Contesto e reafirmo, existiu, sim, uma diplomacia lulopetista, pois os companheiros assim o quiseram, desde o início. Começaram, aliás, por acusar terem recebido uma "herança maldita", dada a deterioração de quase todos os indicadores econômicos, o que é de uma famigerada mistificação e constitui uma mentira deslavada. Os números tinham melhorado sensivelmente depois dos ajustes introduzidos em 1999 - metas de inflação, flutuação cambial e superávit primário, mais a Lei de Responsabilidade Fiscal, introduzida em 2000 -- e tudo estava pronto para retomar o crescimento em novas bases, quando sobrevieram o apagão elétrico de 2001, a crise argentina no mesmo ano, e sobretudo a campanha presidencial de 2002, a principal responsável pela profunda crise de DESCONFIANÇA gerada pelas promessas irresponsáveis de economistas do PT.
Logo ao início do novo regime, os responsáveis por sua diplomacia fizeram questão de acusar a anterior de submissa aos ditames do Consenso de Washington, de alinhada com o império e de subordinação à globalização assimétrica, entre outras bobagens criadas por eles para denegrir a imagem dos responsáveis precedentes. Em tudo, e para tudo, o slogan preferido dos companheiros para denegrir seus adversários políticos -- que eles consideravam como seus inimigos -- era o de “regime neoliberal", o que é por si mesmo absolutamente ridículo, uma vez que o Brasil jamais foi liberal, em qualquer sentido que se pretenda.
Eles fizeram questão de demarcar a "ruptura diplomática" desse modo, para melhor realçar a preeminência gloriosa da “diplomacia ativa e altiva”, que foi o título dado por eles em causa própria.
Por que, então, a minha designação de “diplomacia lulopetista” seria um termo mais ideológico do que aquele utilizado pelos companheiros, durante todos os anos de sua dominação cultural?
Para sustentar minha análise das políticas seguidas durante o regime companheiro na vertente externa, resolvi reunir meus trabalhos sobre a diplomacia brasileira escritos durante o período companheiro e oferecer aos curiosos e interessados um volume organizado de forma cronológica com essas análises e debates.
O que é interessante de registrar, neste momento, é que ao início do regime companheiro, acompanhando justamente as grandes promessas d/o nouveau régime, eu fui bastante simpático às orientações proclamadas pelos dirigentes da diplomacia companheira. Isso durou mais ou menos dois ou três anos, até que o escândalo do Mensalão veio a revelar uma faceta da política companheira que não conhecíamos muito bem: um regime altamente corrupto, capaz de desviar dinheiro do Estado (ou seja, de todos nós) para instalar um monopólio de poder à base de compra de parlamentares ou de inteiras bancadas partidárias.
Pouco depois revelou-se também o lado mais abjeto da diplomacia companheira, capaz de devolver à ditadura cubana dois refugiados do regime comunista, com aviões encomendados rapidamente a um outro regime caudilhesco, o populista chavista, e se aliando a várias outras ditaduras que por acaso simulassem qualquer atitude anti-hegemônica.
A coleção de ensaios reflete exatamente essa evolução analítica, como refletida neste volume:
3121. Quinze anos de política
externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017; Brasília: Edição
do Autor, 2017, 366 p. Volume de ensaios compilados na área das relações
internacionais. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/33186849/QUINZE_ANOS_DE_POLITICA_EXTERNA_ENSAIOS_SOBRE_A_DIPLOMACIA_BRASILEIRA_2002-2017).
Informado no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html;
twittado neste link: https://shar.es/1Rvapr).
Também pode ser consultada
a longa entrevista que concedi não só sobre o lulopetismo diplomático, mas
também sobre as políticas econômicas em curso no período (https://youtu.be/fWZXaIz8MUc). Os que pretendem obter
respostas para os seus questionamentos dispõem, portanto, de amplos argumentos
sobre o que é esse tal de “lulopetismo diplomático”, uma das grandes
mistificações no mais amplo exercício de destruição da economia e da política
brasileira por uma organização que não hesito em classificar de criminosa, com
base, objetivamente, em todos os relatórios, denúncias, indiciamentos e
condenações já registrados.
Por fim, repito o que já
disse em outras ocasiões: nada tenho contra aqueles que defendem o socialismo, o estatismo, um
regime de intervencionismo e de controle dos mercados, ainda que eu ache essas
pessoas profundamente equivocadas, em bases pragmáticas e objetivas. Apenas
acho que pessoas honestas deveriam se resguardar de apoiar criminosos comprovados,
e mentirosos confirmados, em suma, desonestos subintelequituais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de agosto de 2017
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