Mais uma matéria sobre o stalinismo diplomático em curso no Itamaraty
atual: se o prefácio fosse escrito por um bolsonarista, mas que defendesse
posturas divergentes da atual diplomacia, seria provavelmente publicado junto
com a biografia. Prefácio e obra tratam do século XVIII, ou seja, não apresentam
nenhum vínculo com a modernidade, mas apenas por causa de um autor a junção foi
vetada, com a mais canhestra das razões. Se os diplomatas e não diplomatas
quiserem ler mais sobre Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri (1750), mas
com alguns "saltos" para a contemporaneidade, recomendo ler logo o
primeiro capítulo do monumental livro de Rubens Ricupero, A diplomacia na
construção do Brasil (1750-2016), que revela, aliás, como Alexandre de
Gusmão trapaceou (escondendo o mapa francês, mais preciso, e forjando o mapa
das cortes, para enganar os espanhóis) em benefício dos seus mestres
portugueses e, em última instância, do engrandecimento do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Mais uma matéria sobre o stalinismo diplomático em curso no Itamaraty
atual: se o prefácio fosse escrito por um bolsonarista, mas que defendesse
posturas divergentes da atual diplomacia, seria provavelmente publicado junto
com a biografia. Prefácio e obra tratam do século XVIII, ou seja, não apresentam
nenhum vínculo com a modernidade, mas apenas por causa de um autor a junção foi
vetada, com a mais canhestra das razões. Se os diplomatas e não diplomatas
quiserem ler mais sobre Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri (1750), mas
com alguns "saltos" para a contemporaneidade, recomendo ler logo o
primeiro capítulo do monumental livro de Rubens Ricupero, A diplomacia na
construção do Brasil (1750-2016), que revela, aliás, como Alexandre de
Gusmão trapaceou (escondendo o mapa francês, mais preciso, e forjando o mapa
das cortes, para enganar os espanhóis) em benefício dos seus mestres
portugueses e, em última instância, do engrandecimento do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Itamaraty veta publicação de livro com prefácio de crítico à política externa
Apresentação do historiador e embaixador aposentado Rubens Ricupero foi incluída na última hora em biografia de Alexandre de Gusmão, diplomata brasileiro do século XVIII
Eliane Oliveira
O Globo, 02/08/2019
BRASÍLIA - O veto à publicação de um livro sobre a vida de Alexandre de Gusmão pelo Itamaraty causou polêmica no meio diplomático. O autor da obra, Synesio Sampaio Goes Filho, conta que terá de procurar outra editora, como antecipou a Folha de S. Paulo. Isso porque a biografia de Gusmão, diplomata brasileiro do século XVIII, tem o prefácio escrito por Rubens Ricupero, ex-embaixador do Brasil em Washington, ex-ministro da Fazenda e um dos maiores críticos da atual política externa brasileira.
O livro, denominado "O estadista que desenhou o mapa do Brasil", chegou a ser aprovado pelo conselho editorial da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag). Porém, só após o sinal verde da instituição, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, Goes Filho incluiu o prefácio de Ricupero.
— É verdade [que mandou o livro sem o prefácio], mas eu tinha esperança de que meu livro fosse visto de novo pela comissão. O problema é que o presidente da Funag [Roberto Goidanich) disse o seguinte: 'O Rubens ataca muito o ministro [Ernesto Araújo, o chanceler] e eu não publico isso aqui' —- disse ao GLOBO o autor.
Goes Filho ressaltou que, para ele, ficou claro que seria impossível a publicação do livro com o prefácio de Rubens Ricupero.
— O Rubens é o maior autor sobre assuntos diplomáticos dos nossos tempos. Seus livros valorizam muito a diplomacia — afirmou.
Procurado, o Itamaraty reiterou que a não publicação do livro se justifica pelo fato de o material ter sido examinado sem o prefácio. Ou seja, não importa quem tenha escrito o texto de apresentação da obra, esse teria que ter passado pelo crivo do conselho. O órgão também informou que o presidente da Funag não vai se manifestar.
— Eu disse ao Synesio que o prefácio não me pertence mais e que poderia ficar à vontade para não incluí-lo no livro. Mas ele teve uma atitude digna e resolveu não publicar a obra — comentou Rubens Ricupero.
Segundo ele, o prefácio não trata do momento atual. Fala sobre o século XVIII e questões de fronteira. Por isso, em sua opinião, a única explicação possível é mesmo a autoria do texto.
— É uma infantilidade, um desgaste inútil, um tiro no pé — arrematou Ricupero.
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