrânia”, a convite de Lucas Carlos Lima, coeditor do blog, com base nas notas e declarações do Itamaraty com respeito aos debates no CSNU e na AGNU. Publicado, na condição de membro do Conselho Superior do ramo brasileiro da International Law Association, no blog eletrônico International Law Agendas (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/); blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/uma-renuncia-infame-o-abandono-do.html). Relação de Publicados n. 1442.

4099. “Quando o dever moral nascido do sentido de Justiça deve prevalecer sobre o “pragmatismo” que sustenta o crime”, Brasília, 9 março 2022, 1 p. Comentário sobre a postura objetivamente favorável do governo brasileiro ao agressor no caso da guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/quando-o-dever-moral-nascido-do-sentido.html).

4107. “O conflito Rússia-Ucrânia e o Direito Internacional”, Brasília, 16 março 2022, 12 p. Respostas a questões colocadas por interlocutor profissional sobre a natureza do conflito e suas consequências no plano mundial. Disponível Academia.edu (link: https://www.academia.edu/73969669/OconflitoRussiaUcraniaeoDireitoInternacional2022); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/o-conflito-russia-ucrania-e-o-direito.html).

4109. “Avançamos moralmente desde os embates de nossos ancestrais na luta pela sobrevivência?”, Brasília, 19 março 2022, 1 p. Considerações sobre a imoralidade e barbaridade dos atos que estão sendo cometidos pelas tropas de Putin na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/03/avancamos-moralmente-desde-os-embates.html).

 4131. “Consequências econômicas da guerra da Ucrânia”, Brasília, 19 abril 2022, 18 p. Notas para desenvolvimento oral em palestra-debate promovida no canal Instagram do Instituto Direito e Inovação (prof. Vladimir Aras), no dia 21/04/22. Nova versão reformatada e acrescida do trabalho 4132, sob o título “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, com sumário, anexo e bibliografia. Divulgado preliminarmente na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/AguerradaUcrâniaeassançõeseconômicasmultilaterais2022) e anunciado no blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html). Transmissão via Instagram (21/04/2022; 16:00-17:06; link: https://www.instagram.com/tv/CcoEemiljnq/?igshid=YmMyMTA2M2Y=); (Instagram: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

4143. “Quão crível é a ameaça de guerra nuclear da Rússia no caso da Ucrânia?”, Brasília, 2 maio 2022, 3 p. Rememorando o caso dos mísseis soviéticos em Cuba. Postado no blog Diplomatizzando (link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/quao-credivel-e-ameaca-de-guerra.html).

4152. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 11 maio 2022, 16 p. Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/OBrasileaguerradeagressãodaRússiacontraaUcrânia2022) e no blog Diplomatizzando (13/05/2022: xc>chttps://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes.html). Divulgado igualmente na página do Centro de Liberdade Econômica das Faculdades Mackenzie (link: https://www.mackenzie.br/liberdade-economica/artigos-e-videos/artigos/arquivo/n/a/i/o-brasil-e-a-guerra-de-agressao-da-russia-contra-a-ucrania). vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc). Relação de Publicados n. 1452.

4153. “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil”, Brasília, 11 maio 2022, 5 p. Notas para exposição oral na palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Divulgado no blog Diplomatizzando (14/05/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/05/guerra-na-ucrania-e-suas-implicacoes14.html); vídeo da palestra no canal YouTube do Mackenzie (link: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc).

4165. “Os 100 primeiros dias da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia: o Brasil afronta o Direito Internacional e a sua história diplomática”, Brasília, 3 junho 2022, 7 p. Texto de apoio a participação em seminário do Instituto Montese sobre os “100 dias de guerra na Ucrânia”, com gravação prévia antes da apresentação. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/100-dias-de-guerra-de-agressao-da.html); emissão divulgada em 10/06/2022, 14h05 (link: https://www.youtube.com/watch?v=CEs-kG1hOjk; exposição PRA de 44:37 a 52:30 minutos da emissão). Relação de Publicados n. 1454.

 4168. “O Brics depois da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 9 junho 2022, 6 p. Posfácio ao livro A grande ilusão do Brics e o universo paralelo da diplomacia brasileira, e revisão geral, eliminando todas as tabelas, agora com 187 p. Apresentação no blog Diplomatizzando (11/06/2022; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/meu-proximo-kindle-sobre-miragem-dos.html). Publicado em 12/06/2022 Brasília: Diplomatizzando, 2022; ISBN: 978-65-00-46587-7; ASIN: B0B3WC59F4; Preço: R$ 25,00;

 4171. “O Brasil está perdendo o rumo em sua postura enquanto nação civilizada?”, Brasília, 12 junho 2022, 5 p. Nota sobre a postura diplomática do Brasil em relação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, aproveitando para apresentar o livro sobre o Brics, incluindo os dois sumários e o índice não numerado. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-brasil-esta-perdendo-o-rumo-em-sua.html).

4189. “O futuro do grupo BRICS”, Brasília, 30 junho 2022, 9 p. Texto conceitual sobre os caminhos enviesados do BRICS pós-guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, e reflexivo sobre as ordens alternativas no campo econômico e político. Elaborado a propósito de webinar promovido pelo IRICE (embaixador Rubens Barbosa) sobre “O futuro do grupo Brics” (30/06/2022), na companhia do presidente do NDB, Marcos Troyjo, e da representante da Secretaria de Comércio Exterior do Itamaraty, Ana Maria Bierrenbach. Postado no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/06/o-futuro-do-grupo-brics-ensaio-por.html). Vídeo do evento disponível no canal do IRICE no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4 ). Relação de Publicados n. 1464.

4206. “Sobre a guerra na Ucrânia e nossa próxima política externa”, Brasília, 24 julho 2022, 2 p. Nota sobre a postura de Lula em relação à questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/07/a-proxima-politica-externa-do-brasil.html). 

4217. “A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e a postura do Brasil”, Brasília, 14 agosto 2022, 10 p. Breve paper sobre a diplomacia brasileira no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, para participação em seminário híbrido sobre o posicionamento dos Estados latino-americanos frente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, organizado pelo prof. Nitish Monebhurrun, no Ceub, no dia 17 de agosto). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/84817949/4127AguerradeagressaodaRussiacontraaUcraniaeaposturadoBrasil2022) e no blog Diplomatizzando (15/08/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/08/os-estados-latino-americanos-frente-ao.html). 

4227. “Relação de materiais no Diplomatizzando sobre a guerra na Ucrânia”, Brasília, 2 setembro 2022, 3 p. Listagem dos materiais mais interessantes sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seu impacto geopolítico. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/materiais-sobre-guerra-de-agressao.html); disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86055975/4227_Materiais_no_Diplomatizzando_sobre_a_guerra_de_agressao_a_Ucrania_2022_).

 4245. “O Brasil deixou de fazer parte da comunidade internacional? Desde quando?”, Brasília, 28 setembro 2022, 2 p. Nota sobre a postura do Brasil em face das violações da Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/o-brasil-deixou-de-fazer-parte-da.html).

 4249. “Carta aberta ao Sr. Presidente da República”, Brasília, 7 outubro 2022, 1 p. Indagação a respeito de nossas obrigações constitucionais e internacionais, no tocante à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/10/carta-aberta-ao-sr-presidente-da.html).

 4293. “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, Brasília, 20 dezembro 2022, 1 p. Nota sobre a futura diplomacia do lulopetismo no tocante à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/o-brasil-e-guerra-de-agressao-da-russia.html).

4301. “Seleção de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 10 janeiro 2023, 4 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/selecao-de-trabalhos-sobre-guerra-de.html).

4308. “O mundo aguarda o Brasil sobre a Ucrânia”, Brasília, 21 janeiro 2023, 2 p. Nota sobre a posição ambígua do Brasil em torno da questão da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/01/o-mundo-aguarda-o-brasil-sobre-ucrania.html).

4327. “Julgamento da História, pelo lado MORAL”, Brasília, 22 fevereiro 2023, 2 p. Nota sobre a postura da diplomacia brasileira em relação à guerra na Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/julgamento-da-historia-pelo-lado-moral.html).

4328. “Não ao inaceitável “Não Alinhamento Ativo”, que só significa um Desalinhamento Passivo e Inativo”, Brasília, 26 fevereiro 2023, 1 p. Nota sobre a postura proposta ao fantasmagórico Sul Global de Não Alinhamento Ativo em relação ao conflito da Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/nao-ao-inaceitavel-nao-alinhamento.html).

4329. “Os 12 pontos do ‘Plano de Paz” da China para a guerra na Ucrânia; comentários de Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 27 fevereiro 2023, 2 p. Comentários pessoais aos 12 pontos do Plano de Paz da China à guerra de agressão da China contra a Ucrânia. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/os-12-pontos-do-plano-de-paz-da-china.html).

4330. “Qual é o maior desafio à diplomacia brasileira, em décadas?”, Brasilia, 28 fevereiro 2023, 2 p. Nota sobre a questão do desafio russo e chinês à paz e à segurança internacionais, do ponto de vista do Brasil. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/02/qual-e-o-maior-desafio-diplomacia.html).

4344. “O que Putin quer de Lula? O que ele vai conseguir?”, Brasília, 25 março 2023, 6 p. Artigo para a revista Crusoé, sobre a próxima visita do chanceler Lavrov ao Brasil, tratando do Brics e da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Publicado na Crusoé (31/03/2023; link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/257/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai-conseguir/?fbclid=IwAR0HUZLik-L-mAziepagvbW2FtPFh-mtymnqIQHUhNSGKuu2dxVGndG0dKk?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir); divulgado no blog Diplomatizzando(18/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/o-que-putin-quer-de-lula-o-que-ele-vai.html). Relação de Publicados n. 1499.

4347. “Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”, Programa Latitudes n. 19, 1 abril 2023, 1h de conversa com os jornalistas Rogério Ortega e Duda Teixeira sobre as posições adotadas pela diplomacia petista em relação aos grandes temas da política internacional, como a invasão da Ucrânia e a retórica belicista da China (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/faz-sentido-o-brasil-se-aproximar-de.html). Relação de Publicados n. 1501.

4351. “Em face de uma nova bifurcação da estrada, à nossa frente”, Brasília, 6 abril 2023, 1 p. Nota sobre mais um momento decisivo na vida da nação: a opção entre sustentar um crime ou optar pela Justiça. Divulgado no blog Diplomatizzando (6/04/2023: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/em-face-de-uma-nova-bifurcacao-da.html).

4354. “‘A Guerra Perpétua’, segundo Putin, ou o projeto de uma ‘nova ordem mundial’, como vontade e como representação”, Brasília, 7 abril 2023, 3 p. Publicado na revista Crusoé (14/04/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/paulo-roberto-de-almeida-na-crusoe-guerra-perpetua-de-putin/); divulgado no blog Diplomatizzando (23/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/a-guerra-perpetua-segundo-putin-ou-o.html). Relação de Publicados n. 1504.

4358. “O retorno da diplomacia presidencial nos cem dias de Lula”, entrevista com o jornalista Duda Teixeira da revista Crusoé (emissão em 9/04/2023, 14:29; link: https://crusoe.uol.com.br/diario/o-retorno-da-diplomacia-presidencial-nos-100-dias-de-lula/); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/o-retorno-da-diplomacia-presidencial.html). Relação de Publicados n. 1503.

4359. “O Brasil tem futuro? Um debate no programa Latitudes”, Brasília, 10 abril 2023, 6 p. Resposta a um comentarista no programa Latitudes 19, como registrado no trabalho 4347 (“Faz sentido o Brasil se aproximar de China e Rússia?”). Postado no site do YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=3S2n8_pCtrw), aguardando novos comentários. Divulgado inteiramente no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/um-debate-espontaneo-no-programa.html).

4365. “Potências revisionistas e rupturas da ordem global”, Brasília, 17 abril 2023, 4 p. Ensaio sobre os momentos de rupturas históricas em ordens políticas estabelecidas. Para aula no curso de mestrado em Relações Internacionais da UFABC, via online, em 18/04/2023. Primeira parte aproveitada para um pequeno texto sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia; postado, sob o título de “Lula tem certeza de que seria uma boa ideia colocar o Brasil do lado da Rússia e da China na construção de uma nova ordem mundial?”, no blog Diplomatizzando (26/04/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/deve-o-brasil-aderir-ideia-de-uma-nova.html); segunda e terceira partes, aproveitadas para novo artigo para a revista Crusoé, sob o título “Por que a tal de 'nova ordem mundial' é uma má ideia?”, sob o número 4374. 

4370. “Seleção atualizada de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a nação ucraniana”, Brasília, 23 abril 2023, 5 p. Lista seletiva de trabalhos sobre a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, atualizada em 23/04/2023; revisão em 25/05/2023; atualizada em 14/06/2023. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/selecao-atualizada-de-trabalhos-sobre.html).

4374. “Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia?”, Brasília, 26 abril 2023, 4 p. Artigo publicado na revista Crusoé (9/06/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/crusoe-por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia-2/); divulgado no blog Diplomatizzando (14/06/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/06/por-que-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma_14.html). Relação de Publicados n. 1511.

4403. “Reflexões sobre uma grande fissura diplomática”, Belo Horizonte, 25 maio 2023, 2 p. Nota sobre a visão do mundo da diplomacia partidária do lulopetismo. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/05/reflexoes-sobre-uma-grande-fissura.html).

4409. “Diplomacia de Lula: Ucrânia, China, Cúpula sul-americana, Maduro”, Brasília 5 junho 2023, 4 p. Respostas a questões de correspondente de agência estrangeira em Brasília. Divulgado, sem indicação de interlocutor, no blog Diplomatizzando (14/06/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/06/diplomacia-de-lula-ucrania-china-cupula.html).

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4370, 23 abril 2023, 5 p.; rev.: 14/06/2023.


 

Diplomacia de Lula: Ucrânia, China, Cúpula sul-americana, Maduro - Paulo Roberto de Almeida

 Diplomacia de Lula: Ucrânia, China, Cúpula sul-americana, Maduro  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com). 

Respostas a questões de corresponde de agência estrangeira em Brasília.  

 

1) Rússia/Ucrânia: Brasil condenou a invasão e procura plano de paz, mas Lula acusou EUA e Europa de "alentar" a guerra, recebeu o chanceler russo, não se encontrou com Zelensky. Como analisa a postura acidentada ou incômoda do Lula adiante a guerra? Qual são os erros e acertos do Lula?

PRA: É preciso considerar que Lula, como líder do Partido dos Trabalhadores (PT), tem conexões, talvez vínculos de solidariedade não de todo explicados, com Cuba e com o Partido Comunista Cubano, desde praticamente sua origem, em 1980 (pelo perfil de boa parte de seus militantes e quadros profissionais, todos eles identificados com o socialismo esquerdista latino-americano, fortemente americano); durante seu governo, Lula forjou, além dos laços tradicionais com a esquerda latino-americana – o PT é um dos organizadores do Foro de São Paulo, criado em 1990, quando da implosão do socialismo e da “orfandade” de Cuba, que ficou sem os subsídios soviéticos –, uma cooperação e alianças estratégicas com outros países do chamado Sul Global, mas sobretudo com as duas grandes autocracias, Rússia e China, especialmente do ponto de vista do antiamericanismo. Quando se desempenhou à frente dos seus dois primeiros mandatos (2003-2010), sua diplomacia foi fortemente marcada pela criação do IBAS (Índia, Brasil, África do Sul, logo em 2003) e, sobretudo, a partir de 2006, oficializada em 2009, a criação do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ampliado em 2011 para incluir a África do Sul, constituindo-se no BRICS. 

A resposta mais simples à pergunta acima é, portanto, esta: Lula adotou essa postura por antiamericanismo tradicional do PT e, mais especialmente, pela aliança com a duas grandes autocracias da Eurásia, reforçada nos três primeiros mandatos do PT e retomada desde seu terceiro mandato a partir desde ano de 2023. Ademais, convidado pelo G7 de Hiroshima, Lula esperava ser recebido como o grande líder dessa entidade fantasmagórica que responde pelo nome de Sul Global; ele foi completamente ofuscado pela presença de Zelensky, daí explicando-se seu incômodo em encontrar com o presidente ucraniano, que se apresentou como grande estadista de estatura mundial, sendo Lula relegado a segundo plano. Existe, também, portanto, um elemento de ciúme, e até de raiva, na atitude de Lula.

 

2) EUA/China: Ao viajar a Washington e Pequim ao início do governo, Lula sinalizou querer manter um balanço entre as potências. Conseguiu?

PRA: A busca de autonomia em sua política externa é uma velha tradição da diplomacia brasileira, e atravessou décadas, em governos autoritários e democráticos, civis ou militares. Houve uma conjuntura de alinhamento com os EUA durante a primeira Guerra Fria, quando os EUA eram a única potência dispondo de recursos financeiros, tecnológicos, comerciais e de cooperação para formação de capital humano, positivos para o crescimento e o desenvolvimento do Brasil. Desde essa época, o mundo se transformou e se diversificou. Depois de 150 anos de relação privilegiada com Washington, a China superou os EUA no plano do comércio bilateral, a partir de 2009. Mas, nos últimos anos, o turnover comercial Brasil-China representa mais do que o dobro do comércio somado dos dois outros primeiros parceiros com o Brasil, EUA e UE. O superávit de mais de 40 bilhões de dólares no comércio com a China é absolutamente essencial para garantir o equilíbrio das transações correntes do Brasil, que sem isso enfrentaria sérios problemas no equilíbrio do balanço de pagamentos.

Mas, esse equilíbrio entre as duas grandes potências é uma alegação quase sem fundamentos, pois que o PT e Lula já aderiram a essa ideia artificial de criação de uma “nova ordem global”, alternativa à ordem de Bretton Woods, desprezada como “ocidental”. As declarações de Lula em diversas ocasiões, mas especialmente em Beijing, deixaram muito claro sua definição de alinhamento com a China e com essa ideia da nova ordem global, também justificada pela busca de uma “multipolaridade” indefinida. Ou seja, o equilíbrio entre as duas grandes potências não possui o mesmo significado no plano prático, embora seja ainda a postura oficial do Itamaraty e a da maioria da opinião pública brasileira. 

 

3) Cúpula Sul-americana: Lula conseguiu reunir os líderes da América do Sul pela primeira vez em quase uma década, mas sua visão sobre Venezuela foi motivo de divisão. Uma semana depois, qual foi a importância da cúpula dos presidentes?

PRA: Lula tenta repetir o que tinha sido feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que reuniu, efetivamente pela primeira vez, os dirigentes da América do Sul, em 2000, com o objetivo de propiciar a integração física do continente (infraestrutura, energia, comunicações, etc.), por meio da IIRSA (Iniciativa de Integração Regional Sul-Americana). Esse grande objetivo foi deliberadamente sabotado pelo governo Lula, a partir de 2003, que se empenhou em criar, primeiro a Comunidade Sul-Americana de Nações (em 2004, numa reunião em Lima), iniciativa sabotada por Hugo Chávez, depois transformada na Unasul, que foi mais ou menos controlada pelos bolivarianos, com uma suntuosa sede em Quito, na época de Ruben Correa, construída com os petrodólares chavistas. A intenção, tanto de Lula quanto de Chávez, era claramente antiamericana, mas no plano da integração física ou comercial pouco se avançou na primeira década do século. 

O ativismo prático da diplomacia brasileira foi bem-sucedido, pois que se conseguiu mobilizar todos os dirigentes – com exceção do Peru, que ainda assim enviou um representante diplomático, seu chanceler –, mas as declarações de Lula, um dia antes do encontro de cúpula foram desastrosas, assim como o fato dele ter concedido honras de visita de Estado ao ditador venezuelano. Lula enfrentou desacordos com praticamente todos os demais dirigentes e foi expressamente desautorizado pelos presidentes do Uruguai e do Chile, que disseram ser afrontoso considerar a Venezuela uma democracia, como fez Lula da forma mais patética possível. Tanto foi assim que os presidentes não aprovaram nada de muito significativo, apenas repassando o dever de estabelecer novos mecanismos de integração – que não serão, de nenhuma forma, a repetição da Unasul, como pretendia Lula – a uma comissão de chanceleres (na verdade será de meros assessores diplomáticos), que terá um prazo de seis meses para se pronunciar. Ou seja, com suas declarações infelizes, Lula retirou qualquer evidência de sucesso em sua iniciativa de reunião de cúpula. Esta, como outras iniciativas – como uma próxima reunião de países amazônicos – respondem muito mais a um desejo megalomaníaco de Lula de ser considerado um grande líder regional e mundial, do que a um planejamento técnico bem concebido para fazer avançar um difícil processo de integração, numa fase de clara fragmentação do continente. 

 

4) Maduro: Como pode se explicar que, mesmo se o Tribunal Penal Internacional abriu um inquérito sobre violações de direitos humanos na Venezuela e líderes de esquerda como Boric tem críticas fortes contra Maduro, Lula defende o presidente venezuelano sem expressar crítica nenhuma sobre seu governo? Lula errou ao defender a Maduro? Por que? A liderança regional do Lula sofreu prejuízo?

PRA: Lula tem esses vínculos fortes com as ditaduras de esquerda, por razões ainda não de todo claras, mas que se vinculam às origens e aos compromissos do PT, e não possui nenhum espírito crítico ao defender esses ditadores – Chávez, Maduro, Ortega, e outros, no continente africano –, assim como as duas grandes autocracias da Eurásia, sendo que uma delas é claramente de direita (mas antiamericana, que é o que basta). Uma outra razão é a perspectiva de grandes negócios com todas essas ditaduras, muitos deles mesclados a transações paralelas, talvez muito lucrativas, tanto oficialmente, quanto oficiosamente, com possíveis comissões e subornos que já foram revelados por investigações posteriores. Negócios legais e pouco claros entre o Brasil e a Venezuela, na época de Lula 1 e 2 e de Chávez, continuados sob Maduro, podem ter liberados milhões de dólares para as duas partes, como evidenciado no Brasil e em outros países, inclusive africanos, em especial com Cuba e Venezuela, as duas ditaduras mais impenetráveis da região. A eleição de Bolsonaro em 2018 pode ser explicada pela enorme rejeição por parte da classe média brasileira, em relação à imensa corrupção dos anos PT na presidência da República. 

Em todos esses episódios, Lula foi movido por pouca, ou nenhuma ideologia, mas pela perspectiva de negócios vantajosos, no plano do Estado, do setor privado e do ponto de vista do partido, embora não se possa descartar o esquerdismo anacrônico do PT e de muitos dos esquerdistas que o sustentam politicamente. Esse viés esquerdista pró-ditatorial de Lula também pode ter contribuído para erodir parte de sua pretensão a tornar-se um líder regional sul-americano, agora sem a competição de Chávez e de Kirchner, como era o caso antes.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4409: 5 junho 2023, 4 p.

 

Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia? - Paulo Roberto de Almeida (Crusoé)

 Um trabalho publicado ainda no mês de abril, mas que ainda não tinha sido divulgado por inteiro, por ser exclusivo da revista Crusoé: 

4374. “Por que a tal de ‘nova ordem mundial’ é uma má ideia?”, Brasília, 26 abril 2023, 4 p. Artigo publicado na revista Crusoé (9/06/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/crusoe-por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia-2/). Relação de Publicados n. 1511.


Por que a tal de 'nova ordem mundial' é uma má ideia?

  

Paulo Roberto de Almeida, Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Publicado na revista Crusoé (9/06/2023; link: https://oantagonista.uol.com.br/mundo/crusoe-por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia-2/). 

 

Qualquer sugestão, proposta, imposição ou surgimento de uma nova ordem política e econômica, a mais forte razão, uma ordem que seja global, implica, necessariamente, a ruptura com a ordem pré-existente, em curso ou vigência num determinado período ou região. Normalmente, quaisquer ordens existentes são naturalmente transformadas ao cabo ou progressivamente a partir de mudanças estruturais nos sistemas econômicos e regimes políticos sobre os quais se sustentavam durante certo tempo. Mudanças “transformacionais” sempre ocorreram ao longo de toda a história humana, mesmo naqueles impérios mais solidamente estabelecidos ao longo de séculos. As rupturas são mais raras, sobrevindo como resultados de grandes catástrofes, guerras civis ou de agressão por um império mais forte.

 

Quais foram as grandes rupturas da ordem mundial na história?

Estados-nacionais constituem um tipo de organização estatal relativamente recente na história da humanidade. Anteriormente, povos, etnias, religiões, reinos e comunidades de diversas origens e formação viviam, sobreviviam ou se transformavam em ritmos e interações relativamente erráticas, mais frequentemente sob o domínio de impérios, que sempre foram mais resilientes do que pequenas unidades políticas. O conceito de Estado nacional deriva dos acordos de Westfália, em 1648, que passaram a reconhecer certos direitos e soberanias dos poucos Estados que deles participaram no século XVII. Eles são quase contemporâneos da expansão e consolidação de um dos mais longevos impérios desde a era moderna: o império otomano, que quase conquistava Viena por essa época e que durou cerca de 600 anos até ser dissolvido ao final da Grande Guerra de 1914-18. Antes disso, os impérios com maior destaque na história do mundo foram o romano (seis séculos desde 300 a.C.) e o chinês, que se arrastou por 26 dinastias desde 2 mil anos a.C. até o início do século XX. 

Cada um dos impérios relativamente organizados e resilientes nasceram, perduraram e desapareceram em meio a grandes rupturas da ordem que eles tinham conseguido estabelecer nos seus períodos respectivos de dominação bem-sucedida. O próprio Império Celeste foi por duas vezes transformado por invasões de povos estrangeiros: os mongóis, no século XII, que formaram o maior império do mundo nos 300 anos seguintes, e os manchus, que substituíram a dinastia Ming no século XVII. O grande Império Mughal, da Índia, foi conquistado pela Companhia Britânica das Índias Orientais, antes de ser cedido/vendido, ao Império britânico, o maior império da era contemporânea até seu desmembramento no pós-Segunda Guerra. As rupturas mais evidentes numa história mais regional do que global são relativamente poucas.

Na sequência da dissolução do Império romano do Ocidente – o do Oriente durou mil anos mais, como relatou Edward Gibbon –, os territórios atuais da Europa ocidental e central se fragmentaram em contínuas guerras, aparentemente unificadas pela fé cristã e por uma aparência de Sacro Império Romano-Germânico e pela dominação tanto espiritual quanto temporal da Santa Sé. A primeira ruptura da ordem política nas comunidades cristãs se deu a partir do revisionismo protestante, contra o império católico comandado a partir de Roma, por papas nem sempre muito cristãos. As guerras de religião que se disseminaram a partir do desafio de Lutero (e de outros exegetas da fé cristã) foram responsáveis por imensas destruições no coração da Europa até que o respeito à soberania respectiva de cada Estado cristão foi consagrado pelos tratados de Westfália. 

O Sacro Império Romano-Germânico sobreviveu precariamente durante quase dois séculos, até ser declarado extinto por Napoleão, cujas invasões (Itália, Prússia, países ibérios, até a Rússia) alteraram completamente o mapa da Europa e até do mundo (independências das colônias ibero-americanas). Uma nova ordem, quase global, foi então estabelecida formalmente em Viena, em 1815, no seguimento das guerras napoleônicas, num contexto de domínio generalizado das novas potências europeias sobre grande parte do mundo. Essa ordem, apenas ligeiramente perturbada pela primeira guerra da Crimeia (1853-55), persistiu por quase um século, até ser desmantelada completamente na Grande Guerra de 1914-18, quando pela primeira vez se tentou estabelecer um sistema multilateral, a Liga das Nações, para garantir a paz e a segurança internacionais. A experiência não foi das bem-sucedidas, pois que três tentativas de restabelecer o equilíbrio de potências e a cooperação econômica sob o signo do padrão ouro fracassaram completamente em seus objetivos: a conferência monetária de Gênova (1922), a comercial de Genebra (1927) e a econômico-financeira de Londres (1934). A partir daí, o mundo entrou num vórtice de guerras locais até o precipício.

O fracasso se deu basicamente em função das potências revisionistas do entre guerras, todas elas de tendências autoritárias e expansionistas: depois do desafio bolchevique à ordem capitalista, a tentativa mussolinista de reconstruir a grandeza do antigo império romano, o ímpeto revanchista da Alemanha hitlerista, desejosa de se vingar das humilhações infringidas pelo Tratado de Versalhes (1919) e o desejo dos militaristas fascistas do Japão de estabelecer o seu próprio domínio na Ásia Pacífico e na China, em substituição ao imperialismo das potências ocidentais, todos esses processos precipitaram a maior catástrofe bélica e humana jamais vista na história. Ela deu lugar a uma nova ordem mundial, forjada em Bretton Woods, formalizada em San Francisco e que se manteve num contexto de bipolaridade geopolítica e nuclear até 1991. Essa ordem durou algumas décadas, mas já tem desafios.

 

O que são potências revisionistas? Qual a experiência histórica com elas?

Potências revisionistas costumam ser impérios ascendentes, ou Estados nacionais fortes o bastante para elevar a sua voz no plano externo, e que, descontentes com a estrutura de poder que encontraram em seu processo de ascensão, decidem contestar a ordem existente. Em quase todas as ocasiões, o resultado de ambições não acomodadas numa acomodação e num confronto interimperial, o resultado foi o deslanchar de conflitos bélicos que podem chegar a um equilíbrio de forças total ou parcialmente novo. Assim ocorreu no contexto das guerras napoleônicas, do início do século XIX, assim como no fracasso do equilíbrio de potências europeias um século depois, que redundou na primeira tentativa de estabelecimento de um sistema multilateral para administrar, ainda que de forma oligárquica, paz e segurança internacional. A Liga das Nações era uma promessa de gestão de conflitos que jamais chegou a ser eficaz para os objetivos a que se propunha: não conseguiu responder a contento nem na invasão da Manchúria pelo Japão em 1931, nem na da Abissínia (o único Estado africano membro da Liga) massacrada pela Itália em 1937, nem nas crises sucessivas criadas por Hitler desde sua ascensão ao poder, inclusive no apoio bélico ao general Franco na guerra civil que destruiu a República espanhola entre 1936 e 1939.

Não foi possível, a despeito de todas as concessões, contentar todas as potências ascendentes, possuindo novas aspirações de um lugar ao sol, no quadro da dominação de poucos imperialismos europeus sobre a maior parte das periferias fornecedoras de matérias primas. O resultado traduziu-se na espiral agônica dos fascismos expansionistas que engolfou quase todo o mundo entre 1937 (invasão do resto da China pelo Japão) e entre 1939-1945, até sua derrota completa na maior conflagração bélica da história, com destruição generalizada na Europa e na Ásia e consequências para o resto do mundo. 

Não obstante oito décadas de paz relativa – não esquecendo as guerras por procuração no intervalo –, o mundo parece aproximar-se de um novo período de tensões causada por potências revisionistas: a Rússia, desejosa de se vingar das humilhações sofridas depois do desmantelamento do império soviético, em 1991, a China, descobrindo que o império americano deseja conter sua ascensão, e disposta a nunca mais sofrer as humilhações impostas pelas potências ocidentais e pelo Japão desde o declínio do Celeste Império, na dinastia Qing. Estaríamos chegando perto de uma nova ruptura da ordem mundial? 

 

O Brasil precisa de uma nova ordem global? Tem algo a ganhar com isso?

O Brasil foi um dos países “periféricos” e “subdesenvolvidos” que mais se beneficiou com a nova ordem surgida nos estertores da Segunda Guerra, em Bretton Woods, para sua estrutura econômica, San Francisco para seu sistema (precário) de preservação da paz e da segurança internacionais, além de mecanismos próprios para a cooperação entre Estados. Mesmo sem ser um grande comerciante global, soube aproveitar as possibilidades de explorar suas vantagens comparativas para se tornar, atualmente, um dos grandes celeiros globais. Também acolheu enormes volumes de investimentos diretos estrangeiros para dinamizar sua pobre indústria do início do século XX. E também completou a “substituição de importações” no campo científico ao importar muitos cérebros para suas universidades e mandar milhares de estudantes graduados completarem especializações no exterior. 

Que razões teria para o projeto de substituir a ordem que garantiu razoavelmente sua gradual ascensão a uma das mais importantes economias do mundo por uma outra ordem global que resultasse de um novo conflito geopolítico de resultados imprevisíveis? Algum interesse maior de natureza tão fundamental que não permitisse acomodar suas aspirações nos quadros existentes da ordem de Bretton Woods e da ONU? Estruturas orgânicas à parte, essa nova ordem, tal como vem sendo proposta por duas grandes autocracias não ocidentais, teria condições de preservar seus outros vetores no terreno dos valores e princípios que fundamentam sua adesão a um regime democrático, a um Estado de Direito garantidor das liberdades e de adequada defesa dos direitos humanos, numa sociedade aberta às diferenças e ao respeito das individualidades? Trata-se de uma aposta arriscada, que não deveria ser sequer considerada por um governo representativo de nossas aspirações democráticas.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4374: 26 abril 2023, 4 p.

Publicado na revista Crusoé, 9/06/2023, link: https://crusoe.uol.com.br/edicoes/267/por-que-a-tal-de-nova-ordem-mundial-e-uma-ma-ideia/?utm_source=crs-site&utm_medium=crs-login&utm_campaign=redir

 


Kissinger-Metternich in 2014: accomodating Putin’s interests in Ukraine

 An opinion by the already old (91 years old) machiavellian strategist, always contemplating great powers ambitions over geopolitical matters. For the record, Finland would not be a suitable case forUkraine in 2014 (the year of this Opinion), as it has now joined NATO by its own decision

PRA

How the Ukraine Crisis Ends

O BRICS e os Brics em face da desordem internacional trazida pela guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia

 Os chanceleres do BRICS, representando os atuais cinco Brics individuais, reuniram-se recentemente na Cidade do Cabo, África do Sul, para preparar a próxima cúpula do grupo, que deverá reunir-se em Johannesburg, capital daquele país, em agosto.

Como quando da reunião de chanceleres do ano passado, e da própria declaração final dos chefes de Estado e de governo, ocorrida já em meio à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, os diplomatas fizeram cara de paisagem, em face da cruel realidade da guerra, inclusive já revelados os massacres, crimes de guerra inomináveis, perpetrados pelas forças russas em Bucha, arredores da capital Kiev, que elas não conseguiram tomar (levado ao local, para uma exposição na igreja local sobre os cadáveres deixados espalhados nas ruas pelos assassinos do Exército russo, o atual assessor internacional do presidente Lula para assuntos internacionais, e ex-chanceler nos governos Lula 1 e 2, disse que "não dava para saber, pois são apenas fotos). 

Transcrevo abaixo, para renovar a lembrança da vergonha já cometida em 2022 e renovado neste ano, trechos da declaração dos chanceleres, que se vangloriam reciprocamente do compromisso de seus países com o multilateralismo e a "defesa do direito internacional"... "em um sistema internacional no qual Estados soberanos cooperam para manter a paz e a segurança, promover o desenvolvimento sustentável, garantir a promoção e proteção da democracia, dos  direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos e promover a cooperação baseada no espírito de respeito mútuo, justiça e igualdade."

Não consigo imaginar hipocrisia maior, sabendo-se de todos os crimes já perpetrados (e ainda a perpetrar) pelos invasores em território soberano da Ucrânia, sobretudo a recente explosão deliberada da barragem de Nova Krakhovka, causando um desastre humanitário e uma catástrofe ecológica e ambiental. 

Imagino que os chanceleres continuarão impérvios à realidade da guerra, deslanchada sem provocação, por um dos membros contra um vizinho, na violação da Carta da ONU e de normas elementares do direito internacional, ou da própria moralidade dos seus atos de guerra, que cabe a cada Estado respeitar, segundo os protocolos em vigor sobre as leis da guerra, que a Rússia viola seguidamente.

Entendo que a hipocrisia continuará na reunião de cúpula de 2023, talvez até com a presença do criminoso de guerra cuja prisão já foi solicitada pelo Tribunal Penal Internacional, mas que não será eventualmente cumprida pela República da África do Sul, a que seria obrigada pelo Estatuto de Roma ao qual subscreveu e ratificou. Ah, sim, a hipocrisia se estendeu inclusive a um curto parágrafo sobre a "situação na Ucrânia", na qual ignoram completamente a situação de guerra causada por uma das partes.

Nada mais tenho a expressar, a não ser uma vergonha alheia, pela diplomacia de meu país, nesta conjuntura diplomática que aparentemente não mudou absolutamente nada, desde o governo demolidor de nossa política externa até o final de 2022.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14 de junho de 2023


Ministério das Relações Exteriores

Assessoria Especial de Imprensa 

Nota nº 76, 19 de maio de 2022

Declaração Conjunta do BRICS sobre o tema: “Fortalecer a Solidariedade e a Cooperação do BRICS; Responder às novas Características e Desafios da Situação Internacional”

(...)

3. Os Ministros reiteraram seu compromisso com o multilateralismo por meio da defesa do direito internacional, inclusive os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas como sua pedra angular indispensável, e com o papel central das Nações Unidas em um sistema internacional no qual Estados soberanos cooperam para manter a paz e a segurança, promover o desenvolvimento sustentável, garantir a promoção e proteção da democracia, dos  direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos e promover a cooperação baseada no espírito de respeito mútuo, justiça e igualdade.

4. Os Ministros reiteraram seu compromisso de realçar e aprimorar a governança global, promovendo um sistema mais ágil, eficaz, eficiente, representativo e responsável, realizando consultas e colaboração inclusivas para o benefício de todos com base no respeito à soberania, à independência, à integridade territorial, à igualdade, aos interesses e preocupações legítimos dos diferentes países. 

 (...)

11. Os Ministros recordaram suas posições nacionais sobre a situação na Ucrânia, conforme expressas nos fóruns apropriados, nomeadamente o CSNU e a AGNU. Apoiaram as negociações entre a Rússia e a Ucrânia. Discutiram também suas preocupações sobre a situação humanitária dentro e ao redor da Ucrânia e expressaram seu apoio aos esforços do Secretário-Geral da ONU, das Agências da ONU e do CICV para fornecer ajuda humanitária de acordo com a resolução 46/182 da Assembleia Geral da ONU.


terça-feira, 13 de junho de 2023

Política externa - Os primeiros seis meses - Rubens Barbosa (OESP)

Minha avaliação dos primeiros seis meses da diplomacia de Lula 3 é bem mais severa do que a do embaixador Rubens Barbosa, que faz um julgamento ponderado sobre seus sucessos e insuficiências. Eu provavelmente sou levado a fazer um questionamento moral, sobretudo em relação às más alianças no caso da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. (PRA)


Política externa - Os primeiros seis meses

Por Rubens Barbosa
13/06/2023 | 03h00, O Estado de S. Paulo

As prioridades na política externa definidas pelo governo Lula a partir de janeiro foram acertadas. A volta do Brasil ao cenário internacional, o destaque ao meio ambiente e a mudança de clima e a importância da América do Sul são políticas que estão de acordo com o interesse nacional, num momento de grandes transformações globais. Na condução da política externa, nos primeiros seis meses a questão que ficou aparente é a falta de uma visão estratégica de médio e de longo prazos do governo no planejamento e na implementação dessas políticas.

Na retomada de um papel atuante do Brasil, a ênfase no multilateralismo, na multipolaridade, na restauração da credibilidade e na melhora da percepção externa estiveram no centro das preocupações de Lula. A reforma dos organismos multilaterais, em especial do Conselho de Segurança da ONU e o fortalecimento da Organização Mundial do Comércio (OMC), bem como a atualização da agenda brasileira nessas instituições, desgastada nos últimos anos, fez parte da ação do Itamaraty. A posição de independência em relação às tensões entre os EUA e a China foi mantida, mas poderá ser testada caso a crise em relação a Taiwan se agrave. A prioridade para a formação do grupo da paz para a guerra na Ucrânia, quando ninguém está interessado nela no momento, foi um equívoco e mostra um protagonismo que é percebido como desequilibrado e ingênuo. O governo ficou devendo iniciativas para definir uma política para o Brics, a OCDE, no G-20 e para reduzir as vulnerabilidades externas, expostas depois da pandemia e da guerra na Ucrânia. 
As declarações de Lula sobre o conflito expuseram a dependência externa brasileira dos equipamentos bélicos da Otan e as contradições entre o Ministério da Defesa e o Itamaraty.

Nas negociações comerciais, o governo ameaça reabrir o acordo Mercosul-União Europeia no tocante às compras governamentais, o que poderá inviabilizar sua assinatura. Nada foi feito para revitalizar o Mercosul.

Na questão do clima, em que o Brasil é uma potência global, não se conhece uma política estratégica que inclua propostas para cumprir os compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa ou para regulamentar o mercado voluntário e compulsório de carbono, sem falar nos retrocessos internos na política ambiental. A realização da COP-30 em 2025 no Pará e a convocação do Tratado de Cooperação Amazônica foram resultados positivos.

No tocante à América do Sul, além do controvertido apoio à Argentina e à Venezuela, Lula decidiu retomar a iniciativa de 2000 e 2002 do presidente FHC e promoveu reunião presidencial para coordenar políticas visando a maior integração regional.

O ativismo diplomático, evidenciado na proposta de paz na Ucrânia e na reunião presidencial regional, trouxe mais desgastes para o governo e para a imagem presidencial do que resultados concretos. No tocante à guerra na Ucrânia, no encontro do G-7 as ambiguidades do discurso de Lula e a controvérsia quanto ao encontro frustrado com Zelensky tornaram-se mais evidentes. As declarações públicas do governo puseram em dúvida a equidistância do Brasil e a percepção de que Lula teria assumido um dos lados. Quanto ao resultado do encontro presidencial regional, ele pode ser considerado como limitado e longe do que o presidente Lula pretendia. Moeda Unida, Unasul, a criação de mais uma instituição, defendidas pelo Brasil, não foram acolhidas. Nem o prazo de 120 dias para os chanceleres apresentarem sugestões de ação aos presidentes foi aceito.

A América do Sul está desintegrada e sem perspectiva de avançar no processo de integração no curto prazo. Sem uma visão estratégica e sem a apresentação de propostas que respondam aos desafios atuais das transformações globais, prevaleceu a discussão ideológica divisiva. O discurso público de Lula, desatualizado e ideológico, valorizou a Venezuela, gerou divisão política e pôs em risco a liderança que o Brasil deveria exercer na região. O fato de Lula ter oferecido a Maduro uma recepção especial (“visita histórica”), antes do encontro com os demais presidentes, ofuscou a reunião e colocou em segundo plano a importância da união e integração regional. A afirmação de que Maduro teria de mudar a narrativa construída contra a Venezuela por alguns países, em especial pelos EUA, sem fazer qualquer reparo ao notório autoritarismo reinante, suscitou duras críticas dos presidentes do Chile e do Uruguai, além da oposição venezuelana, o que, na prática, significa críticas da direita e da esquerda. A exemplo do que aconteceu na visita à Argentina e na reunião do G-7, o marketing do encontro foi negativo. Também na área externa, Lula pode perder prestígio e credibilidade.

A dualidade de funções entre a assessoria presidencial e o ministro do Exterior indicou o continuado esvaziamento do Ministério das Relações Exteriores. Até aqui, no entanto, não se pode dizer que a política externa foi contaminada pela ideologia e pela partidarização. Os sinais, porém, são preocupantes, sobretudo em razão do tratamento dado à Venezuela.

Com tantos problemas políticos, econômicos e sociais internos, a pesada agenda externa de Lula no segundo semestre, se cumprida, pode ampliar os ruídos no Congresso e na opinião pública contra o protagonismo internacional do presidente.

*

EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON E LONDRES, É PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE)

Diplomacia partidária da China acena ao PT - Marcelo Ninio (O Globo)

 Diplomacia partidária da China acena ao PT

A diplomacia partidária da China é uma forma de promover o modelo de governança do país para ampliar sua influência

Por Marcelo Ninio — Pequim
O Globo, 13/06/2023

Uma delegação do Partido dos Trabalhadores (PT) com 20 integrantes desembarcou nesta segunda-feira em Pequim para uma visita de 12 dias, a convite do governo chinês. É a reabertura de mais um canal na aproximação com o Brasil, após o aquecimento das relações obtido com a visita do presidente Lula à China em abril. A viagem se encaixa na diplomacia partidária praticada pelo Partido Comunista da China desde a década de 1950, para reforçar os laços com grupos políticos afinados ideologicamente.

É uma das maiores delegações partidárias do Brasil que já participaram desse tipo de viagem, em novo sinal da importância que Pequim tem dado ao país desde a volta ao poder do “velho amigo” da China, como a mídia estatal chama Lula. Chefiado pelo secretário-geral nacional do PT, Henrique Fontana, o grupo inclui vários dirigentes do partido e o senador Humberto Costa (PE), além de três deputados federais e um estadual.

Em Pequim, o grupo irá conhecer “a formação política dos quadros e da base e o processo de organização” do PC chinês, informou em suas redes sociais Camila Moreno, da Direção Executiva Nacional do PT, que integra o grupo. O roteiro inclui ainda cidades que são vitrines do milagre econômico chinês, como Cantão e o polo tecnológico de Shenzhen.

A política partidária chinesa ganhou novo impulso com a chegada de Xi Jinping à liderança, em 2012, como forma de promover o modelo de governança do país e ampliar sua influência global. O projeto é uma das principais atribuições do Departamento de Ligação Internacional (DLI), criado em 1951 para articular as relações com partidos comunistas ao redor do mundo. O leque se ampliou e, hoje, o PCC mantém “contato regular” com mais de 600 partidos de 160 países, segundo a mídia estatal.

Enquanto no Ocidente a política externa de Xi Jinping é cada vez mais vista como um instrumento agressivo da ascensão chinesa, com os países em desenvolvimento há meios mais sutis de interação, além da oferta de investimentos em infraestrutura. Um deles é a diplomacia partidária. Sem precisar representar o governo em atritos com outros países, o DLI pode se concentrar no lado positivo do modelo chinês, cativando os países emergentes com o que eles mais necessitam: eficiência e desenvolvimento.

Um exemplo são os treinamentos oferecidos a políticos de outros países. Milhares de estrangeiros já passaram pelas escolas do PC chinês, em cursos com previsível teor doutrinário, mas empacotados em linguagem pragmática, que enfatiza a importância do planejamento central para atingir as metas desenvolvimentistas. No ano passado, o conceito cruzou as fronteiras da China e se instalou na Tanzânia, onde foi inaugurada uma escola de liderança construída com aporte de US$ 40 milhões oferecido pela China.

O PC chinês insiste que não almeja exportar seu modelo de governança. Mas ao compartilhar histórias de sucesso, como no combate à pobreza, o objetivo implícito é oferecer uma alternativa descolada do Ocidente. Apesar da admiração que Lula tem demonstrado pelas conquistas do sistema chinês, o país é motivo de divergências históricas no PT, devido ao descaso com os valores democráticos.

Em 1989, o partido aprovou a moção “Não ao massacre do povo chinês”, após a brutal repressão ao movimento pró-democracia da Praça da Paz Celestial. Desde então a China virou referência em desenvolvimento, mas continua longe de ser modelo em direitos humanos.


Plano de paz de Lula está paralisado e é visto com ceticismo pela Ucrânia - Patrícia Campos Mello (FSP)

Existem várias ambiguidades nesta matéria sobre o plano de paz de Lula para a Ucrânia, não necessariamente por parte da jornalista, mas em função das posições dos principais interlocutores.

A verdade é que NÃO EXISTE um plano de paz de Lula para a paz na Ucrânia, apenas uma vaga aspiração para que países que "desejem a paz" se congreguem por iniciativa do líder brasileiro para "FALAR DE PAZ", sendo que nenhum deles pode estar fornecendo "armas para a guerra", o que significa que a Ucrânia DEVE PERDER para conseguir a paz.

Paulo Roberto de Almeida


Plano de paz de Lula está paralisado e é visto com ceticismo pela Ucrânia

Kiev tem duas objeções à proposta brasileira e demonstra ceticismo em relação à influência do petista sobre Putin

Patrícia Campos Mello
12.jun.2023 às 23h15

O plano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para negociar o fim da Guerra da Ucrânia está paralisado e enfrenta o ceticismo de Kiev. Após o desencontro na cúpula do G7, no Japão, em maio, não houve mais contato entre o alto escalão do governo brasileiro e a equipe do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e tampouco há telefonemas ou reuniões planejados para o curto prazo.

Mesmo antes do fracasso da reunião, a Ucrânia se queixava de pouco interesse do Brasil para ouvir o seu lado. Em Hiroshima, o Itamaraty disse ter oferecido três horários para Zelenski, que, ao fim, não foi ao encontro. À Folha, o líder ucraniano se eximiu da culpa pelo fiasco, mas tampouco explicou o que ocorreu.

Em reserva, autoridades ucranianas disseram ser necessário criar uma relação de confiança para que o Brasil tenha um papel relevante num eventual plano de paz para acabar com o conflito. O chefe de gabinete de Zelenski, Andrii Iermak, disse em entrevista à CNN Brasil que vai convidar Brasília para uma cúpula de paz na Ucrânia, ainda sem data para ocorrer.

Lula e Zelenski conversaram por vídeo em 2 de março. Na conversa, o ucraniano pediu que o brasileiro ajudasse a organizar uma reunião com líderes da América Latina, mas o petista teria ponderado que vários países da região, como Nicarágua e Venezuela, tinham posições firmes a favor da Rússia, e outros não gostariam de dar a impressão de que estão se aproximando de um dos lados.

Por isso, segundo Lula, seria difícil promover uma cúpula dessa natureza e ficou acordado que voltaria a falar com Zelenski após retornar da viagem à China, em 12 de abril. Na versão dos ucranianos, o petista disse que tentaria organizar o encontro com líderes latino-americanos, mas nunca mais falou com Kiev.

Depois da visita à China, no entanto, o governo brasileiro recebeu em Brasília o chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, uma passagem que causou mal-estar e críticas. Na tentativa de aparar arestas, Lula enviou Celso Amorim, seu assessor especial para política externa, à Ucrânia. O ex-chanceler, arquiteto da ideia de o Brasil mediar o conflito, reuniu-se com Zelenski em 10 de maio no palácio presidencial em Kiev.

Lá, ouviu do presidente ucraniano que existem diversos planos de paz, mas que a Ucrânia só está disposta a debater aqueles que passem pelos 10 pontos propostos pelo governo em Kiev no final do ano passado.

Desde o desencontro no G7, em 21 de maio, não foi discutido se haverá outra reunião. O governo brasileiro diz que poderia haver uma chance no final de junho, no encontro sobre financiamento ao desenvolvimento promovida pelo francês Emmanuel Macron ou na Assembleia-Geral da ONU, em setembro, em Nova York.

Antes disso, Lula pode se reunir virtual ou presencialmente com Vladimir Putin, mas um encontro bilateral com o presidente russo, após o petista não ter se encontrado com Zelenski, seria visto como mais um gesto brasileiro em favor de Moscou, comprometendo a reivindicação de ser mediador do conflito.

Putin participará da cúpula do Brics na África do Sul, em agosto. Como o Tribunal Penal Internacional emitiu um mandado de prisão contra ele, sob a acusação de crimes de guerra pelo suposto sequestro de crianças ucranianas, não se sabe se o líder russo comparecerá de forma remota ou presencial. A África do Sul ratificou o estatuto de Roma, que criou o tribunal, e, em tese, teria de cumprir o mandado e prender Putin ao desembarcar, algo que não ocorrerá, porque o país concedeu imunidade aos líderes na reunião.

A Ucrânia tem duas objeções à proposta de Lula. Não aceita decretar cessar-fogo nem iniciar o diálogo sem que os russos devolvam os territórios que anexaram ilegalmente. A Rússia ocupa parcialmente quatro regiões na Ucrânia: Donetsk e Lugansk, no leste, e Zaporíjia e Kherson, no sul, além da Crimeia, península tomada em 2014. As áreas são equivalentes a cerca de 18% do território do vizinho invadido.

"Congelar o conflito dá aos russos tempo para treinar e equipar as tropas. Enquanto isso, o mundo vai dizer que a guerra acabou, o conflito terá muito menos atenção, receberemos menos armas, haverá uma normalização", diz Andrii Zagorodniuk, ex-ministro da Defesa e atual assessor do governo da Ucrânia.

Já o deputado ucraniano Artur Gerasimov faz uma analogia: "Imagine que você tem um apartamento de três quartos. O vizinho invade a casa, ocupa a cozinha e começa uma guerra. Aí ele diz: 'Quero paz, mas a cozinha fica com a gente'. É o que a Rússia quer, cessar-fogo, e eles ficam com a Crimeia e o Donbass."

As autoridades ucranianas também demonstram ceticismo em relação à influência de Lula sobre Putin. Sentem mais firmeza na China, que mandou um enviado especial à Ucrânia em maio. Pequim quer que a contraofensiva de Kiev seja suspensa, e as sanções contra Moscou, retiradas, o que o Ocidente descarta.

Ainda assim, eles mantêm aberto o canal de comunicação com os chineses, que, por seu peso político e econômico, têm maior poder de barganha. Kiev acha possível, por exemplo, que a China convença Putin a fazer um gesto de boa vontade, desmilitarizando a região da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa.

Outro que estaria mais bem posicionado para mediar o conflito seria o líder da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que dialoga com o Ocidente e com a Rússia, o que permite tanto vender drones a Kiev como se manter em bons termos com Putin a ponto de negociar o pacto para a exportação de grãos ucranianos.

Mas o Brasil tem pontos a seu favor para atrair Kiev e, assim, atuar como mediador. Do Brics, é o país menos pró-Rússia. Xi Jinping e Putin estiveram juntos em Pequim antes da guerra e celebraram uma "amizade sem limites". Em março, o chinês foi a Moscou e reafirmou a aliança. A África do Sul é acusada pelos EUA de fornecer armas à Rússia. E a Índia ajuda a viabilizar a economia russa por meio da compra de petróleo, em volumes bem maiores do que os da venda de fertilizantes ao agronegócio brasileiro.

Além disso, o Brasil é visto como instrumental para influenciar a América Latina. A Ucrânia precisa do apoio do chamado Sul Global —por enquanto, só potências ocidentais têm enviado armas, imposto sanções à Rússia e declarado apoio explícito a Kiev. Na América Latina, apenas Chile, Uruguai, Costa Rica e Guatemala se posicionaram abertamente a favor do país ora invadido, e Zelenski precisa de votos na ONU para criar um tribunal internacional especial que julgue Putin, outro dos pontos de seu plano de paz.

Mas depõem contra o Brasil as seguidas falas de Lula, que, entre outras declarações, chegou a dizer que o líder ucraniano "não pode ter tudo o que pensa que vai querer", algo que foi interpretado como uma sugestão para Kiev abrir mão de territórios como a Crimeia, além da afirmação, na volta da visita à China, de que os EUA incentivam a guerra, referência ao envio de armas para a Ucrânia se defender da invasão.

Na visão do governo brasileiro, Zelenski pode negociar agora ou esperar mais seis meses –a situação militar provavelmente será a mesma, mas outras 100 mil pessoas, estima-se, terão morrido–, enquanto Putin estaria atrás de um fim com algo para mostrar ao público interno. Uma das concessões poderia ser a garantia de que a Ucrânia não integrará a Otan, a aliança militar do Ocidente, o que Kiev descarta.

"Hoje, os ucranianos preferem avançar na contraofensiva a negociar, porque a negociação agora implica perda de territórios", afirma Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP. "Eles têm pressa, e o Brasil quer conversar. A proposta brasileira ajuda a Rússia a ganhar tempo."


A estranha viagem de Celso Amorim para falar de paz na Ucrânia em fórum da Noruega, que acabou sendo desmarcada - Ricardo Della Coletta (FSP)

A alegação de que Amorim "ficou em Brasília para participar da recepção de Ursula von der Leyen" não se sustenta minimamente. Lula deve ter vetado a viagem depois que Amorim havia confirmado presença, mas depois que sua performance em Hiroshima ficou abaixo do esperado, e até do desejável, sendo não só ofuscado pela presença de Zelensky, como também se recusou a encontrar o presidente ucraniano. 

Lula é do tipo vingativo, e não pretende mais falar com Zelensky, e por isso Celso Amorim teve de cancelar sua viagem, já que o chefe prefere privilegiar Putin e seus amigos autocratas, a lutar verdadeiramente pela paz na Ucrânia. 

Lamento mais essa diminuição da credibilidade diplomática do Brasil, e antecipo que este novo gesto deve retirar do Brasil a credencial para continuar propugnando por um "Clube da Paz". Resta ver o que Lula vai conversar com Macron, e outros líderes mundiais, e como ele vai seguir em suas tergiversações sobre como se obter "menos intervenção armada na Ucrânia", conforma ele recitou para a comissária europeia.

Custa a crer que a diplomacia brasileira possa ser humilhada pelo seu próprio chefe.

Paulo Roberto de Almeida

 Celso Amorim confirma e depois cancela ida a fórum sobre paz na Noruega

Principal assessor de Lula para política externa apresentaria visão brasileira sobre conflito na Ucrânia
Folha de S. Paulo, 13 junho 2023 às 14h13
Ricardo Della Coletta

O assessor especial do presidente Lula (PT), Celso Amorim, cancelou a participação que faria em uma das principais conferências internacionais sobre negociações de paz, o Oslo Forum.

O convite foi feito pelo governo da Noruega, que sedia o encontro. De acordo com a assessoria especial do Planalto, Amorim abriria um dos dias de debate para falar sobre a visão do Brasil em relação ao conflito entre Ucrânia e Rússia —tema que figura entre as prioridades do presidente brasileiro na arena externa.

Também havia a possibilidade de uma reunião de Amorim com o premiê da Noruega, Jonas Gahr Støre —ambos se conhecem porque coincidiram na chefia das respectivas chancelarias entre 2005 e 2010.

A viagem do principal assessor de Lula para temas internacionais chegou a ser publicada no Diário Oficial. Em 6 de junho, o petista autorizou o afastamento de Amorim entre 11 e 15 deste mês para ir a Oslo.

Apesar da centralidade que o conflito na Ucrânia tem na política externa de Lula, Amorim alegou questões de agenda para cancelar a visita. De acordo com sua assessoria, ele ficou em Brasília para participar da recepção de Ursula von der Leyen e de outros compromissos nesta semana. A data da passagem da presidente da Comissão Europeia pela capital é conhecida desde meados de abril. Amorim também deve acompanhar Lula em reuniões na Itália e na França na próxima semana, ainda segundo sua assessoria.

O Oslo Forum é organizado pela chancelaria da Noruega, país com ampla tradição na mediação de conflitos, e por uma organização humanitária suíça. Segundo o site do evento, neste ano a reunião abordará os principais acontecimentos diplomáticos e geopolíticos da atualidade, com discussões sobre os conflitos na Ucrânia, no Sudão e no Iêmen, entre outros. "A agenda inclui sessões sobre como garantir que a voz de todas as partes sejam ouvidas e formas de alcançar uma paz sustentável, muitas vezes baseada em acordos duramente conquistados e originados da exaustão militar e do pragmatismo."

Nesta segunda (12), o Oslo Forum anunciou que entre os participantes desta edição estão os chanceleres da Indonésia, Retno Marsudi, e da Colômbia, Álvaro Leyva Durán, além do promotor do Tribunal Penal Internacional Karim Khan. Trata-se do responsável por ter solicitado a expedição do mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por acusações de crimes de guerra cometidos na Ucrânia.

Segundo pessoas que conhecem o funcionamento do fórum, a lista completa de participantes é mantida em sigilo. A rede pública de comunicação norueguesa NRK informou recentemente que alguns integrantes do grupo extremista Talibã, que governa o Afeganistão, participariam da conferência. A organização do evento diz que mais de cem mediadores e atores envolvidos em processos de paz devem comparecer.

Amorim é apontado como o arquiteto da abordagem de Lula para a Guerra da Ucrânia. O presidente tentou se colocar desde o início de seu terceiro mandato como possível mediador do conflito, mas declarações vistas pelo Ocidente como favoráveis à Rússia geraram forte desconforto dos EUA e da Europa.

A fala de Lula que gerou mais reações ocorreu em Pequim, durante visita à China, em abril. Na ocasião, cobrou que os EUA "parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz" para encaminhar um acordo no Leste Europeu, uma referência ao envio de armas para que Kiev se defenda das ofensivas russas.

Poucos dias depois, enquanto o chanceler russo, Serguei Lavrov, era recebido em Brasília, um porta-voz do governo americano descreveu a postura de Lula sobre a Ucrânia como "repetição automática da propaganda russa e chinesa" e "profundamente problemática".


O Holodomor de Putin - Paulo Roberto de Almeida

O Holodomor de Putin

Paulo Roberto de Almeida


O tirano de Moscou já constatou que ele não poderá mais anexar a Ucrânia pela força.

Ele agora só está empenhado em destruir o país e matar o maior número possível de pessoas, inclusive velhos e crianças. 

A diplomacia brasileira já perdeu qualquer resquício de moralidade?

Se revela incapaz de expressar pelos ucranianos os mesmos cuidados que o governo diz manter em relação aos “povos originários”? 

A guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia é apenas um detalhe nos planos de Lula para uma “nova ordem mundial”?

O Brics continuará, como no ano passado, absolutamente indiferente ao morticínio deliberado que ocorre na Ucrânia?

E sua Declaração de cúpula ainda terá a petulância (e a ignomínia) de afirmar, como foi o caso em 2022, que todos os países respeitam a Carta da ONU e os DH?

Confesso meu asco em pensar que meus colegas diplomatas possam negociar os termos de um documento final recheado de mentiras escabrosas.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13/06/2023