A primeira vez foi no início de 2018, quando o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, Secretário Geral do Itamaraty em duas oportunidades – a primeira vez sob o governo Collor, a segunda vez no governo FHC, ambas sob o comando de Celso Lafer –, teve de se submeter a uma intervenção cirúrgica, e combinamos de fazer na primeira oportunidade disponível. Como todas as demais datas – uma vez por mês nas sextas-feiras, quando os estudantes do Rio Branco tinham uma folga em sua pesada corveia estudantil – estavam ocupadas no ano passado, combinamos na primeira oportunidade em 2019. Eu, ainda diretor do IPRI, combinei com ele logo nos primeiros dias de janeiro, mas como ele viajaria para os EUA em fevereiro, acertamos de fazer logo depois do Carnaval, no começo de março.
Mas, como todos os que me acompanham aqui sabem perfeitamente, o chanceler acidental – que coincide ser genro do emb. Seixas Corrêa – tomou-se de súbita fúria em plena segunda-feira de Carnaval, dia 4 de março, poucas horas depois que eu havia postado em meu blog Diplomatizzando uma palestra do embaixador Rubens Ricupero, complementada por um artigo do ex-chanceler e ex-presidente FHC, seguidos de uma violenta crítica que o chanceler improvisado fez aos dois num artigo de seu blog, o famoso Metapolítica 17: contra o globalismo, convidando a um debate sobre a política externa olavo-bolsonarista, e mandou-me demitir imediatamente da diretoria do IPRI.
Quem quiser ler essa minha postagem, pode consultar este link:
blog Diplomatizzando (10/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/ricupero-fhc-e-ernesto-araujo-em-debate.html).
O próprio Seixas Corrêa, frustrado em sua tentativa de demover EA de sua tão furibunda atitude, desistiu de vir a Brasília para essa palestra no dia 8 de março.
Agora, marcada a terceira tentativa, o embaixador desiste novamente de viajar do Rio a Brasília, provavelmente devido às destrambelhadas declarações do presidente sobre as primárias argentinas, mas esta é apenas uma suposição de minha parte. Formulo a hipótese pelo fato de o emb. Seixas Corrêa ter sido embaixador em Buenos Aires, ter se esforçado duramente para melhorar essas relações estratégicas durante sua gestão, e pode ter ficado temeroso ao ser eventualmente indagado sobre como vê, atualmente, essas relações no quadro de declarações absolutamente inaceitáveis do presidente (e do próprio ministro da Economia), na absoluta indiferença do chanceler acidental.
Lamento a terceira desistência, mas vou ficar esperando para vê-lo numa próxima oportunidade, tanto porque gostaria de mostrar-me a ele em carne e osso, se ouso dizer, pois ele teve a seguinte frase sobre mim, pouco depois de minha exoneração do IPRI, conforme registrei em nova postagem deste meu blog:
Seixas Corrêa: o Paulo Roberto não existe! - (helàs!)
blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/04/seixas-correa-o-paulo-roberto-nao.html).Não se trata da primeira surpresa vinda do Itamaraty ou da Funag, que passa por mudanças normais, quando ocorre uma mudança de governo, e outras mudanças menos normais, no padrão de transparência que se espera de uma agência pública.
Já me deparei com algumas censuras, contra mim mesmo, mas a mais notória foi o veto a prefácio do embaixador Rubens Ricupero à biografia de Alexandre de Gusmão (encomendada pela Funag) feita pelo embaixador Synesio Sampaio Goes, tanto mais incompreensível que o texto se atinha ao século XVIII – Tratado de Madri, de 1750 – e só vinha ao século XX para ficar nos anos 194-50, quando o historiador português Jayme Cortesão resgatou a figura excepcional de Alexandre de Gusmão, o "avô" da diplomacia brasileira. A biografia vai ser publicada pela Editora Record no começo de 2020.
Vários outros "desaparecimentos",
até aqui inexplicáveis, estão ocorrendo nos sites da Funag e do IPRI, depois de
minha defenestração. Por exemplo, tentei acessar algumas vezes este outro vídeo
de um outro Percursos Diplomáticos, que eu havia feito com outro ex-Secretário
Geral do Itamaraty (sob a gestão Celso Amorim, no período lulopetista), mas não
consegui:
Todas as vezes que tentei, havia este
aviso, talvez pelo fato de eu ter me pronunciado nos dez minutos iniciais sobre
o significado do evento:
Este vídeo não está
disponível.
Quem quiser saber o que eu disse na
ocasião pode ler nesta postagem:
3319. “Percursos Diplomáticos: uma reflexão
necessária”, Brasília, 12-24 agosto 2018, 5 p.
Introdução ao depoimento do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto, no quadro
da série de depoimentos de diplomatas aposentados, que se acrescentam ao
anteriores (http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos). Revisto e lido em 24 de agosto de
2018, no auditório do Instituto Rio Branco. Divulgado no blog Diplomatizzando
(24/08/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/08/percursos-diplomaticos-samuel-pinheiro_24.html).
Existem vários outros episódios, que
estou coletando para um dia revelar. No momento, fico com os meus dois livros
já publicados depois de minha exoneração – Contra a Corrente: ensaios
contrarianistas... e Miséria da diplomacia: a destruição da
inteligência no Itamaraty –, já pensando no que vai entrar no próximo, que já tem até um título
tentativo: Ideologia da diplomacia brasileira (aguardem).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de agosto de 2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.